30/06/2008

Cleuber, um último rebelde do Rock.


Cleuber Cristiano é um dos mais talentosos quadrinistas da nova geração. Desde o final dos anos 90, temos visto seus desenhos e suas idéias em publicações independentes de todo o país, com destaque para sua melhor e mais original criação, a banda de rock-grunge-underground Arroz Integral. Numa tarde dessas, em 2001, fui até sua casa para uma entrevista e, ao som de Nirvana, rodeados de desenhos, pôsteres de rock e mulheres seminuas, tivemos uma conversa honesta sobre sucesso, Arroz Integral e rock’n’roll.

Nós os conhecemos pelas tirinhas, mas quem são Crof, Berly e Nico?


Nico é um cara que não tem muita perspectiva de vida, é um cara mais na dele. Ele tem a banda como um refúgio do mundo real, do mundo social, saca? O Berly é o “muleque” que tem a capacidade de se igualar a gênios como Albert Einstein, mas ele reprime isso, reprime os conceitos dele, talvez ele se sente assim pela própria sociedade mesmo e ele prefere se esconder, fingir que não é nada. O Crof é a peça principal do Arroz Integral, porque ele é o cara que sonha alto, tem alto astral, é empolgado demais, saca? Acho que é ele “que não deixa a peteca cair”.

Nico usa vestido e tem o mesmo nome da alemã que cantava com o Velvet Underground...

Que massa, cara, eu não sabia! Fiquei feliz por saber isso...

Pois é. Os leitores não têm razão de confundi-lo com uma mulher?

Têm. Ele era bicha. O Arroz Integral tem que revelar muita coisa ainda.

Kurt Cobain (líder da banda Nirvana, que se suicidou com um tiro em 1994) é seu grande ídolo. O que você tem a dizer a ele?

A ele!? Porra, essa... Deixa eu pensar... O Rock tá uma porcaria sem ele, por isso eu formei minha banda.

Qual das duas? A do mundo real ou a dos quadrinhos?

A Dowdy.

Suas tirinhas expressam bem o que seria o espírito grunge. Mas o que hoje é chamado de “grunge” faz jus ao Arroz Integral?

Não. O conceito grunge que é transmitido nas tirinhas é mais a filosofia underground do que o próprio grunge. Na verdade o Arroz Integral não é uma tirinha grunge, é uma tirinha comum.

Mas a influência do grunge de Seatle na origem do Arroz Integral é evidente.

É porque eu acho que o grunge tinha muito do underground, era diferente, era mais tosco do que hoje. Eu procurei passar essa visão que eu tive do grunge, que é o lance mais importante prum público do quadrinho. Eu acho importante registrar a passagem do Rock dos anos 80 e 90 no quadrinho, cinema, onde for, mas tem que ser lembrado, saca?

Apesar de falar de uma realidade restrita, a das bandas iniciantes, suas tirinhas conquistaram um público de poucos mas significativos leitores. A que você atribui isso?

Ao underground e aos verdadeiros fãs do Arroz Integral, são eles que fizeram tudo e estão fazendo.

A idéia dos “discos quadrados” é uma boa metáfora para o quadrinho independente. Mas você não sente uma vontadezinha mórbida de fazer muito sucesso?

(risos) De um dia ser igual ao Robert Crumb! O porquê de ser igual ao Crumb é porque eu acho muito massa o que ele fez. Não, eu não acho, não... Mas eu gosto dos trabalhos dele, e muito. Peraí cara, agora é sério! Eu só quero que a grande massa veja meu trabalho, mas minha intenção não é explorar o leitor, como o Angeli faz. Eu não penso em fazer tirinha pra ficar milionário, mas que pelo menos dê pra comer e vestir.

Suas tirinhas têm se tornado mais críticas com o tempo. Por quê?

Ah... Humm... Vai de acordo com o que eu tô vivendo, cara. Onde eu vejo alguma coisa que tem que ser criticada eu critico. Eu acho que através da crítica é que se faz as pessoas pararem pra pensar duas vezes.

Agora que você está envolvido com outra banda, a Dowdy (cantando e tocando guitarra), haverá tempo para o Arroz Integral?

Não. Só se eles quiserem abrir show pra gente... (risos) Tem que saber separar as coisas e eu estou me organizando pra isso.

O que o futuro reserva para os integrantes do Arroz? Sucesso, suicídio, overdoses ou mais arte?

Hummm... Só o Henfil sabe!

O Henfil?

É. Porque ele tá no Céu. Eu num faço plano pro Arroz Integral, eu num sei como vai sair o próximo número do fanzine.

Por fim a velha pergunta de sempre, como criador o que os quadrinhos são para você?

Uma bosta! Tô zuando, num vai escrevê isso aí, não.

Claro que vou!

Na verdade significa muita coisa. Quando eu tava na primeira série eu tomei bomba porque eu não sabia nada. Foi só quando minha mãe comprou uma revista em quadrinhos pra mim que eu passei de ano. O quadrinho é uma arte sem limite. Ponto final.

