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25/08/2010

Homem-Aranha: o super-herói mais popular dos quadrinhos (II).


Entre o final dos anos 70 e o início dos 80, a qualidade e relevância das revistas tinham diminuído, mas a popularidade do Homem-Aranha só crescia internacionalmente. Ganhando um filme e um seriado para tevê e, mais tarde, novas séries de animação, o herói tornou-se de vez o “garoto-propaganda” da Marvel (talvez apenas rivalizado pelo Hulk, que em 1978 também ganhou um seriado). Incrivelmente popular entre as crianças, o Homem-Aranha deu origem a uma infinidade de produtos, que iam de superalmanaques e álbuns de figurinha, a diferentes bonecos e fantasias (a minha roupa de super-herói, porém, era do Batman). Não faltavam ainda paródias em programas como Os Trapalhões, ou a versão satírica do tema de abertura do desenho, em que cantávamos no lugar da letra original: “Homem-Aranha, Homem-Aranha... nunca bate, só apanha...” (na época, tudo era mais simples, mas nós nos divertíamos!).

Nos quadrinhos, em 1984, o herói ganhou uma de suas mais tocantes histórias: “O garoto que colecionava o Homem-Aranha”, produzida por Roger Stern e Ron Frenz. Contudo, tendo perdido espaço para outros personagens (em particular para o mais violento Wolverine), pela primeira vez o Aranha teve que correr atrás da popularidade. Com uma participação central na minissérie Guerras Secretas, ele ganhou um visual mais moderno e menos simpático: o “uniforme negro”. Como efeito colateral, em 1988, surgiria o vilão Venon, que estreou pelo traço de Todd McFarlane (que fizera sucesso na revista do Hulk). Com seu estilo arrojado de desenhar o herói e sua teia, o desenhista conquistou os leitores, revitalizando a revista The Amazing Spider-Man. Transformado num astro dos quadrinhos, em 1990 McFarlane ganhou a série Spider-Man, para a qual escreveria e desenharia as HQs e com a qual bateria recordes de vendas.

No meio do caminho, houve o ridículo casamento de Peter com Mary Jane; mais adiante, lançaram a estúpida “Saga do Clone”, que deu início ao ponto mais baixo da trajetória do herói. Aí, eles ressuscitaram o Duende Verde original. Então, eles mataram a Tia May e também mataram a Mary Jane. Mas, no fim, tudo se revelou uma enganação e tanto uma quanto a outra apareceram sãs e salvas. Essas trapalhadas editoriais e autorias minaram o importante pacto ficcional entre personagem e leitores, fazendo o antes mais popular super-herói dos quadrinhos tornar-se uma figura sem rumo e totalmente desinteressante. Tanto que, ao longo dos anos 90, o que se viu de mais interessante com o personagem foi sua versão futurista, criada por Peter David e Rick Leonard, para a linha alternativa Marvel 2099. Em 1998, houve uma malfadada tentativa de recomeço, com a fraca Homem-Aranha: Capítulo Um de John Byrne.

Desacreditado e tendo perdido grande parte de seus leitores, o Aranha precisava desesperadoramente de uma renovação. E essa veio no ano 2000, com o lançamento da revista Ultimate Spider-Man (que deu início à linha alternativa com versões atualizadas dos heróis Marvel). Idealizada pelo então chefão da editora, Bill Jemas, roteirizada por Brian Michael Bendis e desenhada por Mark Bagley, a nova série partiu de elementos das histórias originais do Homem-Aranha, recriando o personagem para o público e a realidade do século que se iniciava. Deixando de lado décadas de “cronologia” e não tendo que lidar com os equívocos dos anos 90, a nova série partiu da história que lançou o personagem em 1962, alterando alguns elementos, expandindo e incorporando outros. Com isso, a “história de origem” básica, que os primeiros leitores do Aranha tinham lido numa HQ de onze páginas, foi recriada em sete edições.

Sem a narração grandiloquente de Stan Lee ou o estilo peculiar de Steve Ditko, a origem Ultimate do Homem-Aranha chegou como um quadrinho moderno convencional (explorando a narrativa visual e alguns efeitos de colorização digital). Diferenças de estilo à parte, a mudança mais significativa entre uma versão e outra está no acidente que deu poderes a Peter: sai a aranha radioativa e entra uma aranha geneticamente alterada; sai o ambiente universitário e entra o laboratório das empresas Osborn (o que liga a origem do Aranha àquele que será seu principal inimigo, o Duende Verde). Além do protagonista e de seu antagonista, a edição de estreia também traz as versões Ultimate de Tio Ben e da Tia May, de Mary Jane e de Harry Osborn. O resultado foi um sucesso comercial que durou mais de cento e trinta edições e deu origem a diversas coletâneas, motivando também a Marvel a expandir a linha Ultimate.

O Homem-Aranha Ultimate foi a mais bem-sucedida versão em quadrinhos do personagem nos últimos dez anos, chegando a influenciar o filme Homem-Aranha de 2002 (do qual falarei na próxima postagem). Enquanto ela experimentava uma longa regularidade criativa e comercial, a versão tradicional do personagem contou com os bons desenhos de John Romita Jr., mas atolava em tramas absurdas, como “Um dia a mais” que apagou anos de HQs como se elas simplesmente não tivessem existido (não é à toa que essa história causou a fúria de muitos leitores!). Atualmente, o Homem-Aranha faz parte do grupo Vingadores, ao lado de Wolverine, Capitão América, Thor e Homem de Ferro, todos personagens que já ganharam ou ganharão versões cinematográficas nos próximos anos (uma prova de que cada vez mais os quadrinhos da Marvel são vistos como uma ponte para ou uma extensão das produções cinematográficas).

(CONTINUA)

01/08/2010

Hulk enfrenta Thor e Wolverine em animações do Marvel Studios.


