09/04/2010

Siege, a mais nova super-saga Marvel.


Desde o sucesso comercial de Guerras Secretas (1984) e Crises nas Infinitas Terras (1985), as grandes editoras norte-americanas, Marvel e DC Comics, vêm repetindo a fórmula da “super-saga”. Com pequenas variações de trama e elenco, basicamente as histórias giram em torno de uma grande ameaça ou complô orquestrado por um supervilão, o que leva à ação mais ou menos conjunta dos principais heróis. Muito badaladas, as super-sagas tendem a gerar edições especiais, além de interligar todos os títulos da editora em questão, com a promessa de que “depois deste evento, nada mais será como antes”.

Mas, descontando uma ou outra morte contornável (Flash, Super-Moça) ou uma ou outra mudança passageira (o uniforme negro do Homem-Aranha), as super-sagas são, na verdade, uma fórmula mercadológica que deu certo, sendo repetida à exaustão nas últimas duas décadas. Embora ninguém precisasse de Guerras Secretas II ou de Zero Hora: Crise no Tempo, elas vieram para explorar um pouco mais da boa-fé dos leitores e empurrar um pouco mais os quadrinhos de super-heróis para o abismo criativo em que estiveram por boa parte dos anos 90 e do qual não se reergueram completamente.

O fato, porém, é que as super-sagas costumam dar lucro para as editoras, e estas não vão “largar esse osso” tão cedo. E enquanto a DC chega aos momentos finais da badalada Blackest Night de Geoff Johns (da qual já falei brevemente aqui), a Marvel põe em andamento Siege (Cerco), o mais recente plano do traiçoeiro Loki para derrotar os heróis, ou ao menos angariar o rico dinheirinho dos incautos leitores. Quanto a mim, preferi não gastar minhas economias numa das edições dessa nova super-saga Marvel, mas consegui um exemplar de Origins of Siege, revista gratuita que a editora lançou para promover a minissérie.

A tática de oferecer aos leitores uma edição introdutória de graça é inteligente e certamente compensatória para as editoras. Distribuída gratuitamente no Free Comic Book Day de 2009, Blackest Night #0 deixou felizes os fãs fiéis, ao mesmo tempo em que angariou novos leitores para a DC. Da mesma forma agora, Origins of Siege deve atrair o público, com a promessa de ser “sua primeira olhada no evento em preparação há sete anos”. Com 32 páginas mais capa, boa impressão e HQs com pintura ou colorização digital, oferecida pelo preço de capa de $0.00, a revista até que não decepciona.

Um prólogo, produzido por Brian Michael Bendis e Lucio Parrillo, abre a revista e traz o deus Loki explicando a Norman Osborn a “verdadeira” estrutura do Universo (que inclui reinos da mitologia nórdica e personagens que parecem saídos de O Senhor dos Anéis). A seguir, temos uma exposição das motivações que movem o deus das trapaças (ligadas ao fato de o Reino de Asgard encontrar-se agora flutuando em algum lugar de Oklahoma). Embora estejam bem ao gosto de muitos leitores hoje, as páginas em pintura digital desse prólogo são um tanto estáticas para o que se espera de uma HQ da Marvel.

Melhor e mais dinâmica é a prévia de seis páginas, retirada da própria minissérie escrita por Brian Michael Bendis e ilustrada por Olivier Coipel e Mark Morales. Nela, vemos um diálogo em “off” de Loki e Osborn, em que aquele revela como pretende colocar seu plano em prática. No centro da ação está o deus Vostag, que, após uma atuação policial, acaba às voltas com um quarteto de vilões saídos de antigas HQs do Hulk. Completam essa revista promocional doze páginas muito bem ilustradas, com as “origens” de diversos personagens-chave (como Capitão América, Homem de Ferro, Homem-Aranha e Wolverine).

Ao que parece, para os leitores viciados nas HQs dos heróis Marvel, Siege traz a promessa de bastante diversão, numa complexa trama interligada (já que, além dos quatro números da minissérie, a história também inclui edições especiais e revistas regulares). Já para os leitores mais experientes, talvez essa nova super-saga da Marvel traga um gosto de história requentada, de Guerras Asgardianas ou Atos de Vingança. Fica, é claro, a critério de cada um pagar para ver, ou poupar seu dinheiro para gastar em quadrinhos mais interessantes e artisticamente relevantes.

4 comentários:

Jaison disse...

Pois é! O fato é que todas as formas artísticas (quanto mais as populares) acabam tendo que se redefinir já que, obrigatoriamente, quando se segue padrões (modelos), aquilo virá moda. E moda passa. Certamente uma reinvenção criativa (isso sempre foi o forte dos quadrinhos) seria um passo bem dado, mas os riscos financeiros seriam enormes... bem, é a minha opinião sobre esse assunto que vive na cabeça de um estudante de artes. Até mais, amigo!

Remy Prado disse...

Wellington
eu li sua HQ Estorias Gerais e gostei muito.

Wellington Srbek disse...

Para mim, Jaison, um problema com os quadrinhos de super-heróis das grandes editoras é justamente essa constante repetição das fórmulas de sucesso. Isso acaba levando a uma estagnação criativa. Mas, na minha opinião, o que vale mais é a inovação, é buscar novas formas criativas ou reinventar as antigas. Mas, no fim, as grandes empresas do ramo acabam optando pela segurança do sucesso garantido.
Abraços!

Wellington Srbek disse...

Olá Remy,
Que bacana! É sempre muito bom saber que alguém leu e gostou de um trabalho nosso. Isso é em grande medida o que nos faz continuar, apesar de um mercado que não dá muito retorno ou reconhecimento.
Depois visite o meu saite, onde você encontrará várias informações sobre o EG e outras HQs que produzi: http://www.maisquadrinhos.com.br/. Grande abraço!