24/05/2010

O renascimento do Flash por Geoff Johns.


Nos últimos anos, Geoff Johns tornou-se um dos mais badalados roteiristas dos quadrinhos de super-heróis, sendo agora um dos responsáveis pela direção criativa da DC Comics (que inclui decisões não apenas nas revistas da editora, mas também em animações e filmes baseados em seus personagens). Com participações em séries como Crise Infinita e 52, Johns ficou mais conhecido através de trabalhos com super-heróis clássicos, com destaque para a minissérie Lanterna Verde: Renascimento, que resgatou e redimiu o herói Hal Jordan. Repetindo sua parceria com o desenhista Ethan Van Sciver, o roteirista lançou em 2009 e concluiu neste ano The Flash: Rebirth, minissérie em seis edições que marcou a volta de outro herói da “Era de Prata”.

Um dos efeitos da minissérie Crise Final foi o retorno de Barry Allen à continuidade regular dos heróis DC. Devidamente ressuscitado, o herói que dera origem à “Era de Prata” e ao “Multiverso DC” ganhou dos editores uma nova chance (bem aos moldes da oferecida ao Lanterna Verde em 2004-2005). O número 1 de The Flash: Rebirth começa bem, com um duplo assassinato cometido por um misterioso vilão que consegue repetir o acidente que deu origem aos poderes do herói. Nas páginas seguintes, encontramos os vários personagens que assumiram o nome do Flash: de Jay Garrick e Wally West a Bart Allen e, é claro, o próprio Barry Allen. Lembranças e comentários sobre este último interligam as passagens da história, que incluem a participação de antigos adversários do herói e de seu amigo Hal Jordan.

Com alguns mistérios e referências a outras HQs, o capítulo inicial da minissérie serve para estabelecer a trama, cenário e personagens. Como é de se esperar, o número 2 traz um desenrolar dos acontecimentos (um pouco lento), que mistura gorilas das cavernas, cultos à “força da velocidade” (a energia mística que impulsiona os velocistas da DC), flashbacks que revelam o passado de Barry Allen e diálogos que esclarecem elementos sobre seu presente. O Lanterna Verde Hal Jordan faz uma participação breve e mais um mistério é acrescentado com o surgimento de um enigmático “Flash Negro”. Já o número 3 traz um emaranhamento ainda maior dentro da metafísica que envolve a tal “força da velocidade”. Um plano de contenção é necessário e alguns figurões da Liga e da Sociedade da Justiça dão as caras.

O quarto capítulo começa com explicações sobre a identidade do vilão Flash Reverso, seguindo com alguns socos e muita conversa. Tudo parece girar em círculos, até o vilão nos esclarecer seu plano maquiavélico, encerrando com uma saída dramática. Depois temos mais explicações sobre a ligação entre Flash e a “força da velocidade” e, enfim, um pouco de ação. Tudo, porém, é pontuado por uma retórica da “família”, o que dá um caráter conservador a uma história que não vinha sendo das mais brilhantes. Já o número 5 começa com mais flashbacks e reflexões, continuando numa luta de vários heróis velocistas contra um único vilão (!). E a edição inteira é praticamente pancadaria, encerrando mais ou menos como as coisas estavam no início do número 4, exceto por uma última revelação e uma ameaça do vilão.

Além do herói Flash e do roteirista Geoff Johns, um atrativo na minissérie foi o desenhista Ethan Van Sciver (auxiliado por uma competente colorização digital). Seu traço fino segue um padrão detalhista que, às vezes, chega a ser muito estático para uma HQ de super-heróis. Isso sem falar no fato de que seu estilo realista tende a ressaltar cenas estranhas, como personagens em fantasias espalhafatosas sentados à mesa lendo jornais ou comendo cachorros-quentes. E se algumas cenas de página inteira são bem impactantes, outras em sequências de quadros trazem desenhos quase amadores, evidenciando uma grande irregularidade. Mais ilustrador do que propriamente um quadrinista, Van Sciver mostrou o melhor de seu trabalho nas cinco primeiras capas da minissérie, com direito a recriações de cenas consagradas.

