26/06/2009

Os 40 anos do Pasquim!


Com a morte do jornalista e humorista Sérgio Pôrto em 1968, saiu de circulação o jornal Carapuça, por ele editado. Para não perder o filão editorial, o diretor da Distribuidora Imprensa Altair de Souza e o publicitário Murilo Reis decidiram investir no projeto de um novo semanário de humor. Por sua vez, os humoristas e jornalistas brasileiros ansiavam por mais espaço e liberdade, devido ao fechamento de vários veículos e as restrições sobre o trabalho na grande imprensa, após o AI-5.

Juntou-se assim “a fome com a vontade de comer” e, após meses de reuniões envolvendo Ziraldo, Jaguar, Sérgio Cabral, entre outros, decidiu-se por um projeto geral que levaria o nome Pasquim. Na época em que aconteciam essas reuniões, Henfil já fazia bastante sucesso no Rio de Janeiro, mas não foi chamado imediatamente para participar do novo jornal de humor. Porém, em uma de suas idas ao Maracanã, no intervalo do jogo, ele foi abordado pelo jornalista Sérgio Cabral que lhe fez o convite para se juntar à equipe. Tentou desconversar, mas acabou aceitando participar.

O Pasquim pode ser considerado uma vitória do riso naqueles tempos de generais de cara fechada. Editado em formato tablóide, o semanário de humor estreou há exatos 40 anos, no dia 26 de junho de 1969. E a despeito do texto de Millôr Fernandes vaticinando que o Pasquim não duraria três meses (caso fosse fiel à sua proposta de independência), a tiragem inicial de catorze mil exemplares esgotou-se imediatamente. Aquele “jornal de Ipanema” tornava-se um sucesso de público, e em breve não se restringiria às praias do Rio. Como costuma se dizer, o Pasquim representou uma revolução de descontração e inconformismo na séria e bem-comportada imprensa brasileira da época. Para Henfil:

“O Pasquim foi o Maracanã! O futebol no Rio realmente cresceu muito depois do Maracanã. Futebol em Minas só depois do Mineirão. O humor só depois do Pasquim. Foi a primeira experiência de juntar todos, de tendências as mais diversas e às vezes opostas. Pessoas pensando de maneira oposta e o negócio deu certo.”

Não há duvida de que o caráter inovador e corajoso do Pasquim foi a chave para seu sucesso, numa época de ostensivo ataque à inteligência e à criatividade do país. Mas o jornal era, sobretudo, uma diversificada soma de opostos e complementares, que se valeu da ampla experiência pública de seus integrantes nos principais jornais e revistas do país (Millôr e Ziraldo, por exemplo, haviam se tornado nomes nacionais através das páginas de O Cruzeiro ainda nos anos 50). Ao ser perguntado pelo amigo Tárik de Souza se o sucesso estrondoso do Pasquim, que se concretiza e estabelece em 1970, deveu-se à ditadura militar, Henfil respondeu:

“Eu acho que não, porque foi um amadurecimento dessas pessoas todas. Veja um negócio: o Paulo Francis. Era um cara que vinha, caminhos os mais confusos, né? Esteve em teatro, crítica de teatro, passou para a política, até pegar um estilo na política muito pessoal de escrever. Millôr Fernandes vinha de uma série de experiências, mas uma coisa muito pessoal! Impossível de compartilhar com outros, era ele e ele. Com o amadurecimento dele, a tentativa quando fez a Pif-Paf já era uma coisa de trabalhar junto! Equivaleria, por exemplo, a você chegar para um cantor de muito sucesso e convencer a ele, o maior cantor do mundo, que ele tem que fazer parceria com outros, talvez até menores. O Millôr já estava se preparando para isso, tanto que ele tentou juntar gente através do Pif-Paf. E o Jaguar, que era um cara que tinha uma experiência da Última Hora, com um cartunzinho, tinha uma experiência na revista Senhor com uma coisa maior e etc. Ele veio amadurecendo e estava na hora do Jaguar, para fazer personagem, para fazer o Sig e aquela coisa toda. Ziraldo! A mesma coisa. Tinha uma experiência mais pulverizada. Fazia de tudo! De repente o Ziraldo começou a se politizar! De repente, não! A partir do governo JK, o Pererê, que era uma coisa para a área infantil, começou a se politizar. Fortuna e o Claudius cresceram, nos seus desenhos, na sua visão, naquela coisa toda. Eu, com experiência diária no Jornal dos Sports, uma série de coisas, estava pronto para aquilo. Então... Funcionou todo esse negócio com pessoas que não se entendiam. A única unanimidade era o Jaguar. Era um saco de gatos!”

Para o criador dos fradinhos, no surgimento e sucesso do Pasquim, “a ditadura teve um único papel: ajudar a inviabilizar nos jornais a linguagem pessoal dessas pessoas que acabamos de citar. Então eles tinham que fazer fora destes jornais!”. Para o próprio Henfil, o novo jornal surgiu como a oportunidade esperada para politizar mais seu trabalho, que ele sentia limitado nas charges sobre o futebol. Chamado a continuar com o humor esportivo no Pasquim, ele se recusou. Era a vez do fradinho Baixinho!

(O texto desta postagem faz parte de meu livro inédito A Revolução de Fradim, adaptado a partir de minha tese de Doutorado sobre o genial Henfil e sua revolucionária revista Fradim.)

25/06/2009

Turma da Mônica Jovem, uma HQ brasileira de sucesso.


