07/06/2009

Os heróis DC entre crises, mortes, renascimentos e fórmulas batidas.


O termo “Crise” começou a ser usado pela DC Comics no início dos anos 60, em edições que reuniam personagens de diferentes realidades paralelas. A expressão representava geralmente uma ameaça que exigia a atuação conjunta da Liga da Justiça (com os heróis da Terra 1) e da Sociedade da Justiça (com os personagens veteranos da Terra 2). Utilizado esporadicamente ao longo de duas décadas, o termo ganhou novo significado em meados dos anos 80. Na época, a editora do Super-Homem passava por uma verdadeira crise administrativa e financeira, tendo perdido a posição de liderança do mercado para a concorrente Marvel e precisando se adaptar aos novos tempos. A resposta foi a “maxissérie” Crise nas Infinitas Terras de 1985, que buscou organizar a bagunçada cronologia da editora, eliminando o chamado “multiverso”.

Como resultado, toda a estrutura ficcional da DC foi racionalizada e seus principais personagens tiveram as origens recontadas, possibilitando que novos leitores começassem a acompanhar suas revistas. Além disso, os trabalhos de autores como Marv Wolfman, George Pérez, John Byrne e Frank Miller não só salvaram a editora, mas também originaram um dos melhores momentos na história dos quadrinhos de super-heróis. Todo o sucesso abriu caminho para novos eventos interligando personagens e publicações, como a boa minissérie Lendas de 1986. É claro que a ganância editorial não demorou a entrar em cena e, já na segunda metade dos anos 80, foram lançadas nos Estados Unidos a não tão boa Milênio e a fraquinha Invasão, com as quais a editora repetia fórmulas e começava a “meter os pés pelas mãos”.

Para piorar, em 1993 foram lançadas as enganosas patacoadas editoriais intituladas “A Morte do Super-Homem” e “A Queda do Morcego”. Eram os efeitos de uma nova crise editorial, causada pela perda de mercado para a recém-criada Image Comics. Em 1994, apenas nove anos depois de Crise nas Infinitas Terras, os editores da DC viram a necessidade de um novo “marco zero” para seus personagens. A resposta foi a dispensável Zero Hora: Crise no Tempo, minissérie que trouxe o Lanterna Verde Hal Jordan como o insano Parallax, e cujo único ponto positivo foi motivar o lançamento da ótima série Starman. A irrelevância de Zero Hora acabou sacramentada em 2004, com o lançamento de Lanterna Verde: Renascimento, HQ produzida por Geoff Johns e Ethan Van Sciver, que trouxe a redenção de Hal Jordan como Lanterna Verde.

Nos últimos anos, em meio a uma nova crise editorial, a DC tem tentado incrementar as vendas com uma sequência de séries que reúnem seus principais personagens. De Crise de Identidade a Crise Infinita, passando por 52 e Um ano depois, até chegar à recente Crise Final, a editora norte-americana persiste na fórmula batida. Nesta última série, escrita por Grant Morrison, o Flash Barry Allen volta dos mortos e o Batman Bruce Wayne é aparentemente morto. No fim, porém, tudo fica mais ou menos da mesma forma: uma bagunça. Apesar disso, a confusa Crise Final está gerando frutos interessantes, como Flash: Rebirth, produzida por Geoff Johns e Ethan Van Sciver nos moldes de Lanterna Verde: Renascimento, ou como Batman and Robin, a nova HQ de Grant Morrison e Frank Quitely, já lançada como uma campeã de vendas.

A verdade é que nos últimos vinte anos, com raras exceções, as revistas de super-heróis não valem o papel em que são impressas. Exploração comercial excessiva, erros editoriais sucessivos e a mais pura falta de criatividade só poderiam mesmo resultar na perda de leitores. Ao folhear uma revista mensal da Panini, com a costumeira confusão de heróis e a indispensável explosão visual, sinto nostalgia pelas HQs desses mesmos heróis publicadas há vinte anos. Para alguém que começou a ler quadrinhos no momento em que Crise nas Infinitas Terras era publicada no Brasil, as atuais revistas de super-heróis só podem mesmo parecer uma enganação. Aos leitores que começam agora, fica a sugestão para buscarem os quadrinhos clássicos dos anos 80. Eles sim são garantia de uma boa leitura!

(Para saber mais sobre Crise nas Infinitas Terras e outras HQs da DC, basta clicar nas palavras em destaque abaixo.)

10 comentários:

Yabai disse...

nossa, sempre quis entender isso da DC de crise disso e daquilo. xD

agora entendi.

xD

muito bom!

=)

Wellington Srbek disse...

