Algum tempo após o falecimento de Flavio Colin, sua família disponibilizou para venda desenhos originais e páginas de quadrinhos a lápis. Na ocasião, tive a oportunidade de adquirir algumas dessas páginas, que eram os esboços de uma série de HQs inéditas no Brasil, intitulada “Caraíba”. Aquelas páginas intensamente desenhadas e corrigidas são alguns dos originais mais magníficos que já vi. Por isso mesmo, desde então eu vinha me perguntando como uma obra tão bela poderia permanecer inédita. Mas agora, para felicidade dos quadrinhos brasileiros, Caraíba finalmente chega às livrarias, numa cuidada edição pela Desiderata, ao preço de R$32,00.
Com impressão especial na capa, formato álbum e 128 páginas em P&B, Caraíba traz três histórias escritas e desenhadas por Colin. A primeira e a última, com 48 páginas cada, surgiram do projeto original do autor, que ainda contaria com mais dois capítulos. Já a segunda HQ da edição tem apenas 10 páginas, sendo uma história de apresentação que havia sido publicada na revista Metal Pesado n°4. Três textos completam o livro: no primeiro, Colin faz uma apresentação do herói Caraíba, no segundo ele faz um apanhado de sua carreira até 1997, enquanto no último o produtor gráfico Odyr Bernardi fala do estilo e processo de criação do mestre. Sendo a coletânea parcial de uma obra maior e inacabada, Caraíba não deixa, porém, nada a desejar no que diz respeito aos pontos altos do trabalho de Colin. Estão presentes o forte caráter brasileiro dos temas e a incomparável capacidade de recriar ambientes e personagens de nosso país, tudo permeado de humor e uma autêntica preocupação ecológica.
Na primeira história, a melhor do livro, encontramos Caraíba, um exímio caçador que ganha a vida na Amazônia vendendo animais vivos e peles de onça. Mas um dia ele cruza caminho com o matreiro Curupira, recebe de presente uma lança mágica e acaba se tornando um defensor da floresta. Esta história em si não é original e vários detalhes de seu enredo estão presentes no conto “O Curupira e o caçador” do livro Lendas do índio brasileiro, organizado por Alberto da Costa e Silva. De certa forma, isso ressalta o que parece ser o projeto de Colin com a série Caraíba: compor uma rapsódia em quadrinhos, das lendas e contos amazônicos, atualizada com temas e questões de hoje. Já na segunda história, a mais dinâmica do volume, Caraíba se une ao Curupira para combater o desmatamento da floresta. Por fim, na história que fecha o livro, caçadores sem consciência, comerciantes inescrupulosos, turistas estrangeiros e a poluição industrial são as ameaças que o herói tem que enfrentar, contando com a ajuda de uma voluptuosa Iara, da cobra-grande Boiúna e de um jacaré gigante. Nas três HQs, Colin mistura termos eruditos e populares, deixa espaço para um pouquinho de erotismo e aplica boas doses de humor.
Mas o melhor mesmo fica por conta dos desenhos! Em termos temáticos e estilísticos, o livro pertence à mesma fase de Mapinguari e O Curupira, lançados pelas editoras Opera Graphica e Pixel. Contudo, as HQs reunidas na edição da Desiderata são mais detalhadas e elaboradas. Assim, no traço conciso e dinâmico do mestre, figuras e ambientes brasileiros ganham vida quadro a quadro, página a página, numa narrativa visual eficiente. Caraíba, Curupira, Iara e um pajé são os destaques na criação de personagens. Só que nada se compara aos bichos, desenhados no livro com um apreço e uma força ímpares. Numa página de quadro único, que já havia sido publicada na revista Bundas, Colin faz um pequeno catálogo da fauna brasileira, em que não faltam onças, macacos, jaguatiricas e papagaios, araras, porcos do mato, tucanos, ciganas e cutias. Caraíba é, em suma, um deleite para os olhos e uma aula de brasilidade em quadrinhos. Por tudo isso, é um livro que merece ser lido e um item indispensável para os fãs do autor.
Tendo uma trajetória conturbada, que envolveu mal-fadadas publicações na Europa e perda de originais, esta série, que trata de temas importantes e atuais, ficará incompleta. Na época em que Colin trabalhava no projeto, os editores brasileiros não se interessavam tanto por seus quadrinhos. Desiludido com o mercado editorial brasileiro, no texto escrito em 1997, ele afirma: “Talvez seja este o último trabalho importante de minha vida”. Felizmente, neste ponto o saudoso mestre se enganou, pois no ano seguinte ele desenharia outro importante trabalho de sua carreira, o álbum Estórias Gerais.
Com impressão especial na capa, formato álbum e 128 páginas em P&B, Caraíba traz três histórias escritas e desenhadas por Colin. A primeira e a última, com 48 páginas cada, surgiram do projeto original do autor, que ainda contaria com mais dois capítulos. Já a segunda HQ da edição tem apenas 10 páginas, sendo uma história de apresentação que havia sido publicada na revista Metal Pesado n°4. Três textos completam o livro: no primeiro, Colin faz uma apresentação do herói Caraíba, no segundo ele faz um apanhado de sua carreira até 1997, enquanto no último o produtor gráfico Odyr Bernardi fala do estilo e processo de criação do mestre. Sendo a coletânea parcial de uma obra maior e inacabada, Caraíba não deixa, porém, nada a desejar no que diz respeito aos pontos altos do trabalho de Colin. Estão presentes o forte caráter brasileiro dos temas e a incomparável capacidade de recriar ambientes e personagens de nosso país, tudo permeado de humor e uma autêntica preocupação ecológica.