Críticas podem ser feitas às revistas infantis da Turma da Mônica. Mas todos temos que reconhecer a importância das criações de Maurício de Sousa para a história dos quadrinhos brasileiros. Entre suas contribuições mais significativas está o fato de as revistas da Mônica ocuparem a condição de líderes do mercado nacional, tendo desbancado há décadas concorrentes estrangeiros poderosos como a Disney. Por isso mesmo, as produções dos Estúdios Maurício de Sousa são a melhor resposta para aqueles que gostam de afirmar que os quadrinhos feitos no Brasil não vendem bem e são incapazes de conquistar os leitores.

Além das centenas de milhares de revistas infantis vendidas todos os meses, recentemente Maurício de Sousa deu-nos mais uma prova de que, quando tem um bom projeto e uma produção adequada, uma HQ brasileira pode vender muito mais do que os similares importados. Lançada há quase um ano, a Turma da Mônica Jovem chegou fazendo barulho e emplacando um sucesso de vendas estrondoso. Publicada pela Panini num formato 21,3cm x 16cm, a série tem capa colorida em papel cartonado, miolo P&B impresso em papel-jornal, com 130 páginas, ao preço de R$6,90. Ou seja, um produto endereçado aos jovens leitores de mangá e aos fãs adolescentes da “dentuça”.

Turma da Mônica Jovem é o que podemos chamar de a crônica de um sucesso comercial anunciado, cuja base foram as décadas de popularidade das revistas infantis do grupo. Transformar Mônica, Cebolinha, Magali e Cascão em adolescentes foi quase como seguir a “evolução natural” dos personagens. A transformação, é claro, foi feita tendo como referência as tendências do mercado de quadrinhos e contemplando os referenciais presentes no cotidiano do público-alvo da série. Desenhadas em estilo mangá cartunizado, com meios-tons em retícula, as HQs trazem os elementos característicos e os principais maneirismos dos quadrinhos japoneses mais comerciais.

Por sua vez, as histórias são repletas de referências a celulares, e-mails, Internet, DVD, etc., trazendo ainda situações que exploram a sexualidade dos personagens. Aliás, as formas adolescentes da Mônica foram logo um dos elementos que se destacaram na série. A menina continua com os característicos dentinhos de coelhinha, mas ganhou cinturinha, peitinhos e bundinha que não lembram em nada a “gorducha baixinha” de antes. Já houve até um badalado beijo no ex-Cebolinha, agora Cebola, que vive babando pela amiga. Noutra edição, uma aventura espacial acaba mostrando a Mônica com a roupa em farrapos, o que ressalta suas caprichadas curvas.

Com o sucesso comercial, Turma da Mônica Jovem já está “fazendo escola”, pelo que podemos ver na Luluzinha Teen, lançada este mês pela Ediouro. Para quem ainda não conferiu a série juvenil dos Estúdios Maurício de Sousa, o saite oficial traz disponível o número zero promocional do mangá brasileiro. Na história de seis páginas, Mônica escreve em seu diário eletrônico, o que serve de pretexto para serem apresentadas as principais mudanças sofridas pelos personagens. Um ponto muito estranho é o endereço anunciado para um suposto website do Cebola, que existe realmente, mas que na verdade não tem nada a ver com os personagens de Maurício de Sousa.

23/06/2009

Arroz Integral volta em coletânea pela Marca de Fantasia.


Conheci Cleuber e os meninos do Arroz Integral em 1998, numa convenção de quadrinhos em Belo Horizonte (MG). Na época, o movimento quadrinístico na cidade passava por sua melhor fase, com autores e publicações surgindo a cada dia. No meio de muita novidade, pastas, portifólios e originais, os desenhos aparentemente mal-acabados das primeiras tiras do Arroz Integral chamaram minha atenção.

Fiel à irreverência e à sinceridade que seriam as bases do underground e do grunge, Cleuber passou a desenhar exclusivamente o Arroz Integral. Nos anos seguintes, ele lançou fanzines, estabeleceu um estilo, reinventou esse estilo, explorou ao máximo o pequeno universo das bandas iniciantes. Com isso, a cada tira e nas HQs de página inteira, ele desenvolveu (quase intencionalmente) uma série original, inteligente e engraçada.

Misturando dilemas e sonhos juvenis, a série Arroz Integral pode ser resumida numa palavra: “nostalgia”. Não exatamente o sentimento definido nos dicionários, mas um certo estado de espírito então cultivado por Cleuber, como sendo: “aquela mesma velha nostalgia de sempre”. Esta característica é percebida em seus melancólicos personagens, que tentam manter a identidade, ao mesmo tempo em que buscam um lugar ao sol no mundo do rock.

As historinhas de Crof, Nico e Berly simbolizam uma esperança teimosa: a persistência em produzir quadrinhos no Brasil (sem apoio, nem recursos). E assim, contra todas as probabilidades, Cleuber seguiu retratando novos acontecimentos e revelando faces surpreendentes dos meninos do Arroz Integral (basta ver o chocante “novo visual”). Com o tempo, sua proposta criativa também amadureceu, gerando histórias mais críticas e bem-estruturadas e desenhos mais elaborados e cativantes.

Pela amizade com o autor e por acreditar no trabalho, em 2002 editei e lancei a revistinha O Melhor do Arroz Integral e em 2003 O Lado B do Arroz Integral. Com fãs espalhados pelo Brasil, as pequenas edições não demoraram muito a desaparecer. Contudo, devido à impossibilidade de se dedicar profissionalmente aos quadrinhos, Cleuber acabou deixando de lado as tirinhas e HQs. Para os fãs do Arroz Integral, os últimos anos sem seus ruídos e rabiscos foram de um silêncio ensurdecedor.