29/06/2008

Local, mais um bom álbum autoral da Devir.


Ao longo dos anos, a Devir notabilizou-se pela publicação de álbuns autorais. O melhor exemplo disso são os álbuns de Lourenço Mutarelli, publicados pela editora a partir dos anos 90. O mais recente lançamento nessa linha é Local: Ponto de Partida, primeiro de dois volumes com a série criada pelos norte-americanos Brian Wood e Ryan Kelly.

Lançados por uma pequena editora, entre 2005 e 2006, os seis capítulos reunidos nessa edição são na verdade seis HQs autocontidas, que têm alguns pontos em comum. A exploração de diferentes possibilidades narrativas de acordo com a temática da história, os ótimos desenhos com contrastes e texturas reticuladas, o fato de cada capítulo se passar numa cidade da América do Norte e a presença da personagem Megan McKeenan são alguns desses fatores comuns.

Embora não seja necessariamente o “fio condutor” da narrativa, Megan é o principal ponto de interseção das histórias, aparecendo em geral como protagonista, mas também como mera coadjuvante, testemunha ou vítima. Cada capítulo avança um ano na vida da personagem, ao passo que ela muda de cidade para cidade, evolvendo-se em situações complicas ou até perigosas, e demonstrando dificuldade em estabelecer relacionamentos duradouros.

Conhecido no Brasil pela série DMZ da Vertigo, em Local Brian Wood demonstra boa habilidade narrativa e capacidade de imprimir verossimilhança às personagens. Sem efeitos bombásticos ou pirotecnias surpreendentes, o roteirista utiliza a ambientação e os elementos cotidianos para contar histórias críveis e originais. Embora a qualidade varie ao longo dos capítulos, sendo o primeiro e o terceiro de longe os melhores, o saldo geral é positivo.

Mas, certamente, Local não seria tão interessante e eficiente sem os desenhos de Ryan Kelly, também conhecido no Brasil por trabalhos para o selo Vertigo. Seu desenho lembra uma mistura de Paul Pope e Joe Sacco, mas tem expressividade e caráter próprios. Sua habilidade técnica mostra-se indispensável para a condução da narrativa, deixando a desejar apenas em algumas diferenciações fisionômicas de personagens masculinos.

Um dos elementos que fundamentam a série Local é o fato de cada capítulo se passar numa diferente cidade dos Estados Unidos ou Canadá. Mas o que deve despertar interesse em leitores desses países acaba se tornando um “ruído” para o leitor estrangeiro, que não tem as mesmas referências locais. Somam-se a isso as dispensáveis notas contextuais e observações dos autores após as HQs, apesar de as páginas de esboços serem um acréscimo interessante.

Para além de quaisquer problemas de identificação, a ambientação urbana das histórias torna-as acessíveis a qualquer leitor. E se os autores ainda nos dizem qual a “trilha sonora” para cada capítulo, as eventuais associações entre quadrinhos, cinema e música acrescentam um tom contemporâneo ao trabalho. Local até parece uma HQ da Vertigo, na qual o sobrenatural e a fantasia foram substituídos por elementos cotidianos e clima de rock.

Enfim, com algumas histórias interessantes, originalidade narrativa e bons desenhos, Local: Ponto de Partida é sem dúvida uma boa pedida. A edição, que traz alguns deslizes de revisão, tem 200 páginas em formato 16,5cm x 24cm, sendo vendida a R$32,00.

28/06/2008

Hugo Pratt e Guido Crepax em HQs clássicas.


Na última quinta-feira, o jornalista Paulo Ramos noticiou no Blog dos Quadrinhos o encerramento da sociedade entre a Futuro Comunicação e a Ediouro. Com isso, a Pixel Media passa ao total controle da editora fluminense, que vem realizando movimentos no sentido de consolidar sua posição no mercado de quadrinhos. Os detalhes e desdobramentos dessa alteração ainda não são conhecidos, mas só se pode esperar que, sob total controle da Ediouro, o bom trabalho da Pixel no último ano seja mantido e até ampliado. Enquanto isso, estão chegando às lojas dois ótimos lançamentos em álbuns europeus, Corto Maltese: As Etiópicas de Hugo Pratt e Emmanuelle Vol.1 de Guido Crepax.

Quinto volume da série a ser lançado pela Pixel, Corto Maltese: As Etiópicas chega no formato 21cm x 28cm, com 96 páginas e ao preço de R$33,00. Dividido em quatro partes, nesse álbum ainda encontramos o Corto Maltese em meio aos eventos da Primeira Guerra Mundial. Dessa vez de passagem pela Arábia e pela África Oriental, o marinheiro da liberdade envolve-se com guerrilheiros muçulmanos e nativos africanos, enfrentando colonizadores europeus e dominadores locais.

