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09/08/2010

Os X-Men por Joss Whedon e John Cassaday (II).


Começando em tom nostálgico, mas também trazendo situações novas (que acabariam no filme X-Men – O Confronto Final), a revista dos heróis mutantes produzida por Joss Whedon e John Cassaday logo conquistou a predileção dos fãs. As coisas melhoram no segundo conjunto de histórias, que coloca em cena uma entidade de inteligência artificial, revelando ao final um complô envolvendo Emma Frost. E é exatamente com essa trama, que liga a antiga Rainha Branca ao Clube do Inferno e à terrível Cassandra Nova, que Astonishing X-Men n°13 se inicia.

Considerando o histórico e os poderes dos vilões envolvidos, jogos mentais e situações ilusórias não poderiam deixar de fazer parte do pacote. Com isso, a trama principal segue uma linha mais psíquica, concentrando-se na personalidade e conflitos pessoais do líder dos X-Men, Ciclope. E enquanto a história prossegue, os pontos mais memoráveis dessas HQs ficam por conta de uma “aula” sobre combate que tem (o não muito pedagógico) Wolverine como professor, e o aguardado encontro a dois de Kitty Pryde e Colossus (cujo “clímax” leva a um momento inusitado e engraçado).

Explorando bem a relação entre os personagens e pontuando o drama com doses de humor, o terceiro conjunto de histórias da Astonishing X-Men chega à metade com os X-Men (de novo) prestes a serem destruídos. E com integrantes mais poderosos e agressivos neutralizados, é Kitty Pryde quem assume o centro da ação. Ao final, porém, tudo se resume a um grande jogo mental, que deixa uma sensação de que não apenas os personagens foram ludibriados. Além disso, essa utilização de um recurso ficcional batido se soma a uma condução às vezes truncada, levando a uma conclusão abrupta.

Na verdade, o que acaba tendo mais relevância ali é a história paralela que vinha sendo narrada, com a qual as tramas iniciais (envolvendo o alienígena Ord e a entidade tecnológica Perigo) se intercalam, abrindo caminho para o que será o conjunto final de histórias de Whedon & Cassaday. Neste último ato, os X-Men são levados por Abigail Brand a Breakworld, um mundo alienígena onde a violência e a destruição dos inimigos são as leis principais. Lá, um antigo oráculo teria profetizado que o planeta seria destruído por um dos X-Men, o que acaba colocando em risco a existência do planeta Terra.

Com alguns momentos tranquilos (como as cenas de amor de Kitty Pryde e Colossus) e muitas sequências de luta (com destaque para Wolverine e Armadura), a história caminha para o fim, culminando no disparo de uma bala gigante contra a Terra. Embora a trama se embole um pouco no meio do caminho, os leitores recebem sua dose de ação e emoção. Então, não bastando as revistas que completam o quarto conjunto de seis histórias, Astonishing X-Men ganhou uma edição final dupla, com a participação de outros heróis, como Quarteto Fantástico, Dr. Estranho e Homem de Ferro.

Giant-Size Astonishing X-Men n°1 encerrou um trabalho que já somava vinte e quatro edições e se iniciara quatro anos antes. E embora comece numa página dupla com o Homem-Aranha e traga outros figurões da Marvel, a HQ enfoca dois personagens que provavelmente não figurariam numa lista de possíveis salvadores do mundo. O primeiro é Colossus, que protagoniza a única luta realmente relevante nessa revista e que, ao final, salva o Breakworld da destruição. A outra é Kitty Pryde, verdadeira protagonista dessa fase da revista, que no último instante sacrifica-se para salvar a Terra.

Desde sua primeira edição à frente da Astonishing X-Men, Joss Whedon “jogou para a torcida”. Privilegiando a nostalgia e resgatando elementos que haviam feito o sucesso dos X-Men no início dos anos 80, o roteirista soube explorar a personalidade e as interações dos personagens. Sem desconsiderar as contribuições trazidas pela New X-Men, seus roteiros seguiram mais a linha do entretenimento, com ação e ambientes de ficção científica. Algo que deveria ter sido evitado é a monotonia narrativa, causada às vezes por um excesso de páginas divididas em quadros horizontais de mesmo tamanho.

