30/06/2008

Cleuber, um último rebelde do Rock.


Cleuber Cristiano é um dos mais talentosos quadrinistas da nova geração. Desde o final dos anos 90, temos visto seus desenhos e suas idéias em publicações independentes de todo o país, com destaque para sua melhor e mais original criação, a banda de rock-grunge-underground Arroz Integral. Numa tarde dessas, em 2001, fui até sua casa para uma entrevista e, ao som de Nirvana, rodeados de desenhos, pôsteres de rock e mulheres seminuas, tivemos uma conversa honesta sobre sucesso, Arroz Integral e rock’n’roll.

Nós os conhecemos pelas tirinhas, mas quem são Crof, Berly e Nico?


Nico é um cara que não tem muita perspectiva de vida, é um cara mais na dele. Ele tem a banda como um refúgio do mundo real, do mundo social, saca? O Berly é o “muleque” que tem a capacidade de se igualar a gênios como Albert Einstein, mas ele reprime isso, reprime os conceitos dele, talvez ele se sente assim pela própria sociedade mesmo e ele prefere se esconder, fingir que não é nada. O Crof é a peça principal do Arroz Integral, porque ele é o cara que sonha alto, tem alto astral, é empolgado demais, saca? Acho que é ele “que não deixa a peteca cair”.

Nico usa vestido e tem o mesmo nome da alemã que cantava com o Velvet Underground...

Que massa, cara, eu não sabia! Fiquei feliz por saber isso...

Pois é. Os leitores não têm razão de confundi-lo com uma mulher?

Têm. Ele era bicha. O Arroz Integral tem que revelar muita coisa ainda.

Kurt Cobain (líder da banda Nirvana, que se suicidou com um tiro em 1994) é seu grande ídolo. O que você tem a dizer a ele?

A ele!? Porra, essa... Deixa eu pensar... O Rock tá uma porcaria sem ele, por isso eu formei minha banda.

Qual das duas? A do mundo real ou a dos quadrinhos?

A Dowdy.

Suas tirinhas expressam bem o que seria o espírito grunge. Mas o que hoje é chamado de “grunge” faz jus ao Arroz Integral?

Não. O conceito grunge que é transmitido nas tirinhas é mais a filosofia underground do que o próprio grunge. Na verdade o Arroz Integral não é uma tirinha grunge, é uma tirinha comum.

Mas a influência do grunge de Seatle na origem do Arroz Integral é evidente.

É porque eu acho que o grunge tinha muito do underground, era diferente, era mais tosco do que hoje. Eu procurei passar essa visão que eu tive do grunge, que é o lance mais importante prum público do quadrinho. Eu acho importante registrar a passagem do Rock dos anos 80 e 90 no quadrinho, cinema, onde for, mas tem que ser lembrado, saca?

Apesar de falar de uma realidade restrita, a das bandas iniciantes, suas tirinhas conquistaram um público de poucos mas significativos leitores. A que você atribui isso?

Ao underground e aos verdadeiros fãs do Arroz Integral, são eles que fizeram tudo e estão fazendo.

A idéia dos “discos quadrados” é uma boa metáfora para o quadrinho independente. Mas você não sente uma vontadezinha mórbida de fazer muito sucesso?

(risos) De um dia ser igual ao Robert Crumb! O porquê de ser igual ao Crumb é porque eu acho muito massa o que ele fez. Não, eu não acho, não... Mas eu gosto dos trabalhos dele, e muito. Peraí cara, agora é sério! Eu só quero que a grande massa veja meu trabalho, mas minha intenção não é explorar o leitor, como o Angeli faz. Eu não penso em fazer tirinha pra ficar milionário, mas que pelo menos dê pra comer e vestir.

Suas tirinhas têm se tornado mais críticas com o tempo. Por quê?

Ah... Humm... Vai de acordo com o que eu tô vivendo, cara. Onde eu vejo alguma coisa que tem que ser criticada eu critico. Eu acho que através da crítica é que se faz as pessoas pararem pra pensar duas vezes.

Agora que você está envolvido com outra banda, a Dowdy (cantando e tocando guitarra), haverá tempo para o Arroz Integral?

Não. Só se eles quiserem abrir show pra gente... (risos) Tem que saber separar as coisas e eu estou me organizando pra isso.

O que o futuro reserva para os integrantes do Arroz? Sucesso, suicídio, overdoses ou mais arte?

Hummm... Só o Henfil sabe!

O Henfil?

É. Porque ele tá no Céu. Eu num faço plano pro Arroz Integral, eu num sei como vai sair o próximo número do fanzine.

Por fim a velha pergunta de sempre, como criador o que os quadrinhos são para você?

Uma bosta! Tô zuando, num vai escrevê isso aí, não.

Claro que vou!

Na verdade significa muita coisa. Quando eu tava na primeira série eu tomei bomba porque eu não sabia nada. Foi só quando minha mãe comprou uma revista em quadrinhos pra mim que eu passei de ano. O quadrinho é uma arte sem limite. Ponto final.

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