Mas a espera está chegando ao fim! Cleuber voltou a desenhar as aventuras e desventuras de seus personagens mais carismáticos. E para celebrar este novo começo, estamos lançando pela Coleção Biografix da editora Marca de Fantasia Os maiores sucessos do Arroz Integral (64 páginas, R$10,00). Reunidas nessa coletânea estão todas as tiras e HQs publicadas nas duas revistinhas que lancei, além da história inédita “Lixo” (nossa “faixa bônus” especial para os fãs do trio de BH).

Enfim, para aqueles que ainda não conhecem Nico, Crof e Berly, este livro é uma ótima pedida. Já para os fãs fiéis do Arroz Integral, este novo “disco quadrado” é a oportunidade ideal para matar a saudade, enquanto as novas historinhas não chegam. “Aquela mesma velha nostalgia de sempre” está de volta! Vida longa ao Arroz Integral!

(Para encomendar o livro, basta entrar em contato com o editor Henrique Magalhães: editora@marcadefantasia.com.)

21/06/2009

Edições e downloads promocionais da DC / Vertigo.


Revistas com distribuição gratuita ou a preços irrisórios são boas formas de promover novas séries, edições especiais, linhas de quadrinhos específicas ou mesmo alcançar novos leitores que tenham chegado às HQs através de outras mídias. Este foi o caso da revista Vertigo Preview que, lançada em 1993 ao preço de 75 centavos de dólar, serviu para divulgar a estreante linha de “quadrinhos para leitores maduros” da DC Comics. Já em 2006, para promover a luxuosa coleção The Absolute Sandman, a editora lançou uma Special Edition ao preço de 50 ¢, trazendo o n°1 da série numa versão recolorizada, acompanhada de material bônus.

Após uma década e meia de atuação, a linha capitaneada por Karen Berger conta hoje com um catálogo dos mais invejáveis no mercado norte-americano. Uma amostra disso é dada nas coletâneas First Taste, First Offenses e First Cut que, com mais de 160 páginas e vendidas por $4.99 cada, reproduzem as primeiras edições de séries como Preacher, Os Invisíveis, 100 Balas e Transmetropolitan.

No início do ano, seguindo o exemplo da Vertigo e pegando carona na divulgação do filme, a DC lançou a série de revistas After Watchmen.. what’s next?, vendidas por $1 e trazendo reimpressões dos primeiros capítulos de obras como O Cavaleiro das Trevas, Ronin, V de Vingança, Asilo Arkham, Reino do Amanhã, entre outras. Esta foi, é claro, uma jogada esperta da editora, que aproveitou a mobilização midiática em torno da produção cinematográfica para estender o prestígio de Watchmen para outras obras de seu catálogo.

É claro que mais acessível ainda do que uma revista a preço baixo é uma HQ que se possa ler de graça. Neste sentido, a DC disponibilizou a página Vertigo #1 com downloads em PDF das edições de estréia de mais de trinta séries. As histórias estão no original, mas valem uma conferida mesmo por quem não lê em inglês. Além do link para a página geral acima, aqui vão os endereços diretos para as séries principais:

Swamp Thing:
http://www.dccomics.com/media/excerpts/10793_1.pdf
Sandman:
http://www.dccomics.com/media/excerpts/1696_1.pdf
Hellblazer:
http://www.dccomics.com/media/excerpts/1618_1.pdf
Animal Man:
http://www.dccomics.com/media/excerpts/1594_1.pdf
Doom Patrol:
http://www.dccomics.com/media/excerpts/2355_1.pdf
Books of Magic:
http://www.dccomics.com/media/excerpts/1669_1.pdf
Books of Magic #1:
http://www.dccomics.com/media/excerpts/1672_1.pdf
Death:
http://www.dccomics.com/media/excerpts/1601_1.pdf
Sandman Mystery Theatre:
http://www.dccomics.com/media/excerpts/1656_1.pdf
Invisibles:
http://www.dccomics.com/media/excerpts/1680_1.pdf
Preacher:
http://www.dccomics.com/media/excerpts/1645_1.pdf
Transmetropolitan:
http://www.dccomics.com/media/excerpts/1719_1.pdf
Fables:
http://www.dccomics.com/media/excerpts/1606_1.pdf
100 Bullets:
http://www.dccomics.com/media/excerpts/1587_1.pdf
Y - The Last Man:
http://www.dccomics.com/media/excerpts/1736_1.pdf

Completando a lista, a DC também disponibilizou, como parte da promoção em torno do filme da Warner, o primeiro capítulo de Watchmen:
http://www.dccomics.com/media/excerpts/1462_1.pdf

Diferentemente dos famosos "scans", os arquivos para download divulgados aqui são legais e não violam direitos autorais de autores e editores.

19/06/2009

Comics de graça (ou quase)!


Desde 2002, no primeiro sábado de maio, acontece nos Estados Unidos o Free Comic Book Day (Dia da Revista em Quadrinhos Grátis). Nessa data, boa parte das lojas norte-americanas distribui edições de graça, como uma forma de promover a leitura de HQs (atraindo novos leitores e também presenteando os que já prestigiam os quadrinhos). Apoiado por pequenas e grandes editoras (que vêm no FCBD uma oportunidade de divulgar novas séries), o evento deste ano distribuiu dois milhões de exemplares, com histórias nos mais variados gêneros. Aproveitando uma compra na loja virtual Midtown Comics, incluí algumas dessas revistas, que assim vieram de graça (ou quase, já que paguei pelos custos da postagem internacional).

