31/07/2009

As entrevistas internacionais do Mais Quadrinhos.


Algo muito bacana que tenho conseguido realizar com o Mais Quadrinhos são as entrevistas com artistas britânicos e norte-americanos. Eu já vinha entrevistando outros quadrinistas desde os anos 90, mas essas conversas por e-mail feitas especificamente para este blog têm algumas particularidades (entre elas o fato de serem realizadas e publicadas também em inglês, tendo ainda como ponto comum questões relativas à obra do roteirista inglês Alan Moore). Com essas entrevistas, tenho tido a oportunidade de falar com pessoas cujo trabalho admiro há muitos anos, descobrindo mais sobre suas criações e esclarecendo pontos de suas trajetórias, além de contar um pouco da história dos quadrinhos.

Então, para aqueles que não acompanharam as primeiras entrevistas ou para quem quiser dar uma nova conferida, aqui vão os endereços para as entrevistas internacionais do Mais Quadrinhos, até o momento:

David Lloyd:
http://maisquadrinhos.blogspot.com/2008/01/virtudes-variadas-uma-entrevista-com.html
http://maisquadrinhos.blogspot.com/2008/01/virtudes-variadas-uma-entrevista-com_16.html
http://maisquadrinhos.blogspot.com/2008/01/virtudes-variadas-uma-entrevista-com_18.html

J.H. Williams III:
http://maisquadrinhos.blogspot.com/2008/03/artes-mgicas-uma-entrevista-com-jh.html
http://maisquadrinhos.blogspot.com/2008/03/artes-mgicas-uma-entrevista-com-jh_19.html
http://maisquadrinhos.blogspot.com/2008/03/artes-mgicas-uma-entrevista-com-jh_21.html

Steve Bissette:
http://maisquadrinhos.blogspot.com/2008/05/quando-penso-em-que-artistas-dos.html
http://maisquadrinhos.blogspot.com/2008/05/talento-monstruoso-uma-entrevista-com.html
http://maisquadrinhos.blogspot.com/2008/05/talento-monstruoso-uma-entrevista-com_22.html
http://maisquadrinhos.blogspot.com/2008/05/talento-monstruoso-uma-entrevista-com_26.html

Dave Gibbons:
http://maisquadrinhos.blogspot.com/2008/12/arte-da-coerncia-uma-entrevista-com.html
http://maisquadrinhos.blogspot.com/2008/12/arte-da-coerncia-uma-entrevista-com_05.html
http://maisquadrinhos.blogspot.com/2008/12/arte-da-coerncia-uma-entrevista-com_10.html

Brian Bolland:
http://maisquadrinhos.blogspot.com/2009/07/um-artista-brilhante-de-capa-capa-uma.html
http://maisquadrinhos.blogspot.com/2009/07/um-artista-brilhante-de-capa-capa-uma_23.html
http://maisquadrinhos.blogspot.com/2009/07/um-artista-brilhante-de-capa-capa-uma_27.html

Se preferir as entrevistas no original, elas podem ser lidas em inglês neste endereço:
http://maisquadrinhos.blogspot.com/search/label/Interviews

29/07/2009

Origens recontadas dos heróis DC.


Na época da série 52, a DC Comics produziu e lançou uma coleção de HQs de duas páginas com a versão resumida das origens de vários de seus personagens. Uma espécie de reedição das populares “origens secretas” publicadas até 1990, essa nova coleção The Origin of... foi uma forma de a editora familiarizar novos e antigos leitores com seu elenco de personagens. Com roteiros escritos por Len Wein, Mark Waid e Scott Beatty, as histórias contaram com a participação de diversos desenhistas, incluindo nomes de destaque do momento (como Ivan Reis, Ethan Van Sciver, J.G.Jones) e veteranos consagrados (como Adam Hughes, Kevin Nowlan, Bruce Timm, Kelley Jones, Arthur Adams).

Neste último time, o desenhista que mais contribuiu com páginas desenhadas foi, surpreendentemente, Brian Bolland. Exímio no desenho de belas personagens femininas, o artista inglês foi o responsável pelas páginas da origem de Zatanna. Tendo definido o visual do Coringa para toda uma geração de leitores (com A Piada Mortal), Bolland também foi o responsável pela HQ do principal vilão do Batman, escrita por Waid a partir daquela apresentada por Alan Moore. Para esta coleção The Origin of..., no entanto, o melhor trabalho de Bolland está nas páginas feitas para o Homem Animal (que ilustram esta postagem), com um roteiro de Mark Waid baseado na versão proposta por Grant Morrison.

As páginas das origens de Zatanna, Coringa e Homem Animal, bem como as demais HQs de The Origin of... estão disponíveis online (os textos, é claro, estão inglês e para acessar as páginas basta clicar nos links anteriores).

27/07/2009

Um artista brilhante de capa a capa: uma entrevista com Brian Bolland, parte3.


Última parte de nossa entrevista e Brian Bolland fala de como desenhar super-heróis (em quê nós discordamos sobre o quão bem ele faz isso), de suas fantásticas capas para Animal Man e The Invisibles, seus projetos pessoais, quadrinhos cômicos, mulheres belíssimas e muito mais.

Wellington Srbek: Ninguém desenha os personagens da DC melhor que o senhor! Seu estilo detalhado com linhas clássicas e cores brilhantes dá a eles volume, peso, personalidade e vida. Seu desenho tem algo da “Era de Prata” e é ao mesmo tempo completamente moderno. O senhor tem uma abordagem conceitual para como os super-heróis devem parecer?

