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18/05/2009

Super-heróis adolescentes: dos Novos Titãs aos Novos Mutantes.


As primeiras aventuras do Robin em 1940 e do Kid Flash no fim dos anos 50 foram uma estratégia editorial para criar uma identificação ainda maior entre personagens e público. Avançando nessa linha, em meados dos anos 60, a DC Comics lançou os Jovens Titãs, grupo que era uma espécie de versão infanto-juvenil da Liga da Justiça. Mas o verdadeiro sucesso só viria em 1980, com o lançamento da revista The New Teen Titans, produzida por Marv Wolfman e George Pérez. Trazendo heróis já conhecidos, como Robin, Kid Flash e Moça-Maravilha, a nova série também apresentava novas criações, como a feiticeira Ravena, a alienígena Estelar e o ciborgue Ciborgue. Completando o time, havia o engraçado transmorfo Mutano, um ex-membro da Patrulha do Destino.

Com histórias e desenhos elaborados, The New Teen Titans trazia aventura e superpoderes, mas também drama e romance. Representando um salto de maturidade no “Universo DC”, as tramas complexas e os questionamentos pessoais pelos quais os Novos Titãs passavam cativaram os leitores da época. Havia o relacionamento amoroso entre Robin e Estelar, os problemas de aceitação enfrentados por Ciborgue e os conflitos existências de Ravena (cujo pai era um demônio de outra dimensão). Era evidente, no entanto, que as situações dramáticas e a exploração psicológica dos Novos Titãs eram a resposta da DC ao crescente sucesso de um outro grupo de super-heróis, os X-Men da Marvel (os dois grupos chegaram até a se encontrar numa edição especial).

No final dos anos 70, quem começava a dar as cartas no mercado norte-americano era mesmo a Marvel, cujos heróis menos unidimensionais agradavam em cheio ao público. De fato, qualquer leitor adolescente iria se identificar mais facilmente com os dilemas do jovem Peter Parker / Homem-Aranha, do que com a infalibilidade do impoluto Clark Kent / Super-Homem. E com a chegada dos anos 80, personagens mais complexos e menos certinhos, como Noturno e Wolverine, ganharam um maior destaque. A resposta do público às HQs produzidas por Chris Claremont e John Byrne foi tão positiva que logo a revista The Uncanny X-Men se tornou uma das campeãs de vendas do mercado, dando origem a toda uma linha de revistas com heróis mutantes.

Assim, em 1982, a Marvel lançou os Novos Mutantes, um grupo de super-heróis adolescentes inéditos, criados por Chris Claremont e Bob McLeod, que no ano seguinte ganharam uma série regular. Em alguns sentidos, The New Mutants era uma volta às origens dos X-Men, uma vez que os novos alunos selecionados pelo Professor X usavam uniformes semelhantes aos dos primeiros heróis mutantes. Multiétnica, a formação inicial dos Novos Mutantes contava com a índia Miragem, o caipira ianque Míssil, a escocesa Lupina, a vietnamita Karma e o “brasileiro” Mancha Solar (que se chamava Roberto da Costa, mas costumava soltar expressões em espanhol, como “Madre de Dios!”). Outros personagens logo entraram em cena, como Magma, Mágica, Warlock e Cifra.

Apesar de enfrentarem desafios e ameaças semelhantes aos dos X-Men, os Novos Mutantes muitas vezes se viam às voltas com problemas e interesses próprios à sua faixa etária. O resultado foi um razoável sucesso, uma vez que os leitores da revista eram em sua maioria adolescentes que partilhavam da mesma cultura e dos mesmos questionamentos daqueles heróis. Lembro-me que havia realmente um apelo diferenciado naqueles personagens que enfrentavam super-vilões ao mesmo tempo em que lidavam com incertezas da adolescência. Além disso, a série tinha bons roteiros e pôde contar com excelentes desenhos nas catorze edições desenhadas por Bill Sienkiewicz, bem como nas duas HQs especiais ilustradas por Arthur Adams.

