03/06/2009
O Flash de diferentes eras.
Para quem lia quadrinhos de super-heróis entre 1956 e 1985, a fantasia vermelha e amarela do herói Flash escondia a identidade secreta de Barry Allen. Mas a verdade é que antes deste houve outro Flash e depois dele mais alguns. Tendo dado origem à chamada “Era de Prata” dos super-heróis norte-americanos, Barry Allen também lançou o “Multiverso DC”, ao se encontrar com seu antecessor, Jay Garrick (o Flash da “Era de Ouro”). Por isso mesmo, “o homem mais rápido vivo” acabou sendo uma das principais vítimas de Crise nas Infinitas Terras, série que buscou racionalizar a cronologia dos heróis DC. Mas, como nos quadrinhos de super-heróis a morte é uma condição variável, Barry Allen foi ressuscitado na saga Crise Final, retornando à ativa nas páginas da recém-lançada minissérie Flash: Rebirth.
Com o sucesso avassalador do Super-Homem, vários outros super-heróis surgiram entre o final dos anos 30 e o início dos anos 40. Criado por Gardner Fox e Harry Lampert, lançado em janeiro de 1940, Flash foi o nome assumido pelo estudante de química Jay Garrick que, após um acidente de laboratório, adquiriu o poder de mover-se “mais rápido que a velocidade da luz” (SIC!). Usando uma blusa vermelha com um raio amarelo estampado, uma calça azul com um cinto, botas com asas e um capacete de Hermes-Mercúrio, o Flash da “Era de Ouro” era uma evocação moderna do deus greco-romano. Mesmo alcançando bastante sucesso, o personagem (renomeado no Brasil como Joel Ciclone) não conseguiu escapar à queda nas vendas das HQs de super-heróis, tendo suas revistas canceladas em 1949.
Em 1956, o Flash foi resgatado do limbo dos quadrinhos por Julius Schwartz, um dos mais criativos editores da história do mercado norte-americano. Na revista Showcase n°4, Schwartz decidiu testar se o público da época se interessaria pelos super-heróis, buscando para isso um nome do passado. O escolhido foi o Flash, que manteve os poderes da versão original, mas ganhou uma nova identidade secreta e um visual mais moderno. Amante da ficção científica, o editor estabeleceu o tom da nova versão, que ficou a cargo do roteirista Robert Kanigher e do desenhista Carmine Infantino. Nascia ali Barry Allen, um cientista forense e leitor de quadrinhos que, após um acidente de laboratório, ganhou a rapidez de um relâmpago, tornando-se o “velocista escarlate” (o primeiro super-herói reformulado e um sucesso imediato).
Seguindo o exemplo do Flash, outros super-heróis da “Era de Ouro” ganharam versões modernizadas que cativaram o público dos anos 50 e 60. Começava então a chamada “Era de Prata”, caracterizada por enredos envolvendo elementos pseudocientíficos e fantasiosos. Muito criativas, as edições de The Flash marcaram época, valendo-se dos roteiros inusitados de Gardner Fox e John Broome, e dos desenhos leves e agradáveis de Carmine Infantino. Com seu uniforme que saltava do anel, Flash estava sempre de prontidão para enfrentar vilões impagáveis como Mestre dos Espelhos, Capitão Bumerangue e Capitão Frio. Em setembro de 1961, Schwartz, Fox e Infantino publicaram “Flash of Two Worlds”, HQ que colocou lado a lado Jay Garrick e Barry Allen, num antológico encontro do Flash da “Era de Ouro” com o da “Era de Prata”.
Mais que trazer uma história inventiva sobre realidades paralelas, a revista Flash n°123 deu o ponta-pé inicial a todo “Multiverso DC” (uma estrutura ficcional que se caracteriza pela existência de múltiplas realidades paralelas). Em breve seria a Liga da Justiça (grupo da “Era de Prata”) que se encontraria com a Sociedade da Justiça (seu predecessor da “Era de Ouro”) e o Lanterna Verde original (Alan Scott) que encararia sua versão modernizada (Hal Jordal). Surgiram também outras realidades inéditas, como a Terra onde Super-Homem, Batman, Mulher-Maravilha, Lanterna Verde e o próprio Flash deram lugar a versões maléficas (respectivamente: Ultraman, Homem-Coruja, Super-Mulher, Anel Energético e Relâmpago). Além disso, passaram a coexistir diferentes futuros e passados alternativos para o “Universo DC”.
Os leitores logo se habituaram com as várias realidades paralelas, classificadas como Terra 1, 2, 3... Com o tempo, porém, o que era uma idéia interessante tornou-se uma confusão ficcional. Para complicar, nos anos 70 e 80, a DC Comics comprou os direitos sobre personagens de outras editoras, que passariam a habitar mundos identificados como Terra X ou S. No centro do furacão, o Flash Barry Allen continuou rompendo fronteiras interdimensionais, enquanto as vendas de sua revista declinavam rapidamente. Nem mesmo o herói mais rápido dos quadrinhos pôde escapar ao desinteresse dos leitores e à maré racionalista da primeira metade dos anos 80. E foi respondendo a uma crise mercadológica que a DC lançou, em 1985, Crise nas Infinitas Terras, evento que salvou a editora, mas sacrificou alguns de seus heróis tradicionais.
