01/12/2007

Celton, um herói dos quadrinhos.


Os quadrinhos produzem personagens fantásticos e também autores quase folclóricos. Um exemplo disso é o desenhista Lacarmélio Alfêo de Araújo, conhecido pelo nome de seu personagem mais famoso, o super-herói Celton. Durante a década de 80, este verdadeiro herói dos quadrinhos independentes vendia suas revistas em bares e ruas de Belo Horizonte, conquistando um público cativo que prestigiou as dezenas de revistas que ele editou. Com HQs que envolviam figuras da política nacional ou personagens lendários de BH, Celton vendeu milhares de exemplares, mas desapareceu misteriosamente em 1992. Para a felicidade dos antigos fãs ou daqueles que apenas ouviram falar do famoso desenhista, ele voltou à ativa. Mostrando a mesma obstinação e paixão que motivou seu trabalho por mais de uma década, Celton me concedeu uma entrevista em 1998, na qual ele fala de seus personagens, da paixão e de suas aventuras com os quadrinhos.

Como surgiram o personagem e as revistas do Celton?

Quando eu tinha 5 anos já dizia que um dia publicaria quadrinhos. Quando eu tinha 15 anos criei um super-herói chamado Homem-Felino, que nunca cheguei a publicar; e nem vou publicar! Eu trabalhava durante o dia e estudava à noite e tinha que desenhar nas horas vagas, entre 5 e 7 horas da tarde. Depois mudei o nome do personagem para Celton, porque todo super-herói já é um Homem-alguma-coisa: Homem-Aranha, Homem-Elástico, etc. A primeira revista que eu publiquei foi a origem do Celton. Na época eu tinha 21 anos.

Você se tornou uma figura quase tão folclórica quanto os personagens de suas histórias. Como o desenhista Celton ficou tão popular?

Isso aconteceu porque eu vendia as revistas em barzinhos e ruas, usando uma roupa chamativa. Mas eu não planejei vender as revistas assim. Primeiro eu tentei distribuir em bancas. A duras penas acabei descobrindo que existe uma “máfia” controlada pelas grandes editoras que faz o jornaleiro não aceitar as revistas que não sejam delas. Quando eu entendi isso, fui pra rua, onde ninguém manda em mim! Eu era obstinado e passei a vender as revistas em barzinhos da zona sul. Houve uma grande receptividade; só nos barzinhos eu vendi 5.000 exemplares da primeira revista do Celton. Aí eu resolvi que precisava de divulgação, e a solução foi bicicleta e spray. Comecei a pichar muros para anunciar as “Aventuras do Celton”. Algumas vezes eu tive problemas – a pessoa comprava a revista e depois ia atrás de mim pra cobrar a limpeza do muro.

Vender suas revistas era uma verdadeira aventura!

Uma vez, eu estava vendendo a revista A Chegada do Delfim no Inferno (na época da Ditadura) e veio um guardinha que me prendeu e levou pro DOPS. Só que quando eu cheguei lá, o chefão me conhecia dos barzinhos da Savassi, e ficou tudo bem. Quem morreu de vergonha foi o guardinha. Anos mais tarde, quando eu vendia as revistas em sinais de trânsito, tive de enfrentar os fiscais da prefeitura que vinham tomar as revistas. Cheguei até a brigar com eles.

Sendo o best seller dos quadrinhos independentes mineiros. Por que você desapareceu por vários anos?

Em 1990 eu fui pra Nova York aprender inglês e juntar uma grana. Lá trabalhei no que viesse. Até toquei violão na rua, Elvis e Beatles. Ganhava uns 50 dólares por dia. Quando voltei, eu comprei uma moto que troquei em 1991 por uma impressora off-set e uma guilhotina. Aí eu voltei a fazer revistas, fiz 4 da série Collor contra o Capeta do Vilarinho. Mas eu precisava me estabilizar financeiramente e parei de fazer quadrinhos. A revista é igual a uma namorada, é minha paixão, mas como as coisas não estavam bem, eu deixei ela de lado.

E o que fez você voltar para os quadrinhos?

Paixão! Paixão mesmo. Eu tenho uma profissão: minha profissão é fazer quadrinhos.

3 comentários:

Anônimo disse...

conheça o WebSite do Celton http://www.celtonquadrinhos.com.br

Anônimo disse...

In felizmente o site indicado do artista nao carrega, será que está correto? Como posso adquirir os quasrinhos do Celton?

yapyap disse...

http://celtonquadrinhos.blogspot.com.br/