A revista Teen Titans continua sendo publicada pela DC Comics com uma nova formação de heróis. Já a New Mutants acaba de ser relançada pela Marvel com alguns dos principais heróis da formação original. Mas, nestes casos, o melhor mesmo é optar pela qualidade das HQs originais. A DC já relançou várias coletâneas de The New Teen Titans e a Marvel tem lançado finalmente reedições de The New Mutants. No Brasil, apenas algumas histórias dos Novos Titãs criadas por Marv Wolfman e George Pérez estão disponíveis no momento. Até onde sei, a Panini não anunciou planos de relançar as aventuras dos Novos Mutantes. O certo é que os heróis adolescentes da DC e Marvel têm um lugar especial na memória de quem leu suas HQs naqueles anos 80.

04/02/2008

A história que definiu o futuro dos X-Men.


Quando comecei a colecionar quadrinhos, havia uma edição que (embora não fosse muito antiga) era especialmente difícil de encontrar nas bancas de revistas usadas: a Superaventuras Marvel n° 45. A capa dessa revista traz uma cena intrigante, na qual um envelhecido Wolverine tenta proteger uma mulher, enquanto um holofote ilumina a parede ao fundo revelando um cartaz que lista vários heróis mutantes com a tarja de “morto” ou “preso”. A HQ dos X-Men naquele número era “Dias de um futuro esquecido”, primeira parte de uma história que definiria o futuro dos heróis mutantes.

Produzida em conjunto por Chris Claremont e John Byrne, a história publicada originalmente em The Uncanny X-Men n°s 141 e 142 ficou conhecida pelo título de sua primeira parte: “Days of Future Past”. Publicada em janeiro e fevereiro de 1981, a HQ mostra um futuro sombrio no qual os robôs Sentinelas dominaram o continente norte-americano (após extrapolarem sua missão de “combater a ameaça mutante”). Nessa sociedade dominada pelas máquinas e dividida em castas genéticas, os mutantes em geral são identificados e confinados em campos de concentração, enquanto todos aqueles que resistem à nova ordem estabelecida são caçados e exterminados.

Na primeira página da HQ, somos levados ao ano de 2013, e a maioria dos heróis Marvel (como os membros do Quarteto Fantástico e Vingadores, além dos mutantes Professor Xavier, Ciclope e Noturno) foi morta durante os conflitos que culminaram na tomada de poder pelos Sentinelas. Enquanto planejam dar prosseguimento ao programa de extermínio dos mutantes, invadindo outros países, os robôs gigantes levam o mundo à beira de um conflito entre superpotências. Para dar fim à ditadura das máquinas e evitar o holocausto nuclear, um grupo de antigos X-Men (liderados por Wolverine e Tempestade e auxiliados por Magneto) coloca em prática seu derradeiro plano.

Utilizando os poderes de Rachel Summers (personagem até então inexistente), a “consciência” da mutante Kitty Pryde é enviada ao passado e trocada por sua versão trinta anos mais jovem. Após se recuperar do choque de se ver rejuvenescida e de reencontrar amigos que viu mortos, Kitty dá início à sua missão: evitar o assassinato do senador Robert Kelly pelos membros da Irmandade dos Mutantes (evento que daria início à crescente perseguição sofrida pelos mutantes). A partir daí, a HQ toma um desenrolar mais comum às histórias dos X-Men (com sequências de luta e exibições de poderes), mas sua segunda parte ainda traz algumas cenas de impacto (como as mortes de conhecidos heróis mutantes).

Por vários motivos, “Dias de um futuro esquecido” marcou época, tornando-se uma das HQs mais influentes dos X-Men já feitas. Publicada pouco após a chamada “Saga da Fênix Negra”, a HQ futurista dava continuidade a uma abordagem mais madura dos quadrinhos de super-heróis, em que a morte é uma possibilidade até mesmo para protagonistas (como se vê na capa de The Uncanny X-Men n° 142, que traz a cena do Wolverine de 2013 pulverizado por um Sentinela). Mais significativo ainda foi a inclusão de temáticas político-sociais, em particular a questão da perseguição aos mutantes, representada nos moldes da perseguição nazista às minorias raciais (com leis segregacionistas, campos de concentração e símbolos de distinção nas roupas).