Quanto ao visual, pode-se dizer que muitos elementos das histórias não teriam funcionado ou não seriam tão efetivos se não fosse o ótimo trabalho de John Cassaday e da colorista Laura Martin (sua parceira também em Planetary). Apresentando grande regularidade ao longo da série, suas páginas privilegiam a ambientação e a caracterização, somando um traço fino e detalhado a uma colorização luminosa e repleta de efeitos gráficos. O resultado é um visual belo e dinâmico, não raras vezes impressionante e sempre capaz de imergir o leitor na sequência de imagens, promovendo a ilusão de realidade das histórias.

Embora tenha levado quatro anos para ser concluída, a história contada por Whedon e Cassaday se passa ao longo de poucas semanas. Com histórias concatenadas e tramas interligadas, as vinte cinco edições dessa fase privilegiam, assim, uma leitura em conjunto. Aclamada entre os leitores, a série ajudou a firmar a popularidade dos heróis mutantes, conquistada com os filmes lançados em 2000 e 2003. Um dos melhores exemplos da inteligente estratégia que levou a Marvel ao topo do mercado de revistas nos Estados Unidos, a fase de Joss Whedon e John Cassaday na Astonishing X-Men foi e continua sendo um grande sucesso comercial.

Após publicar os dois volumes com as doze edições iniciais, a Marvel lançou as coletâneas Torn e Unstoppable, também reunidas num volume estendido em capa-dura (embora os leitores brasileiros ainda aguardem o lançamento de Os Surpreendentes X-Men Volume 2). Em 2009, essa aclamada fase da Astonishing X-Men ganhou uma omnibus edition de 670 páginas. A Marvel lançou ainda uma versão montion comics de Gifted, que ganhará em breve uma edição de luxo, no DVD de estreia do selo Marvel Knights. Provas sucessivas de que os quadrinhos ainda são um ótimo negócio!

06/08/2010

Os X-Men por Joss Whedon e John Cassaday (I).


Uma característica dos quadrinhos de super-heróis é a identificação dos leitores com determinado personagem (há aqueles que são fãs do Super-Homem ou do Homem-Aranha, outros do Batman ou do Hulk). Além disso, muitas vezes os leitores elegem suas fases favoritas, nas quais determinada equipe de autores ficou a cargo de uma revista. Um bom exemplo disso foi a fase em que a revista The Uncanny X-Men foi produzida por Chris Claremont e John Byrne. Por sua qualidade e importância, muitos consideram este período, entre 1977 e 1981, como o melhor dos heróis mutantes da Marvel.

Mais recentemente, outra fase dos “filhos do átomo” recebeu uma atenção especial dos leitores. Escrita por Joss Whedon (o criador do seriado Buffy, a caça-vampiros) e desenhada por John Cassaday (desenhista da série Planetary), a revista Astonishing X-Men foi lançada no primeiro semestre de 2004. E bem antes de a primeira edição chegar às lojas, os nomes dos autores envolvidos já causavam expectativa entre os fãs dos heróis mutantes. O que se viu, nas vinte e quatro edições e na revista dupla que fechou esse trabalho, correspondeu e até superou as expectativas dos leitores.

Pegando o fio da história de onde Grant Morrison havia deixado em New X-Men, a nova série começou com os heróis lidando com os desdobramentos do afastamento do Professor X e da morte de Jean Grey. Com Ciclope no comando do grupo e Emma Frost na coordenação da escola, um clima não muito amistoso predomina. Mas também há uma boa dose de nostalgia com o retorno da popular Kitty Pryde e de seu dragão Lockheed, além de algum estranhamento com o surgimento do vilão alienígena Ord. Para complicar um pouco mais as coisas, é anunciada uma “cura” para a condição mutante.

Filas de mutantes à frente do laboratório que desenvolveu a vacina genética (que foram parar mais tarde no filme X-Men – O Confronto Final), brigas entre os X-Men e dúvidas por parte do Fera dão a tônica dos primeiros capítulos da história. O herói Colossus, outro personagem popular entre os antigos leitores, ressurge dos mortos, enquanto as personagens Armadura e Abigail Brand fazem sua estreia. Em meio ao tumulto, a intervenção da S.W.O.R.D. desvenda a trama interplanetária envolvendo o alienígena Ord, enquanto a atuação dos X-Men neutraliza a ameaça, encerrando a sequência inicial de HQs.

