22/05/2011
Shakespeare em Quadrinhos!
Verdade seja dita: até mais ou menos meus quinze anos, eu não gostava de ler livros. Mal conseguia atravessar as intermináveis páginas das chatas narrativas “juvenis” impostas pela escola. Meu negócio, é claro, eram os quadrinhos!
Porém, por gostar de HQs e por querer me tornar um bom quadrinista, acabei descobrindo, com a ajuda do amigo e cartunista Nilson Azevedo, que muitos daqueles quadrinhos que eu admirava haviam sido influenciados ou dialogavam com outras obras. E que, se quisesse me tornar um bom autor de quadrinhos, eu precisaria ler livros também, não só de literatura, mas de história, arte, ciência, filosofia...
Foi na biblioteca de Nilson e por sua indicação que eu encontrei livros que até hoje estão entre meus favoritos, como O Manuscrito de Saragoça, Contos do Vampiro, Maíra, Xingu: Os índios, seus mitos (sendo que os dois últimos foram meu primeiro contato verdadeiro com a mitologia indígena brasileira, inspiração para o álbum infantil Ciranda Coraci que lançarei em breve). Diga-se de passagem, foi graças a meu amigo cartunista que descobri Arzach de Moebius e Corto Maltese de Hugo Pratt, obras-primas das HQs que, passados vinte anos, estou tendo o privilégio de editar. (Valeu, Nilson!).
Mas voltando ao tema desta postagem, é claro que quem passa a gostar de ler e a amar a literatura também quer ter seus livros. Para minha sorte, perto de minha casa abriu um shopping center, que entre suas primeiras lojas tinha uma grande livraria, com uma parede inteira de clássicos da literatura em edições com ilustrações e a preços acessíveis (algo indispensável para um jovem sem muito dinheiro no bolso). Bom, um de meus programas era ir ao shopping com a namorada; como sempre fui pontual e odeio perder tempo esperando, eu marcava com ela na livraria. Assim, enquanto esperava por minha namorada, eu ia descobrindo volumes de contos árabes, indianos, africanos (sendo que neste último encontrei a história de Anansi, que desde então eu quis transformar numa HQ, e que agora já existe e se chama O Senhor das Histórias).
Foi nas prateleiras daquela livraria que vi pela primeira vez edições de clássicos como Dom Quixote, A Divina Comédia e Gargântua e Pantagruel. Foi ali, num espaço comercial e sem a orientação de ninguém, por pura paixão e curiosidade, que tive as melhores e mais importantes aulas de literatura de minha vida... Mas já que citei acima obras de Cervantes, Dante e Rabelais, nessa constelação dos grandes formadores de línguas-pátria, falta um nome importantíssimo (que no meu universo não é Camões, já que ainda não me animei a navegar por Os Lusíadas). Obviamente, o nome que falta já está no título desta postagem: Shakespeare!
Sonho de uma noite de verão foi provavelmente o primeiro livro que comprei. O tema me atraiu e as belas gravuras clássicas que acompanhavam o texto daquela edição foram a isca final para alguém que lia principalmente HQs. Depois comprei e li A Tempestade, cujo tema envolvendo magia, mas também uma simbologia sobre a relação entre a Europa e as Américas, muito me interessou. Não demorou para eu me tornar um fã do escritor inglês, com a sorte de que, nesta mesma época, o Grupo Galpão estreava sua montagem de Romeu e Julieta. Aquela foi a experiência mais inesquecível que tive no teatro, vendo um texto vivo e poético, que respeitava o clássico ao mesmo tempo em que dialogava com as raízes populares do teatro. (Valeu Galpão!)
Viciado em Shakespeare passei a buscar e assistir a todas as versões que ouvisse falar ou surgissem de sua obra: além dos clássicos em preto e branco, os filmes de Kenneth Branagh, Prospero's Books de Peter Greenaway e, é claro, meu favorito dos favoritos, Ran de Akira Kurosawa. O fato é que, como escrevi nos agradecimentos de uma de minhas edições, devo ao imortal W.S. meu amor pelas histórias. E como aprendi com minha avó, a gente deve agradecer e retribuir o bem que nos é feito, não é?
Pois bem, adaptar William Shakespeare para os quadrinhos era um antigo sonho, que perpassou meus trabalhos desde os tempos das primeiras revistas independentes (e muito antes de as adaptações de clássicos se tornarem uma febre no mercado brasileiro). No final do ano passado, já trabalhando como editor de quadrinhos do Grupo Autêntica, propus uma coleção com adaptações das obras do escritor inglês. Meus chefes adoraram a ideia e recebi sinal verde para encaminhar o projeto. Comecei então a fazer contato com autores, reuni-me com alguns em São Paulo em janeiro passado, ao mesmo tempo em que buscava indicações de outros autores (ou, no caso específico, autoras).
Foi assim que chegamos agora à coleção Shakespeare em Quadrinhos, que já está em plena produção, com os títulos Sonho de uma noite de verão por Lillo Parra e Wanderson de Souza, Romeu e Julieta por Marcela Godoy e Roberta Pares, Otelo por Jozz e Akira Sanoki (sendo que outras peças também estão em nossos planos). E vou dizer: a primeira parte dos roteiros ficou muito legal e os primeiros desenhos estão fantásticos!
Agora é aguardarmos mais alguns meses para termos os primeiros álbuns desta coleção nas lojas. Até lá, continuem acompanhando aqui as novidades da NEMO!
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6 comentários:
Olá, Wellington
Duas perguntinhas:
Existe alguma previsão de lançamento dos álbuns da Nemo? A editora aproveitará o FIQ de alguma maneira, como lançamentos e/ou estandes?
Abraço
Olá Flávio,
Os primeiros álbuns devem começar a chegar às lojas na segunda quinzena de junho.
E sim, o plano é participarmos do FIQ, talvez com um estande e na certa com eventos de lançamento.
Continue acompanhando.
Abraço!
Brigado pelo esclarecimento.
Abraço
Beleza, Flávio!
Mais novidades já, já...
"novidades" não é o melhor termo pra uma editora que diz que vai publicar Moebius de 20 anos.
E é claro que sempre aparece alguém para reclamar sem motivo.
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