Uma das participantes do FCBD é a Dark Horse, que neste ano ofereceu duas edições. A primeira e melhor delas traz HQs curtas de alguns dos principais títulos da editora. Na capa principal vem Star Wars: The Clone Wars, série que acompanha a temática e o estilo dos desenhos animados de George Lukas. Virando a revista de cabeça para baixo, na outra capa temos os personagens que completam a antologia: Usagi Yojimbo, Emily the Strange, Beanworld e Indiana Jones. Incluindo anúncios sobre o saite e novas publicações da Dark Horse, esta revista promocional serve como uma amostra de seu catálogo, caracterizado por misturar séries originais (como Sin City e Hellboy) e histórias originadas de outras mídias.

Seguindo esta última linha, a outra revista oferecida pela Dark Horse traz duas HQs saídas de "franquias" cinematográficas de ficção científica & ação: Aliens e Predador. As histórias se concentram nos elementos característicos dos filmes, sendo produzidas em estilos que tentam se aproximar do visual das produções da Fox. Completam a edição um pôster duplo com os monstrengos, anúncios de novas séries e coletâneas. Outra editora que aposta nas “franquias” do cinema e da tevê é a IDW, que ofereceu uma revista com as séries Transformers Animated e G.I. Joe. Também cheia de anúncios, a edição evidencia a importante ligação dos quadrinhos norte-americanos com os desenhos animados e os filmes para o cinema.

Uma interação interessante entre produção cinematográfica e revista em quadrinhos foi realizada pela Marvel na revistinha Wolverine: The origin of an X-Man. Trazendo na capa a indicação “ótima para todas as idades”, a edição foi distribuída ao mesmo tempo em que chegava aos cinemas o filme estrelado por Hugh Jackman (que também aparece num vídeo promocional do FCBD). Produzida num estilo “desenho animado”, a HQ começa com informações básicas sobre Wolverine, que entra em ação a serviço do governo canadense. Após uma luta contra ameaças tecnológicas (logo, nenhuma gota de sangue é derramada), a revistinha termina com o herói mutante enfrentando o Hulk e o Wendigo (na missão que o lançou em 1974).

Outra edição promocional da Marvel é The Avengers, também impressa em formato reduzido. Escrita por Brian Michael Bendis e desenhada por Jim Cheung, a HQ traz boas imagens e mostra uma pancadaria geral entre os "New" e os "Dark Avengers". A DC Comics, é claro, não poderia ficar de fora do FCBD, tendo produzido para o evento uma revista infantil com seus heróis e especialmente Blackest Night. Previa para uma das principais histórias do “Universo DC” neste ano, a revista é escrita por Geoff Johns e desenhada por Ivan Reis, sendo estrelada pelo Lanterna Verde Hal Jordan e pelo Flash Barry Allen (ambos “ressuscitados” por Johns). Ao fim da edição temos galerias desenhadas por Doug Mahnke, apresentando as principais forças envolvidas no conflito.

No fim das contas, patrocinado pelas editoras e em parte financiado pelas lojas, o Free Comic Book Day parece ser um bom negócio para todos. Séries e personagens são divulgados, os leitores regulares ficam felizes e novos leitores são conquistados (algo fundamental para uma mídia que perde público a cada ano!). Sem nos esquecermos de que, em termos editoriais, o mercado de quadrinhos norte-americano é muito mais amplo que o brasileiro, alguns elementos do FCBD poderiam ser adotados por aqui (por exemplo no que diz respeito à divulgação de séries e à promoção da leitura de quadrinhos). Enquanto algo assim não vem, mais informações e prévias de algumas edições do evento de 2009 podem ser vistas no saite oficial.

16/06/2009

A nova revista da “dupla dinâmica” Grant Morrison e Frank Quitely.


Uma boa história em quadrinhos se faz com um roteiro interessante e desenhos de qualidade. Por isso mesmo, quando um roteirista inteligente e um desenhista habilidoso se juntam, o resultado tende a ser o mais proveitoso para os leitores. A julgar pela edição de estréia de Batman and Robin, nova parceria da “dupla dinâmica” Grant Morrison e Frank Quitely, tudo indica que teremos uma memorável HQ de super-heróis. Lançada no início deste mês pela DC Comics, a revista traz bastante ação e bons diálogos, desenhos detalhados e cores em pintura digital de primeira. Já chegando como a maior vendagem da editora nos últimos anos, o n°1 apresenta de uma só vez um novo Batman e um novo Robin, isso sem falar num novo Batmóvel voador.

A parceria entre os escoceses Morrison e Quitely começou em meados dos anos 90. Na época, eles produziram para a DC a minissérie Flex Mentallo, cujas quatro edições podem ser descritas como um delírio visual e temático, na forma de uma HQ de super-heróis psicodélica. A dupla voltaria a se reunir em 2000 para produzir a muito elogiada graphic novel JLA: Earth 2, estrelada pela Liga da Justiça e por sua versão maligna de uma Terra paralela. Trocando a editora do Super-Homem pela do Homem-Aranha, no início do século Morrison e Quitely colaboraram em algumas das melhores edições de New X-Men. Os dois logo voltariam à DC para produzir We3, uma minissérie hiperrealista estrelada por um gato, um cão e um coelho ciborgues. Em seguida, veio All-Star Superman, uma aclamada série limitada com o Homem de Aço, que resgatou aspectos tradicionais do personagem, num visual mais clássico.