Brian Bolland: Bem, eu cresci como um fã da “Era de Prata” e certos desenhistas daquela era eram meus ídolos. Gil Kane, Carmine Infantino, Alex Toth, Bruno Premiani. Temo que nunca fui um grande fã de Jack Kirby. Eu era mais fã dos artistas do que dos personagens e mais ligado nos quadrinhos como artefatos colecionáveis do que nas histórias. Eu queria muito desenhar como Neal Adams, mas nunca consegui isso. Eu sou fissurado em desenhos que sejam tecnicamente e anatomicamente bem desenhados, mas eu tenho consciência de que tem que haver muito mais que isso. Eu não acho que eu seja particularmente bom nos super-heróis. Meu trabalho parece mais europeu, uma vez que fico feliz com personagens que estejam parados, posando ou congelados no tempo, no lugar da ação agitada que é requerida pelos quadrinhos norte-americanos de super-heróis. De fato me é pedido ocasionalmente para recriar uma capa da “Era de Prata” e desenhar no estilo de Premiani, Kane or Curt Swan (e esses trabalhos são mais cópias na verdade!). Eu adoro a limpeza e a clareza das capas dos anos 60.

WS: Eu simplesmente adoro suas capas para a Animal Man! Elas trazem imagens marcantes e significativas que contribuem muito para as histórias. A da número 5, por exemplo, é uma obra-prima! Como era o processo criativo nessa série? O senhor lia os roteiros e então bolava os conceitos para as capas?

BB: Obrigado. Eu realmente prefiro capas especificamente ligadas à história em vez da imagem-pôster genérica. Eu me desespero quando o editor diz: “faça simplesmente uma cena de ação”. Eu respondo: “Sim, mas o que exatamente eles estão fazendo?!” Eu sempre pensei que a 2000 AD tinha uma mistura de ação, terror e comédia que funcionava muito bem e eu não estava vendo muito dessa combinação nos quadrinhos norte-americanos da época. Eu gosto dessa combinação e as capas da Animal Man permitiam-me fazê-la. Se me recordo corretamente, para criar as capas eu geralmente tinha o roteiro para ler. Eu lia e colocava estrelas marcando as páginas que tinham algo acontecendo que eu pensava que poderia dar uma capa. Muitas vezes, eu tinha idéias que me diziam algo que provavelmente não tinha sido notado [por outros]. A capa da n°39, por exemplo, é minha homenagem à capa da House of Mystery n°1, de 1951. A n°45 é uma paráfrase ou reciclagem de capa da Judge Dredd n°1 da Eagle. Minha grande favorita é a da Animal Man n°25.

WS: Suas capas para a série The Invisibles são estética e tecnicamente diferentes de suas capas para a Animal Man. Quais foram os principais desafios do trabalho nessa complexa série de Grant Morrison?

BB: O primeiro desafio foi o fato de que os roteiros não estavam disponíveis. Na verdade, eu logo passei a gostar disso e as capas ganharam uma vida própria. Elas eram uma combinação daquilo que a editora Shelly Roeberg queria, do que Grant Morrison queria (quando ela conseguia falar com ele ao telefone) e de qualquer idéia que surgisse na minha cabeça. As últimas doze edições eram apenas eu deixando minha mente voar livre. Especialmente as últimas capas das coletâneas. Eu poderia analisar cada capa e apontar todos os segredos por trás delas, mas isso tomaria um livro inteiro.

WS: Seu trabalho é reconhecido pelos desenhos detalhados, os belas texturas e contrastes em P&B, as expressões faciais intensas, as composições eficientes e por aí vai... O que mudou no seu processo criativo agora que o senhor não produz mais trabalhos em papel (substituído pelo comutador)?

BB: A única coisa que mudou foi a parte técnica. No fim, o computador é apenas um meio para eu alcançar o que quero. Eu estou extremamente feliz em deixar para trás todos os materiais complicados, como pincéis, canetas, aerógrafos e todas as tintas, nanquins e acrílicas. Coisas todas que precisavam ser lavadas. Agora eu posso desenhar e arte-finalizar sem quaisquer problemas e tenho ocasionalmente algumas vantagens extras como a cópia de imagens. Foto-colagem quando quero.

WS: Além de incríveis super-heróis, o senhor também desenha mulheres belíssimas e algumas páginas cômicas. Mas este é um lado de seu trabalho menos conhecido. Por favor, fale a seus fãs brasileiros sobre as séries The Actress & The Bishop e Mr. Marmoulian.

BB: Mr. Mamoulian surgiu como uma reação ao tempo que eu estava gastando em meus desenhos e minha obsessão por desenhar bem. Minha velocidade lenta estava impedindo que idéias surgissem num ritmo mais rápido. Então eu decidi que deveria desenhar uma página em duas horas e o personagem-título veio da primeira página que desenhei. Mas ele ganhou vida própria e agora eu gasto mais tempo desenhando-o. The Actress & the Bishop nasceu de uma simples ilustração que eu fiz em meu portifólio para a editora francesa Editions Deesse. Eu queria escrever e desenhar essa HQ tão bem quanto eu conseguisse. Havia uma particular qualidade inglesa nela e para contrariar o fato de que, pelo seu título, as pessoas possam pensar que ela é pornográfica ou algo assim, eu resolvi que iria escrevê-la em versinhos infantis. Eu curtia muito os filmes do Peter Greenaway. Eles tinham obsessões com números e contagem e coisas assim. As rimas em The Actress & the Bishop eram uma forma de dar a mim mesmo uma estrutura obsessiva.

WS: O senhor está produzindo agora capas para a nova minissérie em seis partes The Last Days of Animal Man (a ótima capa para o número 1 já foi comentada em uma postagem anterior aqui no Mais Quadrinhos, tendo me dado o impulso inicial para realizar esta entrevista). Depois disso, quais são seus projetos futuros?

BB: Mais viagens. Estou trabalhando num livro de fotos de uma semana que passei em Burma em 1988. Já mencionei isso? Estou produzindo uma nova história de The Actress & the Bishop. Continuando as capas para Jack of Fables, enquanto me quiserem nisso! Outros projetos pipocam, mas quem sabe se conseguirei acabar realizando-os.

