Em histórias que misturam erotismo, violência e cenários decadentes, o italiano Paolo Serpieri deu vida a Druuna, uma belíssima morena que em pouco tempo conquistou uma legião de admiradores. Com grande domínio das técnicas de pintura e um estilo inconfundível, Serpieri é um apologista da forma feminina, que não poupa elogios às mulheres brasileiras. Em uma breve visita a Belo Horizonte (MG) em 1997, Serpieri foi um dos principais convidados da 3ª Bienal Internacional de Quadrinhos. Na ocasião, tive a oportunidade de fazer uma entrevista, na qual falamos de seu trabalho, de seus mundos decadentes e de sua paixão pela personagem Druuna, que ele uma vez disse ser “muito brasileira”.
Na década de 70, os quadrinhos europeus de ficção e fantasia conquistaram o mundo, influenciando o surgimento de revistas como a Heavy Metal. Hoje o senhor publica seus trabalhos nessa revista. Qual a relação de seus quadrinhos com aqueles dos anos 70?
Nos anos 70, eu trabalhava com quadrinhos de faroeste e pensava que meu desenho não tinha muito a ver com a ficção científica. Eu tinha resistência ao desenho geométrico, certinho, tecnológico da FC. Mas a fantasia e a ficção dos quadrinhos publicados na Metal Hurlant me fascinavam muito. Como eu ainda tinha muitas histórias para contar com o faroeste, comecei a fundir este gênero com a fantasia. Só depois, nos anos 80, eu cheguei à ficção científica. Fiquei muito impressionado com Alien e Blade Runner de Ridley Scott; aí comecei a fazer uma história em que aparece a deterioração do mundo tecnológico. Quando comecei a desenhar essa história não pensei numa personagem protagonista, mas foi aí que surgiu a Druuna.
O que é a Druuna para o senhor? Ela corresponde a seu ideal de mulher?
Enquanto personagem, Druuna surgiu como minha concepção de uma mulher sensual. Ela representa o erotismo e a sensualidade. Mas é como se ela fosse uma mulher que você poderia encontrar, ela é viva, atual, palpável. É como se você pudesse tocá-la, por isso utilizo essa plasticidade nos desenhos e nas formas. Eu a inseri em um mundo em decomposição para criar um contraste entre um corpo perfeito de mulher, que remete à vida e prazer, e o ambiente em decomposição. Em suas histórias, Druuna também aparece em um mundo onírico, realizando uma fuga, da morte e da dor, através do prazer. Meu trabalho responde a uma necessidade pessoal.
Em suas obras o senhor emprega a pintura como recurso técnico. Como o senhor vê a relação entre a arte e os quadrinhos?
Eu faço pinturas há muito tempo, antes de fazer quadrinhos. Uso a cor para criar o ambiente, a atmosfera, o estado da alma. Não me interessa a cor simplesmente como estética, mas a cor como expressão. Há muita polêmica se o quadrinho é, ou não, uma arte. Acho que qualquer atividade criativa pode chegar à arte, mas isso não quer dizer que todos os quadrinhos são artísticos.
Comparado a outros quadrinhos eróticos europeus, Druuna parece uma personagem mais passiva e o ambiente de suas histórias é mais sombrio. Isto tem a ver com sua percepção pessoal do mundo?
Tenho uma visão pessimista do futuro, mesmo quando faço coisas positivas. Druuna parece ser sempre uma vítima, mas na realidade ela sempre vence. Ela representa uma alternativa à morte, representa o prazer.
A discussão sobre o que é erotismo e o que é pornografia é um tema recorrente. O senhor estabelece uma diferença entre eles? As aventuras de Druuna são eróticas ou pornográficas?
Eu penso que a pornografia é a representação do ato sexual. Tanto pode ser chata quanto pode ser excitante. Não entendo quando as pessoas se escandalizam com a representação do ato sexual, que é algo belo. Por sua vez, o erotismo pode ser muito fascinante. Há toda uma série de situações e elementos que se referem ao ato sexual. Chamo de erotismo um olhar de uma bela mulher, um vestido transparente, o movimento dos seios. Para alguns o erotismo é nobre e a pornografia é vulgar; muitas vezes isso é hipocrisia de quem tem medo do prazer. Vou dizer algo perigoso: o erotismo é muito hipócrita e parece muito nobre pois se pensa que o ato sexual é algo vulgar.
A Itália já nos presenteou com brilhantes viajantes e descobridores de novos mundos, como Marco Polo e Hugo Pratt. O senhor acha que nos dias de hoje ainda restam mundos a serem descobertos?
Não, não naquele sentido. Hoje, cada um deve descobrir o seu mundo. Muitas vezes a aventura de buscar novos mundos leva você a descobrir a si mesmo. A idéia da busca por um novo mundo é uma viagem em direção ao incógnito, em busca da felicidade, do paraíso. A conquista do espaço é uma dessas viagens em direção ao incógnito.