Agora é a vez de os quadrinistas escoceses emprestarem seu talento ao outro grande herói DC. O fato é que Morrison já vinha há algum tempo dando as cartas nos destinos do Batman. Por suas mãos, o herói de Gotham City descobriu recentemente que tinha um filho, como é visto na história Batman and Son. Em seguida, o roteirista mostrou o desaparecimento do Homem-Morcego nas páginas de Batman: R.I.P.. Se não bastasse, Morrison aparentemente matou Bruce Wayne nos capítulos finais da “super-saga” Crise Final. O que veio a seguir foi uma espécie de disputa para se saber quem assumiria o “capuz” do Cavaleiro das Trevas, como foi mostrado na minissérie em três edições Batman: Battle for the Cowl (escrita por Tony Daniel). E como já foi amplamente divulgado, o “vencedor” foi Dick Grayson, que herdou a capa e o título de Batman, unindo-se ao novo Robin, Damian Wayne (o filho rebelde de Bruce).

As primeiras aventuras da nova dupla dinâmica é o que será visto na série Batman and Robin, que terá um total de doze edições divididas em quatro partes (sendo a primeira e a última desenhas por Quitely). O "arco" inicial tem como título “Batman Reborn” (“Batman Renascido”) e traz os defensores de Gotham às voltas com o Professor Pyg e seus asseclas do Circo do Estranho. A HQ começa com uma perseguição policial ao carro do vilão Toad. Entra em cena então o Batmóvel em nova versão voadora, preparada pelo impetuoso e arrogante Damian. Mostrando frieza e auto-controle, Dick Grayson parece bem à vontade no papel de Homem-Morcego. Mas, pelo que se pode notar neste primeiro capítulo, a tensão entre os dois personagens será um elemento importante ao longo da série. Também deverá ter um papel preponderante o sádico e insano Professor Pyg, que só aparece mesmo ao fim deste n°1.

Em muitos sentidos, a nova revista da dupla dinâmica lembra All-Star Superman, que também totalizou doze edições e resgatou elementos tradicionais do Homem de Aço, deixados de lado nas últimas décadas. Como Morrison revelou ao saite IGN, em Batman and Robin a idéia é recapturar um pouco da atmosfera fantasiosa das HQs do personagem nos anos 50. Outra fonte importante seria o seriado de tevê dos anos 60, com seus elementos bizarros e histórias agitadas que funcionavam segundo suas próprias regras. Por outro lado, os autores não querem abrir mão de elementos mais modernos que fizeram o sucesso de produções recentes com o Batman, como o filme O Cavaleiro das Trevas. Assim, na definição do roteirista, a nova revista seria um “noir psicodélico”. Se considerarmos o ritmo acelerado e os desenhos impressionantes da primeira edição, Batman and Robin realmente promete ser uma “tremenda viagem”!

Para quem quiser conferir as primeiras páginas da HQ, a DC disponibilizou uma prévia com as duas versões da capa e sete páginas internas: http://www.dccomics.com/media/excerpts/11864_x.pdf

12/06/2009

O novo velho Homem Animal.


Pelos motivos apontados na postagem anterior, o Homem Animal tornou-se um personagem relevante para os quadrinhos de super-heróis e bastante querido pelos leitores. Após o fim da fase de Grant Morrison, as histórias do herói ficaram a cargo dos roteiristas Peter Milligan, Tom Veitch e Jamie Delano (com o qual a série passou a fazer parte do selo Vertigo). Apesar de alguns bons roteiros, ao assumir um tom mais sombrio a série acabou sendo cancelada. E pensando bem, embora as três coletâneas que reúnem a fase escrita por Morrison tenham sido incorporadas ao selo Vertigo, a estética e a temática dessas HQs têm mais a ver com as revistas regulares do “Universo DC”.

Tanto é que, nos últimos anos (em parte graças ao próprio Grant Morrison), o Homem Animal voltou a ser visto na companhia de outros super-heróis DC, tendo papel de destaque na série 52. Mais uma vez resgatado do “Limbo dos Quadrinhos”, o herói acaba de ganhar uma minissérie na qual deveremos ver seus “últimos dias”. Escrita por Gerry Conway, desenhada por Chris Batista e trazendo capas ilustradas por Brian Bolland, The Last Days of Animal Man se passa num futuro próximo e mostra um Buddy Baker quarentão, às voltas com problemas no casamento e com a perda de seus superpoderes.

Tendo sido anunciada com algum destaque pela editora, em seu primeiro número a minissérie não vai muito além de uma HQ de super-heróis regular. A história se passa na cidade de San Diego, que começa a se recuperar da devastação causada por uma tempestade. O clima festivo é logo interrompido pelo ataque do vilão Bloodrage que, por sua vez, é interrompido pela atuação do herói local, o Homem Animal. Então, no meio da luta, Buddy Baker toma consciência de que seus poderes estão lhe faltando (para quem quiser conferir, essa sequência inicial pode ser conferida na prévia disponibilizada pela DC).

Recuperando-se a tempo, o Homem Animal consegue suplantar a ameaça. Seus problemas, no entanto, estão apenas começando. A HQ assume então um caráter mais cotidiano, com discussões conjugais e questões de trabalho. Ao fim, uma nova luta nos lembra que estamos lendo uma revista de super-heróis. No geral, os desenhos seguem um padrão mais técnico do que expressivo, alcançando um resultado apenas regular. Aliás, algo que também não foge à regra é o espaço ocupado pela publicidade: são catorze páginas de anúncios para uma revista com vinte e duas páginas de quadrinhos!

O que realmente se sobressai nesta primeira edição de The Last Days of Animal Man é a interessantíssima capa ilustrada por Brian Bolland. A imagem é uma citação à capa da revista Animal Man n°1, produzida há vinte e um anos pelo próprio Bolland. Ao mostrar o herói e os bichos na mesma posição da capa original, mas substituindo-os por seus esqueletos, a nova imagem sugere criativamente o subtexto apocalíptico da minissérie (uma sugestão: clique nas imagens dessas duas postagens, salve-as em seu computador e veja-as em sequência; o resultado “antes e depois” é bem bacana!).