As seis primeiras edições de Astonishing X-Men têm como característica principal o retorno de personagens e a volta a elementos tradicionais desses heróis (incluindo o “lançamento especial” em que Colossus arremessa Wolverine, e até imagens tiradas de antigas HQs). O próximo conjunto de histórias começa de forma incomum, com o supergrupo enfrentando um lagarto gigante. A ação faz parte do esforço de Ciclope para que sua equipe seja mais bem vista pelo público em geral, o que inclui o uso de uniformes com um pouco mais de cor (deixando para trás a fase do couro preto da série New X-Men).

Claro que a intromissão dos X-Men num “nicho de mercado” alheio não passa despercebida, e o Quarteto Fantástico logo aparece para marcar presença. Não demora para que os dois grupos de heróis unam forças e, já que “a união faz a força”, um simples monstrengo verde não é páreo para eles. Quando a poeira abaixa, comentários sarcásticos sobre os canadenses e, mais tarde, sobre Paris Hilton dão um gostinho extra à leitura. Mas, como não existe tranquilidade para os heróis mutantes, logo a Mansão X é atacada por um robô sentinela a mando de uma entidade tecnológica chamada Perigo.

É a partir da oitava edição que as coisas realmente “esquentam” em Astonishing X-Men; os capítulos que se seguem são pura luta entre os heróis e a inimiga de inteligência artificial. As boas sequências de combate são acompanhadas de uma pertinente narração em texto, e a resolução do conflito inclui o Professor X e uma discussão sobre a relação criador x criatura (que lembra bastante o que se vê no excelente Blade Runner). O encerramento deste segundo conjunto de HQs revela ocultos nas sombras os integrantes de um novo Clube do Inferno, que vêm arquitetando um ataque, através de Emma Frost.

Reeditadas nos Estados Unidos nas coletâneas Gifted e Dangerous, em seguida numa edição estendida em capa-dura, as doze primeiras edições de Astonishing X-Men foram publicadas no Brasil nas páginas de X-Men Extra e depois reunidas pela Panini na coletânea em capa cartonada Os Surpreendentes X-Men Volume 1. O conjunto de edições, que vinha se tornando cada vez mais interessante e empolgante a cada número, não se encerra ao final de Astonishing X-Men n°12, ficando em aberto o misterioso complô que será o tema central na sequência de HQs seguinte.

(CONTINUA)

05/12/2009

O final de Planetary.


Surgida em setembro de 1998 numa história curta promocional, Planetary estreou como uma revista regular do selo Wildstorm no primeiro semestre de 1999. Escrita por Warren Ellis e desenhada por John Cassaday, com cores produzidas por Laura Martin e outros colaboradores, a série conquistou uma legião de fãs, que ansiosamente aguardava por sua conclusão. A espera chegou ao fim há dois meses, com o lançamento de Planetary n°27, uma edição especial que encerra essa complexa saga que reuniu releituras de personagens clássicos, ficção científica de primeira, uma trama conspiratória envolvente, além de citações a filmes e quadrinhos famosos.

Após vencer seus arqui-inimigos e frustrar os planos de uma invasão extradimensional, Elijah Snow, Jakita Wagner e Baterista retornam à Terra para dar início a uma nova era dourada de paz e conhecimento. À frente da Organização Planetary, os heróis passam a desenvolver, sem fins comerciais, as maravilhas tecnológicas e os avanços científicos enterrados nos arquivos de Os Quatro. Com isso, a cura para o câncer e o fim da fome são possibilidades para a semana seguinte. Mas poder virtualmente tornar melhor a vida de cada pessoa no planeta não é o bastante para deixar Elijah contente. Nesses novos dias dourados, o líder de Planetary tem um único propósito, que assume os contornos de uma obsessão: resgatar Ambrose, o integrante perdido do grupo.

O que se segue então é um aprofundado diálogo sobre a Física envolvida na construção e os possíveis efeitos colaterais de se pôr em funcionamento uma máquina do tempo. Contudo, no lugar do já desgastado “paradoxo do vovô”, Warren Ellis nos fala de gatos mortos ou vivos, anéis de luz e outras propriedades emprestadas das teorias da Física Quântica. Mais uma vez, fica provado o empenho do roteirista em embasar suas histórias num conhecimento científico real, tornando Planetary de fato uma série de ficção científica. O restante da edição mostra mais alguns diálogos entre os três personagens principais e a construção da complexa máquina do tempo quântica, encerrando com a tentativa de resgate de Ambrose, que se encontrava em animação suspensa.