WS: Brian Bolland, muito obrigado por esta entrevista! E obrigado pelo brilhante e belo trabalho!

BB: Obrigado a você!

25/07/2009

A brilliant artist from cover to cover: an interview with Brian Bolland, part3.


Last part of our exclusive interview, and Brian Bolland talks about drawing DC super-heroes, the fantastic Animal Man and The Invisibles covers, his personal projects, funny strips, gorgeous women and a lot more.

Wellington Srbek: Nobody draws DC characters better than you! Your detailed style with classic lines and bright colors gives them volume, weight, personality and life. It has something of the “Silver Age” and at the same time is completely modern. Do you have a conceptual approach to how super-heroes should look like?

Brian Bolland: Well, I grew up as a Silver Age fan and certain artists from that era were my idols. Gil Kane, Carmine Infantino, Alex Toth, Bruno Premiani. I never got into Jack Kirby I'm afraid. I was more a fan of the artists than of the characters and keener on the comics as collectable artifacts than of the stories. I seriously wanted to draw like Neal Adams but never managed it. I'm a stickler for art that's technically and anatomically well drawn but I realize there has to be much more than that. I don't think I'm particularly good at super-heroes. My work looks rather European in that I'm happier with characters that are still, poised or frozen in time rather than the kinetic action that's required from American super-hero comics. I do get asked occasionally to re-create a Silver-age cover and draw in the style of Premiani, Kane or Curt Swan. (They're more swipes really!) I do love the cleanness and the unclutteredness of the 60s covers.

WS: I simply love your Animal Man covers! They are powerful and meaningful images that add a lot to the stories. The #5 cover for instance is a masterpiece! How was the creative process on that series? Did you read the scripts and come up with the concepts for the covers?

BB: Thanks. I much prefer story-specific covers as opposed to the generic poster shot. I despair when and editor says "just do an action shot." I reply "Yes, but what exactly is it they're doing?!" I always thought 2000 AD had a mixture of action, horror and comedy that worked very well and I wasn't seeing quite that combination in American comics at the time. I'm happy with that combination and the Animal Man covers allowed me to do that. If I remember correctly I usually had a script to read for the covers. I went along and put stars on the pages of script where something was happening that I thought would make a cover. Quite often I was coming up with ideas that meant something to me that probably wouldn't have been noticed. Cover #39 for instance is my homage to the cover of House of Mystery #1 from 1951. #45 is a spoof or a re-cycling of the cover of the Eagle Judge Dredd #1. My absolute favorite is Animal Man #25.

WS: Your covers to The Invisibles series are aesthetically and technically different from your Animal Man covers. What were the main challenges working on that complex Grant Morrison’s series?

BB: The first challenge was the fact that the scripts weren't available. Soon I actually liked that and the covers took on a life of their own. They were a combination of what editor Shelly Roeberg wanted, what Grant wanted (when she could get him on the phone) and whatever idea popped into my mind. The last 12 were just me letting my mind run free. Especially the final trade paperback covers. I could analyse each cover and point out all the secrets hidden in them but it would take a whole book.

WS: Your artwork is well known for the detailed drawings, the beautiful black & white contrasts and textures, the intense facial expressions, the strong compositions and so on… What has changed on your creative process now that you don’t produce “real artwork” on paper anymore?

BB: The only thing that's changed is technical. The computer is just a means of achieving what I would have wanted anyway. I'm extremely happy to leave behind all the treacherous tools like brushes, pens, airbrushes and all the paints, inks and acrylics. All of which had to be washed. Now I can pencil and ink without any problems and I have some extra perks like tracing occasionally. Photo-collage when I want it.

WS: Besides amazing super-heroes, you also draw the most gorgeous women and some very funny strips. But this is a side of your work that is less known, so please tell your Brazilian fans something about The Actress & The Bishop and Mr. Marmoulian.

BB: Mr. Mamoulian came as a reaction to the time I was spending on my drawings and my obsession about drawing well. My slow speed was preventing ideas tumbling out at a quicker rate. So I decided I'd draw a page in two hours and the title character came from the first page I drew. But it took on a life of its own and now I spend longer drawing it. My only concession is that I only draw it when I feel like it. The Actress & the Bishop grew from a single plate I did in my portfolio for French publishers Editions Deesse. I wanted to write it and draw it as well as I could. It had a particular Englishness about it and to counter the fact that people might think from its title that it would be pornographic or something I thought I'd write it like a nursery rhyme. I was very keen on the films of Peter Greenaway. They had in them obsessions about numbers and counting and things like that. The rhyming in the Actress & the Bishop was a way of giving myself an obsessive structure.

WS: You are now producing covers to the new Animal Man 6-part mini-series. I just loved #1 cover! After this, what are your future projects?

BB: More traveling. I'm working on a book of photos of a week spent in Burma back in 1988. Did I already mention that? I'm doing a new Actress & the Bishop story. Continuing Jack of Fables covers as long as they'll have me! Other projects bubble away but who knows of I'll get round to doing them.

WS: Thanks very much for this interview, Mr. Bolland! And thanks for the brilliant and beautiful work!

BB: Thanks to you.

23/07/2009

Um artista brilhante de capa a capa: uma entrevista com Brian Bolland, parte2.


Segunda parte de nossa entrevista exclusiva e Brian Bolland fala sobre a obra-prima dos quadrinhos de super-heróis A Piada Mortal (atualmente disponível no Brasil em reedição de luxo pela Panini). Ele também nos conta como foi trabalhar com Alan Moore nessa marcante graphic novel, fala sobre quadrinhos “sombrios & violentos” e censura editorial.

