21/12/2007

Quadrinhos em “estilo desenho animado”.


Ao longo dos anos 90, as editoras Marvel e DC Comics perderam uma considerável parcela de seu público para os desenhos animados japoneses, os video games e também para sua maior concorrente, a Image Comics. Para recuperar os leitores perdidos e conquistar o novo público infantil, as duas maiores editoras do mercado norte-americano investiram em revistas que valorizam seus personagens e veiculavam um novo padrão de desenho, que chamei na época de “estilo desenho animado”. Com ele, a narrativa em quadrinhos, que havia sido prejudicada pelo “estilo Image” (que transformou as páginas num amontoado de imagens exageradas), foi retomada por novos autores que souberam desenvolver um trabalho mais interessante e criativo.

Com a publicação de O Cavaleiro das Trevas e Watchmen em 1986, os roteiristas passaram a tentar imprimir mais realismo aos super-heróis. Se isto possibilitou a criação de trabalhos inovadores, também contribuiu para um enfraquecimento no carisma dos personagens (que se afastavam cada vez mais dos ícones dos anos 40 e 50). Em grande parte, o estilo desenho animado foi uma resposta a esse processo de enfraquecimento dos heróis. Com formas bem delimitadas e desenhadas em traço cartunizado, o novo estilo conseguiu resgatar elementos característicos de heróis clássicos como Batman e Super-Homem.

Esse “retorno às origens” começou em 1992, quando foi lançada Batman: The Animated Series, a melhor série de animação já feita com o Homem-Morcego. Trazendo influências do desenho animado do Super-Homem produzido pelos irmãos Fleischer entre 1941 e 1943, além das inovações de animações japonesas como Akira, o seriado produzido por Alan Burnett, Eric Radomski e Bruce Timm causou um verdadeiro furor quando lançado. Acompanhando o seriado da tevê, a DC Comics lançou a revista The Batman Adventures (rebatizada no Brasil como Batman: O Desenho da TV), que tinha temática e visual inspirados na animação.

Entre os desenhistas da nova publicação, Mike Parobeck destacava-se pelo traço dinâmico e pela narrativa precisa, que exploravam as sugestões do roteiro. Seus desenhos lembram as antigas HQs do Capitão Marvel (Shazam!) no estilo cartunizado de C.C. Beck, enquanto sua narrativa traz influências de Frank Miller e John Byrne. Assim, reunindo as soluções criativas de quadrinhos clássicos e as inovações narrativas dos anos 80, Parobeck desenvolveu um trabalho bastante comunicativo. Recuperando o carisma de Batman nos quadrinhos, The Batman Adventures reconquistou antigos fãs e cativou um seguimento que estava sendo negligenciado pelas editoras de super-heróis: o público infantil.

Explorando a qualidade dos trabalhos de Parobeck, a DC Comics lançou outra revista, com HQs, curiosidades e passatempos, voltada especificamente para público infantil. Nas páginas de Superman & Batman Magazine (intitulada no Brasil O Novo Batman), além dos dois principais heróis da editora, outros personagens como Lanterna Verde, Mulher Maravilha e Flash ganharam versões em estilo desenho animado. Com isso, através das revistas desenhadas por Parobeck, a DC Comics deu continuidade nos quadrinhos ao processo de revitalização de seus super-heróis, iniciada nos desenhos animados.

Mas foi nas páginas das revistas dos heróis mutantes da Marvel que atuou o desenhista mais influente do estilo desenho animado. Joe Madureira era um fã de quadrinhos que conseguiu um emprego de auxiliar nos escritórios da editora. Dos desenhos de horários de folga ao título de desenhista mais influente dos quadrinhos norte-americanos foram apenas cinco anos. Estreando na revista Excalibur, ele teve sua grande chance em 1994, quando desenhou sua primeira edição de The Uncanny X-Men. Em pouquíssimo tempo, Madureira tornou-se um dos desenhistas mais cotados dos quadrinhos norte-americanos.

Se em seus primeiros trabalhos os desenhos lembravam o estilo de Arthur Adams, com o crescente sucesso da animação japonesa, Madureira trocou o traço fino e detalhado pelos desenhos mais delineados e marcados. Com isso, suas heroínas e vilãs passaram a lembrar as ninfetas dos desenhos japoneses, seus heróis ganharam um visual mais jovial, enquanto os vilões aproximaram-se dos monstrengos dos animes. O fato é que os desenhos dinâmicos e o traço definido de Madureira fizeram escola; porém, depois de um enorme sucesso como desenhista da The Uncanny X-Men, ele seguiu o exemplo dos criadores da Image Comics, deixando a Marvel para desenhar seus próprios personagens.

De qualquer maneira, devido aos bons resultados alcançados com The Batman Adventures e The Uncanny X-Men, na segunda metade dos anos 90, tanto a DC quanto a Marvel passaram a investir em revistas no estilo desenho animado, recuperando a popularidade e as características originais de seus principais personagens.

2 comentários:

Noturno disse...

Na época, eu gostava bastante dos desenhos do Madureira. Hoje não gosto mais e quando penso do quanto me empolgava com o traço dele, sinto vergonha. hehehe...

Abraço.

Wellington Srbek disse...

Na época eu também gostei, em grande medida porque eram novos ares depois de anos de lixo inspirado nos quadrinhos da Image.
Abraço!