Na primeira história, a melhor do livro, encontramos Caraíba, um exímio caçador que ganha a vida na Amazônia vendendo animais vivos e peles de onça. Mas um dia ele cruza caminho com o matreiro Curupira, recebe de presente uma lança mágica e acaba se tornando um defensor da floresta. Esta história em si não é original e vários detalhes de seu enredo estão presentes no conto “O Curupira e o caçador” do livro Lendas do índio brasileiro, organizado por Alberto da Costa e Silva. De certa forma, isso ressalta o que parece ser o projeto de Colin com a série Caraíba: compor uma rapsódia em quadrinhos, das lendas e contos amazônicos, atualizada com temas e questões de hoje. Já na segunda história, a mais dinâmica do volume, Caraíba se une ao Curupira para combater o desmatamento da floresta. Por fim, na história que fecha o livro, caçadores sem consciência, comerciantes inescrupulosos, turistas estrangeiros e a poluição industrial são as ameaças que o herói tem que enfrentar, contando com a ajuda de uma voluptuosa Iara, da cobra-grande Boiúna e de um jacaré gigante. Nas três HQs, Colin mistura termos eruditos e populares, deixa espaço para um pouquinho de erotismo e aplica boas doses de humor.
Mas o melhor mesmo fica por conta dos desenhos! Em termos temáticos e estilísticos, o livro pertence à mesma fase de Mapinguari e O Curupira, lançados pelas editoras Opera Graphica e Pixel. Contudo, as HQs reunidas na edição da Desiderata são mais detalhadas e elaboradas. Assim, no traço conciso e dinâmico do mestre, figuras e ambientes brasileiros ganham vida quadro a quadro, página a página, numa narrativa visual eficiente. Caraíba, Curupira, Iara e um pajé são os destaques na criação de personagens. Só que nada se compara aos bichos, desenhados no livro com um apreço e uma força ímpares. Numa página de quadro único, que já havia sido publicada na revista Bundas, Colin faz um pequeno catálogo da fauna brasileira, em que não faltam onças, macacos, jaguatiricas e papagaios, araras, porcos do mato, tucanos, ciganas e cutias. Caraíba é, em suma, um deleite para os olhos e uma aula de brasilidade em quadrinhos. Por tudo isso, é um livro que merece ser lido e um item indispensável para os fãs do autor.
Tendo uma trajetória conturbada, que envolveu mal-fadadas publicações na Europa e perda de originais, esta série, que trata de temas importantes e atuais, ficará incompleta. Na época em que Colin trabalhava no projeto, os editores brasileiros não se interessavam tanto por seus quadrinhos. Desiludido com o mercado editorial brasileiro, no texto escrito em 1997, ele afirma: “Talvez seja este o último trabalho importante de minha vida”. Felizmente, neste ponto o saudoso mestre se enganou, pois no ano seguinte ele desenharia outro importante trabalho de sua carreira, o álbum Estórias Gerais.
8 comentários:
Wellington,
Parabéns pelo blog e também pelo seu trabalho. Como sempre digo, os talentos da terra – tupiniquim – precisam ser vistos e valorizados.
Abs
Obrigado, André! Os quadrinhos brasileiros serão sempre um tema aqui no blog. Estou apenas começando!
Como se o trabalho do Colin já não fosse o suficiente para eu me interessar pelo livro, a análise que você faz dele aqui não deixa dúvida:
entrou pra lista das aquisições.
Abração!
Fico contente, amigo! E mais contente pela palavra que você utilizou, pois uma "análise" dos quadrinhos é o que eu tento fazer aqui no blog, e é bom saber que há leitores interessados no meu tipo de texto.
Ainda há pouco tempo te perguntei de artistas brasileiros e agora vejo dois textos sobre Flávio Colin, muito bom.
ainda não deu para comprar o Mad Love, mas já vi o cartoon :)
Abraço
Bom, revê-lo por aqui _loot_! Colin é um grande mestre dos quadrinhos brasileiros e vale muito a pena ser conhecido!
Só vim conhecer o trabalho do Flávio há um ano atrás, e hoje compro todas as hq`s assinadas por ele ou com sua participação que encontro em lojas, sebos e internet. Flávio Colin realmente é um Gênio. Gostaria de saber se encontro em algum lugar originais do Colin para venda. Se puder me ajudar, favor enviar email para: tercio.net@gmail.com
Agradeço desde já a atenção.
Colin foi realmente um gênio de nossos quadrinhos, que infelizmente não teve o devido reconhecimento em vida.
Tenho vários originais dele, mas não sei onde pode encotrar à venda - e se encontrar me avise que também estou interessado!
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