Houve quem lamentasse o desaparecimento do Superboy, da Super-Moça ou mesmo de Krypto, o Super-Cão. Mas poucas mortes causaram tanto alarde quanto a de Barry Allen, herói que dera origem à “Era de Prata” e ao “Multiverso DC”, mas que havia se tornado obsoleto para os padrões da “Era de Bronze” (período que teria começado no início dos anos 70 com um amadurecimento das HQs). A identidade de Flash acabou assumida por Wally Allen, sobrinho do falecido herói e antigo Kid Flash. O substituto, é claro, não tinha o charme de seu antecessor e a memória de Barry Allen não foi esquecida. A fase de Grant Morrison à frente do Homem Animal é em parte uma homenagem às aventuras do Flash da “Era de Prata” (uma das edições é até dedicada a John Broome, Gardner Fox, Carmine Infantino e ao “falecido Barry Allen”).
No início dos anos 90, Barry Allen ganhou uma versão em carne, osso e enchimentos, no seriado de tevê The Flash (exibido pela Rede Globo, o programa caiu na linguagem popular, originando a expressão “mais rápido que o Dê-Flechi”). Recentemente, nos quadrinhos a fantasia do herói foi vestida por seu neto Bart Allen e na tevê pelos protagonistas do seriado The Big Bang Theory. As referências nesta popular comédia do Warner Channel coincidem com o retorno de Barry Allen, ressuscitado por Grant Morrison & Cia. na série Crise Final e reentronado pela DC em Flash: Rebirth (cuja capa do n°1 fez uma aparição no episódio de The Big Bang Theory exibido no fim de maio). A nova minissérie terá cinco (ou seis) edições, sendo escrita por Geoff Johns e desenhada por Ethan Van Sciver, dupla responsável por Lanterna Verde: Renascimento.
O número 1 de Flash: Rebirth começa bem, com um duplo assassinato cometido por um misterioso vilão que consegue emular o acidente que deu origem aos poderes do Flash. Nas páginas seguintes, encontramos os vários personagens que assumiram o nome do herói: de Jay Garrick e Wally West a Bart Allen e, é claro, o próprio Barry Allen. Lembranças e comentários sobre este último interligam as passagens da história, que incluem a participação de antigos adversários do herói e também de seu amigo Lanterna Verde Hal Jordan. Alguns mistérios e referências a outras HQs (como “Flash of Two Worlds”) são elementos essenciais deste primeiro capítulo que estabelece a trama da minissérie. Os bons desenhos seguem um padrão hiperdetalhista, que às vezes parece estático ou mesmo inadequado para uma revista de super-heróis.
De qualquer forma, para os fãs do “velocista escarlate”, Flash: Rebirth vale uma conferida. As duas primeiras edições da minissérie já foram lançadas nos Estados Unidos e a DC disponibilizou prévias das revistas em sua página oficial:
http://www.dccomics.com/media/excerpts/11472_x.pdf
http://www.dccomics.com/media/excerpts/11691_x.pdf
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6 comentários:
otimo texto. nao sabia q havia sido o flash a romper as barreiras dos multiversos pela primeira vez. mas a morte dele em crise foi incrivel mesmo, uma pena o ressuscitarem, so faz com q sua morte seja diminuida.
acho q o multiverso da dc deveria voltar no sentido de historias fechadas e fora da cronologia oficial (q na minha opniao é uma porcaria) e teriamos mais coisas do tipo allstar supermna e outros ou como a serie tunel do tempo
abç
Falou bem, Leandro! Aquele capítulo de Crise nas Infinitas Terras (mesmo lido em formatinho nos anos 80) teve algo de grandioso, de um momento único nos quadrinhos de super-heróis. Agora, com a tal Crise Final, até isso eles conseguiram atrapalhar. Os personagens não têm mais nem direito de "descansar em paz".
Também acho que uma estrutura em separado para as histórias mais fantasiosas funcionaria bem. Mas a DC está tão desesperada com a perda de mercado e as confusões que arrumaram nos últimos anos que eles certamente trocarão os pés pelas mãos (de novo!).
Abraço e valeu pela participação!
Nunca acompanhei o Flash, mas sempre fui fã. Acho que, provavelmente, porque ele não usava cueca por cima da calça... E lembro dessa série, acho que tinha 6, 7 anos! A roupa era meio esquisita mesmo.
Abraço!
Eh, Luis, o seriado era meio engraçado, principalmente por causa dos enchimentos que tinham na roupa de Flash para dar um musculozinho no ator.
Abraços!
Sempre adorei o flash,desde o momento que o vi no desenho, liga da justiça.
Mas nunca imaginei que existia uma revista de histórias sobre ele, o que é uma pena.Mas agora tô acompanhando o título lançado sobe no nome de: ''os novos 52'' Tô adorando acompanhar,assim como outros títulos. Só fico confuso por ave vários deles,e pra piorar,não li as anteriores ao ''the new 52''.
Mas aos poucos estou compreendendo,e seu texto ajudou bastante.Obrigado!
Legal que o texto tenha contribuído para você conhecer mais sobre o personagem!
Aqui no blog tem muitos outros textos sobre personagens e séries dos quadrinhos, dê uma conferida.
Abraço!
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