Se a temática da perseguição racial seria fundamental para as revistas dos heróis mutantes nas décadas seguintes, o próprio futuro apocalíptico seria reeditado em outras histórias (como a série de anuais “Days of Future Present”). Também a personagem Rachel Summers teria um papel significativo nos anos 80, reaparecendo na primeira HQ dos Novos Mutantes desenhada por Bill Sienkiewicz e assumindo o papel da nova Fênix. Elementos de “Dias de um futuro esquecido” foram ainda utilizados na série de animação dos X-Men e nos três filmes produzidos para o cinema. Além disso, a leitura de The Uncanny X-Men n°s 141 e 142 teria inspirado James Cameron na criação do filme de ficção científica O Exterminador do Futuro, sem falar no futuro apocalíptico e na viagem ao passado feita pelo Hiro do futuro na primeira temporada de Heroes.

Aquelas edições também marcaram o momento em que Wolverine se tornava o personagem mais popular dos X-Men e um dos principais heróis da Marvel (como deixam claro as capas de The Uncanny X-Men n°s 141 e 142). Mas, ao que consta, uma consequência imediata de “Days of Future Past” foi ter causado o desentendimento final entre o roteirista Chris Claremont e o desenhista John Byrne. Após essa história que definiria o futuro dos X-Men, a dupla (que tornou os personagens mutantes os mais populares e rentáveis da Marvel) se separou. Contudo, a semente estava plantada, e nas próximas duas décadas as revistas dos heróis mutantes trariam a sombra de um futuro sombrio. Para saber mais sobre os quadrinhos abordados aqui, clique nas palavras em destaque abaixo.

04/11/2007

A marcante minissérie do Wolverine.


Publicada nos Estados Unidos em 1982, Wolverine reuniu dois grandes astros dos quadrinhos de super-heróis: Chris Claremont que conseguira (em parceria com John Byrne) transformar os X-Men nos personagens mais lidos dos comics, e Frank Miller que fizera da revista do Demolidor uma das mais inovadoras do mercado norte-americano. A minissérie Wolverine é o encontro dessas duas experiências bem-sucedidas, numa HQ dedicada a um personagem em ascensão. Como resultado, aquelas quatro revistas deram início à “wolverinemania”.

A história de Wolverine começa no Canadá e faz referências à época em que o herói era um agente-secreto do governo canadense (o que dá ao roteiro um estilo James Bond). Mas as ligações com as HQs dos X-Men criadas por Claremont e Byrne terminam na sétima página da minissérie. Para encontrar um amor do passado, o herói mutante viaja ao Japão, onde tem que enfrentar ninjas e mafiosos japoneses (bem no estilo dos quadrinhos de Frank Miller).

Os personagens coadjuvantes e a temática de Wolverine estão mais próximos das histórias do Demolidor, do que das HQs dos X-Men. Logo, era de se esperar que o herói mutante ficasse um tanto deslocado, mas isto não acontece, graças às alterações introduzidas por Miller. Além de adaptar o personagem a seu estilo de desenho, Miller modificou o formato de suas garras (que passaram a se assemelhar a lâminas de espadas japonesas) e alterou sua postura e técnicas de luta, aproximando-o dos ninjas e samurais. Contudo, essas mudanças por si sós não resumem as inovações desta HQ.

Ao lidar com ninjas e samurais, Miller inspirou-se na narrativa dos quadrinhos japoneses, criando cenas de luta bastante eficientes. Dividir a página em 4 ou 5 quadros alongados (algo comum no mangá Lobo Solitário) permite ao desenhista representar os personagens e a ação por inteiro, privilegiando o dinamismo da cena. Se a história de Claremont (com suas referências à “honra” e aos “tradicionais costumes japoneses”) não é nenhuma obra-prima, a narrativa e os desenhos de Miller foram decisivos para o sucesso da minissérie. Com ela, surgia um Wolverine mais violento e impiedoso, que deixaria marcas na trajetória do personagem (e até de seus vários “clones”) nas décadas seguintes.
No Brasil, a minissérie Wolverine foi lançada pela editora Abril em 1987 e relançada mais recentemente pela Panini em volume único. Em 2006, a Marvel relançou o trabalho de Claremont e Miller numa edição em capa-dura para a série Premiere.

03/11/2007

A história dos X-Men (1983-1986).


Sob a direção do roteirista Chris Claremont, os heróis mutantes firmaram-se como um grande sucesso do mercado norte-americano. Isso colaborou para o desenvolvimento da indústria dos comics e criou uma verdadeira "X-mania". O fato é que de 1983 a 1986, os X-Men viveram uma de suas melhores fases.