Os desenhos de John Cassaday com cores produzidas por Laura Martin ficam na média das boas edições da série. Quase não há ação física, ficando o principal por conta dos diálogos envolvendo teorias da Física. E se não acrescenta muito à história vista até então, o roteiro de Warren Ellis parece mais o cumprimento de um compromisso do autor com o personagem Elijah. Se isso pode soar metalinguístico, o fato é que um dos melhores momentos da HQ é quando o personagem reflete sobre a existência dizendo: “Lembre que estamos todos vivendo em planos de informação bidimensional. O fato de vivermos e respirarmos em 3-D é um efeito colateral do Universo. Nós podemos estar vivendo em outras histórias agora, deslizando através do virar de páginas”.

No geral, Planetary n°27 não é um dos pontos altos da série, mas também não chega a decepcionar (para quem quiser conferir, algumas das páginas estão disponíveis aqui). Para 2010, a DC / Wildstorm programou o lançamento do quarto e último encadernado da série, além da reimpressão de Absolute Planetary – Volume 1 e do lançamento de Absolute Planetary – Volume 2. No Brasil, os “Arqueólogos do Impossível” tiveram algumas publicações ruins, como as coletâneas em formato reduzido e páginas internas foscas, lançadas pela Pandora e pela Devir. Seu melhor momento foi na Pixel Magazine, onde os capítulos 13 a 26 foram lançados com qualidade gráfica adequada. A Pixel também lançou três edições especiais em formato ampliado (Planetary / Batman - Noite na Terra, Planetary / Liga da Justiça - Terra Oculta e Planetary / Authority - Dominando o Mundo) e uma terceira coletânea (Planetary: Deixando o Século 20) no inadequado formato reduzido.

(Para saber mais sobre Planetary e outros trabalhos de seus autores, basta clicar nos marcadores abaixo.)

27/10/2008

Chega ao fim uma bem-sucedida fase dos X-Men.


Uma característica comum nos quadrinhos de super-heróis é a identificação dos leitores com determinado personagem (há assim os fãs de Super-Homem, Homem-Aranha, Batman ou Wolverine). Além disso, muitas vezes os leitores elegem fases favoritas, nas quais determinada equipe de autores ficou a cargo de uma revista. Um bom exemplo disso foram os anos em que a revista The Uncanny X-Men foi produzida por Chris Claremont e John Byrne. Por sua qualidade e importância, muitos consideram este período, entre 1977 e 1981, como o melhor dos heróis mutantes da Marvel. Mais recentemente, outra fase dos “filhos do átomo” mereceu atenção especial dos fãs.

Escrita por Joss Whedon (o criador do seriado Buffy, a caça-vampiros) e desenhada por John Cassaday (ilustrador da série Planetary), a revista Astonishing X-Men foi lançada nos Estados Unidos em 2004. A popularidade dos autores envolvidos e o sucesso da série motivaram a Marvel a investir em edições alternativas, coletâneas e reedições em capa-dura. No Brasil, essas HQs foram publicadas a partir de 2005, nas páginas da X-Men Extra. Para quem não acompanhou a publicação mensal, a Panini lançou recentemente Os Surpreendentes X-Men Volume 1, coletânea em capa cartonada, que traz os doze primeiros capítulos da revista original.

Trazendo os X-Men “sob nova direção” (com Ciclope e Rainha Branca no comando), a fase de Whedon e Cassaday tem como característica a volta a elementos de aventuras tradicionais do grupo de mutantes (como o retorno de personagens e algumas situações que lembram antigas histórias). Já na HQ de estréia isso pode ser notado, por exemplo, no nostálgico retorno de Kitty Pryde à Mansão-X e na violenta rusga de Ciclope e Wolverine, por causa da falecida Jean Grey. E há o próprio visual da série, que se aproxima mais dos desenhos clássicos dos anos 70 e 80, do que das estilizações dos anos 90 e das influências cinematográficas dos últimos anos.

