20/08/2010

Homem-Aranha: o super-herói mais popular dos quadrinhos (I).


Foi na revista Amazing Fantasy n°15, de meados de 1962, que surgiu um dos super-heróis mais populares da história dos quadrinhos: o Homem-Aranha. Com roteiro de Stan Lee e desenhos de Steve Ditko (além de uma controversa participação inicial de Jack Kirby), a HQ de estreia do “Cabeça-de-Teia” teve apenas onze páginas. Mas elas foram o bastante! Ali, somos apresentados a Peter Parker, um adolescente tímido e franzino, sempre alvo da perseguição de seus colegas, mas também dos cuidados de seus tios Ben e May. Um dia, ao presenciar uma demonstração num laboratório, ele é picado por uma aranha radioativa. Para seu espanto, Peter descobre que adquiriu habilidades e força proporcional à de um aracnídeo. E o que ele faz então? Veste uma fantasia para combater o crime? Não! Ele decide usar seus poderes em algo nada heroico: conquistar fama e dinheiro, começando por num desafio de luta livre.

Depois, já vestindo a fantasia de Homem-Aranha e munido dos atiradores de teia sintética que havia desenvolvido, o jovem faz uma exibição de poderes na tevê. Ao final, ele é cercado por repórteres com pedidos de entrevistas e até por um produtor de cinema com a proposta para participar de filmes. Pouco depois, é um policial que lhe pede ajuda para parar um ladrão em fuga. O sucesso, porém, havia lhe subido à cabeça, e ele nada faz. Mas essa escolha individualista terá seu preço: numa ironia do destino (digna de heróis clássicos), aquele mesmo ladrão que ele deixara escapar irá assassinar seu querido Tio Ben. Após prender o assassino de seu tio e descobrir a terrível verdade, Peter fica arrasado pela culpa, terminando sua primeira HQ com lágrimas nos olhos. No último quadro, vemos sua figura pequenina, sob a sentença que se tornaria célebre: “com grande poder também deve vir grande responsabilidade!”.

Verdadeiramente profética seria a frase seguinte, que fecha a HQ: “E assim nasce uma lenda e um novo nome é adicionado à lista daqueles que fazem o mundo da fantasia o mais emocionante de todos!”. O fato é que, contrariando as expectativas de seu editor, aquele novo herói de poderes aracnídeos tornou-se um sucesso imediato. Mais “humano” que outros super-heróis, falível e limitado como todos nós, o Homem-Aranha foi desde o início um personagem muito popular. Um de seus grandes trunfos, na certa, estava em sua peculiar fantasia que escondia a identidade de Peter Parker, mas poderia também esconder as feições de qualquer um de seus leitores (em grande parte adolescentes, como o personagem). O sucesso da história de estreia do Aranha levou a Marvel Comics a lançar, no início de 1963, a revista-solo The Amazing Spider-Man. Com ela, o herói alcançaria o Olimpo dos quadrinhos norte-americanos!

Na nova revista, edição após edição, surgia uma variada galeria de vilões (que rivalizaria com a do Batman), na qual se destacam Dr. Octopus, Duende Verde, Homem de Areia, Abutre e Lagarto. Além de estranhos (e às vezes insanos) inimigos, o Homem-Aranha fez jus ao apelido de “Amigo da Vizinhança” prendendo bandidos comuns e praticando boas-ações. Em essência um cara de bom coração, embora muitas vezes incompreendido e sempre perseguido pelo editor do Clarim Diário, J. Jonah Jameson, ele ganhou a simpatia do público também por seus problemas. Falta de grana para pagar os estudos (ou comprar os ingredientes do “fluido de aranha”) e dramas pessoais fizeram dele um personagem mais crível, com o qual os leitores continuaram a se identificar na medida em que amadureciam. E com sua teia superresistente, que lhe permite capturar vilões e balançar pelos prédios, o herói conquistou também as crianças.

Não demorou para o Homem-Aranha se tornar o campeão de vendas da Marvel e um verdadeiro ícone cultural, o que seria amplificado em 1967, com o lançamento de sua primeira série de animação. Enquanto isso, nos quadrinhos, começava uma das fases mais aclamadas do personagem, com histórias desenhadas por John Romita e uma crescente dramaticidade nos roteiros. Já então um estudante universitário, Peter terá como melhor amigo o problemático Harry Osborn, filho de Norman Osborn, o Duende Verde. A conquista da namorada, Gwen Stacy, e a venda de fotos do Aranha para o Clarim Diário trarão algum alívio, mas a vida nunca foi moleza para ele. Refletindo a cultura de seu tempo e amadurecendo junto com seu público, a única coisa segura para nosso herói era o sucesso comercial (que lhe rendeu novos títulos mensais, edições especiais e participações em revistas de outros personagens).

O que para muitos é a melhor fase do Homem-Aranha culminou em 1973, numa história em duas partes escrita por Gerry Conway e desenhada por Gil Kane. Nela, o Duende Verde causa a morte de Gwen Stacy, sendo depois morto por seu próprio foguete alado, ao tentar atingir o herói pelas costas. Assim, abalados pela dramática morte da namorada do Aranha, os leitores tiveram na morte do vilão uma catarse raras vezes alcançada nas HQs de super-heróis (afinal, aquele era um tempo em que os personagens eram vistos como portadores de uma vida ficcional quase real, e não apenas como “franquias”). Os acontecimentos daquelas edições abririam uma nova fase para o herói, em que a personagem Mary Jane Watson torna-se proeminente e quando seu vingativo amigo Harry Osborn assume a identidade do Duende Verde (nada, porém, com a dramaticidade e a relevância alcançadas pelas HQs de 1973).

(CONTINUA)

6 comentários:

Do Vale disse...

As fases do Stan Lee e das duplas Michelinie/McFarlane e Conway/Buscema foram as mais legais.
Lembra daqueles encadernados em preto e branco que saíram encartados com fitas de vídeo do desenho em bancas? =D
E me parece que a Biblioteca Histórica # 1 já tá esgotada...

Wellington Srbek disse...

Tenho aqui alguns daqueles volumes em P&B, Do Vale. Mas o que usei para este texto foi o TPB em inglês, com as primeiras HQs do Aranha. Acho que é o que saiu pela Panini nesse Biblioteca Histórica.
Abraço!

marcela disse...

Meu irmão coleciona as HQ's do homem aranha a décadas, vou repassar o blog pra ele^^
Segue o @paniniherois depois, eles fazem promoções valendo HQs muito legais =)
beijoss

Wellington Srbek disse...

Ai, ai... Mais uma propaganda 0800 da Panini...

Jaison disse...

O Homem aranha é mesmo do caramba, mas eu acho que ele rivaliza com o Batman também nesse gosto popular. Ambos se distacam em seus universos (marvel e DC). Eu particularmente gosto mais do Cavaleiro das Trevas... comprem seus quadrinhos! (0800 da panini também)... hehehe

Wellington Srbek disse...

Olá Jaison, concordo com o lance do Batman. Inclusive a minha roupinha de super-herói quando eu tinha 6 anos era do Batman - hehe! Mas o Aranha alcançou um nível de popularidade junto ao público infantil que acabou superando o Batman num certo momento e além disso carregou a Marvel nas costas para o topo do mercado (até os X-Men assumirem o controle da situação).
Valeus!