26/06/2009

Os 40 anos do Pasquim!


Com a morte do jornalista e humorista Sérgio Pôrto em 1968, saiu de circulação o jornal Carapuça, por ele editado. Para não perder o filão editorial, o diretor da Distribuidora Imprensa Altair de Souza e o publicitário Murilo Reis decidiram investir no projeto de um novo semanário de humor. Por sua vez, os humoristas e jornalistas brasileiros ansiavam por mais espaço e liberdade, devido ao fechamento de vários veículos e as restrições sobre o trabalho na grande imprensa, após o AI-5.

Juntou-se assim “a fome com a vontade de comer” e, após meses de reuniões envolvendo Ziraldo, Jaguar, Sérgio Cabral, entre outros, decidiu-se por um projeto geral que levaria o nome Pasquim. Na época em que aconteciam essas reuniões, Henfil já fazia bastante sucesso no Rio de Janeiro, mas não foi chamado imediatamente para participar do novo jornal de humor. Porém, em uma de suas idas ao Maracanã, no intervalo do jogo, ele foi abordado pelo jornalista Sérgio Cabral que lhe fez o convite para se juntar à equipe. Tentou desconversar, mas acabou aceitando participar.

O Pasquim pode ser considerado uma vitória do riso naqueles tempos de generais de cara fechada. Editado em formato tablóide, o semanário de humor estreou há exatos 40 anos, no dia 26 de junho de 1969. E a despeito do texto de Millôr Fernandes vaticinando que o Pasquim não duraria três meses (caso fosse fiel à sua proposta de independência), a tiragem inicial de catorze mil exemplares esgotou-se imediatamente. Aquele “jornal de Ipanema” tornava-se um sucesso de público, e em breve não se restringiria às praias do Rio. Como costuma se dizer, o Pasquim representou uma revolução de descontração e inconformismo na séria e bem-comportada imprensa brasileira da época. Para Henfil:

“O Pasquim foi o Maracanã! O futebol no Rio realmente cresceu muito depois do Maracanã. Futebol em Minas só depois do Mineirão. O humor só depois do Pasquim. Foi a primeira experiência de juntar todos, de tendências as mais diversas e às vezes opostas. Pessoas pensando de maneira oposta e o negócio deu certo.”

Não há duvida de que o caráter inovador e corajoso do Pasquim foi a chave para seu sucesso, numa época de ostensivo ataque à inteligência e à criatividade do país. Mas o jornal era, sobretudo, uma diversificada soma de opostos e complementares, que se valeu da ampla experiência pública de seus integrantes nos principais jornais e revistas do país (Millôr e Ziraldo, por exemplo, haviam se tornado nomes nacionais através das páginas de O Cruzeiro ainda nos anos 50). Ao ser perguntado pelo amigo Tárik de Souza se o sucesso estrondoso do Pasquim, que se concretiza e estabelece em 1970, deveu-se à ditadura militar, Henfil respondeu:

“Eu acho que não, porque foi um amadurecimento dessas pessoas todas. Veja um negócio: o Paulo Francis. Era um cara que vinha, caminhos os mais confusos, né? Esteve em teatro, crítica de teatro, passou para a política, até pegar um estilo na política muito pessoal de escrever. Millôr Fernandes vinha de uma série de experiências, mas uma coisa muito pessoal! Impossível de compartilhar com outros, era ele e ele. Com o amadurecimento dele, a tentativa quando fez a Pif-Paf já era uma coisa de trabalhar junto! Equivaleria, por exemplo, a você chegar para um cantor de muito sucesso e convencer a ele, o maior cantor do mundo, que ele tem que fazer parceria com outros, talvez até menores. O Millôr já estava se preparando para isso, tanto que ele tentou juntar gente através do Pif-Paf. E o Jaguar, que era um cara que tinha uma experiência da Última Hora, com um cartunzinho, tinha uma experiência na revista Senhor com uma coisa maior e etc. Ele veio amadurecendo e estava na hora do Jaguar, para fazer personagem, para fazer o Sig e aquela coisa toda. Ziraldo! A mesma coisa. Tinha uma experiência mais pulverizada. Fazia de tudo! De repente o Ziraldo começou a se politizar! De repente, não! A partir do governo JK, o Pererê, que era uma coisa para a área infantil, começou a se politizar. Fortuna e o Claudius cresceram, nos seus desenhos, na sua visão, naquela coisa toda. Eu, com experiência diária no Jornal dos Sports, uma série de coisas, estava pronto para aquilo. Então... Funcionou todo esse negócio com pessoas que não se entendiam. A única unanimidade era o Jaguar. Era um saco de gatos!”

Para o criador dos fradinhos, no surgimento e sucesso do Pasquim, “a ditadura teve um único papel: ajudar a inviabilizar nos jornais a linguagem pessoal dessas pessoas que acabamos de citar. Então eles tinham que fazer fora destes jornais!”. Para o próprio Henfil, o novo jornal surgiu como a oportunidade esperada para politizar mais seu trabalho, que ele sentia limitado nas charges sobre o futebol. Chamado a continuar com o humor esportivo no Pasquim, ele se recusou. Era a vez do fradinho Baixinho!

(O texto desta postagem faz parte de meu livro inédito A Revolução de Fradim, adaptado a partir de minha tese de Doutorado sobre o genial Henfil e sua revolucionária revista Fradim.)

2 comentários:

Yabai disse...

e como faço pra ter essa sua obra completa?

=)

Wellington Srbek disse...

Olá Yabai,
Bom, minha tese de Doutorado sobre Henfil e a revista Fradim deu origem a dois livros: O Riso que Liberta (lançado pela Marca de Fantasia) e A Revoluação de Fradim (que está inédito). Um resuminho deste último já foi postado aqui no blog (basta clicar nos marcadores FRADIM ou HENFIL).
Se quiser ler a tese, pode consegui-la emprestado na Faculdade de Educação da UFMG.
Abraço e valeu pelo interesse!