Quem colecionava quadrinhos na segunda metade dos anos 80 deve se lembrar dos encadernados da Abril. Eram coletâneas feitas a partir do encalhe das minisséries de luxo da editora (como Cavaleiro das Trevas, Ronin e Elektra Assassina). Basicamente tirava-se a capa das revistas, agrupava-as na ordem numérica, refilava-se as beiradas, colava tudo numa nova capa cartonada e pronto: um livrinho com a minissérie completa chegava às bancas. Nos últimos meses, uma estratégia semelhante tem sido adotada pela Pixel, com suas minisséries que não alcançaram a vendagem desejada. Os lançamentos mais recentes da editora nessa linha são os encadernados Fábulas: 1001 Noites – Completo, Ex Machina: Símbolo – Completo e Wild C.AT.s: Círculo Vicioso – Completo.
Sem dúvida, por sua qualidade técnica e diversidade estilística, a melhor das três reedições é Fábulas: 1001 Noites. Escrita pelo criador da série original, Bill Willingham (no rastro de Sandman: Ramadan de Neil Gaiman), a HQ especial conta com excelentes ilustradores, como os consagrados John Bolton, Michael Kaluta, Charles Vess, Brian Bolland, Mark Buckingham e Jill Thompson, além dos talentosos James Jean, Tara McPherson, Esao Andrews, Derek Kirk Kim e Mark Wheatley. Em grande parte feita com “arte pintada” (recurso que colabora para seu clima literário e mitológico), essa edição especial mergulha do passado das fábulas, revelando importantes fatos de suas biografias.
Como o nome sugere, esse volume de Fábulas guarda semelhanças com o clássico da literatura árabe. Neste caso, porém, quem conta as histórias para o sultão, ao longo de 1001 noites, é Branca de Neve (principal protagonista da série criada por Willingham). Numa viagem diplomática a uma Arábia fabulosa, a personagem acaba envolvida em questões palacianas e, para manter a cabeça colada ao pescoço, passa a contar histórias. É assim que ficamos conhecendo, por exemplo, as interessantes origens do Lobo Mau e da Bruxa (da história de Joãozinho e Maria), bem como o destino dos Sete Anões e fatos envolvendo o malfadado casamento de Branca de Neve e Príncipe Encantado.
A parte “árabe” da HQ funciona como uma narrativa de moldura que envolve as demais histórias. Tal recurso, no entanto, poderia ter sido um pouco melhor explorado, ficando aquém de alguns dos contos que são narrados em meio a ele. Outro fator negativo é de ordem cultural, pois o artifício proposto pelo roteirista acaba revelando contornos etnocêntricos, uma vez que Branca de Neve não só toma o lugar de Sherazade (a protagonista das 1001 Noites original), mas também, ao final, seria quem lhe ensina a estratégia de sobrevivência. Essa implicação pode passar despercebida, mas não deixa de ser uma espécie de colonialismo cultural, feito sobre uma das principais figuras ficcionais do mundo árabe.
Já Ex-Machina: Símbolo reúne as edições 6 a 10 da série lançada em 2004 pela Wildstorm, criada por Brian K. Vaughan (roteirista de Y – O último homem) e Tony Harris (desenhista de Starman). O protagonista é Michell Hundred, a “Grande Máquina”, o primeiro super-herói que surge num mundo contemporâneo semelhante ao nosso. Sua condição de único super-herói existente e a fama envolvida o levam a se tornar prefeito de Nova York, mas seu passado aventureiro não deixa de fazer parte de sua vida. Relações políticas, estranhos crimes e dramas pessoais dão forma a essa edição (que continua a história iniciada na coletânea lançada pela Panini).