Wellington Srbek: A idéia inicial para uma história especial com o Batman e o Coringa foi sua e foi também o senhor que sugeriu o nome de Alan Moore para roteirista do que veio a ser A Piada Mortal. Como foi trabalhar com Alan Moore nesta marcante graphic novel?

Brian Bolland: A primeira metade de sua pergunta está correta. Após Camelot eu estava na posição de escolher o que gostaria de fazer para a DC. Alan Moore, Kevin O'Neill, Dave Gibbons, Mick McMahon, etc. eram todos amigos meus dos tempos da 2000 AD. Alan e eu tínhamos alguns projetos que nós quase produzimos juntos, entre os quais estava uma revista Batman / Juiz Dredd. Alan e Dave tinham acabado de obter um grande sucesso com Watchmen. Eu era fascinado com o Coringa. Eu tinha visto o filme da década de 1920 O Homem que Ri [brilhantemente encarnado pelo ator alemão Conrad Veidt], do qual, dizem, Jerry Robinson tirou a idéia. Alan me perguntou que tipo de coisa eu gostaria de desenhar.
Naqueles tempos (e ainda hoje para mim, na verdade) o negócio de escrever quadrinhos e o de desenhar quadrinhos são completamente separados. O roteirista se senta em casa e escreve. O roteiro é enviado ao desenhista que o desenhará; e um não interfere no processo do outro. Foi assim com A Piada Mortal. Então, se me pergunta “como foi trabalhar com Alan?”, minha resposta é: eu pedi a Alan que a escrevesse. Ele a escreveu. Eu a desenhei.

WS: A Piada Mortal foi um quadrinho do Batman como nenhum outro antes. Foi também a história de origem do Coringa contada pela primeira vez. Foi realisticamente violenta e insana, sendo em parte responsável pela tendência dos quadrinhos “sombrios e violentos” que predominaram nas revistas de super-heróis no fim dos anos 80 e início dos 90. Mas, a despeito de toda a violência e das cenas terríveis, A Piada Mortal tem um dos desenhos mais belos e detalhados já feitos para o Batman. Quais são seus sentimentos em relação a essa incrível HQ?

BB: Quando o roteiro chegou, ele de fato continha coisas que ele não teria se eu o tivesse escrito. Eu pessoalmente jamais contaria uma história de origem do Coringa, por exemplo. Mas olhando para ela mais tarde, eu agora vejo que as partes que eu não teria incluído parecem bastante icônicas hoje. Eu às vezes penso que nós artistas britânicos que trabalhamos na 2000 AD trouxemos o caráter “sombrio & violento” conosco, quando fomos trabalhar para a DC.

WS: A primeira edição brasileira de Camelot 3000 teve uma cena de Tristan e Isolda censurada pelos editores daqui. E me parece que os editores da DC fizeram algo semelhante numa das páginas de A Piada Mortal, substituindo (ou te pedindo para substituir) os seios nus de Bárbara Gordon por um close do rosto dela. O senhor já teve algum problema com censura editorial?

BB: Eu nunca tive PROBLEMAS com censura editorial. Alguém na DC deve ter falado algo sobre aquela cena da Bárbara Gordon. Eu mudei aquele único quadro e acho que a melhorei. Eu sou ciente de todos os tipos de coisas que você não pode colocar numa capa. Nudez está fora de questão. Eu uma vez desenhei uma capa com o Robin que tinha umas estátuas gregas no fundo, que eu copiei de fotos. Entre as estátuas havia cinco mamilos visíveis. Todos foram apagados! Eu uma vez desenhei uma capa que tinha o Batman fumando um charuto. Bem, era o Hugo Strange com barba, vestido como Batman fumando um charuto. Não pude fazê-la. Talvez eles a tenham rejeitado em favor de uma idéia melhor, mas eu considero que existem várias regras não escritas que você não pode violar, e o Batman não pode ser visto fumando. E há questões legais. Eu uma vez desenhei uma capa do Batman que tinha o que parecia ser um membro da Ku Klux Klan montado num cavalo. Tivemos que acrescentar um logo no peito dele para mostrar que ele pertencia a alguma outra organização branca supremacista, pois a Ku Klux Klan tem advogados que poderiam processar!
Em agosto de 2009 vou viajar para uma convenção em Singapura. Para a ocasião, estamos imprimindo um livro contendo alguns dos meus esboços a lápis. Acabou que, infelizmente, vários dos desenhos, incluindo meus esboços favoritos da Tank Girl, não podem ser incluídos devido à postura muito conservadora das autoridades daquele país. Eu acredito que meus livros Bolland Strips! e The Art of Brian Bolland não estarão à venda lá pelo mesmo motivo.

WS: Depois de ter nos dado a versão definitiva do Coringa em A Piada Mortal, nós não vimos muitas outras histórias desenhadas pelo senhor. Quais são as razões para isso?

BB: Bem, após A Piada Mortal, muitos trabalhos me foram oferecidos. Tive que recusar muitos deles, mas as pessoas diziam “se você fizesse ao menos a capa...”. Produzir capas significa que, apenas daquela única vez, eu posso desenhar um monte de personagens que de outra maneira eu não desenharia. No verão de 1988, eu saí no que pensei que seria uma longa viagem pelo Oriente, então eu não estava disponível para compromissos de trabalho de longo prazo. Além disso, tendo trabalhado com o melhor roteirista e tendo me sido dado tanto tempo quanto eu quisesse para desenhar e eu mesmo arte-finalizar [A Piada Mortal], eu não queria dar um passo para trás. Desde Alan, eu não desenhei uma história significativa escrita por outro roteirista. Exceto por MIM. Eu de fato escrevi e desenhei "An Innocent guy" em Batman Black & White, "The Kapas" em Strange Adventures e "The Princess & the Frog" em (como era o nome?) True Romance. Além de Mr. Mamoulian e The Actress & the Bishop. Mas falaremos deles mais tarde.

