A primeira vez que reparei de fato no nome Bob
Dylan, deve ter sido quando li Watchmen,
já que Alan Moore cita músicas dele (“Desolation Row” e “All along the
watchtower”) ao final de dois capítulos da série. Uns 10 anos depois, em 1997,
eu estava numa loja de discos e, numa gaveta de CDs em promoção, tinha um
recém-lançado do Dylan, importado, a “preço de banana”. Comprei, cheguei em
casa, escutei, e não gostei muito. Ainda bem que a gente evolui com o tempo...
Passados alguns anos, em 2001, depois de levar um
pé-na-bunda homérico de uma namorada, fiquei sem rumo na vida (tadinho!).
Resolvi, então, “descobrir o rock”. Fiz uma lista de cantores e bandas, e fui à
Galeria do Rock em BH comprar uns CDs. Na lista estava algum disco de Bob Dylan
que tivesse “Like a Rolling Stone”. Naquele dia, comprei uns cinco CDs (eu
estava sem namorada, então tinha um dinheirinho sobrando...), incluindo Sex Pistols,
The Clash, Lou Reed e mais alguém de quem não me lembro (do Leonard Cohen eu me
tornaria fã um pouco mais tarde).
De todos,The Best of Bob Dylan foi o que fez mais sucesso comigo. Nas
semanas e meses seguintes, peguei as complexas letras para traduzir, corri
atrás dos discos originais (em CD ou em vinil), comprei seu ótimo MTV Unplugged, li sua biografia,
reportagens... Enfim, tornei-me fã absoluto de seu trabalho. Tudo bem que não
cheguei a ter pôsteres pregados na parede, nem camisetas com suas fotos. Mas
seu estilo único de cantar era presença em quase todos os meus dias, e sua
poesia genial e singular não saía de minha mente. Para mim, só faltava ir a um
show do Dylan...
No meio dessa história toda, lembrei do CD que eu
tinha comprado “a preço de banana” em 1997. Resolvi escutar. Passados 4 anos, o
CD continuava o mesmo, mas sua música tinha se tornado profunda, única,
significativa! Ainda bem que a gente evolui com o tempo... Em 1997, eu não
tinha ainda capacidade para perceber que grande disco era Time out of Mind, ganhador de
três Grammy Awards, incluindo “Álbum do Ano”. Mas, em 2001, aquele disco
simplesmente ressoou em mim, e me ajudou a curar o “coração partido” (valeu,
Dylan!).
Time out of Mind foi
o primeiro disco de inéditas dele em muito tempo e, depois de mergulhar no
Blues e em outras raízes musicais norte-americanas, Dylan retornava em grande
estilo (e em um novo estilo). Seguiram-se então Love and Theft, Modern Times, Together Through Life, além de
um disco de Natal e de várias coletâneas com apresentações ao vivo e sobras de
estúdio (sem falar em DVDs com documentários e apresentações). Creio que este
texto já comprovou o quanto sou admirador dele, mas o fato é que Dylan se
tornou uma forte influência até em meu trabalho como autor de quadrinhos (não é
à toa que ele é citado nos agradecimentos de Quantum e Apócripha). Só faltava
para mim, é claro, ir a um show dele. E isso aconteceu ontem!
Uma boa regra na vida, para não se decepcionar, é
não criar expectativas. Então, não criei expectativas sobre o show de Bob Dylan
no péssimo Chevrolet Hall (um ambiente que está mais para quadra de colégio do
que para casa de espetáculos). Para mim, bastava ir lá e ver o cara cantando
algumas de suas músicas (embora eu dispensasse a falta de respeito das pessoas
que resolveram fumar num lugar fechado, e daquelas que simplesmente queriam
abrir caminho aos empurrões). Meus amigos, eu não criei expectativas, mas mesmo
que tivesse criado eu teria ficado plenamente satisfeito: foi um showzasso!!!
Acompanhado de sua fantástica banda, Dylan tocou alguns dos grandes
clássicos de sua carreira e também músicas dos novos CDs. Tudo, é claro, no
vocal “rouco” e grave dos discos mais recentes, com palavras às vezes cuspidas
ou aceleradas, e muito "som pesado" em algumas canções, além dos
solos de sua famosa gaita em vários momentos. A acústica do lugar não ajudava,
então, mesmo alguém que conhece praticamente todas as canções dele teve
dificuldades para reconhecer duas ou três músicas (inclusive porque nos shows
Dylan e banda tocam num ritmo diferente do que temos nos discos). Para
completar a performance, "a lenda do Rock" não dispensou expressões
faciais engraçadas, poses teatrais, trejeitos, olhares e outras peculiaridades
dylanianas.
Os pontos altos da noite: "Things have
changed", "Thunder on the mountain", "Ballad of a thin
man", "Desolation Row", “All along the watchtower” e o climax: Dylan, banda e nós, o público,
APAVORANDO em "Like a rollng stone" (cujo famoso refrão era entoado
por todos mais ao ritmo da interpretação dos Stones, que propriamente na versão
de seu compositor). Pode ter passado despercebido para a maioria das
pessoas, mas no canto direito do palco, sobre uma grande caixa, como alguma
espécie de colar pendente em volta, estava uma estatueta dourada, uma espécie
de amuleto que Dylan deve levar em seus shows pelo mundo; nada menos que o
Oscar que ele recebeu pela música "Things have changed", tema do
filme Garotos Incríveis.
Provavelmente, quem foi ao show esperando ver o
Bob Dylan da década de 1960, deve ter se decepcionado, pois, aos 70 anos, ele
continua criando novas músicas e não canta mais as antigas no timbre e com os
arranjos de cinquenta anos atrás. Já eu não tenho do que reclamar! Fui a
um dos melhores shows de minha vida (apesar do ambiente), e em ótima companhia
(pois é, meus jovens: um amor se vai, para dar lugar a outro que vem)! No mais,
valeu Dylan: pelo grande show de ontem, e pela grande música e inspiração vida
afora!
2 comentários:
E aeh!! Sou eeeeuu! O Tiririca! Zuando... não conhecia essa sua veia musical, Wellington. Essa é minha primeira paixão junto com quadrinhos e games, claro. Quando fiquei sabendo do show do Bob, já estava muito em cima da hora e não pude ir, pena pq talvez ele nunca mais volte. Do que seria o rock sem o Bob e o que seria aquela fantástica abertura de Watchman sem "the times they are a-changin" (que letra). Sobre o Chevrolet Hall parecer uma quadra de escola... exatamente isso que ela é. Lembra que ele se chamava Marista Hall? Mas enfim, tio Bob pra sempre.
Pois é, Bob Dylan é meu guru e o cara que mais me influenciou depois do Alan Moore.
Pena que não rolou de você ir, porque o show foi massa!!!
Postar um comentário