Com referências a figuras históricas como Lawrence da Arábia e Arthur Rimbaud, a HQ se vale de uma competente ambientação de época, além de um autêntico conhecimento dos locais retratados. Filho de um militar, o próprio Hugo Pratt passou os primeiros anos de sua juventude na Etiópia, então sob o domínio colonial da Itália. E um elemento que sempre chama atenção nos volumes dessa série é a forma respeitosa e digna com que Pratt representa os habitantes nativos dos lugares que o Corto visita (os quais muitas vezes são apresentados de forma estereotipada ou ridicularizada em outros quadrinhos).

Mas o que realmente salta aos olhos do leitor de As Etiópicas é o traço conciso, dinâmico e expressivo de Pratt. Poucos artistas dos quadrinhos tiveram ou têm um domínio tão grande dos contrastes entre massas de preto e áreas em branco, aliados a um traço fluido que muitas vezes mais sugere que realmente desenha. Nessa edição, merecem destaque mais que especial as cenas no deserto com as sombras e dobras nas dunas, a antológica página das pedras caindo e a página das listras das zebras que se confundem com os escudos dos caçadores (sequência homenageada por Frank Miller em O Cavaleiro das Trevas).

Emmanuelle Vol.1 segue o mesmo padrão gráfico e editorial, no formato 21cm x 28cm, com 96 páginas e ao preço de R$33,00. Primeira de duas partes, essa HQ é considerada uma das obras-primas do também italiano Guido Crepax. Dividido em sequências curtas, o álbum traz as aventuras e buscas sexuais da personagem que lhe dá título, uma jovem mulher européia vivendo na Ásia. Por isso mesmo, aliado à temática erótica, Crepax não foge a um ar de exotismo ao ambientar sua história.

Com desenhos bastante minimalistas, compostos às vezes de um emaranhado de traços, Emmanuelle pode causar um estranhamento ao leitor desacostumado com o estilo do autor. Mas o intenso erotismo que exala de cada página é envolvente, arrastando o leitor pelos quadros de uma narrativa também pouco comum. Fusões de imagens, sobreposições de cenas e intercalações de símbolos são alguns dos recursos utilizados de maneira muito propícia (para a uma HQ cujo erotismo explícito e o clima onírico são os elementos principais).

Por tudo que foi dito aqui, Corto Maltese: As Etiópicas e Emmanuelle Vol.1 são boas pedidas para quem procura quadrinhos originais com temática adulta e qualidade artística. Se ainda considerarmos o preço atual dos livros e álbuns de quadrinhos, esses dois clássicos europeus saem a um preço bem em conta.

22/06/2008

Coletâneas trazem sociedades secretas e tramas conspiratórias.


Quem gosta de HQs com tramas conspiratórias e sociedades secretas tem motivos para comemorar. O principal deles é Os Invisíveis - Revolução 1, primeiro volume da Pixel com a série escrita por Grant Morrison e desenhada por Steve Yeowell e Jill Thompson. Outro lançamento que pode agradar aos fãs do gênero é Rex Mundi - Livro Dois de Arvid Nelson e Eric J, lançado pela Devir.

Publicada entre 1994 e 2000, Os Invisíveis é considerada por muitos a melhor criação do roteirista escocês Grant Morrison (mais conhecido no Brasil pela reformulação do Homem Animal e pela graphic novel Asilo Arkham). Reunindo as oito primeiras edições originais, Revolução 1 atira os leitores direto numa trama de dominação que mistura história, misticismo, anarquia, psicodelia, seres extradimensionais e um pouco de devassidão. Contemporânea do seriado Arquivo-X, a série de Morrison antecipa muitos dos elementos vistos nos filmes da trilogia Matrix (o que gerou acusações de plágio), formando uma trama bastante complexa, muitas vezes hermética e até mesmo perturbadora.

A história começa quando o jovem e rebelde Dane McGowan é convocado a tomar parte de um grupo secreto auto-intitulado “Os Invisíveis”. O que vemos nos capítulos seguintes é o processo de iniciação do rapaz em fundamentos da magia e conhecimentos secretos. Na segunda metade do volume, acompanhamos o treinamento e primeira missão do novo Invisível, num passeio pelas ruas da Paris nos tempos do Terror jacobino. Contando com a participação de libertinos, libertários e literatos (como Marquês de Sade, Lorde Byron e Percy Shelley), as últimas HQs da edição são formadas por saltos históricos, referências literárias, poesia simbolista, mitologia hindu e asteca.

Com suas referências históricas e literárias, além de um texto elaborado, a série de Grant Morrison deve agradar aos fãs de Sandman e de outras séries da Vertigo. Porém, os desenhos de Steve Yeowell, para os quatro primeiros capítulos, são bem ruinzinhos, embora as coisas melhorem, nas quatro partes finais, quando o lápis fica a cargo de Jill Thompson (a mesma desenhista de Sandman: Vidas Breves). Os Invisíveis - Revolução 1 tem 228 páginas em formato reduzido, sendo vendido ao preço (um tanto salgado) de R$44,90.