A seguir: Animal Man, The Invisibles, fantásticas capas, quadrinhos cômicos, mulheres belíssimas e muito mais!

21/07/2009

A brilliant artist from cover to cover: an interview with Brian Bolland, part2.


Part2 of our exclusive interview, and Brian Bolland talks about the comics masterpiece The Killing Joke, how it was to work with Alan Moore on this groundbreaking graphic novel, and also “grim & gritty” comics and editorial censorship.

Wellington Srbek: The original idea for a Batman and Joker special story was yours, and it was also you who suggested the name of Alan Moore as the writer for what came to be The Killing Joke. So, how it was to work with Mr. Moore on this groundbreaking graphic novel?

Brian Bolland: The first half of your question is correct. After Camelot I was in a position to do whatever I wanted for DC. Alan Moore, Kevin O'Neill, Dave Gibbons, Mick McMahon, etc. were all friends from the 2000 AD days. Alan and I had a couple of projects that we nearly worked on together, one of which was a Batman / Judge Dredd book. So I'd already seen parts of a script by him containing Batman. Alan and Dave had just had a big hit with Watchmen. I was fascinated by the Joker. I'd seen the 1920s film The Man Who Laughs from which, they say, Jerry Robinson got the idea. Alan asked me what sort of thing I wanted to draw.
Back in those days (and still today for me, actually) the business of writing comics and drawing comics were completely separate. The writer sat at home writing. The script was sent to the artist who would draw it - and neither would interfere with the other's process. That's the way it was with The Killing Joke. So if you ask "how was it to work with Alan?" my answer is: I asked Alan to write it. He wrote it. I drew it.

WS: The Killing Joke was a Batman comic like no other before. It was the Joker origin story told for the first time. It was realistically violent and insane, and it was in part responsible for the “grim & gritty” trend that dominated super-hero comics in the late 80s early 90s. But despite all the violence and terrible scenes, The Killing Joke has the most beautiful and detailed Batman artwork. What are your feelings about this amazing book?

BB: When the script came it did contain things that I wouldn't have had in it if I'd written it. I personally would never have told a Joker origin for instance. But looking at it later I can now see that the bits I wouldn't have included look pretty iconic today. I sometimes think that us artists from Britain who'd been in 2000 AD brought the "Grim & Gritty" with us when we went to work for DC.

WS: The first Brazilian edition of Camelot 3000 had a Tristan and Isolde scene censored by the editors here. And it seems that the DC editors did something like that to one of The Killing Joke pages, replacing (or asking you to replace) the naked breasts of Barbara Gordon by a close-up of her face. Have you ever had any problems with editorial censorship?

BB: I've never had PROBLEMS with editorial censorship. Somebody at DC must have mentioned that Barbara Gordon scene. I changed the one panel and I thought it improved it. I'm aware of all kinds of things you can't put on a cover. Nudity is out. I once drew a Robin cover that had some Greek statues in the background that I copied from photos. Between them the statues had five visible nipples. All were whited out! I once drew a Batman cover that had Batman smoking a cigar. Well, it was Hugo Strange with beard, dressed as Batman smoking a cigar. I couldn't do it. Maybe they rejected it in favor of another idea but I assume there are various unwritten rules that you can't cross and Batman cannot be seen smoking. And there are legal issues. I once drew a Batman cover that had what appeared to be a member of the Ku Klux Klan sitting on a horse. We had to add a logo on his chest to show that he belonged to some other white supremacist organization because the Ku Klux Klan have lawyers who might sue!
In August 2009 I'm off to a convention in Singapore. For the occasion we're printing a book containing some of my penciled prelim roughs. It turns out, unfortunately, that quite a few of the drawings, including my favorite Tank Girl roughs, can't be included because of the very conservative stance of the authorities in that country. I assume my books Bolland Strips! and The Art of Brian Bolland won't be on sale there for the same reason.

WS: After giving us the definitive Joker in The Killing Joke, we haven’t seen many stories drawn by you. What are the reasons for this?

BB: Well, after The Killing Joke, I had a lot of work offered to me. I had to turn much of it down but people would say "Could you just do the cover." Doing covers meant that, just that one time, I could draw a whole lot of characters that I wouldn't otherwise draw. In summer 1988 I went off on what I thought would be a long trip round the Far East so I wasn't able to commit to long term work. Also, Having worked with the best writer and having been given as much time as I wanted to pencil and ink myself I didn't want to take a backward step. Since Alan I haven't drawn a significant story by any other writer. Except for ME. I did write and draw "An Innocent guy" in Batman Black & White, "The Kapas" in Strange Adventures and "The Princess & the Frog" in (was it called?) True Romance. Also Mr. Mamoulian and The Actress & the Bishop. But more on that later.

Next: Animal Man, The Invisibles, beautiful covers, funny strips, gorgeous women, and a lot more!

19/07/2009

Um artista brilhante de capa a capa: uma entrevista com Brian Bolland, parte1.


Sou capaz de comprar uma revista em quadrinhos simplesmente por ela ter uma capa desenhada por Brian Bolland. Mesmo! Tornei-me um fã desse brilhante artista britânico desde que vi seu trabalho pela primeira vez em A Piada Mortal, a marcante graphic novel do Batman e do Coringa escrita por Alan Moore. Em seguida vieram suas espetaculares capas para a revista Animal Man e outros trabalhos que o colocaram entre meus desenhistas favoritos dos quadrinhos. Nesta entrevista em três partes, Brian Bolland fala de seus primeiros trabalhos, suas histórias com Juiz Dredd, Camelot 3000, seus melhores trabalhos para a DC e muito mais. Espero que gostem!

