04/06/2008

Pixel “manda bala” com 100 Balas.


Com o fim da série Sandman em 1996, a supervisora editorial do selo Vertigo, Karen Berger, iniciou um processo de reformulação da linha de quadrinhos adultos da DC Comics, apostando em novos gêneros e autores. Uma das séries lançadas nessa fase foi 100 Balas, criada por Brian Azzarello e Eduardo Risso. Para quem perdeu as primeiras edições, a Pixel relançou recentemente as cinco primeiras HQs dessa série de crime e vingança, enquanto, a título de experiência, lança também uma sequência de quatro revistas mensais.

Quadrinhos envolvendo detetives, policiais e bandidos fizeram muito sucesso nos anos 30 e 40, refletindo as questões sociais da realidade norte-americana da época. Com isso, personagens como Dick Tracy, Spirit, Batman e Homem-Borracha fizeram carreira ajudando a polícia a solucionar crimes e manter “a lei e a ordem”. Nas últimas décadas, porém, aconteceu uma alteração nos personagens enfocados e nos ambientes retratados, acompanhada de uma mudança na própria lógica narrativa. Os tradicionais quadrinhos de detetive e as revistas policiais passaram a ser substituídos pelo que podemos chamar de histórias de crime.

O resultado foi uma busca por enredos menos maniqueístas e mais realistas, acompanhada de deslocamentos nos papéis tradicionais do “mocinho” e do “bandido”. Uma violência urbana crua, incompetência e corrupção policial, personagens falíveis e excluídos dos benefícios de uma sociedade que os tenta ignorar, esses são os principais elementos das novas histórias de crime. Nos quadrinhos, o sucesso da série Sin City foi o grande catalisador de um renovado gênero noir. Por suas características temáticas e visuais, inegavelmente a herdeira e prolongadora da linha iniciada por Frank Miller foi 100 Balas de Brian Azzarello e Eduardo Risso.

A premissa básica é esta: um enigmático homem, que se identifica pelo nome Agente Graves, aproxima-se de uma determinada pessoa e lhe entrega uma maleta contendo uma arma, cem balas que não podem ser rastreadas e provas irrefutáveis contra alguém que tenha destruído sua vida. Além disso, Graves promete à pessoa escolhida imunidade legal para levar a cabo sua vingança contra quem a prejudicou. No geral, os roteiros de 100 Balas buscam retratar os subúrbios e submundos das grandes cidades, tendo como protagonistas pessoas comuns que acabam se deixando levar pelas circunstâncias. Já os desenhos primam por representar diferentes grupos étnicos, baseando-se fundamentalmente num contraste entre preto e branco.

A coletânea 100 Balas: Atire primeiro... traz as cinco primeiras histórias da série, acompanhadas de uma HQ curta, em 128 páginas, formato 17 cm x 26 cm, ao preço de R$14,90. Nas três primeiras partes, somos apresentados ao Agente Graves, ao Sr. Shepherd e a Dizzy Cordova, uma jovem recém-saída da prisão, que receberá a “dádiva” das cem balas. Já na história curta que se segue, na noite de Natal uma velhinha vai à delegacia, arrependida por ter aceitado a oportunidade de se vingar, três anos antes. Na sequência final em duas partes, é a vez de um ex-empresário, que viu sua vida desmoronar ao ser injustamente acusado, apostar sua sorte numa vingança, não sabendo que, na verdade, ele não passa de um peão numa trama maior.

Elementos da trama de conspiração que envolve a série anunciam ser desvelados em 10 Balas: Parlez Kung Voux 1, uma revista de 48 páginas, formato 17 cm x 26 cm, ao preço R$ 7,90. Primeira de quatro revistas que a Pixel programou lançar mensalmente, a edição traz os números 12 e 13 da série original. Passada em Paris, a história mostra a volta de Dizzy Cordova, agora trabalhando diretamente para o Agente Graves e o Sr. Shephard. A despeito da mudança de cenário, não faltam as cenas em bares, sequências de brigas e até um pouco da nudez feminina que Azzarello e Risso pegaram emprestado de Miller e tornaram a marca registrada de suas próprias revistas. Para quem tem acompanhado a série, a edição faz o prenúncio de grandes revelações.

Pessoalmente, à parte o efeito sonoro e emblemático do título, desde o início sempre questionei por que alguém precisaria de "cem balas" para matar outra pessoa. Mais que isso, a lógica “olho por olho” que embasa a série sempre me incomodou. O fato, contudo, é que a premiada 100 Balas é um sucesso também entre os leitores brasileiros, ganhando atenção mais que especial da Pixel.

3 comentários:

Amalio Damas disse...

100 Balas realmente é uma série muito boa, o problema é o seu histórico de lançamento aqui no Brasil. Ela começou a ser lançada nos moldes da matriz americana, uma história por edição, pela Editora Ópera Gráphica até o número 36. Depois com o crescimento do mercado de quadrinhos nas livrarias, a série continuou em álbuns compilando arcos de histórias. Perto do final do contrato com a DC Comics, a Ópera preferiu maximizar ao extremo seus lucros e lançou dois álbuns caríssimos. Quando a Pixel assumiu a linha Vertigo e anunciou que iria lançar tudo do começo, fiquei muito empolgado com a notícia e comecei a comprar as revistas, mas a empolgação sumiu com o lançamento deste encadernado, que na verdae é a encadernação do encalhe das duas primeiras edições, ao meu ver, um erro estratégico. Se a intenção é fazer um teste com as quatro edições mensais que estão sendo lançadas e continuarão nos próximos dois meses, porque lançar este encadernado antes? O leitor brasileiro já está acostumado com essas manobras editoriais e vai esperar para adquirir as próximas edições. Acho que a Pixel está precisando fazer caixa e está atropelando suas próprias estratégias. O melhor seria ter lançado edições mensais mix, nos mesmos moldes da Panini e com o mesmo preço, porque o consumidor já está acostumado com esse formato, tanto é verdade que a Pixel já está estreando uma nova revista mix, dado o sucesso da Pixel Magazine, eu até mandei um e-mail pra eles com essa sugestão quando soube da assinatura do contrato, mas faze o que, eu sou leitor que compra quadrinhos em banca há apenas 23 anos, o que eu poderia saber?

Wellington Srbek disse...

Você fez uma boa leitura da situação, Amalio. Mas é muito difícil para a Pixel, ou qualquer outra editora média, igualar os preços da Panini, que tem uma estrutura maior e faz tiragens bem maiores (no fim, são as tiragens maiores que permitem preços menores). Mas ainda acho que a Pixel ganha na qualidade média dos quadrinhos publicados. Abraço!

Amalio Damas disse...

Com certeza. O seu complemento fechou o raciocínio. Quanto a qualidade, não tem nem comparação.