Na década de 70, os quadrinhos europeus de ficção e fantasia conquistaram o mundo, influenciando o surgimento de revistas como a Heavy Metal. Hoje o senhor publica seus trabalhos nessa revista. Qual a relação de seus quadrinhos com aqueles dos anos 70?
Nos anos 70, eu trabalhava com quadrinhos de faroeste e pensava que meu desenho não tinha muito a ver com a ficção científica. Eu tinha resistência ao desenho geométrico, certinho, tecnológico da FC. Mas a fantasia e a ficção dos quadrinhos publicados na Metal Hurlant me fascinavam muito. Como eu ainda tinha muitas histórias para contar com o faroeste, comecei a fundir este gênero com a fantasia. Só depois, nos anos 80, eu cheguei à ficção científica. Fiquei muito impressionado com Alien e Blade Runner de Ridley Scott; aí comecei a fazer uma história em que aparece a deterioração do mundo tecnológico. Quando comecei a desenhar essa história não pensei numa personagem protagonista, mas foi aí que surgiu a Druuna.
O que é a Druuna para o senhor? Ela corresponde a seu ideal de mulher?
Enquanto personagem, Druuna surgiu como minha concepção de uma mulher sensual. Ela representa o erotismo e a sensualidade. Mas é como se ela fosse uma mulher que você poderia encontrar, ela é viva, atual, palpável. É como se você pudesse tocá-la, por isso utilizo essa plasticidade nos desenhos e nas formas. Eu a inseri em um mundo em decomposição para criar um contraste entre um corpo perfeito de mulher, que remete à vida e prazer, e o ambiente em decomposição. Em suas histórias, Druuna também aparece em um mundo onírico, realizando uma fuga, da morte e da dor, através do prazer. Meu trabalho responde a uma necessidade pessoal.
Em suas obras o senhor emprega a pintura como recurso técnico. Como o senhor vê a relação entre a arte e os quadrinhos?
Eu faço pinturas há muito tempo, antes de fazer quadrinhos. Uso a cor para criar o ambiente, a atmosfera, o estado da alma. Não me interessa a cor simplesmente como estética, mas a cor como expressão. Há muita polêmica se o quadrinho é, ou não, uma arte. Acho que qualquer atividade criativa pode chegar à arte, mas isso não quer dizer que todos os quadrinhos são artísticos.
Comparado a outros quadrinhos eróticos europeus, Druuna parece uma personagem mais passiva e o ambiente de suas histórias é mais sombrio. Isto tem a ver com sua percepção pessoal do mundo?
Tenho uma visão pessimista do futuro, mesmo quando faço coisas positivas. Druuna parece ser sempre uma vítima, mas na realidade ela sempre vence. Ela representa uma alternativa à morte, representa o prazer.
A discussão sobre o que é erotismo e o que é pornografia é um tema recorrente. O senhor estabelece uma diferença entre eles? As aventuras de Druuna são eróticas ou pornográficas?
Eu penso que a pornografia é a representação do ato sexual. Tanto pode ser chata quanto pode ser excitante. Não entendo quando as pessoas se escandalizam com a representação do ato sexual, que é algo belo. Por sua vez, o erotismo pode ser muito fascinante. Há toda uma série de situações e elementos que se referem ao ato sexual. Chamo de erotismo um olhar de uma bela mulher, um vestido transparente, o movimento dos seios. Para alguns o erotismo é nobre e a pornografia é vulgar; muitas vezes isso é hipocrisia de quem tem medo do prazer. Vou dizer algo perigoso: o erotismo é muito hipócrita e parece muito nobre pois se pensa que o ato sexual é algo vulgar.
A Itália já nos presenteou com brilhantes viajantes e descobridores de novos mundos, como Marco Polo e Hugo Pratt. O senhor acha que nos dias de hoje ainda restam mundos a serem descobertos?
Não, não naquele sentido. Hoje, cada um deve descobrir o seu mundo. Muitas vezes a aventura de buscar novos mundos leva você a descobrir a si mesmo. A idéia da busca por um novo mundo é uma viagem em direção ao incógnito, em busca da felicidade, do paraíso. A conquista do espaço é uma dessas viagens em direção ao incógnito.
6 comentários:
Aaaah, Druuna...
Estou lendo Estórias Gerais, muito bom!
Legal, Luis! Tem um texto aqui no blog falando dos 10 anos do álbum. Boas leituras e valeu!
Bem legal a entrevista cara!
Obrigado por compartilhar!
Legal que gostou, Suco!
Já valeu então ter publicado.
E há outras entrevistas espalhadas aí pelo blog. É só clicar no marcador ENTREVISTAS.
Grande abraço!
Olá Wellington, parabéns pela ótima entrevista. Em breve publicaremos em nosso blog um texto sobre Alien, o Oitavo Passageiro e pretendemos utilizar um pequeno trecho desta entrevista em uma parte em que falamos sobre a repercussão do filme sobre grandes artistas como Serpieri. Colocarei também um link para que nossos leitores possam conferir a entrevista na íntegra no seu blog.
Beleza, Tiago, colocando o link e dando os créditos não tem problema.
Abraço!
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