Com o segundo volume de Rex Mundi, a Devir dá continuidade à publicação de quadrinhos no esteio do sucesso de O Código Da Vinci (a mesma editora lançou há pouco Revelações de Paul Jenkins e Humberto Ramos). A HQ criada por Arvid Nelson e Eric J se passa em 1933, quando o roubo de um manuscrito medieval dá início a uma série de assassinatos, desvelando segredos de uma trama conspiratória. Informações criptografadas, ordens medievais, cavaleiros mascarados e celebrações blasfemas dão o tom dos capítulos desse volume. Em meio a tudo, o Doutor Julien Saunière continua em busca de uma verdade que pode levá-lo a encontrar o Santo Graal ou a própria morte.

Série lançada em 2001 (portanto anteriormente a O Código Da Vinci), não se pode deixar de notar algumas intercessões de Rex Mundi com Os Invisíveis, a começar pela temática conspiratória e principalmente nas referências aos Templários e a João Batista (talvez meras coincidências). Além disso, na HQ de Arvid Nelson e Eric J, os desenhos também não são da melhor qualidade, parecendo muito estáticos e pouco expressivos. Rex Mundi - Livro Dois tem 192 páginas em formato reduzido, sendo vendido ao preço (também salgadinho) de R$43,50.

19/06/2008

A nova Fábulas Pixel e a Pixel Magazine nova.


Numa postagem anterior, eu analisei a Pixel Magazine, que chamei então de a melhor revista mensal do momento. O fato é que o sucesso dessa publicação motivou a Pixel Media a investir em outra antologia mensal com as séries da Vertigo, Wildstorm e ABC. Mas, com o surgimento e a abertura de espaço para a Fábulas Pixel, a revista original está passando por uma fase de transição, com a saída de séries consagradas, retornos e estréias.

Muito aguardada pelos leitores, porém atrasada por problemas editoriais e gráficos, Fábulas Pixel estreou com as séries Fábulas, Astro City, Sandman Apresenta: As Fúrias e Histórias do Amanhã: Jack B. Quick. A edição abre com um “Dossiê: Fábulas”, seguido dos dois primeiros capítulos da história “A Marcha dos Soldados de Madeira”. No centro das atenções, mais uma vez, estão Branca de Neve, Lobo Mau e Príncipe Encantado, aos quais se junta agora Chapeuzinho Vermelho.

Em seguida, Astro City nos apresenta Loony Leo, um melancólico leão saído do cartaz de um desenho animado. Essa nova HQ da cidade dos super-heróis pode ser definida como um cruzamento dos filmes Casablanca e Uma Cilada para Roger Rabbit. Já As Fúrias dá continuidade aos eventos mostrados em Sandman: Entes Queridos. Reencontramos, então, Lyta Hall ainda tentando se adaptar à vida sem seu filho Daniel, que se tornou o novo Sandman. Por fim, o inventivo Jack B. Quick testa mais uma vez as leis da física e os limites da sanidade.

Certamente, Fábulas Pixel é uma revista acima da média, embora o conjunto de HQs reunidas neste primeiro número careça um pouco de unidade. Se por um lado, devido aos estilos de desenho e personagens envolvidos, os capítulos de Fábulas e o conto de Astro City chegam quase a se confundir, por outro, o visual realista e sombrio de As Fúrias e a ficção científica cômica de Jack B. Quick destoam da proposta de fantasia da revista. Por isso, sua irmã mais velha ainda parece merecer o título de melhor revista mensal do momento.

Contudo, após pouco mais de um ano nas bancas e de ter atingido seu auge nos números 12 e 13, a Pixel Magazine está passando por uma fase de transição. Pelo menos é o que sugerem as alterações nos números 14 e 15, que trouxeram a publicação do último capítulo pronto de Planetary e a confirmação da mudança de Promethea para a Fábulas Pixel. E com a saída de duas das séries principais, seguramente muitos leitores estão se perguntando se a Pixel Magazine manterá a qualidade que mostrou em seu primeiro ano de vida.

A julgar pelos reforços e substitutos mais imediatos, a resposta infelizmente é: não. Afinal, as séries DMZ e Frequência Global podem ter seus elementos interessantes e cativarem muitos leitores, mas nem de longe chegam perto da sofisticação de Planetary e da qualidade artística de Promethea. Com isso, quem acaba não deixando a “peteca cair” é o velho e falivelmente infalível John Constantine. Para quem tem acompanhado, as Pixel Magazine n°s 14 e 15 dão continuidade à história “Boas Intenções”, com seu clima de terror e sadismos à moda norte-americana.

Para os leitores que fizeram o sucesso da Pixel Magazine em seu primeiro ano, ficam de crédito a fantástica capa e o penúltimo capítulo de Planetary no número 14 e a revolucionária composição narrativa da HQ de Promethea na número 15, além é claro dos bons capítulos de Hellblazer. Quanto a Fábulas Pixel, é preciso dar tempo para que a proposta da revista amadureça e encontre seu caminho próprio, considerando-se que a estréia mostrou-se promissora. As duas revistas mensais da Pixel têm 96 páginas, em formato 17cm x 26cm, sendo vendidas a R$10,90.

16/06/2008

Astro City: histórias e personagens de uma cidade fictícia.