Por sua vez, Wild C.AT.s: Círculo Vicioso reúne seis edições da popular série criada por Jim Lee, com HQs escritas por Scott Lobdell e desenhadas por Travis Charest (e algumas participações especiais, como uma história curta escrita por Alan Moore). Prometendo um recomeço para o grupo da Wildstorm, esse volume traz a ação, violência e mistura de super-heróis, alienígenas e ficção científica que fizeram o sucesso dos Wild C.A.T.s nos anos 90. Por isso mesmo, o melhor fica por conta dos desenhos dinâmicos e detalhados de Travis Charest (embora a pequena sequência desenhada por Jim Lee não deixe muito a desejar).
Nova oportunidade para quem perdeu as edições em separado, Fábulas: 1001 Noites – Completo (144 páginas, R$18,90), Ex Machina: Símbolo – Completo (148 páginas, R$17,90) e Wild C.AT.s: Círculo Vicioso – Completo (176 páginas, R$17,90) já estão à venda em lojas de todo o país.
Sem dúvida, por sua qualidade técnica e diversidade estilística, a melhor das três reedições é Fábulas: 1001 Noites. Escrita pelo criador da série original, Bill Willingham (no rastro de Sandman: Ramadan de Neil Gaiman), a HQ especial conta com excelentes ilustradores, como os consagrados John Bolton, Michael Kaluta, Charles Vess, Brian Bolland, Mark Buckingham e Jill Thompson, além dos talentosos James Jean, Tara McPherson, Esao Andrews, Derek Kirk Kim e Mark Wheatley. Em grande parte feita com “arte pintada” (recurso que colabora para seu clima literário e mitológico), essa edição especial mergulha do passado das fábulas, revelando importantes fatos de suas biografias.
Como o nome sugere, esse volume de Fábulas guarda semelhanças com o clássico da literatura árabe. Neste caso, porém, quem conta as histórias para o sultão, ao longo de 1001 noites, é Branca de Neve (principal protagonista da série criada por Willingham). Numa viagem diplomática a uma Arábia fabulosa, a personagem acaba envolvida em questões palacianas e, para manter a cabeça colada ao pescoço, passa a contar histórias. É assim que ficamos conhecendo, por exemplo, as interessantes origens do Lobo Mau e da Bruxa (da história de Joãozinho e Maria), bem como o destino dos Sete Anões e fatos envolvendo o malfadado casamento de Branca de Neve e Príncipe Encantado.
A parte “árabe” da HQ funciona como uma narrativa de moldura que envolve as demais histórias. Tal recurso, no entanto, poderia ter sido um pouco melhor explorado, ficando aquém de alguns dos contos que são narrados em meio a ele. Outro fator negativo é de ordem cultural, pois o artifício proposto pelo roteirista acaba revelando contornos etnocêntricos, uma vez que Branca de Neve não só toma o lugar de Sherazade (a protagonista das 1001 Noites original), mas também, ao final, seria quem lhe ensina a estratégia de sobrevivência. Essa implicação pode passar despercebida, mas não deixa de ser uma espécie de colonialismo cultural, feito sobre uma das principais figuras ficcionais do mundo árabe.
Já Ex-Machina: Símbolo reúne as edições 6 a 10 da série lançada em 2004 pela Wildstorm, criada por Brian K. Vaughan (roteirista de Y – O último homem) e Tony Harris (desenhista de Starman). O protagonista é Michell Hundred, a “Grande Máquina”, o primeiro super-herói que surge num mundo contemporâneo semelhante ao nosso. Sua condição de único super-herói existente e a fama envolvida o levam a se tornar prefeito de Nova York, mas seu passado aventureiro não deixa de fazer parte de sua vida. Relações políticas, estranhos crimes e dramas pessoais dão forma a essa edição (que continua a história iniciada na coletânea lançada pela Panini).