Olá Yabai,
Legal eu ter contribuído para que você entendesse as "crises" da DC! Se quiser saber um pouco mais, o blog tem postagens específicas sobre Crise nas Infinitas Terras, Lendas e as reformulações dos heróis DC nos anos 80.
Grande abraço e até a próxima!

Amalio Damas disse...

Wellington, alguns diriam que isso soa como nostalgia, outros diriam que é velhice mesmo, hahahahaha!!! Deixando a brincadeira de lado, a Crise foi longe demais. Eles quiseram capitalizar o sucesso da minissérie Crise de Identidade (excelente) e da revista semanal 52 (muito boa), repetindo-as incansalvemente, porém esqueceram-se de lembrar que quadrinhos sem bons roteiros, não valem nada, e aí apareceram a horrorosa Countdown e a muito criticada Crise Final. Eu acredito que os quadrinhos de heróis deviam ser colocados numa bolha de tempo, ou seja, os heróis nunca perderiam seu status quo, tendo aventuras fechadas ou arcos curtos. Todos já estão carecas de saber (inclusive o Dan Didio), que essas mudanças radicais tem uma duração curta e precisam ser reiniciadas de tempos em tempos. Só que as desculpas estão ficando cada vez mais idiotas, como o Mefisto apagar a memória de todo mundo.

Wellington Srbek disse...

Quê isso, Amálio, sou um garoto ainda! He he!
Concordo com você: "quadrinhos sem bons roteiros não valem nada"! E é por isso que eu digo: leiam SOLAR, pois o roteiro é bom, original e brasileiro! (Não podia perder a oportunidade para a propaganda gratuita, né?)
Talvez algo como o que você sugeriu pudesse funcionar para os quadrinhos de super-heróis. Para mim está cada vez mais claro que, da forma como são produzidos nos últimos vinte anos, os quadrinhos de super-heróis são uma fórmula falida. As desculpas, como a que você citou, são um insulto à inteligência de qualquer um. Por isso mesmo, não acompanho os quadrinhos mensais da Marvel e DC há um tempão. Compensa esperar saírem as coletâneas daquilo que realmente compensa ler, ou comprar uma ou outra coisa especial.
Abraços!

Leandro disse...

comecei a ler hqs em 92,e tive a sorte de um amigo mais velho me emprestar as revistas da decade de 80, conclusao, logo parei de acompanhar as hqs e voltei tem uns 3, 4 anos fazendo como vc disse Wellington, so coletaneas e especiais. vc tem razao esta forma esta falida, pena q no Brasil o q mais se publica seja marvel e dc, ou revistas a preço de luxo.
abç

Wellington Srbek disse...

Eh, Leandro, a Panini poderia publicar coisas bem mais interessantes, em quadrinhos norte-americanos, europeus, japoneses e, é claro, brasileiros.
Além disso há os preços, como você falou. Quando eu comecei a colecionar quadrinhos, dava para comprar todos os lançamentos mensais da Abril com uma graninha que eu ganhava de mesada. Hoje, se bobear, deve precisar de uns 200 reais para comprar todos os lançamentos da Panini. E a qualidade das HQs...
Grande abraço e valeu pela participação!

Miltão disse...

Penso que a DC deveria deixar de lado essas crises e milhares de reformulações. Bastaria apenas publicar histórias boas, que nem precisariam se preocupar com cronologia (essa com décadas).

Vide as histórias de Paul Dini em Detective Comics: ótimas histórias e nem precisam se encaixar em pontos específicos da cronologia.

Quero HQ's de qualidade, não esse emaranhado de cronologia.

Wellington Srbek disse...

Olá Miltão,
Foi por isso que eu disse que é uma fórmula falida, pois se os leitores não gostam do que lêem e não entendem o que está acontecendo, há algo de muito errado. Acho que a ideia das histórias independentes ou da "bolha de tempo" de que falou o Amálio poderiam funcionar.
Mas sabe o qual é a verdadeira questão? Se está tão ruim, porque ainda tem gente comprando as revistas mensais? Pois se os leitores parassem de vez, aí eles seriam forçados a mudar o velho esquema falido.
Abraço!

Unknown disse...

DC zomba da inteligência do leitor. Marvel não está muito diferente, não. More One Day me fez ter pesadelos por meses. E, por mais que eu me esforce, desde então, não consigo ler nada do Aranha. Ainda bem que tenho outro Aranha, o goleiro do Galo, para me deixar feliz. haha

Wellington Srbek disse...

Pois é, Cleonice, pobre do Homem-Aranha, tão querido pelos leitores, tão maltratado pelos editores! Eu, pessoalmente, não leio mais nada dele desde a lastimável "Saga do Clone".
Valeus!