02/05/2010

O Homem de Ferro nos cinemas (I).


A partir do ano 2000, com o sucesso de produções como X-Men – O Filme e Homem-Aranha, os estúdios de Hollywood encontraram um novo filão muito prolífico e incrivelmente lucrativo: os filmes de super-heróis. Assim, ao longo desta década, sucederam-se produções milionárias que levaram às telas alguns dos principais heróis da Marvel e DC. E apesar de fiascos como Superman – O Retorno e Demolidor, o gênero prosperou colecionando sucessos e boas sequências, como X-Men 2 e Homem-Aranha 2 (embora a terceira parte dessas “trilogias” tenha decepcionado). Com a atenção do público e da mídia e o apoio dos estúdios, em 2008 esse gênero cinematográfico nos trouxe o excelente O Cavaleiro das Trevas (do qual já falei aqui) e o surpreendente Homem de Ferro, cuja sequência assisti neste feriado de 1° de maio.

Embora eu goste bastante das atuações do Robert Downey Jr. (Chaplin, Assassinos por Natureza), não assisti ao primeiro filme do Homem de Ferro nos cinemas. Depois de produções fraquinhas, como Quarteto Fantástico e Elektra (que assisti na tevê a cabo), eu andava muito desconfiado dos filmes baseados nos heróis da Marvel. Como não sou um grande fã do personagem e os ingressos do cinema já andavam meio caros, preferi deixar para assistir em DVD. Para minha surpresa, descobri que o Homem de Ferro cinematográfico era bem melhor do que eu esperava. A produção é bem cuidada, os efeitos especiais e visuais muito bons, o elenco bem escolhido (a começar pelo protagonista), os diálogos interessantes e a trilha empolgante, tudo com um roteiro que se apropria de forma inteligente de elementos dos quadrinhos.

O filme dirigido por Jon Favreau é surpreendentemente bom, embora traga uma duplicidade em sua estrutura (que acaba sendo uma virtude e não um defeito). Nas primeiras sequências, temos a violência das cenas de guerra e dos guerrilheiros do Afeganistão, contrapostas ao estilo de vida playboy de Tony Stark, com dinheiro, carrões e mulheres à disposição. Até aí, o que temos é o lado mais realista do filme, que lhe dá verossimilhança. Então, entra em cena o lado mais fantasioso de Homem de Ferro, quando Tony Stark, refém numa caverna, dribla a morte e, munido apenas de peças de foguete, constrói um reator energético que funciona sem qualquer fonte externa (!?), além de uma armadura mecanizada a prova de balas e resistente ao fogo. Neste ponto, o filme exige do expectador o máximo da chamada “suspensão da descrença”.

Com a fuga de Tony Stark da caverna (que não é a de Ali Babá, nem a de Bin Laden) e seu retorno ao mundo civilizado (ou seja, ao complexo militar-industrial norte-americano), o filme passa a variar entre seu contexto realista e os acontecimentos fantasiosos. Se de um lado temos a falta de escrúpulos do empresário Obadiah Stane (Jeff Bridges), do outro temos a criação da nova e ultratecnológica armadura, produzida na garagem de Tony Stark (outra caverna mágica). E enquanto a presença do Coronel James Rhodes (Terrence Howard) e da secretária Pepper Potts (Gwyneth Paltrow) trazem um ar humano e familiar (contemplando ainda os públicos negro e feminino), a presença dos robôs sentimentais e a aparição pós-créditos de Nick Fury (encarnado por Samuel L. Jackson) reforçam o aspecto fabuloso da história.

Essa duplicidade entre contexto e ação se expressa nas duas lutas decisivas do filme: a eliminação dos guerrilheiros muçulmanos e o combate contra o vilão Stane em sua armadura maligna. O interessante é que, apesar de distintas (em seu realismo e seu aspecto fantasioso), as duas lutas integram harmonicamente o mesmo filme, o que nos lembra que vivemos num tempo em que as cenas de guerra e os video games sanguinolentos muitas vezes se confundem. Por isso, em sua mistura de crônica e aventura, em sua expressão da cultura e da barbárie de nossos dias, Homem de Ferro é um filme de super-heróis diferenciado e também um ótimo entretenimento. E enquanto possibilita algumas reflexões, essa produção aponta um outro caminho para esse gênero cinematográfico. Caminho este não seguido por sua continuação.

(CONTINUA)

2 comentários:

Cíntia Nogueira (cintiana2) disse...

Bem, ao ver esse post esperava uma crítica sobre o segundo homem de ferro que ainda não vi. Concordo, o primeiro homem de ferro é muito bom e é uma ótima adaptação de quadrinho, tb não sou fã do homem de ferro, nunca li nada dele. Mas quando vi no cinema em 2008, o filme realmente me surpreendeu.

Wellington Srbek disse...

A crítica foi escrita ontem, Cíntia, e será postada em breve.