Alan Moore pode ser considerado o autor de HQs mais influente do último quarto de século. Em mais de uma ocasião (Marvelman, Monstro do Pântano, Watchmen), seus roteiros e concepções inovadores definiram os rumos dos quadrinhos ocidentais. Com poucos momentos desprezíveis em sua carreira (como a minissérie Feudo de Sangue – ARGH!), o roteirista inglês conseguiu propor uma visão interessante até mesmo para o mais inócuo dos personagens, como aconteceu com Supremo.
Supremo apareceu em 1992, numa história menor para a revista Youngblood de Rob Liefeld (de longe o pior autor a fazer sucesso na historia dos quadrinhos). Plágio descarado do Super-Homem, o personagem clicheresco e violento foi um dos muitos clones dos super-heróis da Marvel e DC, surgidos na avassaladora onda de sucesso dos primeiros anos da Image Comics. Mas, após 40 edições lastimáveis, Liefeld conseguiu contratar Alan Moore para assumir os roteiros de seu herói. A condição para isso era que o roteirista pudesse começar do zero, reescrevendo como achasse melhor toda a história de Supremo. O resultado foi algo muito melhor do que se vira até então, que transformou a série numa sincera homenagem às histórias clássicas do Homem de Aço (ao invés de simplesmente plagiá-lo).
Ao longo de sua carreira (e em especial nos últimos anos), várias vezes Moore revisitou idéias ou reaproveitou concepções que ele já havia utilizado. A série Supremo oferece uma perspectiva dupla para esse fato. Por um lado, a revisão nostálgica das HQs do Super-Homem dos anos 50 já havia sido apresentada pelo roteirista na história em duas partes “O que aconteceu ao homem do amanhã”. A incorporação de conceitos científicos aos roteiros, como elementos fundamentais da trama, também já havia aparecido em Marvelman, sem falar na utilização de elementos metalinguísticos (naquele caso a referência às histórias clássicas do Capitão Marvel). Há também a concepção de várias versões extradimensionais de um super-herói, que Moore já havia utilizado em sua temporada na série do Capitão Bretanha (publicada pela sucursal inglesa da Marvel). Para completar, a simulação de quadrinhos antigos, com a imitação de textos e desenhos dos anos 60, fôra o mote da minissérie 1963.
Por outro lado, o trabalho desenvolvido por Moore em Supremo serviu de base para várias de suas criações posteriores para a linha ABC (publicada pela DC Comics através do estúdio Wildstorm). É isso que vemos, por exemplo, nas histórias do personagem Tom Strong com seus elementos metalinguísticos (como o aparecimento de uma revista em quadrinhos do personagem dentro da própria HQ) e o uso de diferentes desenhistas para marcar a representação do mesmo herói em épocas diferentes (variando de acordo com o estilo de desenho predominante na época em questão). Talvez mais significativo ainda seja a construção de roteiros inteiros a partir da história dos quadrinhos norte-americanos, como vemos na própria série Tom Strong, mas também em Promethea e Contos do Amanhã (com destaque para a aventura do grupo America’s Best para a revista Tomorrow Stories Special n°2, desenhada por Rick Veitch em estilo antigo e "envelhecida" com margens amareladas e manchas).
Todos esses elementos e algo mais estão presentes em Supremo: A Era de Bronze, terceiro volume de uma série de quatro livros editados pela Devir. Com 168 páginas coloridas, capa cartonada e formato 16,5cm x 24cm, a edição traz cinco capítulos, páginas de esboços, a versão alternativa para uma das HQs, uma seção de tiras “dos anos 50”, um pôster, algumas ilustrações e uma introdução escrita pelo editor Leandro Luigi Del Manto. O volume traz desenhos de Chris Sprouse, Rick Veitch e Melinda Gebbie (que trabalhariam mais tarde nas séries Tom Strong, Greyshirt e Cobweb, respectivamente), além do veterano Gil Kane. As histórias mostram o desenhista de quadrinhos Ethan Crane vestindo a capa do “Maestro de Marfim” para enfrentar as mais diversas ameaças extradimensionais e transtemporais.
Um duende saído da décima nona dimensão, o drama da "eterna namorada" de Supremo, uma inadvertida alteração da história dos Estados Unidos e o ataque de seus piores vilões são os desafios que o herói tem que vencer (numa sequência de HQs que termina com a participação especial de Bill e Hillary Clinton). É claro que, no fim, Supremo vence todos os desafios (embora não fique com a mocinha...). Mas o interessante mesmo são as várias referências e recriações da chamada “mitologia do Super-Homem”, em que não faltam uma Cidadela Suprema (que faz as vezes da Fortaleza da Solidão), o Inferno dos Espelhos (no lugar da Zona Fantasma) ou uma Liga do Infinito (que substitui a Legião dos Super-Heróis). Para completar, destacam-se os ótimos desenhos de Chris Sprouse (para as sequências atuais) e Rick Veitch (para as seções nostalgia).
Supremo: A Era de Bronze custa R$ 45,00, sendo uma boa pedida para quem leu A Era de Ouro e A Era de Prata (e com a promessa de que o volume final da série será lançado pela Devir ainda este ano). As primeiras HQs de Tom Strong também foram publicadas no Brasil pela Devir e as novas edições com o personagem saem agora pela Pixel, como aliás as demais séries da Linha ABC. Para saber mais sobre os quadrinhos de Alan Moore, clique no nome em destaque abaixo.
