21/10/2010
Homem de Ferro e a convergência das mídias e linguagens.
Começa a chegar às lojas de todo o país os DVDs e Blu-Rays com o filme Homem de Ferro 2. Continuação do grande sucesso do Marvel Studios em 2008, o longa é mais um dos inúmeros exemplos de convergências das mídias e linguagens. Saído de revistas em quadrinhos e coletâneas em capa-dura ou cartonada, direto para o cinema e também para os games, brinquedos, miniaturas e animações, de volta para os quadrinhos, passando por versões digitais para computadores, smartphones e tablets, o Homem de Ferro tornou-se nos últimos dois anos uma presença multimidiática e uma “franquia” multimilionária.
Criado nos anos 60, o personagem foi totalmente atualizado em 2005 por Warren Ellis e Adi Granov na minissérie Iron Man: Extremis, que foi uma das bases para a versão cinematográfica. Tomando emprestados elementos do roteiro e do visual da armadura, o primeiro filme do Homem de Ferro conseguiu conciliar respeito pelos quadrinhos e ideias originais para a telona. O resultado foi um sucesso comercial que irradiou de volta para as revistas, aumentando o prestígio e presença daquele herói, além de influenciar estilisticamente suas HQs. O melhor exemplo é a série The Invincible Iron Man, também lançada pela Marvel em 2008.
Escrita por Matt Fraction, desenhada por Salvador Larroca, com cores por Frank D’Armata, a nova série não foi uma extensão da produção cinematográfica, mas lembra muito um longa. Se alguns elementos parecem saídos de um filme de espionagem, todo o visual em estilo fotográfico e os efeitos digitais na colorização buscam imitar os filmes de ação e aventura futurista. Para completar, predominam páginas com quatro ou cinco quadros na horizontal, que aproximam os quadrinhos do formato widescreen do cinema. Este recurso, aliás, favorece a leitura das HQs em tablets e especialmente nos smartphones, aumentando o lucro potencial das edições.
Se para a Marvel fazer quadrinhos que tenham alguma ligação com sucessos do cinema é uma receita bastante segura para o sucesso nas vendas, para os quadrinhos de super-heróis podemos ver alguns problemas nisso. O principal deles é a padronização de sua linguagem e a perda de autonomia estética. Claro que os chamados widescreen comics não começaram com a The Invincible Iron Man ou sequer com a Marvel. A patente dessa ideia costuma ser atribuída a Warren Ellis e Bryan Hitch, com seu The Authority. No entanto, é nas revistas da Marvel dos últimos anos que uma imitação do cinema tem se tornado mais evidente e mesmo uma fórmula a ser repetida.
Já faz tempo que a Marvel transpõe seus personagens para além das revistas. Desde os desenhos desanimados que levaram à tevê Capitão América, Homem de Ferro, Thor & Cia., adaptar histórias e reutilizar imagens de quadrinhos renderam bons resultados. Passadas algumas décadas, chegamos aos montion comics, que acrescentam som, movimento e efeitos a HQs como Iron Man: Extremis, o que repete a ideia de antes, porém com mais recursos técnicos. Por este e pelos demais exemplos apresentados aqui, o Homem de Ferro é provavelmente hoje o melhor exemplo, nos quadrinhos de super-heróis, dessa convergência tecnológico-criativa.
Essa nova realidade veio para ficar, trazendo uma multiplicação das formas de veiculação e comercialização das histórias em quadrinhos e de seus personagens. Assim, se há não muito tempo temia-se o desaparecimento dos quadrinhos enquanto linguagem e produto cultural, este não parece ser o caso para as próximas décadas. Mas, em se tratando dos quadrinhos de super-heróis, uma excessiva ligação às produções cinematográficas pode estar levando a uma nova estagnação criativa, simbolizada por produtos culturais externamente belos e reluzentes, mas pouco originais e significativos em essência.
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2 comentários:
Belo texto Wllington. Muito bom esse seu espaço sobre quadrinhos. Tem muita informação de qualidade.
Sou leitor de QH das "antigas" mas já não acompanho muito as publicações mais atuais (salvo algumas miniséries como essas do Homem de Ferro que você citou).
Parabéns pelo Blog.
www.desenhoamil.blogspot.com
Olá Vagno,
Legal que tenha gostado do texto e do blog! Em breve teremos outros.
Visitarei seu blog também.
Abraço!
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