24/04/2010

Editoras olham para o passado em busca do sucesso.


No primeiro semestre de 1999, começaram a ser publicadas duas séries que apresentavam versões alternativas de heróis dos quadrinhos dos anos 30. Ao serem lançadas, Tom Strong de Alan Moore e Chris Sprouse e Planetary de Warren Ellis e John Cassaday deram uma ambientação contemporânea e uma abordagem metaficcional a personagens do tradicional gênero das HQs de aventura. Enquanto a série de Moore e Sprouse recriava heróis da Nedor Comics, a obra de Ellis e Cassaday trazia versões disfarçadas de personagens dos quadrinhos e da literatura pulp. Foi assim, por exemplo, que Doc Strange tornou-se Tom Strong e que Doc Savage serviu de modelo para o Doutor Axel Brass.

A qualidade das revistas e o sucesso entre os leitores garantiram que o visual bem-cuidado e a trama metaficcional de Tom Strong e Planetary influenciassem diversos trabalhos nos últimos anos. Mas mais que isso, essas séries chamaram a atenção das editoras para a extensa galeria de personagens clássicos disponíveis para serem relançados numa roupagem contemporânea. Assim, ao adquirir os direitos de publicação sobre as obras de Will Eisner, a DC Comics não apenas relançou as HQs originais do Spirit, mas também produziu uma nova série com o personagem, escrita e desenhada por Darwyn Cooke (mas vale lembrar que Moore já havia homenageado a obra de Eisner ao criar com Rick Veitch o detetive Grey Shirt para a Tomorrow Stories).

A onda do resgate de antigos heróis não parou por aí. Mais recentemente a Dynamite lançou Project Superpowers, série concebida por Alex Ross, que relança diversos personagens que estavam em domínio público (como os próprios heróis da Nedor Comics, anteriormente revividos nas páginas da Tom Strong). Com capas pintadas por Ross, a séria chega a seu segundo volume, trazendo para os dias de hoje heróis como Doc Strange, Black Terror e Fighting Yank (que podem ser vistos em sua versão original aqui). A Dynamite também lançou uma série com o Green Hornet (Besouro Verde no Brasil) escrita por Kevin Smith a partir do roteiro do filme que ele não realizou com esse herói mascarado (que pode ser visto em sua versão original aqui).

Em março, foi a vez de a DC Comics lançar seu “universo pulp” com a minissérie First Wave, escrita por Brian Azzarello e desenhada por Rags Morales. A HQ começa com uma perseguição num “território desconhecido” da (exótica e ameaçadora) América do Sul, prosseguindo num tom de mistério e com um tratamento visual que faz lembrar as ilustrações de capa das publicações pulp. Após a aparição de um robô retrô, entram em cena personagens mais conhecidos, como Doc Savage e The Spirit (no que vemos mais um passo para a incorporação do detetive de Central City ao “Universo DC”). Embora o Batman apareça na capa da revista, nas páginas internas ele não dá o ar de sua graça, sendo substituído por uma aparição dos Falcões Negros ao final.

Além da minissérie em seis partes, que lança as bases de seu “universo pulp”, a DC está publicando duas novas séries pertencentes à linha First Wave, uma para Doc Savage e outra para o Spirit. Mas, a julgar pelas prévias disponibilizadas pela editora, as duas revistas seguem uma linha bem mais comercial. Podemos também colocar em questão o quão rentável pode vir a ser essa estratégia para os padrões de uma grande editora, uma vez que se está adaptando um modelo que deve ter funcionado para os padrões de uma pequena editora como a Dynamite. De qualquer forma, olhar para o passado em busca de modelos editoriais ou personagens que fizeram sucesso é, quando trabalhada adequadamente (como no caso de Tom Strong e Planetary), uma estratégia que gera bons frutos.

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