Como não faz parte da cronologia regular da DC (por se passar num futuro próximo), The Last Days of Animal Man pode ser publicada em breve pela Panini. Mas, para alguém que se acostumou a ver o Homem Animal em histórias inteligentes e até bem-humoradas, esta nova minissérie ainda precisa provar a que veio. Por enquanto, ficamos pelo menos com as novas belas capas de Brian Bolland.

10/06/2009

O saudoso Homem Animal de Grant Morrison.


O Homem Animal costumava ser um super-herói de terceiro escalão, sem grande importância ou popularidade. Mas, em meados de 1988, isso mudou completamente! Com o enorme sucesso e a ótima repercussão das histórias do Monstro do Pântano escritas por Alan Moore, a DC Comics saiu literalmente à caça de novos roteiristas britânicos que repetissem o feito. Assim, o que ficou conhecido como “a invasão britânica” incluiu nomes como Jamie Delano, Neil Gaiman e, é claro, Grant Morrison, o principal responsável por resgatar o Homem Animal do “Limbo dos Quadrinhos”.

O controvertido roteirista escocês pretendia apresentar à DC apenas a proposta de uma graphic novel do Batman (que se tornaria Asilo Arkham), mas os editores queriam algo mais. Assim, no trem para Londres, Morrison elaborou a proposta para uma minissérie com o esquecido super-herói de estranhos poderes animais. O projeto foi aceito e Morrison elaborou sua minissérie nos moldes do trabalho de Alan Moore para a revista Swamp Thing. Os editores gostaram tanto do trabalho, que propuseram a ele que transformasse o projeto da minissérie numa revista mensal.

Morrison teria então entrado em pânico, pois não fazia idéia do que fazer numa série mensal e não desejava continuar imitando o estilo de Moore. A resposta encontrada foi “O Evangelho do Coiote”, uma das mais inspiradas HQs de super-heróis já produzidas. Lançada na revista Animal Man n°5, a história mostra o encontro do personagem-título com um similar do coiote dos desenhos animados da Warner, numa narrativa repleta de metalinguagem e elementos da simbologia cristã. Marcante e inovadora, aquela edição estabeleceu a temática e o tom das vinte e uma edições seguintes e da Secret Origin do personagem.

Ao longo da série, Morrison resgatou personagens esquecidos, desenvolveu o tema dos direitos dos animais e mergulhou na metalinguagem. O resultado foram HQs inteligentes, conscientes e inovadoras. Quadrinhos de super-heróis nos quais o próprio gênero super-herói se torna um tema em discussão. Uma narrativa “metaficcional” na qual o protagonista se volta para o leitor e diz: “Eu posso ver você!”. Não faltando ainda um ato final no qual criador e criatura, Homem Animal e Grant Morrison, encontram-se para debater o sentido da vida. Em resumo, um trabalho realmente imperdível!

Os desenhos da série, quase sempre produzidos por Chas Truog e Doug Hazlewood, não eram os melhores do mundo, mas davam conta do recado (combinando inclusive com a estética da “Era de Prata” que a revista valorizava). Além disso, em se tratando do visual, Animal Man tinha um trunfo imbatível: as fantásticas capas produzidas por Brian Bolland (que podem ser conferidas em sequência no saite Cover Browser). Interpretando ou sintetizando os temas de cada edição, alguns dos trabalhos do ilustrador inglês são bastante engenhosos e realmente memoráveis. Bolland é também o capista da recém-lançada Last Days of Animal Man (assunto da próxima postagem).

Por seu caráter original e inovador, as vinte e sete histórias do Homem Animal produzidas por Grant Morrison & Cia. entraram para a história dos quadrinhos norte-americanos. Publicada há mais de vinte anos, esta série é prova de que com talento e inteligência até mesmo o mais idiota dos super-heróis pode se tornar um personagem interessante e relevante. Afinal, ao lado de Swamp Thing, Hellblazer e Sandman, a revista Animal Man foi uma das bases para a criação do selo Vertigo. Publicada no Brasil pelas editoras Abril e Brainstore, essa saudosa série merece uma reedição à altura!

07/06/2009

Os heróis DC entre crises, mortes, renascimentos e fórmulas batidas.


O termo “Crise” começou a ser usado pela DC Comics no início dos anos 60, em edições que reuniam personagens de diferentes realidades paralelas. A expressão representava geralmente uma ameaça que exigia a atuação conjunta da Liga da Justiça (com os heróis da Terra 1) e da Sociedade da Justiça (com os personagens veteranos da Terra 2). Utilizado esporadicamente ao longo de duas décadas, o termo ganhou novo significado em meados dos anos 80. Na época, a editora do Super-Homem passava por uma verdadeira crise administrativa e financeira, tendo perdido a posição de liderança do mercado para a concorrente Marvel e precisando se adaptar aos novos tempos. A resposta foi a “maxissérie” Crise nas Infinitas Terras de 1985, que buscou organizar a bagunçada cronologia da editora, eliminando o chamado “multiverso”.

Como resultado, toda a estrutura ficcional da DC foi racionalizada e seus principais personagens tiveram as origens recontadas, possibilitando que novos leitores começassem a acompanhar suas revistas. Além disso, os trabalhos de autores como Marv Wolfman, George Pérez, John Byrne e Frank Miller não só salvaram a editora, mas também originaram um dos melhores momentos na história dos quadrinhos de super-heróis. Todo o sucesso abriu caminho para novos eventos interligando personagens e publicações, como a boa minissérie Lendas de 1986. É claro que a ganância editorial não demorou a entrar em cena e, já na segunda metade dos anos 80, foram lançadas nos Estados Unidos a não tão boa Milênio e a fraquinha Invasão, com as quais a editora repetia fórmulas e começava a “meter os pés pelas mãos”.