Cidades fictícias são um lugar-comum nos quadrinhos norte-americanos (basta lembrarmos de Gotham City, Central City ou Patópolis). Uma das metrópoles inventadas a figurar nas páginas dos comics atualmente é Astro City, que dá nome à série criada em 1995 por Kurt Busiek, Alex Ross e Brent Anderson. Trazendo personagens inspirados nos super-heróis da Marvel e DC Comics, essa HQ incorpora elementos de ficção científica e fantasia, além de alguns referenciais históricos.

É exatamente isso que vemos em Astro City: Samaritano Especial e Outras Histórias, encadernado que reúne duas edições lançadas anteriormente pela Pixel (Bem-Vindo a Astro City e A Primeira Família). Uma história curta, várias páginas do "Guia do Visitante", uma história maior com a origem do vilão Infiel e duas HQs estrelando a Primeira Família compõem a edição que tem capa de Alex Ross. Dispensável, obviamente, para quem já comprou as revistas em separado, este encadernado pode ser uma boa opção para quem queira fazer uma primeira visita ao “universo” de Astro City.

Após um texto de boas-vindas do prefeito, o leitor é conduzido por oito páginas de um passeio turístico pelos subterrâneos da cidade. O que vem a seguir são vinte e nove páginas de um dossiê histórico e biográfico com informações sobre as primeiras décadas e alguns dos principais heróis de Astro City. Na HQ maior a seguir, o leitor fica conhecendo a história do vilão Infiel e os motivos de sua animosidade com relação ao herói Samaritano. O melhor do volume fica para o final, com as aventuras da Primeira Família, que destacam a heroína-mirim Astra e promovem uma janela para o passado do grupo de heróis. Porém, embora tenha conquistado um número razoável de leitores, podemos dizer que em termos técnicos e artísticos Astro City não é nenhuma obra-prima.

Mesmo trazendo alguns momentos interessantes, os roteiros de Kurt Busiek deixam a desejar quanto à inventividade (além de derraparem em estereótipos raciais e historicismos superficiais). Quanto aos desenhos, o trabalho de Brent Anderson & Cia. é um tanto irregular, variando entre momentos mais eficientes e outros apenas aceitáveis. Ainda quanto ao visual, o melhor tende a ficar por conta das capas pintadas por Alex Ross (que não se mostra especialmente inspirado na capa escolhida pela Pixel para este encadernado). O volume traz também vários desenhistas convidados que emprestam diferentes técnicas e estilos à galeria de personagens de Astro City (mas que não mostram nada muito excepcional).

Os maiores problemas de Astro City são se tratar de um trabalho excessivamente derivado de outras HQs e o fato de ter entrado num filão com outras séries bem mais interessantes. É inegável, por exemplo, a influência de Watchmen de Alan Moore e Dave Gibbons, na recriação de antigos personagens, com uma roupagem e num ambiente mais realista. Também percebemos, na incorporação de lugares-comuns dos quadrinhos de super-heróis e na utilização de informações científicas e culturais, traços das concepções de Miracleman e 1963. Por outro lado, Astro City poderia ocupar um lugar de maior destaque, se não fossem trabalhos semelhantes, mas mais inteligentes e elaborados, como a Linha ABC do próprio Alan Moore e Planetary de Warren Ellis e John Cassaday.

Para quem curte quadrinhos de super-heróis, a série de Busiek, Ross e Anderson pode ser, no entanto, uma melhor opção que as muito batidas HQs da Marvel e DC Comics. Para quem quiser experimentar, Astro City: Samaritano Especial e Outras Histórias (128 páginas, formato 25,5 cm x 16,5 cm, R$15,90) é uma boa porta de entrada para mais essa cidade de papel e fantasia.

13/06/2008

Fábulas: uma visão desencantada dos seres encantados.


Nos últimos anos, a série Fábulas tornou-se (ao lado da bem-sucedida 100 Balas) um dos principais carros-chefe do selo Vertigo. Criado pelo roteirista Bill Willingham, este épico repleto de seres fabulosos voltou recentemente às prateleiras de quadrinhos no especial Fábulas: Lendas no Exílio (já lançado no Brasil pela Devir). Trazendo as cinco primeiras HQs lançadas em 2002, a edição da Pixel reúne um mistério policial e muitas referências literárias, numa abordagem “desencantada” dos personagens das histórias da carochinha.

Semelhante ao que vemos no caso da Imatéria em Promethea, em Fábulas também temos uma dimensão paralela habitada por seres saídos de histórias. Na série criada por Willingham, trata-se das chamadas “Terras Natais”, dimensão onde os personagens dos contos de fadas tradicionais seguiram vivendo suas histórias. Um dia, porém, os cruéis exércitos de um ente poderoso, conhecido como “O Adversário” ou “O Imperador”, invadiram os reinos das fábulas, expulsando ou assassinando seus habitantes. Os mais afortunados, no entanto, conseguiram encontrar uma passagem dimensional para “o mundo terreno”. E é vivendo em nossa realidade e interagindo com os seres humanos que encontramos a Branca de Neve, o Lobo Mau, a Bela e a Fera, entre outros.

