No Brasil, tornou-se comum a edição das HQs norte-americanas em publicações com mais de uma história e diferentes séries a cada mês (diferente do país de origem, onde os comic books trazem geralmente apenas uma aventura por número). As chamadas “revistas mix” ou “antologias de quadrinhos” consolidaram-se nos tempos dos formatinhos da Abril, sendo hoje utilizadas nas edições mensais da Panini para os super-heróis Marvel e DC. Mas não há dúvida de que, em termos de qualidade, a melhor revista mensal do momento é a Pixel Magazine.
Publicação que reúne algumas das principais séries das linhas Vertigo, Wildstorm e ABC, a revista mensal da Pixel Media completou há pouco um ano de circulação e sucesso comercial. Tanto que, a partir deste mês, ela ganhará uma irmã e concorrente (a Fábulas Pixel), passando por uma reformulação em seu elenco de séries. Alguns leitores manifestaram insatisfação com parte das mudanças anunciadas no blog da editora, mas só o tempo poderá dizer qual efeito elas terão. E enquanto a nova fase não vem, os números 12 e 13 da Pixel Magazine deram uma boa mostra do porquê ela merece nosso aplauso. As duas edições mais recentes da revista trouxeram uma escalação de séries semelhante: Monstro do Pântano e Hellblazer (da Vertigo), Planetary (da Wildstorm) e Promethea (da ABC).
Na capa do número 12, os leitores são convidados a uma aterrorizante viagem aos pântanos da Luisiana, levados pelo traço inconfundível de Richard Corben. O desenhista que ficou conhecido internacionalmente pelas páginas da Heavy Metal ilustra uma história escrita por Will Pfeifer, repleta de referências a seres da mitologia popular (como o Pé-Grande e o Monstro de Lock Ness). Muito bem narrada e utilizando de forma original o universo da criptozoologia (o desacreditado “estudo de animais ocultos”), essa HQ foi a melhor de toda a nova série Swamp Thing lançada nos Estados Unidos em 2004. Trata-se, porém, de uma história em duas partes e sua continuação, publicada na Pixel Magazine n°13, não tem a mesma força narrativa, perdendo-se em personagens secundários e subtramas sobrenaturais. Mas seguramente os desenhos de Corben continuam valendo a leitura.
Já Hellblazer traz os primeiros capítulos de uma nova história, escrita por Brian Azzarello e desenhada por Marcelo Frusin. No primeiro deles, recém-saído da cadeia John Constantine pega carona para um fim-de-mundo. Má companhia como sempre, o mago londrino faz um incauto motorista suar frio. Então, mais uma vez a sincronicidade coloca o personagem no lugar certo na hora certa para fazer o que deve ser feito. Com um roteiro bem estruturado (que se vale dos diálogos para construir uma tensão crescente), a HQ cumpre sua promessa de um bom desfecho. No capítulo seguinte, publicado na Pixel Magazine n°13, Constantine chega a uma encruzilhada, na qual questões mal resolvidas no passado podem determinar seu futuro. Repletos de crime e cotidiano, os dois capítulos parecem um híbrido de Hellblazer e 100 Balas, não apenas pelo roteiro de Azzarello, como também pelos desenhos contrastados de Frusin.
Quanto a Planetary, é a vez das edições 24 e 25 da cultuada série. Na primeira delas, Snow, Jakita e Baterista vêm ao “Brasil” em sua busca pela verdade sobre Os Quatro. Numa HQ que abre com o Cristo Redentor e mostra no próximo quadro a rua de um Rio de Janeiro um tanto hispânico, o fundamental são os diálogos que ajudam a montar o quebra-cabeça Planetary. Claro que, em se tratando de um roteiro de Warren Ellis, não poderia faltar uma carnificina no fim (que dessa vez custa a vida de alguns “brasileiros”). Na edição seguinte, os Arqueólogos do Impossível vão à caça do agente secreto John Snow, com direito a bastante pancadaria e à origem de Os Quatro revelada. Tendo conquistado os leitores com suas tramas de conspiração, citações à cultura pop e elementos de ficção científica, Planetary deve grande parte de seu sucesso ao competentíssimo desenhista John Cassaday, em grande estilo nessas edições.
