Um quadrinho com “arte pintada” é uma HQ em que a maior parte do visual foi produzida com técnicas de pintura, tais como aquarela, acrílica ou óleo. Não se enquadram nessa definição, portanto, aqueles trabalhos em que se utiliza a pintura para apenas preencher os espaços das cores, numa página previamente desenhada e arte-finalizada. Em geral, nos quadrinhos com arte pintada, um leve traço a lápis serve de referência para o trabalho com pincel e tinta, que dá o visual final à página. Tendo chegado ao mercado norte-americano em fins da década de 1970, essa técnica de criação teve seu auge nos anos 80, continuando em voga ainda hoje.
Na Europa, os quadrinhos com arte pintada já eram conhecidos nos anos 70, tendo no iugoslavo Enki Bilal seu principal expoente. Empregando técnicas que demandam uma maior qualidade de impressão, esses quadrinhos chegaram aos Estados Unidos pelas páginas da experimental e inovadora Heavy Metal. Mas foi somente nos anos 80, com o desenvolvimento das graphic novels e minisséries de luxo, que as HQs com arte pintada se difundiram amplamente no mercado norte-americano e daí para o mundo. Vale lembrar que um dos fatores que possibilitaram essa difusão foi a excelente fase dos quadrinhos na época, que permitiu às grandes editoras financiar a produção de trabalhos com técnicas de pintura, que são relativamente mais trabalhosas e demoradas que as utilizadas em revistas convencionais.
O nome de maior destaque daquele primeiro momento foi Bill Sienkiewicz. Com formação em artes visuais, ele já vinha apresentando um trabalho inovador nas páginas e capas da revista New Mutants. Mas foi com a Graphic Novel do Demolidor, escrita por Frank Miller, que o desenhista surpreendeu a todos com suas páginas pintadas sobre um traço que oscilava entre o realismo e a quase caricatura. Em seu trabalho seguinte, a minissérie Elektra Assassina, também escrita por Miller, o artista subverteu a estética dos quadrinhos de super-heróis, misturando técnicas e estilos num visual perfeito para o clima surrealista do roteiro. Após a boa repercussão desses projetos, Sienkiewicz mergulhou na produção de trabalhos ainda mais autorais e complexos, como a graphic novel Brought to Light, em que o roteirista Alan Moore revela as atividades ilegais da C.I.A., e a bizarra minissérie Stray Toasters, uma espécie de coroamento para a significativa influência do artista sobre os quadrinhos da época. Por fim, não poderia faltar uma referência à sua estilizada adaptação de Moby Dick, para a série Classics Illustrated.
Outros artistas também deram contribuições importantíssimas para o sucesso dos quadrinhos com arte pintada, em especial os pioneiros Jon J. Muth e Kent Williams, responsáveis por trabalhos de uma beleza singular. Em parceria, eles produziram a poética minissérie Moonshadow, escrita por J.M. DeMatties, e a dinâmica Wolverine & Destrutor: Fusão, escrita por Walter e Louise Simonson. E Kent Williams ainda voltaria a se unir ao roteirista J.M. DeMatties para criar a intensa minissérie Blood. A excelente repercussão desses trabalhos, na segunda metade dos anos 80, levou à difusão e popularização das técnicas de pintura nas HQs tanto nos Estados Unidos quanto na Inglaterra. Como resultado, nos anos seguintes, novos artistas e trabalhos deram continuidade à boa produção de quadrinhos com arte pintada, muitos deles vindos dos outro lado do Atlântico. Alguns bons exemplos são os britânicos Simon Bisley com a série Sláine, Dave McKean com Orquídea Negra e Duncan Fegredo com Kid Eternity.
Mas a trajetória dos quadrinhos com arte pintada não pára por aí, como veremos a seguir. Para os interessados, todas as edições citadas neste texto valem ser conferidas e podem ser encontradas em sebos e lojas virtuais.