O capítulo final da minissérie traz mais correria, mais explicações e um desfecho muito desproporcional a todo o falatório e ideias metafísicas que a história vinha propondo. E para um roteiro que girou tanto em círculos, as últimas páginas só poderiam mesmo ser uma volta ao início. Planejada inicialmente para cinco e não seis edições, The Flash: Rebirth poderia sem dúvida ter se beneficiado de uma estrutura mais enxuta e objetiva (sem tantas idas e vindas ou situações que não levaram a nada). Mas, apesar da qualidade duvidosa do roteiro e da irregularidade dos desenhos, a minissérie parece ter agradado aos leitores norte-americanos, tendo boa vendagem, reimpressões das primeiras edições e uma reedição em capa-dura, lançada no início deste mês (os leitores brasileiros já podem conferir a minissérie nas páginas da revista Liga da Justiça da Panini).

Geoff Johns é hoje um roteirista muito popular entre os leitores e bastante prestigiado entre os chefões da DC. O melhor exemplo disso são a recentemente concluída The Blackest Night e a recém iniciada The Brightest Day, séries centradas no Lanterna Verde, mas que envolvem os principais heróis e vilões da editora. Grande conhecedor da cronologia e dos meandros ficcionais envolvendo aqueles personagens, o roteirista é de fato um trabalhador dedicado e esforçado, mas não é nenhum gênio. Com um gosto para histórias grandiosas e explicações superestruturais, suas HQs têm o mérito de agradar, mas deixam a desejar em termos de qualidade e inovação.

4 comentários:

Jaison disse...

O Flash é um personagem que eu gosto muito. O problema é que acho que comecei a acompanhá-lo tarde demais. Por que parece existir, pelo menos, uns 3 'Flashes'! Eu li a série "Crise de Identidade" e vi 2. No classíco Liga da Justiça - aquele com arte pintada e tudo - o Flash parece um deus... muito diferente... hehehe... complicado, tenho que voltar muitas revistas atrás pra entender...

Wellington Srbek disse...

Ficam como dica, Jaison, os dois links nesta postagem, pois eles explicam a trajetória do Flash, suas diferentes versões, mortes e renascimentos.
Também conheci o personagem meio tarde e a primeira HQ que realmente li com ele foi Crise nas Infinitas Terras - na qual, aliás, ele morre. E pensando agora, fez muito sentido matá-lo, pois o Flash era um herói que representava uma época mais fantasiosa e ingênua dos quadrinhos de super-heróis, em contraste com o racionalismo e o realismo das revistas de meados dos anos 80. Talvez isso seja uma das limitações dessa nova minissérie, pois o que fazia desse personagem algo interessante não tem muito lugar nos quadrinhos de tendência hiperrealista de hoje.
Abraços!

Clayton Godinho disse...

Essa nova fase do Flash é muito ruim , péssima mesmo. Li o material original e fiquei pasmo como a tentam forçar a barra trazendo de volta um personagem que já, perdeu o carisma a muito tempo. Tenho mais de 30 anos e acho que a melhor fase do Flash é a do Wally West.
Geoff Jonhs está com o péssimo hábito de querer desfazer tudo que foi feito na décadad e 80.

Wellington Srbek disse...

Eh, esta parece ser realmente a tendência agora, Kardion. Crise Infinita, 52 e Crise Final desfizeram algumas das boas coisas trazidas em 1985 por Crise nas Infinitas Terras, como o desaparecimento do Superboy e a arrumada na bagunça cronológica da DC. Agora está muito chato ler as revistas da editora e não é à toa que a Marvel está dominando de novo o mercado de revistas. O que mais me espanta é que muitos leitores adoraram essa enrolação que é The Flash: Rebirth.
A melhor fase da DC Comics foi entre 1985 e 1989, de Crise nas Infinitas Terras, passando pelas recriações racionalistas dos principais heróis, até Asilo Arkaham. Depois disso, bom mesmo foram só os desenhos animados da Warner, produzidos pelo Bruce Timm.
Abraços!