Mas, ao contrário da imagem polida e idealizada dos contos de Grimm ou Perrault, em Fábulas temos uma visão mais crua desses personagens. Afinal, logo nas primeiras páginas somos apresentados a uma burocrata insensível (Neve), a um policial melancólico (Lobo) e a um casal em crise conjugal (a Bela e a Fera). Com uma considerável dose de cinismo e uma busca de interação mais realista entre os personagens, o que temos na série concebida por Willingham é um exemplo do chamado “desencantamento do mundo”, aplicado aqui aos seres encantados. Nesse sentido, a proposta de Fábulas é o inverso da que vemos em Promethea, na qual Alan More propõe um “reencantamento” do mundo cotidiano pelos aspectos mágicos e fabulosos da narrativa.

Contudo, ao reintroduzir sexo, sangue e questões cotidianas na história das fábulas, Willingham de certa forma conseguiu aproximá-las de sua origem popular. Afinal, antes de serem domesticados e moralizados pelos escritores e folcloristas que recolheram e fixaram suas versões escritas, os contos tradicionais eram bem mais explícitos, violentos e sexualizados. Num outro viés, destaca-se a narrativa da expulsão das fábulas pelos exércitos do Imperador, apresentada pelo roteirista num paralelo à sucessiva invasão de Estados europeus pelos exércitos alemães comandados por Adolf Hitler. O Imperador em si aparece como um sátiro ou o deus grego Pã, sendo na HQ também chamado de O Adversário (a tradução para o português da palavra bíblica “satã”).

Os cinco primeiros capítulos de Fábulas formam uma história interessante, com direito a trama policial, referências literárias e intrigas palacianas. O desfecho pode não ser dos mais surpreendentes, mas chega a ser engenhoso, principalmente pela forma como quadros do primeiro capítulo são reutilizados. Muito interessante mesmo é o texto que fecha o volume, “Um Lobo no Galinheiro”, que narra alguns dos fatos ocorridos logo após a invasão das Terras Natais. Quanto aos desenhos de Lan Medina, Steve Leialoha e Craig Hamilton, pode-se dizer que são competentes, embora não muito expressivos (ou seja, aquele tipo de traço em que falta algo). Fábulas: Lendas no Exílio tem 128 páginas, formato reduzido 17 cm x 24 cm, ao preço de R$32,90.

Para os fãs da série também chegou às bancas este mês uma nova revista mensal, a Fábulas Pixel, com o início de um novo arco de Fábulas, o primeiro capítulo de Sandman Apresenta: As Fúrias e HQs de Astro City e Contos do Amanhã.

10/06/2008

As aventuras de Fafhrd e Gatuno em quadrinhos.


A divisão em diferentes gêneros literários ou quadrinísticos sempre foi mais um expediente editorial e comercial do que propriamente um princípio criativo. É fácil notar que uma indistinção de gêneros e uma variedade textual são fatores comuns em muitas obras. Um exemplo é Crônicas de Lankhmar: As Aventuras de Fafhrd & Gatuno, lançamento recente da Devir, que mistura elementos de terror e fantasia. Com roteiro de Howard Chaykin, desenhos de Mike Mignola, arte-final de Al Williamson e cores de Sherilyn Van Valkenburg, a edição traz a adaptação de histórias com os personagens criados pelo escritor Fritz Leiber.

Com um título alterado (talvez para fazer ressonância a recentes produções cinematográficas), Crônicas de Lankhmar reúne sete contos lançados originalmente entre os anos 40 e 70, adaptados para os quadrinhos numa minissérie de 1991. Protagonizado por dois ladrões, fanfarrões e beberrões, o volume traz vários componentes fantásticos (como bruxos, monstros e lugares exóticos), encaixando-se no que se convencionou chamar de histórias de “espada e feitiçaria”.Uma referência mais familiar para os leitores brasileiros são as aventuras de Conan, personagem criado por Robert E. Howard. Afinal, assim como nas histórias do bárbaro cimério, nas aventuras de Fafhrd e Gatuno o que manda é a ação, ambientada num período histórico indefinido e em locais geográficos fictícios (como a cidade de Lankhmar).

O clima pseudo-histórico e os anacronismos, no entanto, não atrapalharão a leitura de quem busque uma HQ de aventura com algumas sequências de luta e muitos objetos mágicos (além de nomes sugestivos como Beco dos Ossos, Casa da Peste ou Bulevar do Estrume). O que acaba prejudicando um pouco são os diálogos por vezes confusos e a narrativa fragmentada em alguns pontos do roteiro de Chaykin (mais conhecido no Brasil por seu trabalho nas HQs American Flagg e Black Kiss). Dos sete contos reunidos na edição, destacam-se “A Torre Assombrada” e “O Bazar Bizarro” que extrapolam os esquemas aventurescos de lutas e tramóias. Mas o verdadeiro ponto alto da obra é seu visual, que tem como base o traço contrastado de Mignola (o talentoso desenhista de Odisséia Cósmica e Hellboy).