Supremo apareceu em 1992, numa história menor para a revista Youngblood de Rob Liefeld (de longe o pior autor a fazer sucesso na historia dos quadrinhos). Plágio descarado do Super-Homem, o personagem clicheresco e violento foi um dos muitos clones dos super-heróis da Marvel e DC, surgidos na avassaladora onda de sucesso dos primeiros anos da Image Comics. Mas, após 40 edições lastimáveis, Liefeld conseguiu contratar Alan Moore para assumir os roteiros de seu herói. A condição para isso era que o roteirista pudesse começar do zero, reescrevendo como achasse melhor toda a história de Supremo. O resultado foi algo muito melhor do que se vira até então, que transformou a série numa sincera homenagem às histórias clássicas do Homem de Aço (ao invés de simplesmente plagiá-lo).
Ao longo de sua carreira (e em especial nos últimos anos), várias vezes Moore revisitou idéias ou reaproveitou concepções que ele já havia utilizado. A série Supremo oferece uma perspectiva dupla para esse fato. Por um lado, a revisão nostálgica das HQs do Super-Homem dos anos 50 já havia sido apresentada pelo roteirista na história em duas partes “O que aconteceu ao homem do amanhã”. A incorporação de conceitos científicos aos roteiros, como elementos fundamentais da trama, também já havia aparecido em Marvelman, sem falar na utilização de elementos metalinguísticos (naquele caso a referência às histórias clássicas do Capitão Marvel). Há também a concepção de várias versões extradimensionais de um super-herói, que Moore já havia utilizado em sua temporada na série do Capitão Bretanha (publicada pela sucursal inglesa da Marvel). Para completar, a simulação de quadrinhos antigos, com a imitação de textos e desenhos dos anos 60, fôra o mote da minissérie 1963.
Por outro lado, o trabalho desenvolvido por Moore em Supremo serviu de base para várias de suas criações posteriores para a linha ABC (publicada pela DC Comics através do estúdio Wildstorm). É isso que vemos, por exemplo, nas histórias do personagem Tom Strong com seus elementos metalinguísticos (como o aparecimento de uma revista em quadrinhos do personagem dentro da própria HQ) e o uso de diferentes desenhistas para marcar a representação do mesmo herói em épocas diferentes (variando de acordo com o estilo de desenho predominante na época em questão). Talvez mais significativo ainda seja a construção de roteiros inteiros a partir da história dos quadrinhos norte-americanos, como vemos na própria série Tom Strong, mas também em Promethea e Contos do Amanhã (com destaque para a aventura do grupo America’s Best para a revista Tomorrow Stories Special n°2, desenhada por Rick Veitch em estilo antigo e "envelhecida" com margens amareladas e manchas).
Todos esses elementos e algo mais estão presentes em Supremo: A Era de Bronze, terceiro volume de uma série de quatro livros editados pela Devir. Com 168 páginas coloridas, capa cartonada e formato 16,5cm x 24cm, a edição traz cinco capítulos, páginas de esboços, a versão alternativa para uma das HQs, uma seção de tiras “dos anos 50”, um pôster, algumas ilustrações e uma introdução escrita pelo editor Leandro Luigi Del Manto. O volume traz desenhos de Chris Sprouse, Rick Veitch e Melinda Gebbie (que trabalhariam mais tarde nas séries Tom Strong, Greyshirt e Cobweb, respectivamente), além do veterano Gil Kane. As histórias mostram o desenhista de quadrinhos Ethan Crane vestindo a capa do “Maestro de Marfim” para enfrentar as mais diversas ameaças extradimensionais e transtemporais.
Um duende saído da décima nona dimensão, o drama da "eterna namorada" de Supremo, uma inadvertida alteração da história dos Estados Unidos e o ataque de seus piores vilões são os desafios que o herói tem que vencer (numa sequência de HQs que termina com a participação especial de Bill e Hillary Clinton). É claro que, no fim, Supremo vence todos os desafios (embora não fique com a mocinha...). Mas o interessante mesmo são as várias referências e recriações da chamada “mitologia do Super-Homem”, em que não faltam uma Cidadela Suprema (que faz as vezes da Fortaleza da Solidão), o Inferno dos Espelhos (no lugar da Zona Fantasma) ou uma Liga do Infinito (que substitui a Legião dos Super-Heróis). Para completar, destacam-se os ótimos desenhos de Chris Sprouse (para as sequências atuais) e Rick Veitch (para as seções nostalgia).
Supremo: A Era de Bronze custa R$ 45,00, sendo uma boa pedida para quem leu A Era de Ouro e A Era de Prata (e com a promessa de que o volume final da série será lançado pela Devir ainda este ano). As primeiras HQs de Tom Strong também foram publicadas no Brasil pela Devir e as novas edições com o personagem saem agora pela Pixel, como aliás as demais séries da Linha ABC. Para saber mais sobre os quadrinhos de Alan Moore, clique no nome em destaque abaixo.
2 comentários:
Fica a pergunta: repetir boas fórmulas é legal ou não é?
Eu acho que sim, mas quando se repete muito, deixa de ficar bom.
Pois é, Guilherme, eu acho que há um limite para tudo. Claro que Alan Moore é inteligente e talentoso o bastante para, ao reciclar suas próprias idéias, mudar a abordagem ou trazer novos elementos. E, pelo menos, ele está copiando a si mesmo, ao contrário do que fazem outros quadrinistas que saem copiando o trabalho alheio sem dar qualquer crédito. Mas o fato é que muito do que aparece na Linha ABC, embora seja tecnicamente impecável e uma leitura bem bacana, não é muito original, pois já tinha sido utilizado por ele em outros trabalhos, de outras formas.
De qualquer forma, em meu texto optei por não fazer um julgamento da questão, deixando por conta de vocês opinarem se é legal ou não ficar reciclando idéias.
Abraço!
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