Estou numa “fase Marvel”. Durante muito tempo, dei preferência aos quadrinhos da DC (em especial da Vertigo e da Wildstorm), mas desde que reassisti ao primeiro filme do Homem de Ferro (para escrever a resenha para o Mais Quadrinhos), tive o interesse renovado pelas HQs da editora do Homem-Aranha. Como consequência direta, quem acompanha este blog tem visto textos sobre quadrinhos como Iron Man: Extremis ou The Ultimates (e em breve poderá ler a resenha da Astonishing X-Men de Joss Whedon e John Cassaday).

Por esses dias, passando por uma loja, vi num expositor o DVD Hulk Vs., que não conhecia ainda. Embora fosse meio desconfiado das animações produzidas pela Marvel (ainda mais após ter assistido a Os Supremos – O Filme e à sua continuação), as imagens na embalagem mostravam um estilo e uma qualidade bastante interessantes, trazendo o Hulk frente a frente com Thor e Wolverine. Eram dois filmes de animação, somando pouco mais de 80 minutos, por um preço bem razoável... Como estou passando pela tal “fase Marvel” e estava mais ou menos de férias, comprei o DVD. E não me arrependi!

Ao se iniciar o DVD, pode-se escolher por qual das animações começar. Escolhi "Hulk vs. Wolverine", o que foi uma boa opção. Antes de se ver qualquer imagem, ouve-se a frase já tradicional copiada da minissérie de Cris Claremont e Frank Miller: “Eu sou o melhor no que faço, mas o que faço não é muito agradável”. Após essa introdução, logo na primeira cena fica claro que não se trata de um desenho animado para crianças, já que vemos o herói com a boca escorrendo sangue e em seguida colocando um ombro deslocado de volta ao lugar (ao estilo de Mel Gibson nos filmes da série Máquina Mortífera).

Entram então os primeiros créditos, acompanhados de interessantes esquemas e diagramas que sugerem os processos que levaram à criação do Wolverine e do Hulk, concluindo com dois letreiros estilizados que formam o título da animação. Quem assistiu a Homem de Ferro deve se lembrar de algo semelhante nos créditos finais do filme. E a sequência imediata do desenho também faz lembrar a produção estrelada por Robert Downey Jr., pois vemos Logan sentado num helicóptero militar, tendo à sua frente um soldado que timidamente lhe faz uma pergunta.

O que se segue é uma animação comercial de qualidade, repleta de referências e personagens saídos dos quadrinhos. A base inicial é a própria HQ de estreia do herói mutante, na qual ele encarou o Hulk (e o monstro Wendigo) nas florestas do Canadá. Nos próximos 10 minutos do desenho, o “Golias Verde” mói Wolverine na pancada, mas também leva alguns rasgos e arranhões. O enfrentamento, porém, acaba interrompido pela intervenção de vilões ligados ao passado do herói mutante: Dentes de Sabre, Lady Letal e Ômega Vermelho, além do ambíguo Deadpool. Com a entrada em cena desses personagens mais moderninhos e ainda mais violentos, o desenho poderia ter se perdido.

Contudo, o que vem a seguir acaba sendo uma das partes mais interessantes dos 37 minutos de animação, com sequências em flashback inspiradas na excelente HQ Arma-X de Barry Windsor-Smith. É claro que o restante do desenho é violência, lâminas, sangue e mutilações. Pelo menos, o Hulk ainda ganha seus momentos de estrelato, concluindo sua participação numa cena pós-creditos (e por falar neles, o Marvel Studios aproveitou-os, de forma muito justa, para reproduzir as capas das principais revistas que inspiraram o desenho). Se o roteiro não é dos mais brilhantes, o visual estilizado, a qualidade técnica e a dinâmica de animação valem uma conferida no bom "Hulk vs. Wolverine".

Compartilhando o mesmo DVD, "Hulk vs. Thor" tem características bem distintas. Há violência também, mas nada tão sanguinolento quanto na outra animação. O próprio visual segue um estilo mais Disney, com meio-tons, sombreamentos e uma atmosfera luminosa. A história começa com uma narração em off numa entonação de “contos de fadas”, falando sobre a gloriosa Asgard e o poderoso Odin. Repletas de deuses nórdicos, gigantes do gelo, trolls e valquírias, as cenas iniciais do desenho têm um caráter mitológico e logo mostram um ataque que parece inspirado na trilogia O Senhor dos Anéis. Mas é claro que, tendo o Hulk por perto, o estilo mitológico dá lugar a uma abordagem mais “direta”.

Como de costume, quem está por trás da confusão é Loki, o invejoso meio-irmão de Thor, sempre em busca da destruição do deus do trovão. E como também acontece geralmente, os planos do deus das trapaças acabam não dando muito certo. O resultado é que um incontrolável Hulk passa a pôr em risco não apenas a existência de Thor, mas também a de Odin e da sagrada Asgard. Uma viagem aos domínios da deusa da morte será necessária para resgatar uma alma humana e trazer de volta a paz ao reino dos deuses nórdicos. Em seus 45 minutos, este outro desenho tem um roteiro um pouco mais elaborado que o do outro (embora não seja exatamente original), não se baseando em HQs específicas.

Mas já contei demais e não quero estragar a graça de quem anime a assistir esse DVD do Marvel Studios. Para mim, são os mais bem produzidos desenhos animados já feitos com os personagens da editora (que, enfim, conseguiu igualar a qualidade das animações de sua concorrente DC Comics). E cada vez mais são os quadrinhos de super-heróis integrados a outras mídias e servindo de base para a criação de novos produtos, enquanto se consolida um público que lerá as revistas e assistirá aos filmes e animações. Agora é torcer para que a qualidade se mantenha e esperar pelos próximos lançamentos, como a nova série de animação com os Vingadores, que estreia em breve nos Estados Unidos.

27/07/2010

Os Supremos em desenho animado.


Tendo lido a série The Ultimates, decidi conferir os dois desenhos animados produzidos em 2006 pelo Marvel Studios, a partir da criação de Mark Millar e Bryan Hitch. O que posso dizer é que, considerando as excelentes HQs que originaram Os Supremos – O Filme e Os Supremos 2, os desenhos são muito decepcionantes! Os roteiros pegam alguns elementos dos quadrinhos, mas o melhor do trabalho de Millar fica de fora. Já as imagens não lembram nem de longe a qualidade excepcional das páginas de Hitch. No geral, é muito mais pirotecnia para muito, muito menos qualidade artística.