Após vinte e quatro edições, a fase de Whedon e Cassaday chegou ao fim neste ano com a edição especial Giant-Size Astonishing X-Men n°1, lançada por aqui na X-Men Extra n°82. Com a participação especial de outros heróis Marvel, como Quarteto Fantástico, Dr. Estranho, Homem de Ferro e Homem-Aranha, a trama mostra os X-Men mais uma vez às voltas com a iminente destruição do mundo. Mas, ao mesmo tempo em que enfrentam a ameaça alienígena, Ciclope, Rainha Branca, Fera, Wolverine e Colossus empenham-se para salvar a amiga Kitty Pryde. Com elementos futuristas e mais diálogos do que ação, esse epílogo estendido de Whedon, no entanto, deixa algo a desejar.

O que chamou minha atenção para Giant-Size Astonishing X-Men n°1 foi a dinâmica ilustração de sua capa dupla (que vemos nesta postagem e foi reproduzida pela Panini na X-Men Extra n°82). Contudo, esta aparente cena de combate, com os X-Men à frente e vários outros mutantes e heróis Marvel seguindo-os, na verdade não aparece em nenhum momento da HQ. Além disso, os desenhos de Cassaday tropeçam em alguns quadros, ficando aquém do que ele mostrou ao longo da série (e no geral não comparável à qualidade de seu trabalho em Planetary). Para quem quiser conferir, X-Men Extra n°82 tem 100 páginas, sendo vendida por R$6,90.

07/07/2008

Planetary e Authority em coletâneas e edições especiais.


Entre os trabalhos de maior sucesso criados pelo roteirista inglês Warren Ellis, estão as séries Authority e Planetary, lançadas pelo selo Wildstorm da DC Comics. Para os fãs desses super-heróis “pós-modernos”, a Pixel lançou há pouco Planetary - Deixando o Século 20, Authority - Terra Infernal e outras histórias e Authority - Choque de Realidades Parte1.

Terceira coletânea da série produzida por Warren Ellis, John Cassaday e Laura Martin, Deixando o Século 20 reúne as edições 13 a 18 de Planetary. Na primeira história do volume, os autores nos levam à Europa do início do século passado, onde encontramos monstros de Frankenstein reptilianos, um demoníaco Conde Drácula e um envelhecido Sherlock Holmes. Além das citações literárias, há uma referência direta aos extraordinários cavalheiros reunidos por Alan Moore e Kevin O’Neill. Vale notar que Ellis e Cassaday utilizam em sua HQ justamente os personagens mais emblemáticos que ficaram de fora da Liga Extraordinária.

No capítulo seguinte, continuamos descobrindo importantes fatos sobre o passado do Planetary, em meio a mais citações a outras obras. Na primeira frase de “Ponto Zero”, uma óbvia referência ao seriado Arquivo-X, que se repete nos diálogos envolvendo naves derrubadas, supostas abduções e alienígenas. Com uma participação especial da bengala-martelo do herói Thor, o capítulo também traz uma sequência que mais parece um cruzamento do “armário” de armas do filme Matrix, com o "Ideaspace" da série Miracleman. Impressiona a condensação de informações, num roteiro que não deixa de ser muito dinâmico.

O terceiro capítulo da edição faz uma viagem à Austrália, com direito à recriação de um mito de origem aborígine. Mas, embora parta de uma idéia interessante, seu roteiro é o menos bem-solucionado desse terceiro volume. Para compensar, a maior linearidade do roteiro seguinte nos leva a uma China antiga bem ao estilo do filme O Tigre e o Dragão. Cenas de luta empolgantes e ilustrações belíssimas são as características principais dessa impressionante HQ “cinematográfica”, em que o trabalho de Cassaday e Martin chega a seu ápice. O final é mais comum em termos de narrativa, tendo como objetivo avançar na trama de Planetary.

A viagem seguinte é à África, onde um Elijah Snow mais jovem encontra uma cidade gloriosa e o primeiro amor de sua vida. Um destaque fica por conta da desconstrução do herói Tarzan que, ao ser recriado por Ellis, evidencia seus fundamentos etnocêntricos e racistas. Essa história traz ainda o único momento minimamente erótico em Planetary, nas cenas em que vislumbramos uma bela e sensual mulher africana. Por fim, temos um capítulo importante para a conclusão da série, no qual os autores aproveitam para homenagear a ficção científica pioneira de Júlio Verne. De quebra, os agentes do Planetary capturam um de seus piores inimigos.