Na Europa, os quadrinhos com arte pintada já eram conhecidos nos anos 70, tendo no iugoslavo Enki Bilal seu principal expoente. Empregando técnicas que demandam uma maior qualidade de impressão, esses quadrinhos chegaram aos Estados Unidos pelas páginas da experimental e inovadora Heavy Metal. Mas foi somente nos anos 80, com o desenvolvimento das graphic novels e minisséries de luxo, que as HQs com arte pintada se difundiram amplamente no mercado norte-americano e daí para o mundo. Vale lembrar que um dos fatores que possibilitaram essa difusão foi a excelente fase dos quadrinhos na época, que permitiu às grandes editoras financiar a produção de trabalhos com técnicas de pintura, que são relativamente mais trabalhosas e demoradas que as utilizadas em revistas convencionais.
O nome de maior destaque daquele primeiro momento foi Bill Sienkiewicz. Com formação em artes visuais, ele já vinha apresentando um trabalho inovador nas páginas e capas da revista New Mutants. Mas foi com a Graphic Novel do Demolidor, escrita por Frank Miller, que o desenhista surpreendeu a todos com suas páginas pintadas sobre um traço que oscilava entre o realismo e a quase caricatura. Em seu trabalho seguinte, a minissérie Elektra Assassina, também escrita por Miller, o artista subverteu a estética dos quadrinhos de super-heróis, misturando técnicas e estilos num visual perfeito para o clima surrealista do roteiro. Após a boa repercussão desses projetos, Sienkiewicz mergulhou na produção de trabalhos ainda mais autorais e complexos, como a graphic novel Brought to Light, em que o roteirista Alan Moore revela as atividades ilegais da C.I.A., e a bizarra minissérie Stray Toasters, uma espécie de coroamento para a significativa influência do artista sobre os quadrinhos da época. Por fim, não poderia faltar uma referência à sua estilizada adaptação de Moby Dick, para a série Classics Illustrated.
Outros artistas também deram contribuições importantíssimas para o sucesso dos quadrinhos com arte pintada, em especial os pioneiros Jon J. Muth e Kent Williams, responsáveis por trabalhos de uma beleza singular. Em parceria, eles produziram a poética minissérie Moonshadow, escrita por J.M. DeMatties, e a dinâmica Wolverine & Destrutor: Fusão, escrita por Walter e Louise Simonson. E Kent Williams ainda voltaria a se unir ao roteirista J.M. DeMatties para criar a intensa minissérie Blood. A excelente repercussão desses trabalhos, na segunda metade dos anos 80, levou à difusão e popularização das técnicas de pintura nas HQs tanto nos Estados Unidos quanto na Inglaterra. Como resultado, nos anos seguintes, novos artistas e trabalhos deram continuidade à boa produção de quadrinhos com arte pintada, muitos deles vindos dos outro lado do Atlântico. Alguns bons exemplos são os britânicos Simon Bisley com a série Sláine, Dave McKean com Orquídea Negra e Duncan Fegredo com Kid Eternity.
Mas a trajetória dos quadrinhos com arte pintada não pára por aí, como veremos a seguir. Para os interessados, todas as edições citadas neste texto valem ser conferidas e podem ser encontradas em sebos e lojas virtuais.
4 comentários:
Realmente, estes trabalhos tiveram um impacto tremendamente positivo no fator de elevar a expressão dos quadrinhos - mesmo enquanto mera diversão - á um degrau mais elevado. Temas mais elaborados, mais próximos de nossa realidade e vivência, mesmo que exteorizando nossos arquétipos.
Olá contos sérios,
Por esses e outro motivos, aquele foi relamente um momento fantástico para os quadrinhos norte-americanos. Uma época de amadurecimento e possibilidades incríveis. Muito disso se perdeu nas últimas décadas, infelizmente, mas alguns efeitos continuam.
Abraço e obrigado pelo comentário!
Sou um viciado e eterno colecionador de gibis de arte pintada; Pra mim a melhor de todas é sem dúvida a mini série Wolverine e Destrutor que une uma trama fantástica com a arte de dois dos maiores pintores de HQ. Parabéns pela matéria, pois não existem muitas em lingua portuguesa falando sobre esse assunto.
Olá Bruno,
Legal que tenha gostado do texto! Pretendo ainda escrever um "Quadrinhos com arte pintada (III)".
Também gosto de Fusão, mas acho que talvez minha preferida seja Ás Inimigo do George Pratt.
Grande abraço e volte sempre!
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