Os Supremos – O Filme começa com o prólogo na Segunda Guerra e continua com a descoberta do Capitão América em animação suspensa, passando para um ataque dos alienígenas Chitauri, que motiva a formação do grupo de heróis. A concepção visual dos personagens não traz algumas das características que diferenciaram suas versões na série em quadrinhos. A animação em si é bastante pobre, ficando muito aquém do que se pode esperar de uma produção com o selo Marvel e principalmente dos filmes e séries de sua concorrente DC Comics.

Os Supremos 2 tem um visual e uma técnica de animação um pouco mais aprimorados. O roteiro, por sua vez, afasta-se bastante da HQ original, enfocando o personagem Pantera Negra e o reino fictício de Wakanda. Os alienígenas Chitauri são novamente a grande ameaça, ao lado dos dramas pessoais e dos conflitos interpessoais vividos pelos heróis. Enquanto desenho animado, essa sequência funciona melhor que o primeiro filme, mas mesmo assim nada que se compare a produções em 2D com elementos em 3D, como Star Wars: Clone Wars, por exemplo.

Bem mais interessantes que os filmes de animação em si são os minidocumentários nos extras dos DVDs. O primeiro, disponível com Os Supremos – O Filme, narra a trajetória dos Vingadores e o segundo, disponível com Os Supremos 2, fala sobre The Ultimates, ambos contando com depoimentos de autores e editores das HQs. Assim, se os filmes de animação não valem muito o investimento, para quem quiser saber um pouco mais sobre os quadrinhos Marvel, pelo menos os depoimentos de George Pérez, Mark Millar, Bryan Hitch e Joe Quesada valem uma conferida.

20/05/2010

As primeiras HQs a gente nunca esquece!


Há algum tempo, eu vinha querendo reproduzir aqui no blog a imagem que ilustra esta postagem. Trata-se da capa do número 100 da revista Showcase, uma série da DC Comics que servia para apresentar novos personagens, resgatar heróis meio esquecidos ou dar espaço a figuras menos convencionais. Foi nas páginas dessa publicação que teve início a chamada “Era de Prata” dos quadrinhos de super-heróis, com o surgimento do Flash Barry Allen e do Lanterna Verde Hal Jordan. Editada entre 1956 e 1970, a revista também abriu espaço para heróis do “segundo time” como Adam Strange e Aquaman, para grupos alternativos como os Metal Men e os Desafiadores do Desconhecido, e para a vertente mais mística da DC com o Vingador Fantasma e o Espectro. Em suas páginas, apareceram ainda figuras que pendiam para o lado cômico como o Rastejador, o Bwana Beast, os Inferior Five e Angel and the Ape.

Relançada entre 1977 e 1978, a série trouxe edições com a Patrulha do Destino, Poderosa, Gavião Negro e Mulher Gavião. Mas o ponto alto dessa retomada foi justamente a Showcase n°100, edição especial lançada no primeiro semestre de 1978, que reuniu os personagens que haviam estrelado as noventa e três edições da primeira fase da revista. Na HQ escrita por Paul Kupperberg e Paul Levitz e desenhada por Joe Staton, uma ameaça misteriosa tirou a Terra de sua órbita, podendo levar à destruição do planeta. Para evitar a catástrofe, os heróis passam a atuar em conjunto, buscando as possíveis causas e enfrentando os efeitos dessa “crise” planetária. É interessante notar que essa revista de 1978 antecipou cenas e elementos que seriam vistos, em 1985, na maxissérie Crise nas Infinitas Terras (como a convocação dos heróis num satélite orbital e uma confusão temporal que faz seres do passado surgirem no presente).

Hoje estejamos acostumados às histórias que reúnem dezenas de super-heróis para enfrentar uma grande ameaça. Mas, no fim dos anos 70, isso não era algo corriqueiro. Tendo um grande “#100” ao fundo, do qual sai uma miríade de heróis, a capa dessa edição especial de aniversário anuncia: “60 sensacionais superestrelas na história que levou 100 edições para ser contada”. Naquele tempo eles sabiam fazer uma edição comemorativa e se ainda hoje essa HQ parece bem interessante, para mim ela tem um significado realmente especial. Publicada no Brasil pela Ebal em setembro de 1979, essa foi uma das primeiras revistas em quadrinhos que eu ganhei. Na época eu tinha pouco menos de cinco anos e era fã do desenho Superamigos, assim, ao ver uma capa cheia de super-heróis, devo ter pedido para que comprassem a revista (cujas páginas eu “animei” com canetinha hidrocor, rabiscando campos de força e raios laser sobre os heróis).

Publicada aqui como uma Edição Extra de Invictus, a capa da Ebal traz no lugar da palavra “Showcase”, o título: “A Terra na Rota Fatal!”. Mais abaixo, substituindo o anúncio da “edição de aniversário”, o chamariz: “CEM HERÓIS? Cem Peripécias Numa Única Aventura!” (com o que a editora brasileira justificava o grande “100” que aparece ao fundo da capa). No lugar do código de barras, outro chamariz: “Uma aventura incrivelmente movimentada!”. Eu não li a revista (pois não tinha ainda aprendido a ler), mas “brinquei” muito com ela e viajei muito por suas páginas, a ponto de ela perder a capa (felizmente, há alguns anos, tive a sorte de encontrar um exemplar em ótimo estado de conservação, tendo agora o primeiro todo rabiscado de canetinha e esse outro de “colecionador”). E posso dizer que, pelo menos para mim, essa revista cumpriu a promessa feita em sua primeira frase: “Uma história que você jamais esquecerá!”.