Nesse período, Claremont cria histórias que exploram o preconceito e a perseguição sofridos pelos X-Men, trazendo de volta a personagem Rachel Summers, a sobrevivente de um futuro em que os mutantes foram aprisionados em campos de concentração e quase completamente exterminados.

A revista The Uncanny X-Men tornava-se o carro-chefe da Marvel Comics, contando com o talento de desenhistas como Paul Smith, John Romita Jr, Alan Davis, Rick Leonardi, Arthur Adams e Barry Windsor-Smith. O enorme sucesso dos heróis mutantes motivou a editora a criar outras revistas com heróis mutantes, e assim surgiram: X-Factor, Excalibur e New Mutants, sendo que esta última contou com uma excelente fase ilustrada por Bill Sienkiewicz.

Ainda aproveitando a popularidade dos X-Men, em 1985 a Marvel publicou a revista especial Heroes for Hope, produzida por um time de astros dos quadrinhos norte-americanos, que incluía Frank Miller, Brian Bolland, Alan Moore, Berni Wrightson e Stan Lee, além do escritor Stephen King. Parte dos recursos obtidos com a venda da revista foi empregada na luta contra a fome na África. No ano seguinte, a DC Comics produziu uma revista similar, estrelada por Super-Homem e Batman.

Em meio a tudo isso, Wolverine já era o principal integrante dos X-Men e um dos super-heróis mais populares dos quadrinhos norte-americanos. Tanto que na segunda metade da década de 1980 ele ganhou uma revista própria e apareceu em várias histórias de outros heróis não-mutantes, como Capitão América e Hulk. Não faltaram ainda edições especiais desenhadas pelos melhores artistas da época, como Mike Mignola, Alan Davis, Bill Sienkiewicz e Kent Williams.

Mas se o sucesso dos heróis mutantes da Marvel nunca fôra tão evidente ou avassalador, a revista The Uncanny X-Men começava a perder qualidade. Após uma década à frente dos heróis mutantes, os roteiros de Chris Claremont começavam a mostrar sinais de desgaste.

A história dos X-Men (1977-1982).


O elemento que faltava para o sucesso dos X-Men veio em 1977, quando a revista The Uncanny X-Men passou a ser desenhada por John Byrne. Dono de um traço definido e dinâmico, que explorava ao máximo os roteiros de Claremont, Byrne conseguia representar com bastante competência os ambientes fantásticos e as cenas de ação, dando mais força e credibilidade às HQs.

Histórias como a "Saga da Fênix Negra" ou "Dias de um Futuro Esquecido" tornaram-se marcos dos quadrinhos, colaborando para o desenvolvimento da indústria dos comics na década de 1980. A partir do trabalho de Byrne, os X-Men tornaram-se um enorme sucesso, e nem sua saída da revista, após um desentendimento com Claremont, prejudicou seriamente a trajetória de sucesso dos heróis mutantes.

Foi ainda na fase Claremont/Byrne que Wolverine, o mutante mais famoso dos quadrinhos, ganhou maior espaço entre os X-Men. Lançado por Len Wein e Herb Trimpe, ele apareceu pela primeira vez numa história do Hulk lançada em 1974, tornando-se um dos novos X-Men no ano seguinte. Mas o momento decisivo na trajetória do personagem foi a minissérie Wolverine, lançada em 1982, com textos de Claremont e desenhos de Frank Miller.

A ascensão dos X-Men no início da década de 1980 ajudou a definir o futuro do mercado de quadrinhos nos Estados Unidos. As questões abordadas em suas histórias, como o racismo e a morte, trouxeram um certo amadurecimento para as HQs de super-heróis. Um amadurecimento, aliás, que também aconteceu nas histórias dos Novos Titãs da DC Comics, onde são abordados problemas como as drogas e o fanatismo religioso.

Na época, isso correspondeu a dois fatores principais: o aumento da média de idade dos leitores, que continuavam a ler quadrinhos durante a adolescência, e um considerável aumento na venda de revistas, que passavam a contar com um crescente público juvenil. Tudo isso convergiu para a explosão criativa dos comics em meados da década de 1980, simbolizada pela minissérie O Cavaleiro das Trevas de Frank Miller. E os X-Men ainda teriam outras contribuições a dar aos quadrinhos de super-heróis.