Uma coisa bem bacana é receber em casa um pacote recheado de quadrinhos. Para minha alegria, algo assim aconteceu dias atrás, com o patrocínio do amigo Ismael, lá das terras de España. Foi a segunda troca que fizemos: vão daqui álbuns e quadrinhos meus, vêm de lá clássicos e novidades dos tebeos (um dos nomes pelos quais os quadrinhos são conhecidos por lá). Entre as edições que Ismael me enviou desta vez, está El hombre que vino del cielo, obra de Infame & Co. (pseudônimo pelo qual o autor se identifica) publicada num formato quadrado (21cm x 21cm), com capa cartonada em cores e 64 páginas de miolo em P&B.
El hombre que vino del cielo narra a história de Yuri, um astronauta que retorna à Terra após passar dois anos no espaço. Cidadão de uma nação fictícia chamada União dos Estados, em seu retorno o jovem viajante encontra uma realidade bem diferente daquela que ele conhecia. Crises e disputas internas levaram à separação dos sete estados principais (Superbia, Avaritia, Luxuria, Invidia, Eira, Gula, Perezia) que formavam seu país. Sendo levado ao sabor dos acontecimentos e na companhia de seu novo amigo Panzet, Yuri tem que lidar com um tumultuado presente, enquanto busca refúgio em boas lembranças do passado, iniciando uma jornada para reencontrar seu grande amor, Ada.
Não é difícil notar que toda a situação envolvendo o colapso político da fictícia União dos Estados é uma analogia ao desmantelamento da União Soviética, no início dos anos 90. Mas a sátira histórica ganha dimensão de alegoria existencial quando notamos que os nomes dos estados capitales que formavam o fictício país são na verdade referências aos sete pecados capitais (soberba, avareza, luxúria, inveja, ira, gula, preguiça). Completam essa impressão o texto (não raras vezes poético) e as imagens concisas e expressivas em estilo cartunístico. Embora em alguns momentos o desenho pareça um pouco descuidado, no geral, o álbum de Infame & Co. agrada por seu tom autoral.
Certamente, contribuem muito para o sucesso da obra as boas aplicações de retículas e meios-tons, além de diagramações de página inventivas e sequências narrativas quase sempre na medida certa. Um recurso recorrente nessa HQ é a utilização de páginas que trazem uma só imagem fracionada em nove quadros do mesmo tamanho. Esse recurso estético produz um efeito de mosaico que implica em diferentes formas de se apreender a mesma página. Destaca-se aí a primeira sequência em que vemos o astronauta após sua queda do espaço e também uma página que mostra os trabalhadores de uma mina (que na verdade parece ter sido desenhada a partir de uma cena de Serra Pelada).
Embora não se possa “julgar um livro pela capa”, escolhi El hombre que vino del cielo pela ilustração de sua capa e posso dizer que, neste caso, minha escolha foi acertada. O primeiro álbum do espanhol Infame & Co. tem os melhores elementos de um quadrinho autoral, com direto a algumas idéias inventivas e desenhos interessantes. Uma HQ sensível que nos lembra que aquilo que chamamos de lar pode não ser um lugar específico, mas sim onde reside nosso coração (êta, como eu ando sentimental ultimamente!). A bem-cuidada e relativamente simples publicação da editora Astiberri pode também servir de exemplo para os editores brasileiros, tão relapsos em valorizar os autores nacionais (diferentemente de seus colegas espanhóis).
El hombre que vino del cielo narra a história de Yuri, um astronauta que retorna à Terra após passar dois anos no espaço. Cidadão de uma nação fictícia chamada União dos Estados, em seu retorno o jovem viajante encontra uma realidade bem diferente daquela que ele conhecia. Crises e disputas internas levaram à separação dos sete estados principais (Superbia, Avaritia, Luxuria, Invidia, Eira, Gula, Perezia) que formavam seu país. Sendo levado ao sabor dos acontecimentos e na companhia de seu novo amigo Panzet, Yuri tem que lidar com um tumultuado presente, enquanto busca refúgio em boas lembranças do passado, iniciando uma jornada para reencontrar seu grande amor, Ada.