Planetary - Deixando o Século 20 tem 144 em 17cm x 24cm, custando R$37,90. Se no caso de séries como Os Invisíveis e Preacher a publicação em formato reduzido não traz grandes perdas, isso não acontece com Planetary. Basta uma olhada nas edições originais, ou na publicação desses mesmos capítulos na Pixel Magazine, para se notar uma perda nos desenhos. E considerando que essas mesmas HQs já haviam sido publicadas em “formato americano” pela Pixel, a opção pelo formato reduzido para este terceiro volume tem mais a ver com o trabalho da editora Devir, que havia publicado dessa forma os dois primeiros volumes da série. Somam-se a isso alguns equívocos de tradução.

Authority - Terra Infernal e outras histórias tem 176 páginas em formato 16,5cm x 25,5cm, ao preço de R$19,90, enquanto Authority - Choque de Realidades Parte1 tem 72 páginas em formato 17cm x 26cm, ao preço de R$9,90. Escritas e desenhadas por autores como Mark Millar, Garth Ennis e Frank Quitely, as duas edições concentram-se em catástrofes humanitárias, matanças sem-fim, pancadarias sem sentido e muitos desenhos ruins. Páginas e mais páginas de quadrinhos que não valem o papel em que são impressos. O tipo de HQ que, nos tempos sombrios da Image, eu costumava chamar de lixo cultural.

05/07/2008

O maravilhoso mundo estranho de Planetary.


De tempos em tempos, uma série chega para deixar sua marca no mercado norte-americano de quadrinhos. Este é certamente o caso de Planetary, a complexa e bela revista escrita por Warren Ellis e desenhada por John Cassaday, com cores produzidas por Laura Martin e outros colaboradores. Reunindo releituras de personagens clássicos, ficção científica de última geração, uma trama conspiratória envolvente e citações a filmes e quadrinhos famosos, essa HQ conquistou uma legião de fãs, que ansiosamente aguarda por sua conclusão. Mas o que faz de Planetary uma série tão cultuada e especial?

Surgida em setembro de 1998 numa história curta promocional (baseada na origem do Hulk), Planetary estreou como uma série regular do selo Wildstorm no primeiro semestre de 1999. Planejada inicialmente como uma revista bimestral de vinte e quatro edições autocontidas, a publicação passou a sofrer atrasos e ganhou três números extras, estendendo-se pelos anos seguintes (no momento em que escrevo este texto, o roteiro para a última edição está pronto e a HQ está sendo enfim desenhada). Sua premissa básica era a seguinte: o que aconteceria se um século de História secreta, envolvendo superpoderes, monstros e maravilhas, começasse a vir à tona? Em outras palavras, uma trama ao estilo de Arquivo-X, porém tendo como base os quadrinhos de super-heróis.

É aí que entram em cena o enigmático Elijah Snow, a superpoderosa Jakita Wagner e o irreverente Baterista, que formam a equipe de campo da Corporação Planetary. Sua missão é percorrer o mundo coletando informações e catalogando fatos que outros parecem interessados em manter longe dos olhos da Humanidade. E à medida que os “arqueólogos do impossível” avançam em sua caça aos mistérios, mais provas apontam para o envolvimento de conspiradores conhecidos como Os Quatro (vilões inspirados no Quarteto Fantástico). A cada passo também, uma nova peça é somada ao quebra-cabeça que liga o passado de Elijah a importantes fatos ocorridos no século 20, bem como à identidade do misterioso Quarto Homem.

Se para Jakita, Baterista e Elijah a verdade tanto pode estar “lá fora”, quanto nos recônditos da memória, Planetary também tem sua frase marcante: “É um mundo estranho. Vamos mantê-lo desse jeito”. E embora muito de sua estrutura tenha sido enunciado já na primeira edição, o fato é que a série cresceu e se transformou ao longo do caminho (o leitor atento pode até notar algumas correções de curso). Há, é claro, algumas falhas narrativas e momentos mais fracos (como a sequência que tenta imitar uma história saída de uma revista pulp). No entanto, à medida que os autores tomavam pé de sua criação, uma intrincada trama foi tomando forma e, ao fim dos dois primeiros anos, o leitor é defrontado com algumas respostas que abrem portas para outros mistérios.