Trabalho produzido na fase posterior a Batman 1889 (mas anterior à adaptação do filme Drácula), os desenhos de Crônicas de Lankhmar ainda trazem alguns traços e maneirismos dispensáveis (não apresentando toda a força e a concisão das páginas de Hellboy, por exemplo). Contudo, a arte-final de Williamson e, em especial, as cores de Valkenburg colaboram para a ambientação fantástica e o clima sombrio da HQ. Ilustrações nas aberturas dos capítulos, uma introdução de Chaykin e um posfácio de Mignola, além de pequenas biografias dos autores, completam o volume (de 200 páginas em formato reduzido, 17cm x 24cm, capa cartonada e preço de R$45,00). Crônicas de Lankhmar: As Aventuras de Fafhrd & Gatuno deve agradar a quem gosta de histórias de aventura e magia, valendo uma conferida pelos fãs de Mike Mignola.

07/06/2008

Piratas do Tietê em merecida coleção de luxo.


Por limitações e incongruências do mercado nacional, infelizmente a publicação de quadrinhos brasileiros é ainda bastante restrita (não se considerando, é claro, as revistas da Turma da Mônica). Em termos mercadológicos, um dos exemplos de sucesso das últimas décadas foram as séries de revistas lançadas pela Circo Editorial. Agora, para alegria dos antigos e novos fãs, as editoras Devir e Jacarandá estão resgatando parte do acervo da Circo. Este é o caso de Piratas do Tietê: A Saga Completa, coleção em três volumes que reimprime as HQs clássicas dos infames personagens criados por Laerte, trazendo ainda ilustrações e textos exclusivos.

Os Piratas surgiram em meados dos anos 80 na revista Chiclete com Banana, reaparecendo em seguida na antológica Circo, ambas editadas por Toninho Mendes. Com o sucesso dos personagens e a crescente popularidade de Laerte, os navegantes mais amorais, cruéis e engraçados do Tietê singraram as páginas de sua própria revista. Surgida em maio de 1990, a Piratas do Tietê conciliava um texto satírico, uma narrativa competente e, em especial, desenhos detalhados e expressivos. Editada inicialmente em formato "americano" horizontal (inspirada na Fradim de Henfil), a partir de seu sétimo número a revista passou a ser publicada em formato magazine vertical. Chegando ao número 14, a série somou um total de 150.000 exemplares vendidos e mais de 500 páginas publicadas.

O mais versátil dentre os desenhistas do chamado “udigrudi” brasileiro, Laerte conseguiu com seu traço cartunístico imprimir dinamismo e ambientação às histórias da Piratas do Tietê. Mas se não faltam “caras e bocas” típicas do desenho de humor, a cada novo enredo somos lembrados de que os Piratas de Laerte não estão para brincadeira. Golpes, pilhagens, assassinatos e até mesmo estupros tornam os bucaneiros do Tietê figuras muito mais verossímeis que os domesticados corsários dos filmes da Disney. De qualquer maneira, com bons roteiros e ótimos desenhos, essa série irreverente e absurda fincou sua bandeira na história do humor e dos quadrinhos brasileiros. E num mercado que tende a menosprezar os quadrinhos nacionais, a luxuosa reedição da Piratas do Tietê se sobressai em meio ao endêmico descaso editorial.

Parceiro da Devir na edição de coletâneas de humor desde 2000, Toninho Mendes é o responsável pela edição e projeto gráfico de Piratas do Tietê: A Saga Completa. Além das HQs clássicas, os três volumes trazem conteúdos exclusivos: no primeiro, um perfil de Laerte; no segundo, o texto integral da peça Piratas do Tietê, o filme; já no terceiro, um fabuloso pôster imperdível para os fãs dos Piratas e de Laerte (é realmente uma ilustração de embasbacar!). Com capa-dura e ilustrações nas guardas, fotos e textos de contextualização, com miolo impresso em branco & preto (às vezes sépia) e algumas páginas em cores, A Saga Completa é uma edição de luxo, à altura de um clássico dos quadrinhos (o único senão fica por conta da impressão um tanto saturada nas linhas e letras de algumas páginas).

O terceiro e último volume da coleção, recentemente lançado, traz como pontos altos as HQs “Balada do Lobisomem”, “Horda!”, “Motim” e “Destino de Sereia”. Na primeira, Laerte nos leva numa dinâmica sequência de perseguição a um licantropo, que vai dar num exemplo máximo de anticlímax. Já a HQ curta “Horda!” nos faz lembrar de que os Piratas do Tietê são, afinal de contas, piratas (ou seja, um bando de saqueadores sádicos) com algum humor. Em seguida, “Motim” chega com seus diálogos ultrajantes, cenas de ação e o impagável Ninjacaré. Por fim, “Destino de Sereia” traz um enredo bem elaborado e um desenho mais conciso (com direito a algumas figuras femininas que Laerte desenha tão bem). Este volume final abre espaço ainda para tirinhas, piadas de pirata, sátiras culturais, o story board de um desenho animado e até referências a letras de Chico Buarque.

