01/06/2010

Free Comic Book Day 2010.


Desde 2002, no primeiro sábado de maio, acontece nos Estados Unidos o Free Comic Book Day (Dia da Revista em Quadrinhos Grátis). Nessa ocasião, boa parte das lojas norte-americanas distribui edições de graça, como uma forma de promover a leitura de HQs (atraindo novos leitores e principalmente presenteando os que já prestigiam os quadrinhos). Apoiado por pequenas e grandes editoras (que vêm no FCBD uma oportunidade de divulgar novas séries), o evento deste ano distribuiu milhões de exemplares, de mais de trinta títulos diferentes, com histórias em variados gêneros. Aproveitando uma compra na Midtown Comics, consegui algumas dessas edições que, mesmo oferecidas gratuitamente, têm qualidade gráfica similar à das edições para venda.

A exemplo do que fez no ano passado, a DC Comics aproveitou o FCBD para promover o lançamento de uma nova minissérie. Em 2009 foi The Blackest Night, neste ano a “bola da vez” é The War of the Supermen n°0, escrita por James Robinson e Sterling Gates, desenhada por Eddy Barrows, com páginas complementares ilustradas por outros desenhistas. Com vinte e duas páginas de quadrinhos e vários anúncios publicitários, a revista se divide em duas partes. Na primeira, vemos Super-Homem chegando ao planeta Nova Krypton para tentar impedir o General Zod de invadir a Terra. Na segunda parte, temos uma “matéria de jornal” em que Lois Lane recapitula os principais fatos envolvendo o Homem de Aço nos últimos anos. As treze páginas da introdução seguem o padrão visual das HQs do Super-Homem, enquanto o roteiro não traz nada de excepcional. Já a narrativa “jornalística” serve mesmo para situar os leitores que não estejam a par do que anda acontecendo nas histórias do Filho de Krypton.

Na linha “resgate de antigos personagens” (da qual tratei recentemente aqui), a Dynamite ofereceu a edição Green Hornet, que traz as primeiras páginas de cinco séries envolvendo o herói mascarado. De saída, temos a amostra da minissérie escrita por Kevin Smith a partir do roteiro do filme que ele não realizou. A segunda prévia saiu das páginas de Green Hornet – Year One, minissérie escrita por Matt Wagner, que mostra as origens do Besouro Verde. A terceira sequência, produzida por autores menos conhecidos e saída das páginas da revista The Green Hornet Strikes! traz uma versão moderninha do personagem (que ali usa uma máscara e uma arma de gás copiadas do Sandman dos anos 30!?). Também produzida por autores menos conhecidos, a quarta prévia traz páginas de Kato Origins – The Way of the Ninja, que obviamente narra as origens do ajudante oriental do Besouro Verde. Fechando o pacote, temos páginas em P&B e sem texto da série Kato, ainda a ser lançada.

Também antecipando uma futura série, a editora Image e o estúdio Top Cow distribuíram Artifacts, revista que traz a introdução para a nova história com personagens do “universo” criado por Marc Silvestri. Mas, como no caso das edições comentadas até aqui, a revista não traz exatamente uma HQ inteira, repetindo um problema presente em vários títulos distribuídos no FCBD. Afinal, embora sirvam para divulgar os lançamentos das editoras, por mais bem impressas e visualmente atrativas que sejam, publicações que não trazem histórias completas dificilmente conquistam novos leitores para os quadrinhos. Um pouco mais interessante é a revista oferecida pela Dark Horse, Doctor Solar / Magnus - Robot Fighter, que traz duas histórias completas com dois heróis que andavam “jogados para escanteio”. Escrita pelo ex-editor-chefe da Marvel, Jim Shooter, a revista tem como objetivo reapresentar os personagens aos leitores de hoje. Doctor Solar, no entanto, ressurge como uma cópia do Dr. Manhattan, enquanto o futurista Magnus parece irremediavelmente antiquado.