Para completar os números 12 e 13 da Pixel Magazine, temos os capítulos 9 e 10 da série Promethea. No primeiro, a semideusa de Imatéria parte para um confronto direto com o Templo, em mais um bom roteiro de Alan Moore com ótimos desenhos de J.H. Williams III e Mick Gray. Mas o melhor fica para a edição seguinte, que traz na capa uma ilustração parafraseando o álbum Srt. Pepper’s dos Beatles e a fantástica história “Sexo, Estrelas & Serpentes” (ganhadora do prêmio Eisner de Melhor Edição Individual do ano 2000). Uma belíssima composição de misticismo, erotismo e quadrinhos, a HQ é ao mesmo tempo um banquete para os olhos e um deleite para a mente. Um trabalho único que consegue ser, ao mesmo tempo, profundamente culta e deliciosamente excitante. Em resumo, uma obra-prima!
No geral com uma boa seleção de histórias e desenhos, 96 páginas e vendida atualmente ao preço de R$10,90, a Pixel Magazine também se destaca pelos detalhes editoriais. Se é a história de capa que abre cada edição, os leitores não deixam de conhecer as ilustrações das capas das demais histórias, sempre reproduzidas no interior da revista. Além disso, há os textos introdutórios ou explicativos que ajudam a situar os leitores na trama (num trabalho bastante eficiente do editor Cassius Medauar). Para arrematar, temos a ótima qualidade de impressão da revista, que reproduz com fidelidade as cores das páginas originais. Assim, por todos os motivos apresentados aqui, Pixel Magazine é a melhor revista mensal publicada no Brasil atualmente. Pode-se argumentar que, com a mesmice Marvel e DC publicada pela Panini, ser a “melhor” não é uma tarefa muito difícil. Mas, independentemente da fraca concorrência, a maior virtude da Pixel Magazine fala por si só: a de ser uma revista que trata os leitores como seres pensantes. Que continue assim por muitos meses mais!
Publicação que reúne algumas das principais séries das linhas Vertigo, Wildstorm e ABC, a revista mensal da Pixel Media completou há pouco um ano de circulação e sucesso comercial. Tanto que, a partir deste mês, ela ganhará uma irmã e concorrente (a Fábulas Pixel), passando por uma reformulação em seu elenco de séries. Alguns leitores manifestaram insatisfação com parte das mudanças anunciadas no blog da editora, mas só o tempo poderá dizer qual efeito elas terão. E enquanto a nova fase não vem, os números 12 e 13 da Pixel Magazine deram uma boa mostra do porquê ela merece nosso aplauso. As duas edições mais recentes da revista trouxeram uma escalação de séries semelhante: Monstro do Pântano e Hellblazer (da Vertigo), Planetary (da Wildstorm) e Promethea (da ABC).
Na capa do número 12, os leitores são convidados a uma aterrorizante viagem aos pântanos da Luisiana, levados pelo traço inconfundível de Richard Corben. O desenhista que ficou conhecido internacionalmente pelas páginas da Heavy Metal ilustra uma história escrita por Will Pfeifer, repleta de referências a seres da mitologia popular (como o Pé-Grande e o Monstro de Lock Ness). Muito bem narrada e utilizando de forma original o universo da criptozoologia (o desacreditado “estudo de animais ocultos”), essa HQ foi a melhor de toda a nova série Swamp Thing lançada nos Estados Unidos em 2004. Trata-se, porém, de uma história em duas partes e sua continuação, publicada na Pixel Magazine n°13, não tem a mesma força narrativa, perdendo-se em personagens secundários e subtramas sobrenaturais. Mas seguramente os desenhos de Corben continuam valendo a leitura.
