01/12/2009

DC Comics: resgatando antigos formatos em busca do sucesso.


Numa crise, muitas vezes a melhor solução pode não estar na invenção de algo novo, mas sim em se trabalhar a partir de um modelo já existente, adaptando-o à realidade do momento. O fato é que, após mais um fiasco editorial (envolvendo a pretensiosa e confusa Crise Final), a DC Comics ficou ainda mais em segundo plano na disputa com sua concorrente direta, Marvel. Ao que parece, a crescente perda de mercado inspirou os editores a se voltarem para antigos formatos de publicação, como as revistas com uma história principal seguida de uma HQ curta complementar. Comuns até os anos 70, as revistas em dupla voltaram a ser vistas neste ano, nas edições de Detective Comics (que além das aventuras da Batwoman trazem também histórias de Questão) e Doom Patrol (que junto com os personagens-título publicam a nova série com os Metal Men).

O mais bem-sucedido projeto de adaptação de um antigo formato foi Wednesday Comics, uma série de jornais semanais, em doze edições com capítulos de uma página. Imitando o formato dos clássicos quadrinhos dominicais, o projeto criado por Mark Chiarello recebeu o nome “quadrinhos de quarta-feira” por ser este o dia da semana em que os lançamentos chegam às lojas dos Estados Unidos. Trazendo medalhões da DC (como Super-Homem, Batman e Mulher-Maravilha), a série contou ainda com nomes consagrados do mercado (como Neil Gaiman, Brian Azzarello e Joe Kubert). Grande sucesso comercial, esses jornais com quadrinhos ganharão em breve uma coletânea em capa-dura. Lançada no início de julho, Wednesday Comics n°1 veio dobrada no formato comic book, mas, ao ser aberta, a publicação se desdobra em páginas num formato gigante, com ótima impressão de cores.

De saída, Brian Azzarello e Eduardo Risso oferecem uma história policial com o Homem-Morcego. Em seguida, Dave Gibbons e o desenhista Ryan Sook trazem de volta o herói pós-apocalíptico Kamandi. Virando a página, John Arcudi, Lee Bermejo e Barbara Ciardo nos levam a uma batalha entre o Homem de Aço e um estranho alienígena. A seguir, numa HQ com Deadman, a dupla Dave Bullock e Vinton Heuk imitam o estilo de Darwyn Cooke. Depois, são Kurt Busiek e Jae Quinones que tentam reproduzir o espírito de A Nova Fronteira numa aventura com o Lanterna Verde. Virando a página, Neil Gaiman e Mike Allred misturam Metamorfo, humor e caça ao tesouro. Já Eddie Berganza e Sean Galloway adotam um tom mais adolescente e um estilo mangá para sua versão dos Jovens Titans. Numa linha bem mais pessoal, Paul Pope e José Villarrubia mostram uma típica manhã agitada de Adam Strange.

Por sua vez, Jimmy Palmiotti e Amanda Conner preferem uma abordagem mais infantil, em sua HQ com a Super-Moça, o Super-Cão e o Super-Gato. Em seguida, o editor Dan Didio e os veteranos José Luís Garcia-Lopes e Kevin Nowlan resgatam dos anos 60 e 70 o grupo de robôs Metal Men. Na história seguinte, Bem Cadwell utiliza um traço belíssimo em sua versão conto de fadas para a Mulher-Maravilha. O clima muda completamente na história de guerra produzida por Adam e Joe Kubert para o Sargento Rock. Dividida em duas partes, a página seguinte traz um clima mais leve, nas HQs de Flash e Íris West, produzidas por Karl Kershl e Brenden Fletcher. Já Walt Simonson e Brian Stelfreeze preferem as sombras ao colocar frente a frente o imortal Jason Blood e a mortífera Mulher-Gato. Fechando essa edição de estreia, Kyle Baker opta por tons mais claros em sua aventura aérea com o Gavião Negro.

Bastante diversificado, o primeiro número de Wednesday Comics deixou a sensação de um projeto bem elaborado, que tem como base um bom time de autores. Além disso, as histórias dessa série semanal não fazem parte da cronologia oficial da DC, o que permitiu uma maior independência e liberdade criativa para roteiristas e desenhistas. Isso deu abertura para os pontos altos da edição de estreia (as páginas com o Batman, Metamorfo, Adam Strange e Mulher-Maravilha). Enquanto a edição encadernada ou a versão brasileira não vêm, algumas páginas da série podem ser encontradas pela Internet e também no blog oficial da DC.

2 comentários:

Guilherme disse...

E ai, Wellington.

Gostei muito do formato e das histórias de WC. Podendo utilizar apenas uma página por vez, os artistas precisam explorar situações com enredos ágeis que criem expectativa nos leitores para as próximas edições (o famoso "gancho"). É uma leitura bem descompromissada, sem necessidade de uma narrativa complicada e detalhista.
Foi até interesante ver o Gaiman fazendo isso, já que ele é muito conhecido pelos enredos e diálogos longos de Sandman.

Ótima pedida para quem quer apenas ler e se divertir. Infelizmente não se sabe quando e nem como isso sairá no Brasil.

Wellington Srbek disse...

Olá Guilherme,
Ah, pode apostar que a Panini não perderá a oportunidade de lançar Wednesday Comics por aqui. Provavelmente eles aguardarão para publicar uma versão encadernada (talvez em mais de um volume). A questão é que quem quiser ler alguns quadrinhos bacanas vai ter que ter algum dinheiro sobrando...
Abraço!