07/06/2010

Editora Jaboticaba lança Homem Gravidade Zero.


Os quadrinhos brasileiros vivem um incomum momento, com vários lançamentos e diferentes editoras investindo em publicações produzidas por autores nacionais. Nessa nova onda de interesse, têm se destacado as edições históricas e, em especial, as adaptações de clássicos de nossa literatura. Como não é segredo para ninguém, nestes casos a grande motivação para as editoras foi a inclusão das HQs nos programas governamentais de incentivo à leitura. Mas, felizmente, também têm chegado às livrarias obras originais que não adaptam textos literários ou históricos. Um exemplo disso é Homem Gravidade Zero, álbum nacional inédito que acaba de ser lançado pela editora Jaboticaba.

Escrita por Leo Slezynger e Filippo Crosso, desenhada por Kris Zullo, auxiliado na arte-final por Robson Moura, Rosana Valim e Felipe Gressler, com cores por Vanessa Reyes, a edição tem 120 páginas de quadrinhos. Apesar dos vários autores, o único que tem o nome creditado na capa é Slezynger, o que sugere que a editora tratou o álbum da forma tradicional como os livros ilustrados eram editados (sem dar créditos na capa aos ilustradores e demais co-autores). Completam a edição uma introdução de Pedro Corrêa do Lago e um comentário de Amyr Klink (que também trata o álbum como se fosse obra de uma única pessoa). Não passam despercebidos alguns deslizes na revisão de texto, embora eles não cheguem a comprometer a leitura da HQ.

Sendo a estreia de seus autores num álbum de quadrinhos, em alguns pontos dos primeiros capítulos a obra mais parece literatura ilustrada do que história em quadrinhos. Nestas sequências, texto e imagens trazem a mesma informação narrativa, o que cria uma redundância que deveria ser evitada numa HQ. Além disso, há um excesso de páginas com um só quadro (as quais muitas vezes não trazem cenas de impacto visual ou maior relevância na história, sendo portanto dispensável o recurso do quadro único). Problemas narrativos à parte, o álbum traz uma história bem interessante e um visual bastante convidativo, destacando-se por um texto filosófico e metafísico com alguns momentos de fato profundos.

O álbum conta a história de Jacques Henri Boj, um personagem contemplativo e muito interessado nos mistérios da Natureza, o que o leva a estudar as propriedades curativas e espirituais das plantas tropicais. Numa viagem exploratória às florestas do Peru, ele acaba encontrando seu destino, na companhia de um sábio barqueiro e através das palavras de um enigmático xamã. Representação de uma viagem iniciática, a HQ tem profunda dimensão espiritual, conseguindo por metáforas e pela ação narrativa falar-nos da relação e da ligação entre indivíduo e Cosmos. Para isso, ela se vale de uma bela ambientação, desenhos e cores ao estilo “linha clara”, além de eficientes sequências de ação, do meio para o final.

Uma boa pedida para quem gosta de temas xamanísticos e narrativas iniciáticas, Homem Gravidade Zero tem um total de 136 páginas no formato 20,5 cm x 28,5cm, capa cartonada com impressão especial no título, chegando às livrarias pelo preço de R$39,90.

2 comentários:

Do Vale disse...

É gratificante ver tanto material brasileiro em quadrinhos sendo lançado ultimamente. É o que muita gente esperou por anos!
Estamos no momento certo de nos aventurarmos e produzirmos material que certamente tem condições de rivalizar com publicações estrangeiras. Que continue assim!
Abraço!

Wellington Srbek disse...

É isso mesmo, Do Vale!
Como eu gosto de dizer, nunca faltou talento a nossos autores. O que sempre faltou foi apoio das editoras e muitas vezes interesse dos leitores.
Mas isso, felizmente, parece estar mudando! Precisamos agora de mais e mais trabalhos inéditos!