16/06/2008

Astro City: histórias e personagens de uma cidade fictícia.


Cidades fictícias são um lugar-comum nos quadrinhos norte-americanos (basta lembrarmos de Gotham City, Central City ou Patópolis). Uma das metrópoles inventadas a figurar nas páginas dos comics atualmente é Astro City, que dá nome à série criada em 1995 por Kurt Busiek, Alex Ross e Brent Anderson. Trazendo personagens inspirados nos super-heróis da Marvel e DC Comics, essa HQ incorpora elementos de ficção científica e fantasia, além de alguns referenciais históricos.

É exatamente isso que vemos em Astro City: Samaritano Especial e Outras Histórias, encadernado que reúne duas edições lançadas anteriormente pela Pixel (Bem-Vindo a Astro City e A Primeira Família). Uma história curta, várias páginas do "Guia do Visitante", uma história maior com a origem do vilão Infiel e duas HQs estrelando a Primeira Família compõem a edição que tem capa de Alex Ross. Dispensável, obviamente, para quem já comprou as revistas em separado, este encadernado pode ser uma boa opção para quem queira fazer uma primeira visita ao “universo” de Astro City.

Após um texto de boas-vindas do prefeito, o leitor é conduzido por oito páginas de um passeio turístico pelos subterrâneos da cidade. O que vem a seguir são vinte e nove páginas de um dossiê histórico e biográfico com informações sobre as primeiras décadas e alguns dos principais heróis de Astro City. Na HQ maior a seguir, o leitor fica conhecendo a história do vilão Infiel e os motivos de sua animosidade com relação ao herói Samaritano. O melhor do volume fica para o final, com as aventuras da Primeira Família, que destacam a heroína-mirim Astra e promovem uma janela para o passado do grupo de heróis. Porém, embora tenha conquistado um número razoável de leitores, podemos dizer que em termos técnicos e artísticos Astro City não é nenhuma obra-prima.

Mesmo trazendo alguns momentos interessantes, os roteiros de Kurt Busiek deixam a desejar quanto à inventividade (além de derraparem em estereótipos raciais e historicismos superficiais). Quanto aos desenhos, o trabalho de Brent Anderson & Cia. é um tanto irregular, variando entre momentos mais eficientes e outros apenas aceitáveis. Ainda quanto ao visual, o melhor tende a ficar por conta das capas pintadas por Alex Ross (que não se mostra especialmente inspirado na capa escolhida pela Pixel para este encadernado). O volume traz também vários desenhistas convidados que emprestam diferentes técnicas e estilos à galeria de personagens de Astro City (mas que não mostram nada muito excepcional).

Os maiores problemas de Astro City são se tratar de um trabalho excessivamente derivado de outras HQs e o fato de ter entrado num filão com outras séries bem mais interessantes. É inegável, por exemplo, a influência de Watchmen de Alan Moore e Dave Gibbons, na recriação de antigos personagens, com uma roupagem e num ambiente mais realista. Também percebemos, na incorporação de lugares-comuns dos quadrinhos de super-heróis e na utilização de informações científicas e culturais, traços das concepções de Miracleman e 1963. Por outro lado, Astro City poderia ocupar um lugar de maior destaque, se não fossem trabalhos semelhantes, mas mais inteligentes e elaborados, como a Linha ABC do próprio Alan Moore e Planetary de Warren Ellis e John Cassaday.

Para quem curte quadrinhos de super-heróis, a série de Busiek, Ross e Anderson pode ser, no entanto, uma melhor opção que as muito batidas HQs da Marvel e DC Comics. Para quem quiser experimentar, Astro City: Samaritano Especial e Outras Histórias (128 páginas, formato 25,5 cm x 16,5 cm, R$15,90) é uma boa porta de entrada para mais essa cidade de papel e fantasia.

10 comentários:

Unknown disse...

É verdade.

Eu acho que Astro City apesar de não ser das mais originais traz "sangue novo" para o mundo dos super-heróis, pelo forma que retrata os mesmos.

Comprei esse encadernado hj e ainda não li, mas fiz um post dias atrás sobre a série lançada anteriormente pela Pandora.

http://offtopicsandfun.blogspot.com/2008/06/astro-city.html

[]s

Wellington Srbek disse...

Eu acho que nem chega a trazer muito sangue-novo, Marcelo.

Anônimo disse...

Acho que vou 'arriscar' e comprar Astro City, mesmo sabendo que, de modo geral, pode-se dizer que esse seja um trabalho meio clichê. Porém, só o farei após comprar a coletânea "100 Balas", que entrou na lista primeiro.

Enfim, eu estava devendo um comentário aqui no blog. Sou a Cleonice, aluna (apaixonada por Sandman e Watchmen) que participou do Mini-curso ministrado por você na PUC-Betim.

Wellington Srbek disse...

Claro que lembro de você, Cleonice!
Acho que vale arriscar com Astro City. Queria também sugerir que dê uma olhada nos link MEUS QUADRINHOS ao lado, pois alguns de meus trabalhos como roteirista e editor podem te interessar.
Bom, continue visitando o blog, pois futuramente teremos textos especiais sobre Sandman e Watchmen.
Grande abraço!

oieuoi disse...

Concordo com o que você disse sobre Astro city.Eu inclusive quando os li tive as mesmas impressões quanto aos desenhistas.
Abs,
Zerramos

Wellington Srbek disse...

Legal, José!
Aguarde novas resenhas dos lançamentos da Pixel para breve.
Abraço!

Amalio Damas disse...

Outro problema com Astro City e outras séries lançadas no Brasil é a falta de continuidade. Apesar de serem histórias soltas, deveriam ser lançadas como no original. De resto, suas observações são corretas.

Wellington Srbek disse...

De fato, nos últimos anos, houve muita desorganização e incompetência na publicação no Brasil de quadrinhos norte-amerinos.
Mas isso se torna insignificante, se comparado ao quase total descaso com relação à produção brasileira de quadrinhos - à qual, na verdade, o mercado brasileiro de quadrinhos deveria ser prioritariamente voltado. Não nos falta talento. Não falta vontade de trabalhar. O que falta é coragem por parte dos editores.

Amalio Damas disse...

Existe também uma falta de interesse do próprio consumidor brasileiro. Temos ótimos artistas, porém as vendas ditam o rumo dos negócios. Em muitos casos, não falta apenas coragem, falta dinheiro também. Talvez com o crescimento da Ediouro e suas recentes aquisições, esse panorama pode mudar. Oremos!

Wellington Srbek disse...

Sem dúvida, a indiferença (e até o preconceito) de grande parte dos leitores brasileiros com relação ao quadrinho brasileiro é algo lastimável.
Mas, Amálio, sinceramente, não falta dinheiro aos editores para investir em quadrinhos brasileiros. Falta vontade e estratégia, pois enquanto só tivermos quadrinhos autorias brasileiros publicados em forma de álbum, não teremos uma produção sustentável que dê emprego a um monte de gente (como eu). E o fato é que, quando tratado de forma competente, o quadrinho brasileiro vende sim. Afinal, a Turma da Mônica não é a campeã de vendas no nosso mercado?
Acho que vou fazer uma postagem sobre a situação do quadrinho brasileiro, qualquer dia desses.