12/03/2008

A Nova Fronteira em boa versão animada.


Por afinidades em suas linguagens, a animação possibilitou algumas das melhores adaptações dos quadrinhos, particularmente em filmes que contaram com a supervisão dos autores das HQs originais. Esse é o caso dos antigos especiais do Snoopy, dos desenhos do Asterix ou do longa-metragem Akira. O mais recente exemplo de uma boa transposição dos quadrinhos para a animação é Liga da Justiça: A Nova Fronteira, produção da Warner Premiere que chega às lojas num DVD simples, com alguns extras interessantes e ao preço de R$29,90.

Produzido por Bruce Timm e dirigido por David Bullock, o filme de 74 minutos é uma adaptação bastante fiel dos principais elementos da minissérie DC: A Nova Fronteira. Contando com a consultoria de Darwyn Cooke (quadrinista responsável pela HQ original), a produção enfoca as personalidades e os primeiros encontros de alguns dos principais heróis da DC Comics. Marcando a transição da chamada “Era de Ouro” para a “Era de Prata” dos quadrinhos de super-heróis, A Nova Fronteira apresenta versões clássicas do Super-Homem, Batman, Mulher-Maravilha, Flash, Lanterna Verde e Ajax. Misturando um ambiente histórico a elementos futuristas, a história busca ressaltar o clima de heroísmo dos anos 50, reunindo pessoas comuns e super-heróis contra um monstro-ilha que ameaça conquistar o mundo e destruir a humanidade.

Lançado como parte do DC Universe (série de desenhos animados baseadas nos quadrinhos e lançados direto em DVD), A Nova Fronteira tem uma animação competente, com alguns momentos excepcionais. O filme é eficiente em criar uma ambientação de época, tendo seu visual construído a partir da minissérie de Cooke (embora o leitor do trabalho original possa sentir falta de sua identidade visual). Mais fiel ainda é o roteiro adaptado que, salvo algumas alterações e cortes necessários, é a história de Cooke recontada em animação, incluindo a não-linearidade, a violência e todo o sangue (o que, apesar da classificação “Livre”, não faz deste filme exatamente um desenho animado para crianças). Os maiores cortes foram no sofrível capítulo de abertura na ilha dos dinossauros (completamente cortado) e na trama envolvendo a viagem espacial (que foi simplificada para caber no filme).

Se algumas falas e ações foram trocadas, enquanto muitos coadjuvantes não foram incluídos no filme, as diferenças mais evidentes em relação à HQ acontecem logo nos primeiros minutos. Neles, o monstro-ilha ganha voz para narrar sua própria história (algo muito parecido com o que o vilão Abu faz na abertura do desenho Samurai Jack). A isso se segue a sequência de créditos, que utiliza um visual simplificado e estilizado para resumir elementos da narrativa, como o banimento da Sociedade da Justiça e a morte do Homem-Hora (em termos estilísticos, essa parte também não é muito original, assemelhando-se à sequência de créditos do filme Os Incríveis da Disney). Por outro lado, algumas alterações mais sutis vieram realmente para o benefício da história, por exemplo, a forma como Hal Jordan assume a identidade de Lanterna Verde, ou a inteligente explicação do porquê Batman teria mudado seu visual mais sombrio dos primeiros anos, para algo menos ameaçador.

No geral, Liga da Justiça: A nova Fronteira corresponde às expectativas (exceto é claro pelo título, já que o grupo de heróis só aparece de fato nos últimos segundos do filme). E se a trilha sonora várias vezes desliza na obviedade, o bom elenco de vozes (tanto em inglês, quanto em português) mantém o filme nos trilhos (contando na versão original com o autêntico discurso de John F. Kennedy do qual o filme e a HQ tiraram seu título). O DVD lançado no Brasil traz ainda uma seção de extras com traileres, uma prévia especial do “anime” Gotham Knight e o ótimo vídeo “A história completa da Liga da Justiça” (com depoimentos de importantes nomes dos quadrinhos, como Denny O’Neill, Len Wein e Marv Wolfman). O espectador pode também optar por ver o filme escutando os comentários dos produtores ou do próprio Darwyn Cooke (isso se entender inglês, já que as duas opções não vêm com legendas).

Para aqueles que leram e gostaram da minissérie original ou simplesmente para os fãs dos super-heróis DC, Liga da Justiça: A Nova Fronteira é uma boa pedida. E a recepção positiva nos Estados Unidos deixa aberto o caminho para futuras adaptações na série DC Universe (lançada com Superman: Doomsday e tendo as próximas produções dedicadas a Batman e Mulher-Maravilha).

Nenhum comentário: