18/04/2010
Editoras investem em revistas promocionais.
Nos dias de hoje, parece predominar a regra do “pra quê criar, quando se pode copiar” (a melhor prova disso é o filme Avatar, que alcançou a maior bilheteria da história do cinema copiando a história de outro filme e o visual de HQs e video games). A verdade é que, na indústria cultural como um todo, repetir ideias e formatos que fizeram sucesso, gerando padrões e modelos a serem seguidos, sempre foi um expediente dos mais praticados. Claro que o resultado imediato pode até compensar para quem copia, porém, a longo prazo acabamos mergulhando mais e mais em padrões e modelos reprisados (basta lembrarmos das séries de super-heróis e novelas da tevê).
Mas se a lógica da cópia tende a ser prejudicial no que diz respeito aos conteúdos culturais veiculados, em alguns casos ela pode até ter suas virtudes ao ser aplicada aos formatos de veiculação e às formas de distribuição. Um bom exemplo disso acaba de acontecer nos Estados Unidos, envolvendo as duas líderes do mercado, Marvel e DC Comics. Em 2009, pegando a onda publicitária em torno da adaptação cinematográfica de Zack Snyder, a DC lançou a linha de edições promocionais After Watchmen ...what’s next?. A campanha começou com uma revista promocional gratuita trazendo páginas descritivas de alguns de seus principais títulos voltados a “leitores maduros”.
Abrindo com a divulgação das três versões disponíveis da obra de Alan Moore e Dave Gibbons (capa cartonada, capa-dura e edição definitiva), a revista busca associar Watchmen a outras publicações. Seguem-se então as divulgações de V de Vingança, Monstro do Pântano, A Piada Mortal e Liga Extraordinária, escritas por Moore, mas também de HQs de outros autores, como Y: O último homem de Brian K. Vaughan, Planetary de Warren Ellis, Preacher de Garth Ennis e All-Star Superman de Grant Morrison. O trabalho de marketing da editora continuou então numa sequência de revistas com os primeiros capítulos dessas e de outras obras. E todas com o preço de capa de $1.00!
O grande trunfo está, é claro, não apenas na associação do prestígio de Watchmen àquelas obras, mas na disponibilização dos primeiros capítulos por um preço convidativo para novos leitores em potencial. (A linha promocional da DC continua neste ano, rebatizada apenas What’s next?, com os n°1 de Batman and Robin e Flash: Rebirth.) Outras editoras norte-americanas já publicaram edições de estreia por $1.00 (a Dynamite, por exemplo, no relançamento de The Boys de Garth Ennis); mas para realizar algo nos moldes da linha lançada pela DC, só mesmo os recursos e o acervo de sua maior concorrente, que lança agora a série Marvel’s Greatest Comics.
Uma produção milionária do cinema, neste caso o novo filme do Homem de Ferro, também deu o pontapé inicial para a nova linha de revistas promocionais. Distribuída gratuitamente em março, Invincible Iron Man n°1 traz o primeiro capítulo da HQ de Matt Fraction e Salvador Larroca. Claro que, com a proximidade da estreia de Homem de Ferro 2, era de se esperar que os esforços publicitários da editora se voltassem ao personagem. Mas a linha Marvel’s Greatest Comics também prestigia outros heróis da “Casa das Ideias”, oferecendo revistas a $1.00 com aventuras do Capitão América, Wolverine, Thor, Justiceiro, Hulk, Vingadores, Homem Aranha e X-Men, entre outros.
O fato de a Marvel ter imitado de forma tão evidente a iniciativa de sua principal rival é um sinal de que a linha de revistas promocionais da DC deve ter sido um enorme sucesso. Ao copiar o modelo de edição e distribuição de After Watchmen, a Marvel’s Greatest Comics serve, sobretudo, para divulgar os produtos da editora. Mas, ao fazer isso, a linha de revistas promocionais também beneficia o público que poderá ler quadrinhos por um preço muito acessível. E isso nos faz pensar (mesmo considerando as enormes diferenças entre o mercado norte-americano e o brasileiro): será que a Panini não poderia também copiar essa ideia, oferecendo no Brasil uma linha de revistas a R$2,00?
Num momento em que os preços das revistas sobem e as tiragens declinam, encontrar formas de conquistar leitores e manter seu público é uma questão vital para o mercado de quadrinhos. Pois se cada vez mais as HQs encontram lugar nas livrarias brasileiras, na forma de livros e álbuns, os preços das edições mais volumosas ou luxuosas (R$45,00 / R$60,00 / R$90,00 / R$150,00!) é bastante proibitivo para boa parte do público-alvo dessas mesmas edições. O que também nos faz pensar: nosso mercado comporta tantas publicações em capa-dura e preços exorbitantes? Ou seria melhor edições com boa qualidade gráfica, textos bem-cuidados e preços mais acessíveis?
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8 comentários:
Olá, Wellington! Não estive sumida apenas dos comentários, mas da internet de forma geral! Mesmo assim, acompanho o blog sempre que posso e recomendo pra todo mundo que quer saber mais sobre quadrinhos.
Parece que as editoras daqui estão apostando mesmo nas edições luxuosas. São volumes lindos e fazem a alegria do colecionador... Mas só quando ele tem bastante dinheiro! Como não é esse o meu caso, eu adoraria que nossas editoras seguissem esse exemplo e lançassem também linhas promocionais.
Mudando de assunto, você conhece um documentário brasileiro em forma de mini-série chamado Quadrinhos, que saiu em 2008? (http://jovem.uol.com.br/ultnot/ult4334u577.jhtm) Ouvi falar dele recentemente, mas ainda não assisti, e gostaria de saber sua opinião, caso você conheça!