Piratas do Tietê: A Saga Completa Volume 3 tem capa-dura com impressão especial, 112 páginas de miolo, formato 21 cm x 28 cm, sendo vendido a R$52,00. Para quem ainda está em dúvida, o caprichado livro é garantia de humor inteligente e uma boa dose de ação em ótimos desenhos. Um clássico recente de nossos quadrinhos que não deve faltar a nenhum colecionador!

04/06/2008

Pixel “manda bala” com 100 Balas.


Com o fim da série Sandman em 1996, a supervisora editorial do selo Vertigo, Karen Berger, iniciou um processo de reformulação da linha de quadrinhos adultos da DC Comics, apostando em novos gêneros e autores. Uma das séries lançadas nessa fase foi 100 Balas, criada por Brian Azzarello e Eduardo Risso. Para quem perdeu as primeiras edições, a Pixel relançou recentemente as cinco primeiras HQs dessa série de crime e vingança, enquanto, a título de experiência, lança também uma sequência de quatro revistas mensais.

Quadrinhos envolvendo detetives, policiais e bandidos fizeram muito sucesso nos anos 30 e 40, refletindo as questões sociais da realidade norte-americana da época. Com isso, personagens como Dick Tracy, Spirit, Batman e Homem-Borracha fizeram carreira ajudando a polícia a solucionar crimes e manter “a lei e a ordem”. Nas últimas décadas, porém, aconteceu uma alteração nos personagens enfocados e nos ambientes retratados, acompanhada de uma mudança na própria lógica narrativa. Os tradicionais quadrinhos de detetive e as revistas policiais passaram a ser substituídos pelo que podemos chamar de histórias de crime.

O resultado foi uma busca por enredos menos maniqueístas e mais realistas, acompanhada de deslocamentos nos papéis tradicionais do “mocinho” e do “bandido”. Uma violência urbana crua, incompetência e corrupção policial, personagens falíveis e excluídos dos benefícios de uma sociedade que os tenta ignorar, esses são os principais elementos das novas histórias de crime. Nos quadrinhos, o sucesso da série Sin City foi o grande catalisador de um renovado gênero noir. Por suas características temáticas e visuais, inegavelmente a herdeira e prolongadora da linha iniciada por Frank Miller foi 100 Balas de Brian Azzarello e Eduardo Risso.

A premissa básica é esta: um enigmático homem, que se identifica pelo nome Agente Graves, aproxima-se de uma determinada pessoa e lhe entrega uma maleta contendo uma arma, cem balas que não podem ser rastreadas e provas irrefutáveis contra alguém que tenha destruído sua vida. Além disso, Graves promete à pessoa escolhida imunidade legal para levar a cabo sua vingança contra quem a prejudicou. No geral, os roteiros de 100 Balas buscam retratar os subúrbios e submundos das grandes cidades, tendo como protagonistas pessoas comuns que acabam se deixando levar pelas circunstâncias. Já os desenhos primam por representar diferentes grupos étnicos, baseando-se fundamentalmente num contraste entre preto e branco.

A coletânea 100 Balas: Atire primeiro... traz as cinco primeiras histórias da série, acompanhadas de uma HQ curta, em 128 páginas, formato 17 cm x 26 cm, ao preço de R$14,90. Nas três primeiras partes, somos apresentados ao Agente Graves, ao Sr. Shepherd e a Dizzy Cordova, uma jovem recém-saída da prisão, que receberá a “dádiva” das cem balas. Já na história curta que se segue, na noite de Natal uma velhinha vai à delegacia, arrependida por ter aceitado a oportunidade de se vingar, três anos antes. Na sequência final em duas partes, é a vez de um ex-empresário, que viu sua vida desmoronar ao ser injustamente acusado, apostar sua sorte numa vingança, não sabendo que, na verdade, ele não passa de um peão numa trama maior.

Elementos da trama de conspiração que envolve a série anunciam ser desvelados em 10 Balas: Parlez Kung Voux 1, uma revista de 48 páginas, formato 17 cm x 26 cm, ao preço R$ 7,90. Primeira de quatro revistas que a Pixel programou lançar mensalmente, a edição traz os números 12 e 13 da série original. Passada em Paris, a história mostra a volta de Dizzy Cordova, agora trabalhando diretamente para o Agente Graves e o Sr. Shephard. A despeito da mudança de cenário, não faltam as cenas em bares, sequências de brigas e até um pouco da nudez feminina que Azzarello e Risso pegaram emprestado de Miller e tornaram a marca registrada de suas próprias revistas. Para quem tem acompanhado a série, a edição faz o prenúncio de grandes revelações.

Pessoalmente, à parte o efeito sonoro e emblemático do título, desde o início sempre questionei por que alguém precisaria de "cem balas" para matar outra pessoa. Mais que isso, a lógica “olho por olho” que embasa a série sempre me incomodou. O fato, contudo, é que a premiada 100 Balas é um sucesso também entre os leitores brasileiros, ganhando atenção mais que especial da Pixel.