21/12/2007

“Super-sagas” Marvel: Heroes Reborn.


Como as demais atividades da indústria cultural, o mercado norte-americano de quadrinhos é movido pelo sucesso, prevalecendo a regra de que as experiências bem-sucedidas devem ser copiadas. Entre 1987 e 1992, Todd McFarlane, Jim Lee e Rob Liefeld produziram HQs que alcançaram um enorme sucesso entre os leitores. Seu trabalho nas revistas do Hulk, do Homem-Aranha e dos heróis mutantes aumentaram ainda mais a popularidade desses personagens, criando o padrão visual e narrativo que predominaria nos quadrinhos de super-heróis nos anos 90.

Motivada pelo excelente desempenho das revistas desenhadas pelo trio, a Marvel decidiu criar três novas séries (Spider-Man, X-Men e X-Force) que bateram todos os recordes de vendas do mercado norte-americano. Mas a alegria da editora não durou muito. Em 1992, pouco mais de um ano após o lançamento das novas revistas, McFarlane, Lee e Liefeld deixaram a editora para fundar a Image Comics. Sem seus desenhistas-astros, as vendas caíram e a Marvel teve que lidar com uma posição secundária que a levou à beira da falência.

Depois de ditar os modelos de sucesso durante décadas, entre 1992 e 1995, a editora do Homem-Aranha ficou para trás, tendo que imitar padrões lançados por sua mais nova concorrente, a Image Comics. Para correr atrás do prejuízo, a Marvel lançou a “super-saga” Onslaught (Massacre), ao final da qual os Vingadores e o Quarteto Fantástico desapareceram. Esse foi o pressuposto para o surgimento de uma “realidade paralela”, onde aconteceram as histórias de Heroes Reborn (Heróis Renascem).

Na Marvel pós-Onslaught, porém, nem todos os heróis tiveram sua origem recontada. Era como se o Quarteto Fantástico e os Vingadores tivessem sua primeira aventura nos anos 90, enquanto o resto dos heróis Marvel já atuava há algumas décadas, o que criou uma série de confusões e explicações estapafúrdias. Por exemplo, o Hulk que é acusado de ter colaborado no desaparecimento dos heróis também participa das HQs de Heroes Reborn (ou seja, há dois Incríveis Hulks atuando ao mesmo tempo nas duas realidades em que se dividiu o "Universo Marvel").

O desaparecimento seletivo de personagens evidenciou as motivações da editora, pois foi para passar um “verniz anos 90” em seus velhos heróis que a Marvel convocou dois de seus principais concorrentes: Jim Lee e Rob Liefeld. Com um contrato inicial de um ano (que não se cumpriu integralmente), os fundadores da Image Comics recontaram de forma bastante livre a origem do Capitão América, Homem de Ferro, Vingadores e Quarteto Fantástico. O fato é que Heroes Reborn cumpriu a função de atrair a atenção da mídia e dos leitores para personagens que andavam meio apagados.

Tendo trazido um aumento nas vendas de revistas, após a conclusão de Heroes Reborn (como era previsível), os heróis “renascidos” foram devolvidos ao “Universo Marvel”. E para fazer tudo voltar ao “normal”, a editora optou por uma equipe de desenhistas veteranos, como Alan Davis, George Pérez e John Romita Jr., que em parceria com os roteiristas Kurt Busiek e Scott Lobdell criaram o projeto Heroes Return. Ou seja, no fim, tudo se resumiu a mais uma jogada editorial, para esquentar as vendas e dar um fôlego novo a velhos heróis que andavam em baixa.

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