Wellington Srbek: É realmente uma honra estar falando com o senhor! Vamos começar com uma pergunta biográfica: onde e quando nasceu e como a arte dos quadrinhos entrou em sua vida?

Brian Bolland: Em primeiro lugar, uma divulgaçãozinha do meu livro The Art of Brian Bolland, no qual respondo essa questão da forma mais completa e longa que eu possivelmente consigo. Então, resumindo: nasci em 26 de março de 1951 (no mesmo dia que o estimado desenhista José Luis García-Lopez e do biólogo e ateísta Richard Dawkins). Próximo à cidade inglesa de Boston (a Boston original, diga-se de passagem). Os quadrinhos norte-americanos começaram a ser importados para a Grã-Bretanha em 1959. Comecei a me interessar por eles em 1960-61, quando eu tinha dez anos. Comecei a desenhar minhas próprias versões amadorescas deles, mais ou menos na mesma época.

WS: O senhor tem uma formação em Artes e design gráfico, mas suas páginas e capas de quadrinhos mostram um profundo conhecimento e um verdadeiro amor por esta forma de arte. Que artistas de quadrinhos mais influenciaram sua visão e seu estilo?

BB: Eu passei cinco anos em diversas escolas de arte. Os quadrinhos não tinham ainda penetrado no ambiente das escolas de arte. Eu passei aquele tempo estudando toda a arte moderna e contemporânea. Parte dela eu gostava. Parte dela eu não gostava. Nunca fui muito bom com os Impressionistas. Quando ainda estava na escola de arte, eu gostava de Salvador Dali e René Magritte. Eu era impressionado com Ingres.

WS: Tenho dois ou três exemplares da reedição norte-americana da série Powerman que o senhor, Dave Gibbons e outros quadrinistas produziram para o mercado nigeriano. Acredito que esse foi seu primeiro trabalho pago com quadrinhos e também uma oportunidade para aprender o ofício de desenhista, certo?

BB: Está correto!

WS: Então vieram as histórias com o Juiz Dredd e as capas para a 2000 AD, que fizeram as pessoas realmente prestarem atenção em Brian Bolland. Como conseguiu esse trabalho e como era trabalhar na 2000 AD?

BB: Lá atrás, na segunda metade dos anos 60, havia os fanzines de quadrinhos. Pessoas como Dave Gibbons e meu amigo de perto de onde eu morava, Dave Harwood, eram atuantes neles. Em 1972, alguns de nós nos reunimos numa convenção de quadrinhos no Waverley Hotel em Londres. Em 1977, um dos meus amigos dos tempos de fanzinagem, Nick Landau, estava trabalhando como editor na 2000 AD e me pediu que desenhasse uma história do Juiz Dredd, substituindo um desenhista que tinha dado o fora. Eu tinha o mesmo agente que o Dave Gibbons (que foi quem nos conseguiu o trabalho em Powerman). Ele já tinha me conseguido trabalho em capas para a 2000 AD. Eu amava trabalhar na 2000 AD. Todas as pessoas envolvidas estavam entusiasmadas com esse novo personagem de sucesso. As histórias eram ótimas, e engraçadas. Nós estávamos impressionados com o trabalho de Mick McMahon. Infelizmente, a empresa que era a dona da 2000 AD não estava tratando muito bem os artistas freelance.

WS: Creio que o senhor foi o primeiro artista a trabalhar para o mercado norte-americano no que se costumou chamar de “a invasão britânica”. Por favor, conte a seus fãs brasileiros como isso aconteceu.

BB: Outro de meus amigos do universo dos fanzines era Richard Burton (não o ator!). Ele conhecia Paul Levitts, um outro ex-fanzineiro, de Nova York. Paul costumava publicar o The Comic Reader. Agora ele é uma figura importante na DC. Em 1979, Richard ouviu de Paul que o desenhista norte-americano Joe Staton iria a Londres para uma convenção e precisaria de uma mesa para trabalhar enquanto estivesse aqui. Ele desenhava a Green Lantern naquele tempo. Joe e sua esposa Hilarie vieram ficar conosco e eu assistia enquanto ele trabalhava na mesa de desenho de minha esposa, que ela não estava usando na época. Quando Joe soube que eu era um fã do Lanterna Verde desde que tinha dez anos, ele telefonou para seu editor, Jack C. Harris, e disse que estava no apartamento desse artista inglês e o que Jack achava de me deixar desenhar a capa daquela edição. Foi uma decisão arriscada da parte do Jack. Ele provavelmente havia visto meu trabalho em Juiz Dredd, que tinha sido visto apenas por uns poucos entusiastas nos Estados Unidos. Naquele tempo, antes das máquinas de fax ou dos e-mails ou dos computadores, parecia difícil trabalhar para o outro lado do Oceano Atlântico, então levou alguns anos até que resolvêssemos a logística da coisa.

WS: Camelot 3000 foi seu primeiro trabalho mais expressivo para a DC, e é também sua obra mais extensa. O que o senhor pode nos dizer sobre esta série em doze edições (agora graphic novel)?

BB: Bem, trabalho constante não veio da DC para mim logo de cara. Levou um tempo para eles descobrirem o que fazer comigo. Então o editor Len Wein e o roteirista Mike Barr tiveram a idéia para Camelot 3000. Fui escolhido para desenhá-la. Fui mandado numa viagem promocional para a San Diego Comic Convention e outros lugares. Eu nunca tinha sido tratado tão bem antes. Acho que aquela foi a primeira “maxissérie” impressa no padrão prestige, em papel de melhor qualidade que a usual.

A seguir: A Piada Mortal!

17/07/2009

A brilliant artist from cover to cover: an interview with Brian Bolland, part1.