Aquela Edição Extra de Invictus foi um dos primeiros momentos em que os quadrinhos (por intermédio das séries da tevê) passaram a fazer parte de meu imaginário pessoal (o que também aconteceu com a série de animação do Homem-Aranha e o seriado do Hulk). Algo mais definitivo aconteceria em 1987, quando não encontrei o número 1 da revista dos Thundercats (então meu desenho animado favorito) e acabei comprando a revista Heróis da TV n°91, com a qual iniciei de fato minha coleção de quadrinhos e a paixão que, passados vinte anos, deu origem a este blog e a quase tudo que fiz profissionalmente em minha vida. Assim, para os cem “seguidores” que agora acompanham o Mais Quadrinhos e em especial para aqueles que contribuem com comentários, vai aqui esta postagem especial e também o convite para enviarem comentários dizendo quais foram suas primeiras revistas em quadrinhos e como começou sua paixão pelas HQs.

Abraços e até a próxima!

31/10/2008

Convenção dos Monstros.


Sou daquelas pessoas que acham estranho festas de Halloween no Brasil. Afinal, essa celebração de origem celta, muito popular nos Estados Unidos, não faz parte da tradição cultural brasileira. Claro que não vou aqui defender qualquer purismo cultural, pois isso é coisa de fascistas, nazistas e outras aberrações políticas. Mas o fato é que, na onda do colonialismo cultural que nos acomete há décadas, muitas vezes assimila-se inconscientemente o que vem de fora, sem se questionar os interesses sociopolíticos envolvidos.

Por outro lado, há o desejável e produtivo jogo de trocas culturais, no qual o que vem de fora dinamiza e enriquece uma produção local. O ideal, obviamente, é que se tenha uma “via de mão dupla”, na qual ambas as partes se influenciam mutuamente (seria o que se chama de “polinização cruzada”). Contudo, isso nem sempre é assim, e muitas vezes as periferias político-econômicas acabam apenas consumindo o que se produz nos grandes centros mundiais. Quando criança (eh, lá vou eu de novo abrir o baú de memórias)...

Quando criança, sendo de classe média e morando numa cidade grande, eu era um quase completo alienado cultural. Em grande parte a televisão era todo meu mundo simbólico. E se não fosse pelos episódios da versão original do Sítio do Pica-Pau Amarelo, minha mente seria dominada exclusivamente por naves, alienígenas e superamigos made in USA. A verdade é que os desenhos e seriados norte-americanos influenciaram decisivamente meu imaginário e meus gostos e escolhas pessoais (“para o bem e para o mal”).

Certamente, poucas coisas a que assisti foram tão marcantes quanto duas animações exibidas em especiais da Disney para o Dia das Bruxas: O Velho Moinho e A Lenda do Cavaleiro Sem-Cabeça. Mais tarde, seria a vez dos oito episódios do incomparável e impagável anime Dom Drácula. Obras-primas quase acidentais, essas animações foram responsáveis por meu gosto por histórias de terror. Com o tempo, é claro, acabei descobrindo os clássicos da literatura, os filmes do expressionismo alemão e os quadrinhos de terror.

Misturando todas essas influências vindas de fora, há alguns anos escrevi um poema narrativo intitulado “Convenção dos Monstros”, que reproduzo acima (para ler o poema, basta clicar na imagem). Nele, reúno alguns dos mais conhecidos personagens do terror, incluindo uma ou duas figuras históricas e outros seres mais obscuros. Todos os personagens citados são de domínio público, tendo saído de alguma fonte literária, cinematográfica ou popular. Enfim, espero que gostem desta história de terror em versos, e vida longa a nossos queridos monstros!

25/07/2008

Chega às lojas o “Animatrix” do Batman.


Acompanhando o avassalador sucesso do filme O Cavaleiro das Trevas, chegou às lojas o DVD com a animação Batman: O Cavaleiro de Gotham, o mais recente lançamento da série DC Universe. Trazendo seis episódios curtos produzidos por Bruce Timm e dirigidos por diretores japoneses, a animação situa-se entre os dois longas-metragens do Homem-Morcego dirigidos por Christopher Nolan. O desenho obviamente segue o modelo de Animatrix, colocando lado a lado diferentes estilos de desenho e ritmos de animação, ao mesmo tempo em que adiciona peças às histórias narradas no cinema.

Batman: O Cavaleiro de Gotham é uma animação feita para os fãs do herói e, em especial, para aqueles que gostaram de Batman Begins. O leitor mais purista poderá estranhar as diferentes abordagens e visuais que se sucedem de episódio a episódio. Na verdade, porém, a diversidade de estilos empregados para narrar cada história revela-se a maior virtude dessa produção. O fato é que os roteiros em geral, escritos por David Goyer, Alan Burnett, Brian Azzarello, entre outros, deixam a desejar. Assim, o melhor dos 75 minutos de animação fica mesmo por conta das imagens e do ritmo em estilo anime.

A produção tem lá seus altos e baixos, seus episódios melhores e piores. Além disso, a liberdade criativa dada aos diretores japoneses originou algumas inconsistências, como diferenças na cor dos olhos de Bruce Wayne e na aparência de personagens coadjuvantes. Contudo, trazendo bastante ação, tiros e cenas de luta, o DVD deverá agradar a quem gosta das tramas mais policiais envolvendo o Batman. Diretamente relacionados aos eventos mostrados em Batman Begins, os episódios deixam de lado os bat-vilões mais tradicionais, contando apenas com a participação do Espantalho e de Croc.

Em todos os sentidos, o melhor de Batman: O Cavaleiro de Gotham está no primeiro e quarto episódios. “Eu tenho uma história para você” repete uma fórmula já utilizada em quadrinhos e desenhos do Homem-Morcego, em que pessoas comuns se sentam para contar suas histórias sobre o herói. Neste caso, jovens skatistas narram como foram seus encontros com o Cavaleiro de Gotham, descrevendo-o como cada um o viu, ou seja, uma sombra viva, um morcego gigante e uma armadura-robô. O visual e acabamento são de primeira, lembrando o mangá Preto & Branco ou as HQs de Miguelangelo Prado.

Já “Esconderijos na Escuridão” tem uma atmosfera que parece o cruzamento de Blade Runner com as HQs de Mike Mignola. Numa grotesca e sombria viagem aos esgotos de Gotham, o Homem-Morcego enfrenta aberrações humanas e loucos fanáticos. Com enquadramentos inclinados e personagens distorcidos, o episódio é eficiente ao apresentar o monstruoso Croc e situar o vilão Espantalho após os acontecimentos de Batman Begins. Outros episódios, como “Teste de Campo” e “Lidando com a dor”, trazem elementos interessantes, como um visual diferenciado para o Batman ou sequências de animação passadas na Índia.

