03/05/2008

Editoras investem em coletâneas com tamanho reduzido.


A arte dos quadrinhos surgiu na Europa há 181 anos, ligada ao veículo editorial dos livros, e expandiu-se comercialmente mais tarde nos Estados Unidos, através das páginas de jornais. Foi também naquele país, já na década de 1930, que os quadrinhos ganharam seu veículo mais característico: as revistas. Ao longo das décadas, os formatos editoriais variaram enormemente, seguindo tendências ou adaptando-se a particularidades locais. Entre os mais difundidos estão o comic book (ou “formato americano”), o magazine (da revista Heavy Metal) e, é claro, nossas populares revistinhas (como as da Turma da Mônica).

Nos últimos anos, tornaram-se comuns no Brasil edições de HQs norte-americanas em coletâneas com mais de cem páginas e tamanho reduzido (o que alguns leitores têm chamado jocosamente de “formato paraguaio”). O tamanho 17cm x 24cm já havia sido utilizado por aqui nas revistas de terror Kripta e Shock, tendo a vantagem de ser mais econômico, considerando-se os padrões gráficos (foi exatamente por isso que optei por ele ao lançar o álbum Muiraquitã). O que distingue os atuais volumes lançados por editoras como a Devir e a Pixel são as capas cartonadas e plastificadas, os miolos impressos em cores e papel de boa qualidade, mas sobretudo o fato de colecionarem histórias completas ou partes de séries norte-americanas.

A Devir lançou há pouco Revelações, uma HQ em seis capítulos escrita por Paul Jenkins e com desenhos de Humberto Ramos. A trama começa quando um importante cardeal comete suicídio ou é assassinado em pleno Vaticano. Para solucionar o mistério, entra em cena Charlie Northern, um incrédulo detetive inglês. Fé e política, crime e intriga mesclam-se ao longo das páginas, num roteiro com diálogos cheios de cinismo e desenhos que trazem elementos caricaturais com uma finalização em pintura digital. Para quem gosta de quadrinhos de mistério com alguns elementos sobrenaturais, Revelações pode ser uma boa pedida. Contudo, não é preciso sequer uma leitura muita atenta para perceber que se trata de um trabalho um tanto oportunista.

Afinal, o grande fenômeno editorial no Ocidente, nos últimos anos, foi exatamente um livro envolvendo histórias bíblicas, misticismo e teorias da conspiração. Em outras palavras, o trabalho de Jenkins e Ramos é um trabalho diretamente derivado de O Código Da Vinci de Dan Brown (que, em si, já não é nenhuma maravilha literária). Outro livro que parece ter tido alguma influência na origem da HQ lançada pela Devir é o (bem mais interessante) romance de mistério medieval O Nome da Rosa de Umberto Eco (ou talvez sua excelente adaptação cinematográfica, dirigida por Jean-Jacques Annaud). Mas, para quem ainda quiser dar uma conferida, Revelações tem 160 páginas que incluem uma seção de esboços, sendo vendida a R$42,00.

Outro lançamento em formato reduzido, com capa cartonada e boa impressão é Wild C.A.T.s - Guerra de Gangues, coletânea dos números 28 a 34, além de uma HQ curta da série. Criados por Jim Lee em 1992, os Wild C.A.T.s foram (ao lado dos Youngblood de Rob Liefeld) o principal grupo de “heróis” da Image Comics em seus primeiros dias. Uma espécie de versão mais violenta dos X-Men (com personagens que usam garras, lâminas, armas de fogo ou super-poderes sem dramas de consciência), a série teve ótima repercussão entre os leitores da época. Como resultado, o estúdio de Lee deu origem a toda uma linhagem de super-grupos, como Gen 13, Team 7 e Stormwatch, que em conjunto formam o que hoje se conhece por “Universo Wildstorm”.

Quanto às HQs publicadas em Guerra de Gangues, de imediato o que chama atenção é o nome do roteirista Alan Moore. Porém, quem espera encontrar uma de suas geniais histórias provavelmente irá se decepcionar. Essas edições para o Wild C.A.T.s fazem parte da fase menos criativa e interessante do roteirista, na qual ele no máximo reciclou idéias que já utilizara em trabalhos dos anos 80. Com uma intriga de fundo envolvendo grupos de heróis e criminosos assassinos, esse novo volume lançado pela Pixel traz altas doses de ação e muitos elementos de ficção científica. Por isso mesmo, o melhor de Wild C.A.T.s - Guerra de Gangues são as páginas desenhadas pelo eficiente Travis Charest. Para quem quiser conferir, a edição tem 192 páginas sendo vendida ao preço de R$36,90.

2 comentários:

Nuno Amado disse...

Esqueces o formato Franco-Belga, chamado também de "Grand Format", para mim o mais apelativo de todos.
Melhor que isto para mim, claro, só as edições "Absolute" do "grupo" DC !

Wellington Srbek disse...

Na verdade, Bongop, eu não me esqueci. O formato ao qual você se refere é chamado aqui de "álbum europeu" e ele basicamente chegou ao Brasil em edições da portuguesa Meribérica, sendo muito usado pela brasileira L&PM nos anos 80. Eu não citei esse formato porque meu texto se refere à realidade do mercado brasileiro de quadrinhos hoje, no qual predominam o "formato americano" (das revistas da Panini e da Pixel) e o "formatinho" (das revistas infantis (como as da Turma da Mônica), isso sem falar nos mangás que saem em livretos por aqui.
A novidade atual é o que os leitores têm chamado de "formato paraguaio" que são as coletâneas em tamanho reduzido que descrevo no texto. Mas cito também no texto os lançamentos em formato "magazine", que têm mais ou menos o mesmo tamanho dos "álbuns europeus", diferenciando-se pelos padrões de papel e acabamento. Abraço!