Em meio a tantos resgates e reapresentações, não é de admirar que, dentre as edições do FCBD 2010 a que tive acesso, a mais surpreendente seja uma revista que apresenta histórias inéditas publicadas por uma pequena editora. Sendo também a edição mais volumosa (com trinta e duas páginas de quadrinhos saídas de quatro diferentes séries), Radical: Bigger Books! Bigger Value! impressiona pela qualidade visual. Reunindo nomes conhecidos como Wesley Snipes, Antoine Fuqua, Peter Milligan e Leonardo Manco a outros menos famosos, a edição traz HQs de terror, ficção científica e histórias de crime. Os estilos visuais variam do realismo fotográfico a um traço mais tradicional, passando por um tom impressionista até uma pintura digital futurista. Se não bastasse a presença de pessoas diretamente ligadas ao cinema, a Radical Publishing parece ter mesmo a intenção de lançar quadrinhos que possam encontrar um caminho para a telona. Das edições que comentei aqui, essa foi a única que despertou meu interesse em conferir as séries nela divulgadas.

Promovido pelas editoras, distribuidoras e lojas de quadrinhos norte-americanas, o Free Comic Book Day parece ser um bom negócio para todos. Séries e personagens são divulgados, os leitores regulares ficam felizes e eventualmente novos leitores são conquistados. Sem nos esquecermos de que, em termos editoriais, o mercado de quadrinhos norte-americano é muito mais amplo que o brasileiro, alguns elementos do FCBD poderiam ser adotados por aqui (por exemplo no que diz respeito à divulgação de séries e à promoção da leitura de quadrinhos). Enquanto algo assim não acontece, mais informações e prévias das edições distribuídas neste ano podem ser vistas aqui.

6 comentários:

Clayton Godinho disse...

No Brasil nem scans os querem que a gente leia , quanto mais dar gibi de graça

Wellington Srbek disse...

Mas nesse caso justifica-se, Kardion, já que os tais scans constituem violação dos direitos autorais de autores e editores.
E já tivemos no Brasil revistas especiais que foram produzidas para serem distribuídas de forma gratuita. A Acme quando lançou The Spirit por exemplo, e eu mesmo já produzi edições para distribuição gratuita em eventos, como Muiraquitã Especial.
Basta vontade editorial para que algo assim aconteça.

Jaison disse...

Nossa, que barato. Isso pra mim é algo de se pensar. O próprio artista brasileiro poderia dispor de alguns exemplares para distribuição gratuita, mas aí quem é que cobriria isso? Ao menos, podemor conhecer novos títulos ou comprar edições que faltam na coleção particular em festivais daqui que cobram preços com um grande corte... vindo provavelmente do corte do imposto cobrado pela revista quando ela ainda circulava nas bancas.

Wellington Srbek disse...

Olá Jaison,
Quando aconteceu o primeiro FIQ, eu aproveitei que tinha uns 100 exemplares da coletânea Solar e fiz com a organização do evento uma distribuição gratuita no Centro de BH (na hora um cara caracterizado como o Solar desceu do alto de um prédio e isso rendeu uma cobertura bacana na mídia). Como a revista tinha sido produzida através da Lei Municipal de Incentivo à Cultura, os custos estavam pagos e a distribuição gratuita foi possível.
O Will do Sideralman fez há pouco tempo uma revistinha com HQs e desenhos, que teve também distribuição gratuita, com patrocínio do programa HQ Além dos Balões.
Enfim, há alternativas para se fazer algo promocional que divulgue a leitura de quadrinhos e os quadrinhos brasileiros. Ando pensando em algumas alternativas. Uma delas, é claro, é a própria veiculação pela Internet.
Abraços!

Jaison disse...

Ah sim, claro. A rede mundial é o caminho certo para isso. O mais viável, digamos. A distribuição gratuita poderia popularizar a LEITURA de quadrinhos, algo que não acontece como deveria. Quantas vezes que alguém viu outra pessoa lendo quadrinhos dentro do ônibus, por exemplo? Além de trazer o quadrinista para uma esfera mais conhecida, o que possibilitaria futuros trabalhos para os mesmos...

Wellington Srbek disse...

Pois é, meu amigo, esse é realmente um lance que eu ando estudando. E de certa forma ando fazendo isso com as HQs do Urbanoide que são distribuídas gratuitamente. Mas queria fazer com algum projeto meu também. Vamos ver...
Abraços!