Pessoalmente, eu esperava mais de Batman: O Cavaleiro de Gotham. Em especial, se considerarmos toda a antecipação e os recursos milionários que envolveram o projeto. Mas esse anime do Homem-Morcego vale uma conferida por suas abordagens originais de um super-herói clássico. Para quem quiser conferir, o DVD traz alguns extras, nem todos traduzidos, estando à venda por R$29,90. E para quem quiser saber mais sobre os quadrinhos, filmes e animações do Batman, basta clicar nas palavras em destaque abaixo.

12/03/2008

A Nova Fronteira em boa versão animada.


Por afinidades em suas linguagens, a animação possibilitou algumas das melhores adaptações dos quadrinhos, particularmente em filmes que contaram com a supervisão dos autores das HQs originais. Esse é o caso dos antigos especiais do Snoopy, dos desenhos do Asterix ou do longa-metragem Akira. O mais recente exemplo de uma boa transposição dos quadrinhos para a animação é Liga da Justiça: A Nova Fronteira, produção da Warner Premiere que chega às lojas num DVD simples, com alguns extras interessantes e ao preço de R$29,90.

Produzido por Bruce Timm e dirigido por David Bullock, o filme de 74 minutos é uma adaptação bastante fiel dos principais elementos da minissérie DC: A Nova Fronteira. Contando com a consultoria de Darwyn Cooke (quadrinista responsável pela HQ original), a produção enfoca as personalidades e os primeiros encontros de alguns dos principais heróis da DC Comics. Marcando a transição da chamada “Era de Ouro” para a “Era de Prata” dos quadrinhos de super-heróis, A Nova Fronteira apresenta versões clássicas do Super-Homem, Batman, Mulher-Maravilha, Flash, Lanterna Verde e Ajax. Misturando um ambiente histórico a elementos futuristas, a história busca ressaltar o clima de heroísmo dos anos 50, reunindo pessoas comuns e super-heróis contra um monstro-ilha que ameaça conquistar o mundo e destruir a humanidade.

Lançado como parte do DC Universe (série de desenhos animados baseadas nos quadrinhos e lançados direto em DVD), A Nova Fronteira tem uma animação competente, com alguns momentos excepcionais. O filme é eficiente em criar uma ambientação de época, tendo seu visual construído a partir da minissérie de Cooke (embora o leitor do trabalho original possa sentir falta de sua identidade visual). Mais fiel ainda é o roteiro adaptado que, salvo algumas alterações e cortes necessários, é a história de Cooke recontada em animação, incluindo a não-linearidade, a violência e todo o sangue (o que, apesar da classificação “Livre”, não faz deste filme exatamente um desenho animado para crianças). Os maiores cortes foram no sofrível capítulo de abertura na ilha dos dinossauros (completamente cortado) e na trama envolvendo a viagem espacial (que foi simplificada para caber no filme).

Se algumas falas e ações foram trocadas, enquanto muitos coadjuvantes não foram incluídos no filme, as diferenças mais evidentes em relação à HQ acontecem logo nos primeiros minutos. Neles, o monstro-ilha ganha voz para narrar sua própria história (algo muito parecido com o que o vilão Abu faz na abertura do desenho Samurai Jack). A isso se segue a sequência de créditos, que utiliza um visual simplificado e estilizado para resumir elementos da narrativa, como o banimento da Sociedade da Justiça e a morte do Homem-Hora (em termos estilísticos, essa parte também não é muito original, assemelhando-se à sequência de créditos do filme Os Incríveis da Disney). Por outro lado, algumas alterações mais sutis vieram realmente para o benefício da história, por exemplo, a forma como Hal Jordan assume a identidade de Lanterna Verde, ou a inteligente explicação do porquê Batman teria mudado seu visual mais sombrio dos primeiros anos, para algo menos ameaçador.

No geral, Liga da Justiça: A nova Fronteira corresponde às expectativas (exceto é claro pelo título, já que o grupo de heróis só aparece de fato nos últimos segundos do filme). E se a trilha sonora várias vezes desliza na obviedade, o bom elenco de vozes (tanto em inglês, quanto em português) mantém o filme nos trilhos (contando na versão original com o autêntico discurso de John F. Kennedy do qual o filme e a HQ tiraram seu título). O DVD lançado no Brasil traz ainda uma seção de extras com traileres, uma prévia especial do “anime” Gotham Knight e o ótimo vídeo “A história completa da Liga da Justiça” (com depoimentos de importantes nomes dos quadrinhos, como Denny O’Neill, Len Wein e Marv Wolfman). O espectador pode também optar por ver o filme escutando os comentários dos produtores ou do próprio Darwyn Cooke (isso se entender inglês, já que as duas opções não vêm com legendas).

Para aqueles que leram e gostaram da minissérie original ou simplesmente para os fãs dos super-heróis DC, Liga da Justiça: A Nova Fronteira é uma boa pedida. E a recepção positiva nos Estados Unidos deixa aberto o caminho para futuras adaptações na série DC Universe (lançada com Superman: Doomsday e tendo as próximas produções dedicadas a Batman e Mulher-Maravilha).

13/01/2008

Robôs gigantes, monstros gosmentos, Miller & Darrow.


Originalmente uma minissérie em duas partes, The Big Guy and Rusty foi lançada pelo selo Legend da Dark Horse, em 1995. O roteiro de Frank Miller e a minuciosa arte de Geof Darrow brincam com o universo dos quadrinhos e filmes japoneses de monstros e robôs. A história começa quando um grupo de cientistas japoneses (envolvidos numa experiência genética) dá vida a um maléfico monstro ancestral. Como acontece nos filmes de Godzilla, a gigantesca criatura passa então a arrasar Tóquio. Além de toda a destruição (que inclui explosões e desabamentos de prédios causados pelas chamas que o lagarto gigante lança), a “gosma” que cai da boca do monstro tem a estranha propriedade de transformar homens em répteis monstruosos. Incapaz de vencer a criatura com suas armas convencionais, o exército japonês coloca em ação um protótipo secreto: Rusty, o garoto robô.