Já Hellblazer traz os primeiros capítulos de uma nova história, escrita por Brian Azzarello e desenhada por Marcelo Frusin. No primeiro deles, recém-saído da cadeia John Constantine pega carona para um fim-de-mundo. Má companhia como sempre, o mago londrino faz um incauto motorista suar frio. Então, mais uma vez a sincronicidade coloca o personagem no lugar certo na hora certa para fazer o que deve ser feito. Com um roteiro bem estruturado (que se vale dos diálogos para construir uma tensão crescente), a HQ cumpre sua promessa de um bom desfecho. No capítulo seguinte, publicado na Pixel Magazine n°13, Constantine chega a uma encruzilhada, na qual questões mal resolvidas no passado podem determinar seu futuro. Repletos de crime e cotidiano, os dois capítulos parecem um híbrido de Hellblazer e 100 Balas, não apenas pelo roteiro de Azzarello, como também pelos desenhos contrastados de Frusin.
Quanto a Planetary, é a vez das edições 24 e 25 da cultuada série. Na primeira delas, Snow, Jakita e Baterista vêm ao “Brasil” em sua busca pela verdade sobre Os Quatro. Numa HQ que abre com o Cristo Redentor e mostra no próximo quadro a rua de um Rio de Janeiro um tanto hispânico, o fundamental são os diálogos que ajudam a montar o quebra-cabeça Planetary. Claro que, em se tratando de um roteiro de Warren Ellis, não poderia faltar uma carnificina no fim (que dessa vez custa a vida de alguns “brasileiros”). Na edição seguinte, os Arqueólogos do Impossível vão à caça do agente secreto John Snow, com direito a bastante pancadaria e à origem de Os Quatro revelada. Tendo conquistado os leitores com suas tramas de conspiração, citações à cultura pop e elementos de ficção científica, Planetary deve grande parte de seu sucesso ao competentíssimo desenhista John Cassaday, em grande estilo nessas edições.
Para completar os números 12 e 13 da Pixel Magazine, temos os capítulos 9 e 10 da série Promethea. No primeiro, a semideusa de Imatéria parte para um confronto direto com o Templo, em mais um bom roteiro de Alan Moore com ótimos desenhos de J.H. Williams III e Mick Gray. Mas o melhor fica para a edição seguinte, que traz na capa uma ilustração parafraseando o álbum Srt. Pepper’s dos Beatles e a fantástica história “Sexo, Estrelas & Serpentes” (ganhadora do prêmio Eisner de Melhor Edição Individual do ano 2000). Uma belíssima composição de misticismo, erotismo e quadrinhos, a HQ é ao mesmo tempo um banquete para os olhos e um deleite para a mente. Um trabalho único que consegue ser, ao mesmo tempo, profundamente culta e deliciosamente excitante. Em resumo, uma obra-prima!
No geral com uma boa seleção de histórias e desenhos, 96 páginas e vendida atualmente ao preço de R$10,90, a Pixel Magazine também se destaca pelos detalhes editoriais. Se é a história de capa que abre cada edição, os leitores não deixam de conhecer as ilustrações das capas das demais histórias, sempre reproduzidas no interior da revista. Além disso, há os textos introdutórios ou explicativos que ajudam a situar os leitores na trama (num trabalho bastante eficiente do editor Cassius Medauar). Para arrematar, temos a ótima qualidade de impressão da revista, que reproduz com fidelidade as cores das páginas originais. Assim, por todos os motivos apresentados aqui, Pixel Magazine é a melhor revista mensal publicada no Brasil atualmente. Pode-se argumentar que, com a mesmice Marvel e DC publicada pela Panini, ser a “melhor” não é uma tarefa muito difícil. Mas, independentemente da fraca concorrência, a maior virtude da Pixel Magazine fala por si só: a de ser uma revista que trata os leitores como seres pensantes. Que continue assim por muitos meses mais!
2 comentários:
É pena que o preço seja absurdo...
Concordo que a revista não é barata (mas que quadrinho - a não ser os independentes - é barato no Brasil hoje?). Só não acho que chegue a ser "absurdo", Dedé (pela qualidade gráfica e de conteúdo da revista). Absurdo para mim são edições vendidas a R$90,00 ou R$100,00.
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