Para piorar, em 1993 foram lançadas as enganosas patacoadas editoriais intituladas “A Morte do Super-Homem” e “A Queda do Morcego”. Eram os efeitos de uma nova crise editorial, causada pela perda de mercado para a recém-criada Image Comics. Em 1994, apenas nove anos depois de Crise nas Infinitas Terras, os editores da DC viram a necessidade de um novo “marco zero” para seus personagens. A resposta foi a dispensável Zero Hora: Crise no Tempo, minissérie que trouxe o Lanterna Verde Hal Jordan como o insano Parallax, e cujo único ponto positivo foi motivar o lançamento da ótima série Starman. A irrelevância de Zero Hora acabou sacramentada em 2004, com o lançamento de Lanterna Verde: Renascimento, HQ produzida por Geoff Johns e Ethan Van Sciver, que trouxe a redenção de Hal Jordan como Lanterna Verde.

Nos últimos anos, em meio a uma nova crise editorial, a DC tem tentado incrementar as vendas com uma sequência de séries que reúnem seus principais personagens. De Crise de Identidade a Crise Infinita, passando por 52 e Um ano depois, até chegar à recente Crise Final, a editora norte-americana persiste na fórmula batida. Nesta última série, escrita por Grant Morrison, o Flash Barry Allen volta dos mortos e o Batman Bruce Wayne é aparentemente morto. No fim, porém, tudo fica mais ou menos da mesma forma: uma bagunça. Apesar disso, a confusa Crise Final está gerando frutos interessantes, como Flash: Rebirth, produzida por Geoff Johns e Ethan Van Sciver nos moldes de Lanterna Verde: Renascimento, ou como Batman and Robin, a nova HQ de Grant Morrison e Frank Quitely, já lançada como uma campeã de vendas.

A verdade é que nos últimos vinte anos, com raras exceções, as revistas de super-heróis não valem o papel em que são impressas. Exploração comercial excessiva, erros editoriais sucessivos e a mais pura falta de criatividade só poderiam mesmo resultar na perda de leitores. Ao folhear uma revista mensal da Panini, com a costumeira confusão de heróis e a indispensável explosão visual, sinto nostalgia pelas HQs desses mesmos heróis publicadas há vinte anos. Para alguém que começou a ler quadrinhos no momento em que Crise nas Infinitas Terras era publicada no Brasil, as atuais revistas de super-heróis só podem mesmo parecer uma enganação. Aos leitores que começam agora, fica a sugestão para buscarem os quadrinhos clássicos dos anos 80. Eles sim são garantia de uma boa leitura!

(Para saber mais sobre Crise nas Infinitas Terras e outras HQs da DC, basta clicar nas palavras em destaque abaixo.)

03/06/2009

O Flash de diferentes eras.


Para quem lia quadrinhos de super-heróis entre 1956 e 1985, a fantasia vermelha e amarela do herói Flash escondia a identidade secreta de Barry Allen. Mas a verdade é que antes deste houve outro Flash e depois dele mais alguns. Tendo dado origem à chamada “Era de Prata” dos super-heróis norte-americanos, Barry Allen também lançou o “Multiverso DC”, ao se encontrar com seu antecessor, Jay Garrick (o Flash da “Era de Ouro”). Por isso mesmo, “o homem mais rápido vivo” acabou sendo uma das principais vítimas de Crise nas Infinitas Terras, série que buscou racionalizar a cronologia dos heróis DC. Mas, como nos quadrinhos de super-heróis a morte é uma condição variável, Barry Allen foi ressuscitado na saga Crise Final, retornando à ativa nas páginas da recém-lançada minissérie Flash: Rebirth.

Com o sucesso avassalador do Super-Homem, vários outros super-heróis surgiram entre o final dos anos 30 e o início dos anos 40. Criado por Gardner Fox e Harry Lampert, lançado em janeiro de 1940, Flash foi o nome assumido pelo estudante de química Jay Garrick que, após um acidente de laboratório, adquiriu o poder de mover-se “mais rápido que a velocidade da luz” (SIC!). Usando uma blusa vermelha com um raio amarelo estampado, uma calça azul com um cinto, botas com asas e um capacete de Hermes-Mercúrio, o Flash da “Era de Ouro” era uma evocação moderna do deus greco-romano. Mesmo alcançando bastante sucesso, o personagem (renomeado no Brasil como Joel Ciclone) não conseguiu escapar à queda nas vendas das HQs de super-heróis, tendo suas revistas canceladas em 1949.

Em 1956, o Flash foi resgatado do limbo dos quadrinhos por Julius Schwartz, um dos mais criativos editores da história do mercado norte-americano. Na revista Showcase n°4, Schwartz decidiu testar se o público da época se interessaria pelos super-heróis, buscando para isso um nome do passado. O escolhido foi o Flash, que manteve os poderes da versão original, mas ganhou uma nova identidade secreta e um visual mais moderno. Amante da ficção científica, o editor estabeleceu o tom da nova versão, que ficou a cargo do roteirista Robert Kanigher e do desenhista Carmine Infantino. Nascia ali Barry Allen, um cientista forense e leitor de quadrinhos que, após um acidente de laboratório, ganhou a rapidez de um relâmpago, tornando-se o “velocista escarlate” (o primeiro super-herói reformulado e um sucesso imediato).