I will buy a comic book just because it has a Brian Bolland’s cover. Really! (I’ve just done that with this new Animal Man series.) Since I first saw his work on The Killing Joke I’ve become a fan. After that came his amazing covers to Animal Man and other works that assured him a place in my personal comic book Olympus. In this 3-part interview, Mr. Bolland talks about his early works, the Judge Dredd stories, Camelot 3000, his fantastic covers for DC and more. Enjoy!

Wellington Srbek: It’s a real honor to be talking to you, Mr. Bolland. Let’s begin with a biographical question: where and when you were born, and how the art of comics entered your life?

Brian Bolland: First of all a plug for my book The Art of Brian Bolland in which I've answered that question in about as thorough and lengthy a way as I possibly could. So, to summarize: Born March 26th 1951. I have the same birthday as esteemed artist José Luis García-Lopez and biologist and atheist Professor Richard Dawkins. Near the English town of Boston. That's the original Boston by the way. American comics started being imported into Britain in 1959. I first took an interest in them in 1960/61 when I was 10. I started drawing my own childish versions of these round about that time.

WS: You have a background in Arts and graphic design, but at the same time your comic book pages and covers display a profound understand and a true love for this art form. Which comic book artists most influenced your view and your style?

BB: I spent 5 years in various art schools. Comics hadn't penetrated into the art school world. I spent that time studying the whole of modern and contemporary art. Some of it I liked. Some of it I didn't. I was never very keen on the Impressionists. I liked Salvador Dali and René Magritte while still at school. I was impressed by Ingres.

WS: I’ve got here a couple of American reprints of the Powerman strip you, Dave Gibbons and others produced for the Nigerian market. I believe that that was your first paid job with comics and also an opportunity to learn the craft, is that right?

BB: That's correct!

WS: Then came the Judge Dredd stories and the covers to 2000 AD, which made people really pay attention to your work. How did you get the job, and how it was to work on 2000 AD?

BB: Way back in the second half of the 1960s there were comics fanzines. People like Dave Gibbons and my friend from near where I lived, Dave Harwood, were active in all that. In 1972 quite a few of us met up at a comic convention in the Waverley Hotel in London. In 1977 one of my friends from fandom, Nick Landau, was working as the editor on 2000 AD and he asked me to draw a Judge Dredd story to replace an artist who had dropped out. I had the same artists' agent as Dave Gibbons - the one who got Dave and me the job on Powerman. He had already fixed me up with cover work on 2000 AD. I loved working on 2000 AD. All the people involved were enthusiastic about this new hit character. The stories were great - and funny. We were very impressed by Mick McMahon's work. Unfortunately the company who owned 2000 AD wasn't treating its freelance artists very well.

WS: I believe that you were the first British artist to work for the American market in what is usually called “the British invasion”. Please tell your Brazilian fans how that came to be.

BB: Another of my friends from the fanzine world was Richard Burton. (Not the actor!) He knew Paul Levitts, another ex-fanzine person from New York. Paul used to put out The Comic Reader. Now he was something important at DC Comics. In 1979 Richard heard from Paul that US artist Joe Staton would be staying in London for a convention but would need a table to work on while he was here. He was drawing Green Lantern at the time. Joe and his wife Hilarie turned up and I watched him draw on my wife's drawing table which she wasn't using at the time. When Joe heard I'd been a Green Lantern fan since I was 10 he phoned up Jack C. Harris, his editor, and said he was in the flat of this English artist and how about letting him draw the cover on the current issue. It was a risky move on Jack's part. He probably saw my work on Judge Dredd which had only been seen by a few enthusiasts in the US. At the time, before fax machines or e-mail or computers, it seemed difficult to work across the Atlantic Ocean so it was a few years before we worked out the logistics of things.

WS: Camelot 3000 was your first major work for DC, and it is also your biggest work in terms of length. What can you tell us about this 12-part series / graphic novel?

BB: Well, regular work didn't come for me from DC right away. It took them a little while to work out what to do with me. Then editor Len Wein and Writer Mike Barr pitched the idea of Camelot 3000. I was chosen to draw it. I was whisked off on the publicity bandwagon to the San Diego Comic Convention and places. I'd never been treated so well before. It was American comics' first prestige "maxi-series" printed on better than usual paper I think.

Next: The Killing Joke!

15/07/2009

A Liga Extraordinária chega ao século 20.


Numa co-edição da Top Shelf Productions com a Knockabout Comics, foi lançado recentemente o primeiro número do Volume III de A Liga Extraordinária, com roteiro de Alan Moore e desenhos de Kevin O’Neill, cores por Ben Dimagmaliw e letras por Todd Klein. Intitulada The League Of Extraordinary Gentlemen - Century: 1910, a HQ mostra uma nova formação do grupo de heróis literários, dessa vez às voltas com um misterioso complô ocultista que parece planejar o fim do mundo. Ainda contando com Mina Murray e Allan Quatermain, a Liga do século 20 traz três novas figuras literárias: Orlando o homem / mulher imortal, o sensitivo Thomas Carnacki e o ladrão Anthony Raffles. Como aconteceu antes, a nova minissérie inclui uma narrativa ilustrada paralela, “Minions of the Moon” (que avança na cronologia do grupo e liga o novo capítulo a The Black Dossier).

Segundo a sinopse dos editores, esta primeira edição “tem como cenário a Londres de 1910, doze anos após a malfadada invasão marciana e nove anos desde que a Inglaterra colocou um homem na lua. Nas entranhas do Museu Britânico, o caçador de fantasmas Carnacki é acossado por visões de uma sombria ordem ocultista que tenta criar algo chamado a “Criança Lunar”; enquanto isso, nas docas de Londres, o mais notório assassino em série do século anterior retorna para continuar seus horrendos atos. Trabalhando para a Inteligência britânica de Mycroft Holmes, ao lado de um rejuvenescido Allan Quatermain, do ladrão reformado Anthony Raffles e do guerreiro eterno Orlando, a Senhorita Murray é atirada a uma opera brutal encenada no cais por um elenco que inclui a enraivecida Pirata Jenny e o carismático carniceiro conhecido como Mac a Faca”.