Não é difícil notar que toda a situação envolvendo o colapso político da fictícia União dos Estados é uma analogia ao desmantelamento da União Soviética, no início dos anos 90. Mas a sátira histórica ganha dimensão de alegoria existencial quando notamos que os nomes dos estados capitales que formavam o fictício país são na verdade referências aos sete pecados capitais (soberba, avareza, luxúria, inveja, ira, gula, preguiça). Completam essa impressão o texto (não raras vezes poético) e as imagens concisas e expressivas em estilo cartunístico. Embora em alguns momentos o desenho pareça um pouco descuidado, no geral, o álbum de Infame & Co. agrada por seu tom autoral.
Certamente, contribuem muito para o sucesso da obra as boas aplicações de retículas e meios-tons, além de diagramações de página inventivas e sequências narrativas quase sempre na medida certa. Um recurso recorrente nessa HQ é a utilização de páginas que trazem uma só imagem fracionada em nove quadros do mesmo tamanho. Esse recurso estético produz um efeito de mosaico que implica em diferentes formas de se apreender a mesma página. Destaca-se aí a primeira sequência em que vemos o astronauta após sua queda do espaço e também uma página que mostra os trabalhadores de uma mina (que na verdade parece ter sido desenhada a partir de uma cena de Serra Pelada).
Embora não se possa “julgar um livro pela capa”, escolhi El hombre que vino del cielo pela ilustração de sua capa e posso dizer que, neste caso, minha escolha foi acertada. O primeiro álbum do espanhol Infame & Co. tem os melhores elementos de um quadrinho autoral, com direto a algumas idéias inventivas e desenhos interessantes. Uma HQ sensível que nos lembra que aquilo que chamamos de lar pode não ser um lugar específico, mas sim onde reside nosso coração (êta, como eu ando sentimental ultimamente!). A bem-cuidada e relativamente simples publicação da editora Astiberri pode também servir de exemplo para os editores brasileiros, tão relapsos em valorizar os autores nacionais (diferentemente de seus colegas espanhóis).
8 comentários:
muchas gracias, caballero.
Un placer ver que a veces los tebeos traspasan fronteras.
Un gusto que consigan llegar a lectores como tu.
Un abrazo (infame, eso si)
Gracias, Infame & Co.
Teu trabalho é realmente interessante e torço para que algum editor decida publicá-lo por aqui.
Saludos!
Olá Wellington, eu sou kalini, estudante do curso de letras da unime (faculdade de Salvador) e estou me arriscando a trabalhar com uma das suas obras.
Como todo acadêmico de letras dá seus passeios por outras áreas, vou me atrever por estas, em prol de fazer trabalhos com os nossos formidáveis HQs nacionais que são uma forte expressão da nossa cultura e identidade.
Pense naquela estudante improvável, dos livros empoeirados, dos héróis e antiheróis (nerd mesmo) incentivada por professores também improváveis, que resolveu apostar naquilo que gosta. Sou mesmo essa daí.
Como disse Riobaldo, "Viver é muito perigoso", um risco aqui e outro ali fazem da nossa história sempre perigosa mesmo, então que esta seja ao menos instigante!
Então, "venho através dessas mal traçadas linhas" a perguntar, será que posso eventualmente perturbá-lo acerca de seu trabalho?
Caso sim, gostaria de um contato menos público que este. C´est possible?
Olá Kalini,
Pois não, será um prazer.
Vá por favor ao meu saite: http://www.maisquadrinhos.com.br.
Lá, na seção CONTATO, você encontrará meu e-mail (que só não coloco aqui para evitar spams).
Aí é só me escrever que começamos a conversar.
Abraço e obrigado pelo interesse!
Como uma boa resenha pode facilmente corromper crenças e perturbar convicções!?
Querida Ariane,
Estás me chamando de subversivo?
Adorei!
Ao princípio me pareceu uma história demasiado alegórica mas depois se desviou poeticamente como nessas páginas mosaico.
Alegro-me que saísse bem o intercâmbio, eu estou muito feliz.
Hola Ismael!
Nossas trocas de quadrinhos foram ótimas! Façamos outras futuramente, amigo.
Grande abraço!
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