16/12/2007

As Célticas traz o melhor da poética em quadrinhos de Hugo Pratt.


Num mercado com crescente concorrência, espera-se que as empresas trabalhem para cada vez mais oferecer produtos de qualidade a preços acessíveis. Infelizmente, na história do mercado de quadrinhos no Brasil, essa nem sempre é a regra. Por isso mesmo, merece nosso aplauso a iniciativa da Pixel de levar ao grande público os álbuns do Corto Maltese de Hugo Pratt, uma das melhores séries de quadrinhos de todos os tempos. O volume mais recente é Corto Maltese - As Célticas, com 138 páginas, formato 21cm x 28cm, ao preço de R$33,00.

Trazendo seis aventuras que se passam entre 1917 e 1918, nos momentos finais da Primeira Guerra Mundial, As Célticas nos levam de Veneza à Irlanda, passando por Stonehenge até os campos de batalha na França. Com títulos tão belos quanto a poética simbolista de “O anjo da janela do Oriente” ou tão inventivos quanto o jogo modernista de “Concerto em ‘O’ menor para harpa e nitroglicerina”, as HQs misturam fatos históricos com referências literárias, pessoas reais com personagens fictícios. Não faltam homenagens ao escritor norte-americano Ernest Hemingway ou referências à obra do inglês William Shakespeare e do espanhol Miguel de Cervantes. E, se um dos capítulos tem o temido Barão Vermelho como personagem principal, não raras vezes o Corto Maltese se vê levado pelo ritmo dos acontecimentos, reconhecendo ironicamente que nessa história toda ele não passou de um mero observador.

Com cenas de ação e lutas do início ao fim, as páginas de As Célticas são repletas de intrigas políticas e golpes de espionagem envolvendo a guerra e as disputas nacionalistas do século 20. Mas o roteiro dinâmico de Pratt deixa espaço também para conversas amenas e paixões humanas, para músicas cantadas num bar ou apresentações de teatro de sombras. No traço conciso e rápido do quadrinista italiano, ambientes, objetos e personagens ganham identidade e presença física, convidando-nos a viajar no tempo e no espaço, a conhecer e nos envolver com seus dramas e motivações. Mistura de quadrinho e poesia, literatura e realidade, não falta neste álbum nem mesmo uma sequência em que Corto Maltese é convocado pelo rei dos elfos e fadas Oberon a salvar a Inglaterra de uma invasão alemã.

História em quadrinhos incomum, na qual sentimos até o soprar do vento, a criação de Hugo Pratt deixa-nos perceber, desde o primeiro instante, o verdadeiro “sopro” que a motiva: um profundo e autêntico humanismo, que desponta na denúncia da insensatez da guerra e se reafirma na falibilidade dos personagens, a começar de seu protagonista. Em outras palavras, Corto Maltese - As Célticas traz todos os elementos de um verdadeiro quadrinho-arte. Um clássico absoluto e uma leitura saborosíssima!

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