21/12/2007
O exagero visual nos quadrinhos de super-heróis.
Uma das características dos quadrinhos é sua capacidade de estar em frequente transformação, com novos artistas e estilos que surgem. Contudo, nem sempre a qualidade é mantida e, às vezes, acontecem até retrocessos. Quando foi lançada em 1982, a minissérie Wolverine, desenhada por Frank Miller, representou uma inovação na narrativa e na ação dos quadrinhos de super-heróis. As páginas da HQ traziam enquadramentos e sequências revolucionários para a época, mostrando influências cinematográficas e do mangá Lobo Solitário (de Kazuo Koike e Gozeki Kojima).
Algum tempo atrás, ao fazer uma "investigação arqueológica" em minha coleção de revistas, em busca de antigos trabalhos de Miller, encontrei as edições dessa minissérie. Ao folhear as revistas, porém, tive uma surpresa, pois elas não tiveram para mim o mesmo impacto de antes. É claro que as páginas de desenho não haviam se alterado com o tempo. Na verdade, minha percepção dos quadrinhos de super-heróis é que havia se modificado; ou melhor, os recursos utilizados por Miller (que tinham causado tanto impacto anos antes) já haviam sido assimilados, imitados e repetidos, ao ponto do esgotamento, com a avalanche de revistas que vieram depois.
O fato é que, entre os anos 80 e 90, os quadrinhos norte-americanos experimentaram uma intensificação visual, cujas principais características eram as chamadas “imagens de impacto” e a narrativa fragmentada (algo que chegou a um extremo nas publicações da Image Comics). A maioria das revistas de super-heróis da época simplesmente se adaptou para preservar o público e atrair novos leitores. E uma vez que os desenhos e enquadramentos de antes já não impressionavam mais, era preciso buscar meios de causar cada vez mais impacto (devido à deficiência dos roteiros em geral).
Assim, as páginas das HQs transformaram-se então num verdadeiro emaranhado de traços e rabiscos, com poses e figuras exageradas, onde misturam-se hiper-super-heróis, guerreiros de dois metros de altura, vilões "tecnolóides" e alienígenas das mais diversas cores e espécies. Todo esse pandemônio visual teve como uma de suas fontes de influência principais os quadrinhos e desenhos animados japoneses (bem como a velocidade vertiginosa da estética do videoclip). É claro que a influência dos mangás e animes em si não é negativa, tendo sido inicialmente até renovadora (como foi o caso dos trabalhos de Miller nos anos 90). O problema, contudo, estava em como aqueles elementos foram empregados nas HQs de super-heróis.
Os principais responsáveis por essa transformação foram Todd McFarlane, Jim Lee e o pouco talentoso Rob Liefeld, que agitaram o mercado norte-americano, com revistas produzidas para a Marvel. O sucesso desses desenhistas foi tanto que, em 1992, eles deixaram a editora do Homem-Aranha para fundar a Image Comics. Como o próprio nome indicava, em sua fase inicial, a nova editora privilegiava somente as imagens. O principal problema então foi uma crescente padronização de estilos, quando os novos desenhistas que surgiam não traziam nada de novo, sendo apenas cópias de Lee e McFarlane, ou pior ainda: cópias do incompetente Liefeld. Toda aquela superexploração visual levou ao desgaste e a uma profunda crise criativa nos quadrinhos norte-americanos, da qual ainda percebemos efeitos até hoje.
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