Abraço!
Olá Aline,
Ter edições com capa-dura é interessante para a valorização dos quadrinhos. Para as pessoas verem que eles são publicados em forma de livro também. Mas o problema está em alguns valores praticados, pois muitas vezes dois volumes em capa-dura com aproximadamente o mesmo número de páginas podem ter uma diferença de preço de mais de 100%, simplesmente pelo fato de um deles ter mais prestígio que o outro. Nos Estados Unidos, os preços das coletâneas costumam variar apenas de acordo com o número de páginas e o tipo de acabamento (e não de acordo com a HQ publicada). Além disso, muitas HQs publicadas em capa-dura aqui no Brasil não merecem esse tratamento. Seria melhor que saíssem numa coletânea comum em capa cartonada e um preço mais acessível.
O efeito de práticas realizadas por várias editoras é uma elitização do mercado, em vez de uma desejável ampliação da base de leitores.
Creio que assisti essa série quando passou na tevê a cabo. Vale a pena dar uma conferida.
Abraços e não suma!
Prefiro encadernados baratos e sem luxo nenhum, como a edição de Y da Panini. Claro que quem gosta e tem uma grana a mais compra Sandman e Transmetropolitan, por exemplo, mas e quem não pode? Isso acaba afastando possíveis leitores.
Acho que, a longo prazo, os encadernados luxuosos vão trazer problemas, como encalhe e descontinuação de coleções.
Ou posso estar errado, afinal sou um simples leitor e colecionador, e os editores que sabem das coisas.
Abraço!
Com certeza, Do Vale! Era a isso que eu me referia na resposta anterior, quando falei de elitização do mercado. Como você disse, é melhor ter uma série de encadernados custando R$16,90 que será concluída, do que séries em capa-dura custando R$45,00 ou mais, e que correm o risco de ficar pela metade.
Acredito que eles concluirão Sandman, por exemplo. Afinal, são apenas quatro volumes. Mas algo interessante a se considerar é que as editoras norte-americanas lançam as edições luxuosas como UMA opção para os leitores que queiram e possam pagar mais. Pois aqueles leitores que não quiserem ou puderem, continuam encontrando essas mesmas obras em edições mais baratas, os TPBs.
E só para concluir, hoje sai mais barato importar diretamente as edições originais de Absolute Sandman, impressas em tamanho ainda maior, com estojo e qualidade gráfica ainda mais luxuosa, do que comprar a versão da Panini.
Mas vamos ver no que dá. Abraço!
Só quem gosta muito de quadrinhos aceita correr o risco de pagar caro por uma história que talvez ainda não conheça. Fãs de quadrinhos costumam conhecer uma obra antes mesmo de tê-la publicada no Brasil. Notícias na Internet ajudam a encarecer uma obra mais que outras que receberão o mesmo acabamento gráfico numa mesma editora.
Mas quem não costuma ler Quadrinhos tem poucas chances de desembolsar muito dinheiro no gênero. O preconceito contra o gênero Quadrinhos ainda é muito forte. Sendo assim, acredito que um preço menor (mesmo para edições luxuosas) conseguiria atrair novos leitores.
A campanha da Marvel e da DC é perfeita! Me lembro quando a Panini tinha edições a R$2,50 (Thundercats, He-Man e Transformers), que eu adquiria sem pestanejar. O preço foi um convite que eu aceitei, mesmo duvidando da qualidade das histórias. Atualmente, a satisfação é mais garantida nos quadrinhos da Bonelli, que possuem cerca de 100 páginas, num acabamento simples, sem capa dura e outras preferências de colecionador.
Ótimo texto, Wellington!
Grande abraço!
Eu não entendo muito o que passa pela cabeça desses editores, Eric. A não ser alguma espécie de ganância que os faz buscar apenas o lucro imediato e não um trabalho que vá se desdobrar e desenvolver a longo prazo. Por isso mesmo, não acho que são as notícias da Internet que encarecem as obras, e sim a falta de visão dos editores brasileiros. No mercado norte-americano publicam-se muito mais notícias de quadrinhos e nem por isso um TPB de sucesso custa o dobro que um de outro quadrinho menos prestigiado. Os preços lá variam em geral de acordo com o número de páginas e o tipo de acabamento (edições com mais páginas e com acabamento de luxo custam mais caro, é claro). No Brasil, se a Panini ou qualquer outra editora lançasse as coleções Vertigo em encadernados de R$15,00 a R$20,00 (sem capa-dura), eles venderiam bastante e ajudariam a ampliar o mercado. Pois realmente há muitas pessoas por aí que não compram porque não têm dinheiro para comprar.
Abraços e volte sempre!
Como o Eric Ricardo falou, a Bonelli é um ótimo exemplo de custo-benefício. Mágico Vento e Júlia estão aí pra provar isso.
Mas pra quem sonha em ver os clássicos do selo Vertigo na estante, como eu, fica o impasse.:)
Concordo com vocês e só acrescentaria que algo como a própria Panini fez com o primeiro volume de Y - O Último Homem também funconaria, pois é um quadrinho da Vertigo impresso em cores e vendido com um preço abaixo de R$20,00. Se fizessem todos os lançamentos nesse esquema, os leitores não teriam muito o que reclamar (exceto é claro pelas falhas de revisão). Mas aí começam a sair coisas em capa-dura por mais de R$45,00 e nem todo mundo que gostaria, consegue acompanhar. No fim é o mercado como um todo que perde mais leitores em potencial.
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