Seguindo o exemplo do Flash, outros super-heróis da “Era de Ouro” ganharam versões modernizadas que cativaram o público dos anos 50 e 60. Começava então a chamada “Era de Prata”, caracterizada por enredos envolvendo elementos pseudocientíficos e fantasiosos. Muito criativas, as edições de The Flash marcaram época, valendo-se dos roteiros inusitados de Gardner Fox e John Broome, e dos desenhos leves e agradáveis de Carmine Infantino. Com seu uniforme que saltava do anel, Flash estava sempre de prontidão para enfrentar vilões impagáveis como Mestre dos Espelhos, Capitão Bumerangue e Capitão Frio. Em setembro de 1961, Schwartz, Fox e Infantino publicaram “Flash of Two Worlds”, HQ que colocou lado a lado Jay Garrick e Barry Allen, num antológico encontro do Flash da “Era de Ouro” com o da “Era de Prata”.

Mais que trazer uma história inventiva sobre realidades paralelas, a revista Flash n°123 deu o ponta-pé inicial a todo “Multiverso DC” (uma estrutura ficcional que se caracteriza pela existência de múltiplas realidades paralelas). Em breve seria a Liga da Justiça (grupo da “Era de Prata”) que se encontraria com a Sociedade da Justiça (seu predecessor da “Era de Ouro”) e o Lanterna Verde original (Alan Scott) que encararia sua versão modernizada (Hal Jordal). Surgiram também outras realidades inéditas, como a Terra onde Super-Homem, Batman, Mulher-Maravilha, Lanterna Verde e o próprio Flash deram lugar a versões maléficas (respectivamente: Ultraman, Homem-Coruja, Super-Mulher, Anel Energético e Relâmpago). Além disso, passaram a coexistir diferentes futuros e passados alternativos para o “Universo DC”.

Os leitores logo se habituaram com as várias realidades paralelas, classificadas como Terra 1, 2, 3... Com o tempo, porém, o que era uma idéia interessante tornou-se uma confusão ficcional. Para complicar, nos anos 70 e 80, a DC Comics comprou os direitos sobre personagens de outras editoras, que passariam a habitar mundos identificados como Terra X ou S. No centro do furacão, o Flash Barry Allen continuou rompendo fronteiras interdimensionais, enquanto as vendas de sua revista declinavam rapidamente. Nem mesmo o herói mais rápido dos quadrinhos pôde escapar ao desinteresse dos leitores e à maré racionalista da primeira metade dos anos 80. E foi respondendo a uma crise mercadológica que a DC lançou, em 1985, Crise nas Infinitas Terras, evento que salvou a editora, mas sacrificou alguns de seus heróis tradicionais.

Houve quem lamentasse o desaparecimento do Superboy, da Super-Moça ou mesmo de Krypto, o Super-Cão. Mas poucas mortes causaram tanto alarde quanto a de Barry Allen, herói que dera origem à “Era de Prata” e ao “Multiverso DC”, mas que havia se tornado obsoleto para os padrões da “Era de Bronze” (período que teria começado no início dos anos 70 com um amadurecimento das HQs). A identidade de Flash acabou assumida por Wally Allen, sobrinho do falecido herói e antigo Kid Flash. O substituto, é claro, não tinha o charme de seu antecessor e a memória de Barry Allen não foi esquecida. A fase de Grant Morrison à frente do Homem Animal é em parte uma homenagem às aventuras do Flash da “Era de Prata” (uma das edições é até dedicada a John Broome, Gardner Fox, Carmine Infantino e ao “falecido Barry Allen”).

No início dos anos 90, Barry Allen ganhou uma versão em carne, osso e enchimentos, no seriado de tevê The Flash (exibido pela Rede Globo, o programa caiu na linguagem popular, originando a expressão “mais rápido que o Dê-Flechi”). Recentemente, nos quadrinhos a fantasia do herói foi vestida por seu neto Bart Allen e na tevê pelos protagonistas do seriado The Big Bang Theory. As referências nesta popular comédia do Warner Channel coincidem com o retorno de Barry Allen, ressuscitado por Grant Morrison & Cia. na série Crise Final e reentronado pela DC em Flash: Rebirth (cuja capa do n°1 fez uma aparição no episódio de The Big Bang Theory exibido no fim de maio). A nova minissérie terá cinco (ou seis) edições, sendo escrita por Geoff Johns e desenhada por Ethan Van Sciver, dupla responsável por Lanterna Verde: Renascimento.

O número 1 de Flash: Rebirth começa bem, com um duplo assassinato cometido por um misterioso vilão que consegue emular o acidente que deu origem aos poderes do Flash. Nas páginas seguintes, encontramos os vários personagens que assumiram o nome do herói: de Jay Garrick e Wally West a Bart Allen e, é claro, o próprio Barry Allen. Lembranças e comentários sobre este último interligam as passagens da história, que incluem a participação de antigos adversários do herói e também de seu amigo Lanterna Verde Hal Jordan. Alguns mistérios e referências a outras HQs (como “Flash of Two Worlds”) são elementos essenciais deste primeiro capítulo que estabelece a trama da minissérie. Os bons desenhos seguem um padrão hiperdetalhista, que às vezes parece estático ou mesmo inadequado para uma revista de super-heróis.

De qualquer forma, para os fãs do “velocista escarlate”, Flash: Rebirth vale uma conferida. As duas primeiras edições da minissérie já foram lançadas nos Estados Unidos e a DC disponibilizou prévias das revistas em sua página oficial:
http://www.dccomics.com/media/excerpts/11472_x.pdf
http://www.dccomics.com/media/excerpts/11691_x.pdf