27/06/2010

A HQ que remodelou o futuro do Homem de Ferro.


Há muito tempo eu não lia revistas com os super-heróis tradicionais da Marvel. Mas, depois de rever Homem de Ferro e assistir ao segundo filme com o personagem, voltei a me interessar pelos antigos heróis que eu conhecia dos desenhos (des)animados da minha infância. Por sua ligação com as produções cinematográficas, peguei na estante a coletânea de Iron Man: Extremis, escrita por Warren Ellis e ilustrada por Adi Granov. Importante na trajetória recente do personagem, esse trabalho foi a fonte para alguns dos melhores elementos do Homem de Ferro cinematográfico. Sucesso entre os leitores, depois de reedições em capa cartonada e em capa-dura, neste mês a Marvel está reimprimindo a HQ numa “versão do diretor”, além de lançar um montion comic para o iTunes da Apple.

Eu já havia comprado Iron Man: Extremis há algum tempo, mas não tinha lido ainda. Agora, com o interesse renovado pelos filmes e a intenção de escrever esta postagem, resolvi conferir essa HQ lançada em 2005. Não me decepcionei! De forma inteligente, a história aborda alguns dos temas preferidos de Warren Ellis: as tecnologias ultra-avançadas e uma disputa pelo “futuro”. Aproveitando as características do herói, o roteirista construiu uma trama envolvente, na qual ficção científica e futurismo remodelam completamente o Homem de Ferro. Sem dúvida a história mais interessante que já li com o personagem, seus seis capítulos intercalam bem passado e presente, recontextualizando a origem do herói, imprimindo modernidade a suas relações profissionais e pessoais, bem como mais realismo a suas motivações e sua presença no mundo.

Tudo parte de uma entrevista que coloca para Tony Stark o dilema moral de ser um fabricante e negociante de armas, levando-o também ao dilema existencial de ter sido vítima de um acidente com um de seus próprios inventos (situações que foram reelaboradas e modernizadas no filme lançado em 2008). Então, o aparente roubo da tecnologia secreta “Extremis” e o pedido de ajuda de uma amiga põem o herói em rota de colisão com um radical norte-americano superpoderoso. Após um ato de "terrorismo doméstico", o Homem de Ferro intervém, mas acaba derrotado e gravemente avariado por seu oponente. É esta dinâmica que leva à principal transformação que o herói sofre nesta HQ: o emprego da tecnologia “Extremis” para salvar sua vida e, ao mesmo tempo, tornar mais eficiente sua armadura, que passa a ser parte de seu corpo.

Naquele momento, revemos a história de origem do Homem de Ferro, que Ellis apropriadamente transfere das florestas do Vietnã para as montanhas do Afeganistão (mudança seguida pela versão cinematográfica). E embora centrada no protagonista, a história se vale de um interessante elenco de apoio: a cientista Maya Hansen, o futurista Sal Kennedy e o médico Yinsen (também presente no filme). Não faltam bons diálogos, nos quais termos tecnológicos aparecem com naturalidade, da mesma forma que uma lúcida discussão sobre cogumelos e DMT (principal componente da ayahuasca), que rende uma interessante metáfora sobre tecnologia e estados alterados da mente. Por falar em metáforas, a mais marcante nessa HQ é a que redefine Tony Stark como um “piloto de testes para o futuro”, redelineando as motivações e ambições do herói.

Claro que uma história que tinha o objetivo relançar o personagem, estabelecendo uma nova biografia e novas características, não poderia deixar de lado sua aparência. E ficou a cargo do ilustrador Adi Granov redesenhar a armadura do Homem de Ferro, atualizando-a para os padrões estéticos dos tempos atuais. O resultado ficou arrojado e elegante, estilizado e convincente (sendo a principal referência para a versão cinematográfica). Mais designer do que propriamente desenhista de quadrinhos, Granov produziu algumas belas páginas e imagens, embora muitas sequências e cenas sejam excessivamente estáticas para uma história em quadrinhos. Deixando de lado essa limitação, as técnicas de pintura convencional e digital empregadas pelo ilustrador produziram um visual impressionante, que lembra imagens de video game.

Iron Man: Extremis é Warren Ellis em boa forma, num roteiro bem trabalhado para uma trama inteligente. É também uma obra visualmente muito interessante, que projetou o nome de Adi Granov. Apesar de ser uma HQ do Homem de Ferro, o trabalho está mais para trama de espionagem e ficção científica, do que propriamente para uma revista de super-heróis. Talvez a melhor história em quadrinhos já feita para esse personagem, ela não apenas lançou as bases para os filmes de Hollywood, como ajudou a transformar o antes batido herói numa das propriedades mais importantes da Marvel. Pois ao reescrever o passado de Tony Stark e ao redesenhar as linhas de sua armadura, Ellis e Granov realmente remodelaram o futuro do Homem de Ferro.

4 comentários:

Do Vale disse...

Não sabia que o filme tinha tomado tanta coisa emprestada de Extremis! Essa é daquelas que só tive conhecimento depois de sair das bancas e entrou na minha lista de compras. Mas sempre aparecia alguma coisa mais interessante e a compra ia sendo adiada... =)

Wellington Srbek disse...

Rapaz, Extremis eu tinha comprado há algum tempo, mas não tinha lido. E agora que fui ler, também fiquei surpreso com tantas coisas que o filme pegou emprestado dela. Inclusive, o Adi Granov trabalhou também no filme, adaptando o visual que ele tinha criado na HQ. A edição da Panini ainda se encontra para comprar e vale dar uma conferida.
Abraços!

Unknown disse...

Essa foi uma mini muito boa do ferroso, mas aconselho você a ler a série Invincible Iron Man escrita pelo Matt Fraction. Tenho comprado os gibis importados e não me arrependo, pois é uma das melhores coisas do mercados de super-heróis sendo prublica, mesclando temas atuais com o passado do Stark.

Também li o Iron Man/Thor e gostei. Fraction é um bom esritor (já leu Casanova?).
Abraço.

Wellington Srbek disse...

Olá Guilherme,
Eu não sou um grande fã do Homem de Ferro e costumo escolher as revistas mais pelo autor do que pelo personagem. Cheguei a ler as duas primeiras edições do Invincible Iron Man, mas não animei a continuar. Mas valeu pela dica! Vou ver se dou uma nova olhada...
Abraço!