Rusty é inegavelmente uma referência a Astro Boy, personagem criado pelo mestre dos quadrinhos japoneses, Osamu Tezuka. O Astro Boy original era um pequeno robô, com feições de criança e movido a energia nuclear, que lutava contra monstros e vilões. É exatamente isso que Rusty é (aliás, este não era o nome do menino que acompanhava o cão Rin Tin Tin em suas aventuras no Forte Apache?). Mas o pequeno Rusty (que na HQ de Miller representa o Japão) não consegue vencer o dragão gosmento. Desesperados, os líderes japoneses resolvem colocar o “orgulho nacional” de lado e pedem socorro a The Big Guy (um robô gigante que tem o design arredondado e os frisos metálicos dos carros e geladeiras dos anos 50). Como é óbvio que o “Grandalhão” representa os Estados Unidos, o final da história você pode imaginar.

Ao resgatar o universo temático das HQs e filmes dos anos 50, Miller não utilizou apenas seus personagens (robôs e monstros), como copiou o estilo dos textos. O proposital excesso de adjetivos e o uso de jargões, como “The Big Guy is on the move!” (O Grandalhão está a caminho!), reforçam a figura do herói e a dramaticidade dos ataques do monstro. E como nas antigas HQs, o herói que representa os Estados Unidos chega na última hora para salvar o mundo. Mas, deixando de lado o ufanismo de Miller, os desenhos em The Big Guy and Rusty merecem um destaque à parte. Cada um dos quadros de Darrow é uma galeria de minuciosos e às vezes quase imperceptíveis detalhes. A minúcia visual, na reconstituição de Tóquio ou no desenho de cada personagem em cena, sugere um domínio da técnica pouco comum nos quadrinhos em geral, além de uma paciência quase oriental. Em uma das cenas, o monstro estraçalha um vagão do metrô, lançando ao ar estilhaços de metal; o que não se nota a princípio é que, em meio aos estilhaços, Darrow desenhou dezenas de pessoas voando pelos ares (mórbido, mas tecnicamente impressionante).

Após o sucesso da minissérie original, que ganhou prêmios pela arte de Darrow, foram lançadas uma reedição reunindo as 65 páginas da HQ, além de uma nova edição, The art of The Big Guy and Rusty, sem texto e em preto e branco. No fim dos anos 90, os personagens criados por Miller e Darrow ganharam uma série de desenhos animados para a tevê.

30/12/2007

Batman: herói dos seriados, filmes e animações (IV).


Após uma década de séries e filmes de animação acima da média, surgiram rumores sobre o retorno do Homem-Morcego aos cinemas. Mas, antes que Batman Begins fizesse sua estréia mundial, um novo desenho animado chegou aos canais da Warner. E com a forte marca “retrô” deixada por Batman - The Animated Series, os executivos do estúdio norte-americano decidiram que era hora de “zerar o placar” e lançar uma versão supostamente mais de acordo com as tendências deste início de século.

Foi assim que surgiu The Batman, um estiloso desenho animado, com direito a muitas cenas angulosas e figuras tortuosas (além de injustificáveis céus verdes e roxos). Apresentando alguns novos personagens (criados para contemplar telespectadores das chamadas “minorias raciais”), a animação traz também os coadjuvantes e antagonistas de sempre (Comissário Gordon, Alfred, Coringa, Mulher-Gato, etc.). Porém, como a idéia era buscar um visual mais contemporâneo, o próprio protagonista e vilões clássicos como o Coringa ganharam (duvidosas) versões criadas por Jeff Matsuda (o mesmo responsável pelo desenho As Aventuras de Jackie Chan). Embora O Batman conte com um tema de abertura bacaninha (composto por The Edge, da banda U2) e tenha lá seus momentos interessantes, como um todo, a série parece uma idéia ruim que recebeu um orçamento milionário.

Lançado em 2004, o desenho traz um Bruce Wayne pós-adolescente e repleto de brinquedinhos high tech, mas sem a consistência que caracteriza as melhores versões do Homem-Morcego. Com a saída dos produtores principais em 2007, a Warner começou a fazer reajustes na série, aproximando-a de outras mais bem-sucedidas (como o desenho Liga da Justiça). No fim das contas, porém, O Batman não passa de uma cria de estúdio, voltada a disseminar uma imagem mais juvenil e comercial de um personagem que logo apareceria numa produção de milhões de dólares. A busca de uma versão atualizada e dinâmica do Batman era necessária para agradar ao público adolescente masculino, da mesma forma que a escolha de um ator jovem e "bonitinho", como Christian Bale, tinha o objetivo de atrair a parcela feminina do público.

Tendo estreado nos cinemas em 2005, Batman Begins foi mais uma produção multimilionária de Hollywood, baseada num personagem dos quadrinhos. Com um elenco estelar, que inclui Michael Caine, Morgan Freeman e Garry Oldman (além do deslocado Liam Neeson e da inócua Katie Holmes), o filme pretende ser uma abordagem realista do herói, através de uma caracterização contemporânea (afastando-se, por exemplo, da proposta mais interpretativa das produções de Tim Burton). Porém, mesmo sendo tecnicamente elogiável e tendo agradado a muitos espectadores, o filme não se sustenta. Começando com Sete anos no Tibet, roubando cenas de Highlander e Blade Runner, passando por Velozes e Furiosos, o longa traz algum bat-drama e é cheio de cortes bruscos e personagens sem dimensão, resumindo-se a uma grande colagem.

