10/06/2009

O saudoso Homem Animal de Grant Morrison.


O Homem Animal costumava ser um super-herói de terceiro escalão, sem grande importância ou popularidade. Mas, em meados de 1988, isso mudou completamente! Com o enorme sucesso e a ótima repercussão das histórias do Monstro do Pântano escritas por Alan Moore, a DC Comics saiu literalmente à caça de novos roteiristas britânicos que repetissem o feito. Assim, o que ficou conhecido como “a invasão britânica” incluiu nomes como Jamie Delano, Neil Gaiman e, é claro, Grant Morrison, o principal responsável por resgatar o Homem Animal do “Limbo dos Quadrinhos”.

O controvertido roteirista escocês pretendia apresentar à DC apenas a proposta de uma graphic novel do Batman (que se tornaria Asilo Arkham), mas os editores queriam algo mais. Assim, no trem para Londres, Morrison elaborou a proposta para uma minissérie com o esquecido super-herói de estranhos poderes animais. O projeto foi aceito e Morrison elaborou sua minissérie nos moldes do trabalho de Alan Moore para a revista Swamp Thing. Os editores gostaram tanto do trabalho, que propuseram a ele que transformasse o projeto da minissérie numa revista mensal.

Morrison teria então entrado em pânico, pois não fazia idéia do que fazer numa série mensal e não desejava continuar imitando o estilo de Moore. A resposta encontrada foi “O Evangelho do Coiote”, uma das mais inspiradas HQs de super-heróis já produzidas. Lançada na revista Animal Man n°5, a história mostra o encontro do personagem-título com um similar do coiote dos desenhos animados da Warner, numa narrativa repleta de metalinguagem e elementos da simbologia cristã. Marcante e inovadora, aquela edição estabeleceu a temática e o tom das vinte e uma edições seguintes e da Secret Origin do personagem.

Ao longo da série, Morrison resgatou personagens esquecidos, desenvolveu o tema dos direitos dos animais e mergulhou na metalinguagem. O resultado foram HQs inteligentes, conscientes e inovadoras. Quadrinhos de super-heróis nos quais o próprio gênero super-herói se torna um tema em discussão. Uma narrativa “metaficcional” na qual o protagonista se volta para o leitor e diz: “Eu posso ver você!”. Não faltando ainda um ato final no qual criador e criatura, Homem Animal e Grant Morrison, encontram-se para debater o sentido da vida. Em resumo, um trabalho realmente imperdível!

Os desenhos da série, quase sempre produzidos por Chas Truog e Doug Hazlewood, não eram os melhores do mundo, mas davam conta do recado (combinando inclusive com a estética da “Era de Prata” que a revista valorizava). Além disso, em se tratando do visual, Animal Man tinha um trunfo imbatível: as fantásticas capas produzidas por Brian Bolland (que podem ser conferidas em sequência no saite Cover Browser). Interpretando ou sintetizando os temas de cada edição, alguns dos trabalhos do ilustrador inglês são bastante engenhosos e realmente memoráveis. Bolland é também o capista da recém-lançada Last Days of Animal Man (assunto da próxima postagem).

Por seu caráter original e inovador, as vinte e sete histórias do Homem Animal produzidas por Grant Morrison & Cia. entraram para a história dos quadrinhos norte-americanos. Publicada há mais de vinte anos, esta série é prova de que com talento e inteligência até mesmo o mais idiota dos super-heróis pode se tornar um personagem interessante e relevante. Afinal, ao lado de Swamp Thing, Hellblazer e Sandman, a revista Animal Man foi uma das bases para a criação do selo Vertigo. Publicada no Brasil pelas editoras Abril e Brainstore, essa saudosa série merece uma reedição à altura!

4 comentários:

Amalio Damas disse...

Mais um motivo para ter raiva da Ediouro. Nunca mais comprarei uma revista de palavras cruzadas! Terei que achar outra atividade quando me aposentar. Tinha até guardado um lugar na estante para a coleção do Monstro do Pântano e do Homem-Animal e aconteceu "aquilo".

Falando do Homem-Animal, imagina se tivesse saído apenas a minissérie das quatro primeiras edições? Teria sido uma boa história, mas não teria o impacto que a sequência de histórias gerou.

Adoro a personagem, tanto é que há alguns anos atrás fiz uma série de textos para o site Pop Balões sobre tudo que foi lançao no Brasil pela Abril e pela Tudo em Quadrinhos. É um pouco longo e cansativo, mas foi um trabalho muito legal, que envolveu um pouco de pesquisa para ser realizado. http://www.popbaloes.com/pers/hanimal.htm

Wellington Srbek disse...

Com trabalhos como Swamp Thing e Animal Man o melhor mesmo é ler no original, Amálio, para não se ficar à mercê das editoras brasileiras, com seus cancelamentos, cortes, edições em P&B, reduções, erros de tradução...
Eu aprendi a ler em inglês lendo quadrinhos para poder ler as coisas que queria e nunca eram publicadas por aqui, ou ficavam pela metade.
Foi uma pena que o projeto da Pixel tenha ficado pelo caminho, pois se lançassem a coleção completa de Swamp Thing e Animal Man com aquela qualidade seria algo bem legal. Quem sabe a Panini ou a Conrad não retomam a edição de forma mais consistente.
Vou conferir seu texto.
Grande abraço e bom feriado!

Anônimo disse...

Os quadrinhos ainda são perseguidos?

Wellington Srbek disse...

Não respondo comentários anônimos e o seu também não deu muito para entender, então, identifique-se da próxima vez.