Por sua vez, Wild C.AT.s: Círculo Vicioso reúne seis edições da popular série criada por Jim Lee, com HQs escritas por Scott Lobdell e desenhadas por Travis Charest (e algumas participações especiais, como uma história curta escrita por Alan Moore). Prometendo um recomeço para o grupo da Wildstorm, esse volume traz a ação, violência e mistura de super-heróis, alienígenas e ficção científica que fizeram o sucesso dos Wild C.A.T.s nos anos 90. Por isso mesmo, o melhor fica por conta dos desenhos dinâmicos e detalhados de Travis Charest (embora a pequena sequência desenhada por Jim Lee não deixe muito a desejar).
Nova oportunidade para quem perdeu as edições em separado, Fábulas: 1001 Noites – Completo (144 páginas, R$18,90), Ex Machina: Símbolo – Completo (148 páginas, R$17,90) e Wild C.AT.s: Círculo Vicioso – Completo (176 páginas, R$17,90) já estão à venda em lojas de todo o país.
16 comentários:
Wellington Srbek
Sou iniciante no mundo dos HQs, mas posso lhe dizer que estou aprendendo muito no seu site e no blog.
Um abraço.
Olá Vanessa,
Que bom que o blog está lhe ajudando. Sugiro então as matérias sobre a origem e a história dos quadrinhos.
Abraço!
Hummmm, nem te conto que temos esta HQ na Gibiteca, mas ainda não tive tempo de ler. Agora em outubro vamos começar a editar (espero) um jornalzinho interno, com resenhas de HQs. Vou aproveitar para ler.
Legal, Natânia! "Fábulas: 1001 Noites" é um trabalho interessante, embora tenha aquela questão etnocêntrica que eu cito na resenha.
Abraço!
Mas o que você acha: Compro o encadernado ou as HQs em separado? Por que?
No caso do Fábulas 1001 Noites em especifico...
Bom, Anônimo, se você tem a possibilidade de escolher, eu preferiria as revistas soltas mesmo, pois elas não sofreram refilamento, que é o corte das bordas para que todas as revistas encadernadas fiquem do mesmo tamanho. Não é um corte muito grande, mas...
Valeu Wellington, muito obrigado pela dica.
Ganhou um leitor. =]
Voltei. Vou me aproveitar de sua paciência pra te perguntar mais uma coisa: O que você acha das Graphic Novel "O grito do povo" e "O fotógrafo" encontrei alguma coisa sobre elas na net e fiquei muito interessado, mas como nunca as vi em primeira mão sempre rola uma dúvida. Sabe como é...
Falou, rapaz!
Mas depois diga-nos aí seu nome, para a conversa ficar mais direta.
Abraço e volte sempre!
Sobre essas não posso te ajudar, pois não as li.
Mas na linha "quadrinhos jornalísticos", posso te sugerir os trabalhos de Joe Sacco, como Palestina e Gorazde. Falo deles aqui numa das postagens.
Inté!
Ok! a sim, da uma olhada na loja da conrad estão vendendo os dois volumes do Grito do Povo por 45,00 e os dois do fotografo por 46,00 achei muito em conta...estou catando moedas aqui, talvez lhe interesse.
Abraço.
anônimo = velho
Ah, tinha sacado que eram a mesma pessoa! "Velho" é mais interessante que simplesmente anônimo.
Valeu pela dica! No momento não vou poder aproveitar a promoção, pois estou contando as moedinhas aqui para tentar lançar um novo quadrinho meu.
Aliás, você que frequenta a loja da Conrad já conhece o Estórias Gerais?
Abraço!
Rapaz! agora que estou me localizando no seu blog. Você é o roteirista do Estórias Gerais, muito bacana! Deve ser dureza produzir HQs no Brasil. Agora já me endividei,com o Grito do Povo, mas assim que sobrar um aqui vou conferir teu trabalho, com direito a autografo?
Sou o próprio! E realmente, produzir quadrinhos autorais no Brasil não é fácil, não.
Aproveite e visite o link MEUS QUADRINHOS à esquerda do blog - lá você conhecerá a maior parte de meus trabalhos.
Eu tinha autografado alguns exemplares para a loja da Conrad, talvez você consiga um deles. Abraço!
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