Roteiro fraco, personagens mal aproveitados, visual um tanto inadequado e um Batman que voa (!) são ingredientes que podem até ter agradado a muitos, mas que seguramente não fazem de Batman Begins o melhor filme com o Homem-Morcego (como alguns gostam de alardear). A moral da história? Simples: por si sós, nem mesmo um dos personagens mais populares de nosso tempo e todo o dinheiro de Hollywood fazem um grande filme. Mas, já que a primeira produção rendeu alguns milhões de dólares, Christopher Nolan e Christian Bale ganharam uma segunda chance (de 150 milhões de dólares) para levar o Batman às telas dos cinemas. Agora só resta aguardar a estréia de The Dark Knight, em julho de 2008, para conferirmos se esse será um grande filme do Cavaleiro das Trevas, ou se o Coringa (interpretado por Heath Ledger) roubará a cena. Então, até 2008!

28/12/2007

Batman: herói dos seriados, filmes e animações (III).


Pode-se dizer que os “filhos legítimos” dos filmes de Tim Burton são, na verdade, os desenhos animados produzidos pela Warner Bros., a partir de 1992. Preparada para se seguir ao lançamento de Batman - O Retorno, a nova série de animação do Homem-Morcego superou todas as expectativas, saindo “muito melhor que a encomenda”. Lançada numa época em que a Internet não havia ainda se difundido, ela estreou no Brasil sem muito alarde, numa manhã de domingo. Por isso mesmo, a surpresa foi total! Já na abertura (com seus tons sombrios e desenhos dinâmicos conduzidos por uma música que vai do soturno ao triunfal), Batman - The Animated Series mostrou que os desenhos animados baseados em quadrinhos poderiam ser produções mais adultas e sofisticadas.

Assim como os filmes de Tim Burton, a animação produzida por Alan Burnett, Eric Radomski e Bruce W. Timm partia de uma temporalidade difusa (que misturava componentes da Art Decó dos anos 40 com elementos dos anos 90). Com arquitetura, roupas e carros antigos, além de um clima sombrio e de gângsteres como bandidos, a nova série animada do Batman não escondia a influência dos filmes noir e das animações clássicas do Super-Homem (produzidas pelos irmãos Fleischer entre 1941 e 1943). E se o visual de alguns objetos e personagens (como o Batmovel e o Pinguim) veio das produções cinematográficas de Tim Burton, o visual do Homem-Morcego saiu do herói Space Ghost criado por Alex Toth (para os Estúdios Hanna-Barbera, nos anos 60) e do próprio Batman desenhado por David Mazzucchelli (para a HQ Ano Um, de 1987). Já o trabalho de animação em si ficou a cargo de estúdios orientais, que aplicaram recursos e inovações trazidos pelo longa-metragem Akira (o clássico de Katsuhiro Otomo, de fins dos anos 80). Por fim, a música-tema de Danny Elfman (adaptada de seu trabalho em Batman - O Filme) e um acertado elenco de vozes (que no caso do protagonista é ainda melhor na dublagem do brasileiro Márcio Seixas) contribuíram para o imediato sucesso da série.

Contudo, recursos técnicos e influências visuais não seriam o bastante se a série não trouxesse também boas histórias. Tendo como referência a abordagem “psicológica” e mais racionalista dos quadrinhos dos anos 80 (como Ano Um de Frank Miller e A Piada Mortal de Alan Moore), os roteiristas buscaram o “lado humano” dos personagens (evitando o maniqueísmo ao apresentar suas motivações). O melhor exemplo disso talvez seja o Cara de Barro, que surge como um perigoso monstro capaz de alterar sua forma, mas acaba se revelando um atormentado ex-ator em busca de uma cura. O mesmo acontecesse com o Sr. Frio, vilão de não muito destaque que teve sua origem recontada, ganhando uma dimensão mais trágica (além de um novo visual criado por Mike Mignola). De fato, a começar do próprio Batman/Bruce Wayne, quase todos os coadjuvantes e antagonistas de suas HQs foram reinventados para a série: do Morcego-Humano e do fiel mordomo Alfred (no ótimo episódio-piloto “Asas de Couro”), passando pelo Comissário Gordon e por Robin, até os vilões Duas-Caras, Mulher-Gato, Charada, Hera Venenosa, Pinguim e, é claro, o insuperável Coringa.

Revitalizado e mais espirituoso que nunca, o Coringa chegou como uma das estrelas da série, ganhando uma versão à altura de sua importância (e a dublagem do ator Mark Hamill no original). E o Palhaço do Crime mostrou que não estava de brincadeira, em episódios como “O Natal do Coringa”, “Seja um Palhaço” e “Um favor para o Coringa”. Este último, escrito por Paul Dinni, trouxe a estréia da impagável Arlequina, a namorada do Coringa que conquistou o coração do público (a ponto de saltar dos episódios da tevê para os quadrinhos da DC Comics). Dinni também escreveu o inspirado “Quase o peguei” (no qual os principais inimigos do Batman contam suas histórias de como eles quase o derrotaram) e o original “O homem que matou o Batman” (no qual um bandido chinfrim espanta o mundo do crime com a alegação de ter matado o defensor de Gotham City). A lista de escritores do desenho animado incluiu ainda veteranos dos quadrinhos, como Len Wein, Marv Wolfman e Dennis O’Neil, que garantiram o ótimo nível médio dos roteiros.

Batman - A Série Animada foi um enorme sucesso de público e crítica, ganhando vários prêmios. Com isso, o desenho animado acabou originando uma coleção de brinquedos e a ótima revista em quadrinhos Batman - O Desenho da TV, além do longa-metragem para o cinema Batman - A Máscara do Fantasma, lançado em 1993. No ano seguinte, o título da série foi mudado para As Aventuras de Batman & Robin, marcando uma nova abordagem que valorizava mais o Menino-Prodígio. Tendo se saído tão bem com o Homem-Morcego, Bruce Timm teve a chance de recriar o outro grande super-herói da DC Comics, produzindo em 1996 Superman - A Série Animada. No ano seguinte, o desenho do Homem-Morcego sofreu outra mudança estrutural, passando a se chamar As Novas Aventuras do Batman. Já em 1998, a dupla dinâmica apareceu no longa Batman & Sr. Frio: Abaixo de Zero, enquanto o Homem-Morcego se encontrou com o Homem de Aço em Batman/Superman: Os Melhores do Mundo. No ano seguinte, foi lançada Batman do Futuro, série que originaria o longa O Retorno do Coringa. Mais recentemente, foi lançado em DVD um quarto filme: Batman - O Mistério da Mulher Morcego.

