04/02/2008

A história que definiu o futuro dos X-Men.


Quando comecei a colecionar quadrinhos, havia uma edição que (embora não fosse muito antiga) era especialmente difícil de encontrar nas bancas de revistas usadas: a Superaventuras Marvel n° 45. A capa dessa revista traz uma cena intrigante, na qual um envelhecido Wolverine tenta proteger uma mulher, enquanto um holofote ilumina a parede ao fundo revelando um cartaz que lista vários heróis mutantes com a tarja de “morto” ou “preso”. A HQ dos X-Men naquele número era “Dias de um futuro esquecido”, primeira parte de uma história que definiria o futuro dos heróis mutantes.

Produzida em conjunto por Chris Claremont e John Byrne, a história publicada originalmente em The Uncanny X-Men n°s 141 e 142 ficou conhecida pelo título de sua primeira parte: “Days of Future Past”. Publicada em janeiro e fevereiro de 1981, a HQ mostra um futuro sombrio no qual os robôs Sentinelas dominaram o continente norte-americano (após extrapolarem sua missão de “combater a ameaça mutante”). Nessa sociedade dominada pelas máquinas e dividida em castas genéticas, os mutantes em geral são identificados e confinados em campos de concentração, enquanto todos aqueles que resistem à nova ordem estabelecida são caçados e exterminados.

Na primeira página da HQ, somos levados ao ano de 2013, e a maioria dos heróis Marvel (como os membros do Quarteto Fantástico e Vingadores, além dos mutantes Professor Xavier, Ciclope e Noturno) foi morta durante os conflitos que culminaram na tomada de poder pelos Sentinelas. Enquanto planejam dar prosseguimento ao programa de extermínio dos mutantes, invadindo outros países, os robôs gigantes levam o mundo à beira de um conflito entre superpotências. Para dar fim à ditadura das máquinas e evitar o holocausto nuclear, um grupo de antigos X-Men (liderados por Wolverine e Tempestade e auxiliados por Magneto) coloca em prática seu derradeiro plano.

Utilizando os poderes de Rachel Summers (personagem até então inexistente), a “consciência” da mutante Kitty Pryde é enviada ao passado e trocada por sua versão trinta anos mais jovem. Após se recuperar do choque de se ver rejuvenescida e de reencontrar amigos que viu mortos, Kitty dá início à sua missão: evitar o assassinato do senador Robert Kelly pelos membros da Irmandade dos Mutantes (evento que daria início à crescente perseguição sofrida pelos mutantes). A partir daí, a HQ toma um desenrolar mais comum às histórias dos X-Men (com sequências de luta e exibições de poderes), mas sua segunda parte ainda traz algumas cenas de impacto (como as mortes de conhecidos heróis mutantes).

Por vários motivos, “Dias de um futuro esquecido” marcou época, tornando-se uma das HQs mais influentes dos X-Men já feitas. Publicada pouco após a chamada “Saga da Fênix Negra”, a HQ futurista dava continuidade a uma abordagem mais madura dos quadrinhos de super-heróis, em que a morte é uma possibilidade até mesmo para protagonistas (como se vê na capa de The Uncanny X-Men n° 142, que traz a cena do Wolverine de 2013 pulverizado por um Sentinela). Mais significativo ainda foi a inclusão de temáticas político-sociais, em particular a questão da perseguição aos mutantes, representada nos moldes da perseguição nazista às minorias raciais (com leis segregacionistas, campos de concentração e símbolos de distinção nas roupas).

Se a temática da perseguição racial seria fundamental para as revistas dos heróis mutantes nas décadas seguintes, o próprio futuro apocalíptico seria reeditado em outras histórias (como a série de anuais “Days of Future Present”). Também a personagem Rachel Summers teria um papel significativo nos anos 80, reaparecendo na primeira HQ dos Novos Mutantes desenhada por Bill Sienkiewicz e assumindo o papel da nova Fênix. Elementos de “Dias de um futuro esquecido” foram ainda utilizados na série de animação dos X-Men e nos três filmes produzidos para o cinema. Além disso, a leitura de The Uncanny X-Men n°s 141 e 142 teria inspirado James Cameron na criação do filme de ficção científica O Exterminador do Futuro, sem falar no futuro apocalíptico e na viagem ao passado feita pelo Hiro do futuro na primeira temporada de Heroes.

Aquelas edições também marcaram o momento em que Wolverine se tornava o personagem mais popular dos X-Men e um dos principais heróis da Marvel (como deixam claro as capas de The Uncanny X-Men n°s 141 e 142). Mas, ao que consta, uma consequência imediata de “Days of Future Past” foi ter causado o desentendimento final entre o roteirista Chris Claremont e o desenhista John Byrne. Após essa história que definiria o futuro dos X-Men, a dupla (que tornou os personagens mutantes os mais populares e rentáveis da Marvel) se separou. Contudo, a semente estava plantada, e nas próximas duas décadas as revistas dos heróis mutantes trariam a sombra de um futuro sombrio. Para saber mais sobre os quadrinhos abordados aqui, clique nas palavras em destaque abaixo.

6 comentários:

Gustavo Carreira (requiem) disse...

SAM 45 foi, com 10 anos de idade, a 2� ou 3� revista de super-herois que comprei (a 1� foi CA 71), e desde ent�o nunca mais parei.
Lembro-me perfeitamente do deslumbramento que essa revista me causou.

abraço

Wellington Srbek disse...

A primeira que comprei foi a Heróis da TV n°91, e passei muito tempo procurando a Superaventuras Marvel n°45 nos sebos de minha cidade.
Mas vejo então que as revistinhas da Abril tiveram significativa importância na formação de novos leitor também aí em Portugal.

Gustavo Carreira (requiem) disse...

Os formatinhos da Abril, amplamente comerciali2ados em Portugal, foram fundamentais para o desenvolvimento da BD entre várias gerações de leitores portugueses.
O pessoal ainda relembra essa época com grande nostalgia.

Esse HTV 91 era Homem de Ferro vs Hulk, certo?

Wellington Srbek disse...

Não, a HTV n°91 era aquela com o Doutor Destino e o Quarteto Fantástico na capa. Qualquer dia escreverei uma postagem incluindo-a.

Vitor disse...

muito legal o blog, apesar de nao curtir mais os super herois... mas é sempre bom ver nostalgicamente essas materias! abraço!
visita meu blog tb:
http://blogzdovitor.blogspot.com/

Wellington Srbek disse...

Obrigado, Vitor! Mas temos muitos outros gêneros aqui além do super-herói. Vou conferir seu blog.