Mas Planetary é muito mais que uma história de conspiração. Um dos elementos que se destaca nas primeiras edições são as releituras de antigos personagens, seguindo o caminho aberto por Alan Moore nas séries Marvelman, Watchmen e 1963 (não é à toa que o mago de Northhampton faz uma “participação especial” na Planetary n°7 e alguns de seus conceitos, como o “Infraspace”, aparecem ao longo da série). Contudo, o trabalho de Warren Ellis possui dimensão e alcance próprios. Partindo de personagens como Fu Manchu, Doc Savage e O Sombra, passando por versões distorcidas ou gloriosas dos heróis da DC, até mergulhar na “mitologia” dos heróis Marvel criados por Stan Lee e Jack Kirby, o roteirista consegue surpreender com enredos originais e inventivos.

Outro destaque de Planetary são as interfaces de linguagens artísticas e o cruzamento de diferentes gêneros. Temos, por exemplo, o encontro de cinema e quadrinhos nas edições dedicadas aos filmes de monstros e de espionagem, ou a intertextualidade de quadrinhos e literatura nos capítulos em que aparecem Tarzan, Sherlock Holmes e Drácula (com direito a uma referência a outra série “extraordinária”). E a diversidade narrativa não pára por aí: histórias de fantasmas e filmes policiais de Hong Kong, épicos chineses e mitologia aborígine, Júlio Verne e Arthur Clarke, Akira e Cavaleiro Solitário são algumas das referências que podemos ver lado a lado nas páginas e edições de Planetary (uma pluralidade que já se percebe em suas variadas capas).

Sendo uma revista que viaja pelos mundos da ficção, Planetary tem a virtude de (quase sempre) manter-se ligada a um contexto realista. Exceto pelos monstros gigantes, a quase totalidade dos mistérios revelados na série não viola sua premissa de poderem ter sido, de alguma forma, mantidos em segredo (bom, consideremos que, no mundo de Planetary, não existe jornalismo investigativo...). Assim, mesmo para os poderes mais incríveis e para as tecnologias mais mirabolantes, existe uma base científica ou uma contextualização histórica, ora nas mais recentes teorias da Física, ora nas conspirações reais da época da Guerra Fria. Neste sentido, o que nasceu como uma atípica revista de super-heróis da Wildstorm evoluiu para uma ficção científica de primeira linha.

O mesmo pode se dizer do visual, que começa como um trabalho eficiente e acaba se tornando algo belo e fascinante (basta comparar a primeira edição e a n°17, por exemplo). A partir do terceiro ano de publicação, os desenhos de John Cassaday e as cores de Laura Martin alcançaram uma qualidade raras vezes vista nos quadrinhos comerciais. Exibindo um realismo dinâmico, seus quadros e páginas trazem uma narrativa “cinemática”, gerando o que já foi chamado de widescreen comics (não é por acaso que algumas cenas de Planetary parecem ter saído de um filme de John Woo ou da trilogia Matrix). E se todo bom roteiro de quadrinhos precisa de um visual adequado, pode-se dizer que é o trabalho de Cassaday e Martin o que torna Planetary de fato uma ótima HQ.

Com boas doses de ação, diálogos na medida e até algum humor, com sua diversidade narrativa, desconstrução de antigos personagens e visual elaborado, Planetary é uma série que merece ser lida. Uma mistura singular de super-heróis, ficção científica, tramas conspiratórias e puro maravilhamento, numa das melhores revistas norte-americanas dos últimos dez anos. Embora a série perca um pouco da força nos últimos capítulos, sua última edição (anunciada para o final do ano) é aguardada com muita expectativa pelos fãs. Enquanto isso, Warren Ellis e John Cassaday colhem os frutos de um bom trabalho, dedicando-se a projetos pessoais e também a personagens mais comerciais, como os heróis mutantes da Marvel.

No Brasil, Planetary teve algumas edições ruins, como as coletâneas em formato reduzido e páginas internas foscas, lançadas pela Devir. Seu melhor momento foi na Pixel Magazine, onde os capítulos 13 a 26 foram lançados com qualidade gráfica adequada. A Pixel também lançou três edições especiais em formato ampliado (Planetary / Batman - Noite na Terra, Planetary / Liga da Justiça - Terra Oculta e Planetary / Authority - Dominando o Mundo) e uma terceira coletânea (Planetary: Deixando o Século 20) no inadequado formato reduzido. Mas há rumores de que a editora possa relançar os primeiros capítulos, seguindo o modelo da absolute edition norte-americana. Para quem ainda não conhece, Planetary vale conferir!