Esse amplo repertório de animações pavimentou o caminho para as séries Liga da Justiça, Liga da Justiça Sem Limites, Jovens Titãs e a recente Legião dos Super-Heróis. Com uma qualidade técnica e narrativa capaz de agradar tanto a uma criança de 3 anos quanto a um adulto de 33, de um modo geral, os desenhos animados lançados pela Warner nos últimos quinze anos são melhores que os quadrinhos publicados pela DC Comics. Recriando os personagens da editora para a linguagem da animação e o público do século 21, essas séries cativaram novos fãs que, em muitos casos, jamais lerão as versões originais em quadrinhos. Mas o fato é que foi a profunda paixão de Bruce Timm e sua equipe pelos heróis das HQs que gerou Batman - The Animated Series, um dos melhores desenhos animados já feitos.

Para quem quiser conhecer ou rever, as animações citadas aqui já foram lançadas no Brasil em DVD. E para quem quiser saber mais sobre os quadrinhos do Homem-Morcego, clique na palavra BATMAN em destaque abaixo.

21/12/2007

Quadrinhos em “estilo desenho animado”.


Ao longo dos anos 90, as editoras Marvel e DC Comics perderam uma considerável parcela de seu público para os desenhos animados japoneses, os video games e também para sua maior concorrente, a Image Comics. Para recuperar os leitores perdidos e conquistar o novo público infantil, as duas maiores editoras do mercado norte-americano investiram em revistas que valorizam seus personagens e veiculavam um novo padrão de desenho, que chamei na época de “estilo desenho animado”. Com ele, a narrativa em quadrinhos, que havia sido prejudicada pelo “estilo Image” (que transformou as páginas num amontoado de imagens exageradas), foi retomada por novos autores que souberam desenvolver um trabalho mais interessante e criativo.

Com a publicação de O Cavaleiro das Trevas e Watchmen em 1986, os roteiristas passaram a tentar imprimir mais realismo aos super-heróis. Se isto possibilitou a criação de trabalhos inovadores, também contribuiu para um enfraquecimento no carisma dos personagens (que se afastavam cada vez mais dos ícones dos anos 40 e 50). Em grande parte, o estilo desenho animado foi uma resposta a esse processo de enfraquecimento dos heróis. Com formas bem delimitadas e desenhadas em traço cartunizado, o novo estilo conseguiu resgatar elementos característicos de heróis clássicos como Batman e Super-Homem.

Esse “retorno às origens” começou em 1992, quando foi lançada Batman: The Animated Series, a melhor série de animação já feita com o Homem-Morcego. Trazendo influências do desenho animado do Super-Homem produzido pelos irmãos Fleischer entre 1941 e 1943, além das inovações de animações japonesas como Akira, o seriado produzido por Alan Burnett, Eric Radomski e Bruce Timm causou um verdadeiro furor quando lançado. Acompanhando o seriado da tevê, a DC Comics lançou a revista The Batman Adventures (rebatizada no Brasil como Batman: O Desenho da TV), que tinha temática e visual inspirados na animação.

Entre os desenhistas da nova publicação, Mike Parobeck destacava-se pelo traço dinâmico e pela narrativa precisa, que exploravam as sugestões do roteiro. Seus desenhos lembram as antigas HQs do Capitão Marvel (Shazam!) no estilo cartunizado de C.C. Beck, enquanto sua narrativa traz influências de Frank Miller e John Byrne. Assim, reunindo as soluções criativas de quadrinhos clássicos e as inovações narrativas dos anos 80, Parobeck desenvolveu um trabalho bastante comunicativo. Recuperando o carisma de Batman nos quadrinhos, The Batman Adventures reconquistou antigos fãs e cativou um seguimento que estava sendo negligenciado pelas editoras de super-heróis: o público infantil.

Explorando a qualidade dos trabalhos de Parobeck, a DC Comics lançou outra revista, com HQs, curiosidades e passatempos, voltada especificamente para público infantil. Nas páginas de Superman & Batman Magazine (intitulada no Brasil O Novo Batman), além dos dois principais heróis da editora, outros personagens como Lanterna Verde, Mulher Maravilha e Flash ganharam versões em estilo desenho animado. Com isso, através das revistas desenhadas por Parobeck, a DC Comics deu continuidade nos quadrinhos ao processo de revitalização de seus super-heróis, iniciada nos desenhos animados.

Mas foi nas páginas das revistas dos heróis mutantes da Marvel que atuou o desenhista mais influente do estilo desenho animado. Joe Madureira era um fã de quadrinhos que conseguiu um emprego de auxiliar nos escritórios da editora. Dos desenhos de horários de folga ao título de desenhista mais influente dos quadrinhos norte-americanos foram apenas cinco anos. Estreando na revista Excalibur, ele teve sua grande chance em 1994, quando desenhou sua primeira edição de The Uncanny X-Men. Em pouquíssimo tempo, Madureira tornou-se um dos desenhistas mais cotados dos quadrinhos norte-americanos.

Se em seus primeiros trabalhos os desenhos lembravam o estilo de Arthur Adams, com o crescente sucesso da animação japonesa, Madureira trocou o traço fino e detalhado pelos desenhos mais delineados e marcados. Com isso, suas heroínas e vilãs passaram a lembrar as ninfetas dos desenhos japoneses, seus heróis ganharam um visual mais jovial, enquanto os vilões aproximaram-se dos monstrengos dos animes. O fato é que os desenhos dinâmicos e o traço definido de Madureira fizeram escola; porém, depois de um enorme sucesso como desenhista da The Uncanny X-Men, ele seguiu o exemplo dos criadores da Image Comics, deixando a Marvel para desenhar seus próprios personagens.

De qualquer maneira, devido aos bons resultados alcançados com The Batman Adventures e The Uncanny X-Men, na segunda metade dos anos 90, tanto a DC quanto a Marvel passaram a investir em revistas no estilo desenho animado, recuperando a popularidade e as características originais de seus principais personagens.