28/06/2008

Hugo Pratt e Guido Crepax em HQs clássicas.


Na última quinta-feira, o jornalista Paulo Ramos noticiou no Blog dos Quadrinhos o encerramento da sociedade entre a Futuro Comunicação e a Ediouro. Com isso, a Pixel Media passa ao total controle da editora fluminense, que vem realizando movimentos no sentido de consolidar sua posição no mercado de quadrinhos. Os detalhes e desdobramentos dessa alteração ainda não são conhecidos, mas só se pode esperar que, sob total controle da Ediouro, o bom trabalho da Pixel no último ano seja mantido e até ampliado. Enquanto isso, estão chegando às lojas dois ótimos lançamentos em álbuns europeus, Corto Maltese: As Etiópicas de Hugo Pratt e Emmanuelle Vol.1 de Guido Crepax.

Quinto volume da série a ser lançado pela Pixel, Corto Maltese: As Etiópicas chega no formato 21cm x 28cm, com 96 páginas e ao preço de R$33,00. Dividido em quatro partes, nesse álbum ainda encontramos o Corto Maltese em meio aos eventos da Primeira Guerra Mundial. Dessa vez de passagem pela Arábia e pela África Oriental, o marinheiro da liberdade envolve-se com guerrilheiros muçulmanos e nativos africanos, enfrentando colonizadores europeus e dominadores locais.

Com referências a figuras históricas como Lawrence da Arábia e Arthur Rimbaud, a HQ se vale de uma competente ambientação de época, além de um autêntico conhecimento dos locais retratados. Filho de um militar, o próprio Hugo Pratt passou os primeiros anos de sua juventude na Etiópia, então sob o domínio colonial da Itália. E um elemento que sempre chama atenção nos volumes dessa série é a forma respeitosa e digna com que Pratt representa os habitantes nativos dos lugares que o Corto visita (os quais muitas vezes são apresentados de forma estereotipada ou ridicularizada em outros quadrinhos).

Mas o que realmente salta aos olhos do leitor de As Etiópicas é o traço conciso, dinâmico e expressivo de Pratt. Poucos artistas dos quadrinhos tiveram ou têm um domínio tão grande dos contrastes entre massas de preto e áreas em branco, aliados a um traço fluido que muitas vezes mais sugere que realmente desenha. Nessa edição, merecem destaque mais que especial as cenas no deserto com as sombras e dobras nas dunas, a antológica página das pedras caindo e a página das listras das zebras que se confundem com os escudos dos caçadores (sequência homenageada por Frank Miller em O Cavaleiro das Trevas).

Emmanuelle Vol.1 segue o mesmo padrão gráfico e editorial, no formato 21cm x 28cm, com 96 páginas e ao preço de R$33,00. Primeira de duas partes, essa HQ é considerada uma das obras-primas do também italiano Guido Crepax. Dividido em sequências curtas, o álbum traz as aventuras e buscas sexuais da personagem que lhe dá título, uma jovem mulher européia vivendo na Ásia. Por isso mesmo, aliado à temática erótica, Crepax não foge a um ar de exotismo ao ambientar sua história.

Com desenhos bastante minimalistas, compostos às vezes de um emaranhado de traços, Emmanuelle pode causar um estranhamento ao leitor desacostumado com o estilo do autor. Mas o intenso erotismo que exala de cada página é envolvente, arrastando o leitor pelos quadros de uma narrativa também pouco comum. Fusões de imagens, sobreposições de cenas e intercalações de símbolos são alguns dos recursos utilizados de maneira muito propícia (para a uma HQ cujo erotismo explícito e o clima onírico são os elementos principais).

Por tudo que foi dito aqui, Corto Maltese: As Etiópicas e Emmanuelle Vol.1 são boas pedidas para quem procura quadrinhos originais com temática adulta e qualidade artística. Se ainda considerarmos o preço atual dos livros e álbuns de quadrinhos, esses dois clássicos europeus saem a um preço bem em conta.

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