Com a morte do Homem Invisível e de Mr. Hyde no Volume II, o último membro remanescente da Liga vitoriana (além da imortal Mina e do rejuvenescido Allan) é o Capitão Nemo, que faz em Century: 1910 uma breve e derradeira participação (com falas numa escrita hindu, não traduzidas). Sherlock Holmes e Próspero são apenas citados, mas o elenco literário da HQ traz ainda o marinheiro Ismael e alguns personagens saídos de A Ópera dos Três Vinténs de Bertold Brecht. Neste caso, mais que somente tomar emprestado os personagens, Moore imitou a estrutura lírica e a temática social da peça brechtiana. Boa parte da história se passa num porto povoado de vagabundos, ladrões, vendedores ambulantes e prostitutas. Bebida e sexo (por vezes quase explícito) dão o tom das cenas, enquanto seios transbordam de decotes e a violência se torna bastante explícita. Crimes e miséria mostram-se então os sintomas de um quadro social mais amplo: a degradação e a exploração humana que Moore (brechtianamente) denuncia em sua história.

Ao lado dos empréstimos intertextuais, a interface dos quadrinhos com outras linguagens esteve presente desde os primeiros volumes de A Liga Extraordinária, chegando a ser o elemento principal em The Black Dossier (impresso em diferentes formatos, tipos de papel e formas narrativas). Já em Century: 1910, a utilização de elementos de outras linguagens fica contida ao formato da página de quadrinhos. Esta, por sua vez, segue o padrão mais regular que Moore empregou nos primeiros volumes da série. Sem alienígenas ou personagens mais fantásticos, o novo capítulo da Liga traz em geral desenhos menos impressionantes que os vistos antes, exceto talvez por uma página dupla com um ataque do Nautilus versão século 20 (o fato é que desde seus primeiros trabalhos para a 2000 AD, O’Neill sempre foi um artista que se destacou em HQs com bastante pirotecnia e personagens titânicos). As cores ajudam no clima de época e nos cenários decadentes, embora por vezes sejam excessivamente escuras para o traço fino do desenhista.

The League Of Extraordinary Gentlemen - Century: 1910 proporciona uma boa leitura, de diálogos inteligentes e um ou dois momentos muito interessantes. Esse primeiro capítulo não traz, porém, Alan Moore e Kevin O’Neill em sua melhor forma, ou mesmo o melhor que já tivemos em A Liga Extraordinária. Mas isso não significa que essa primeira parte do Volume III seja um trabalho ruim (sendo de longe bem superior às HQs publicadas pelas grandes editoras norte-americanas). Com os problemas e desentendimentos envolvendo as adaptações de seus quadrinhos para o cinema e após a conclusão das séries regulares para a Linha ABC, Moore alardeou sua “aposentadoria” dos quadrinhos (para grandes editoras). Mas, quase ao mesmo tempo, o roteirista inglês chegou à conclusão de que a idéia intertextual e a base metalinguística de A Liga Extraordinária poderiam render muitas histórias, abarcando toda a ficção humana, das narrativas antigas aos tempos atuais. Resta-nos, portanto, aguardar pelos próximos capítulos desse verdadeiro épico ficcional.

The League Of Extraordinary Gentlemen: Volume III será publicado inicialmente como uma minissérie em três edições de 80 páginas cada, cujos capítulos posteriores acontecerão em 1968 e 2009 (com previsão de lançamento apenas para 2010). Para quem quiser dar uma conferida nas primeiras páginas de Century: 1910, os editores disponibilizaram uma pequena prévia.

12/07/2009

A Liga Extraordinária de Alan Moore e Kevin O’Neill.


Lançada em 1999 pelo selo Wildstorm da DC Comics, a Linha ABC apresentou novas séries e personagens criados por Alan Moore. Ao lado das revistas regulares Tom Strong, Promethea, Tomorrow Stories e Top Ten, a nova linha de quadrinhos trouxe uma criação à parte: The League of Extraordinary Gentlemen. Publicada como uma minissérie em seis edições, a nova HQ desenhada por Kevin O’Neill trazia uma espécie de “Liga da Justiça da Era Vitoriana”. Um testemunho da genialidade de Alan Moore, a idéia básica para A Liga Extraordinária é incrivelmente simples: substituir os super-heróis tradicionais por personagens saídos da literatura fantástica de fins do século 19.

As raízes para a criação de A Liga Extraordinária estendem-se pelo menos até 1989, quando Moore começou a produzir duas séries para a antologia Taboo de Steve Bissette: From Hell e Lost Girls (ambas concluídas recentemente). Tratando-se de dois dos trabalhos mais extensos e complexos já feitos pelo roteirista inglês, essas HQs certamente demandaram uma grande pesquisa contextual. Ambientadas entre as décadas de 1880 e 1910, a primeira série mostra os assassinatos cometidos por Jack o estripador, enquanto a outra traz aventuras eróticas com as personagens literárias Alice, Doroty e Wendy. Não fica difícil imaginar que toda a pesquisa para From Hell e algumas das idéias de Lost Girls tenham influenciado a criação de A Liga Extraordinária.

A Liga reunida por Moore e O”Neill tinha como integrantes Mina Murray (de Drácula), Allan Quatermain (de As Minas do Rei Salomão), Capitão Nemo (de 20.000 Léguas Submarinas), o Homem Invisível (do livro homônimo), Doutor Jeckyll e Mr. Hyde (de O Médico e o Monstro). A HQ contou ainda com participações especiais e pequenas aparições, como no caso de Sherlock Holmes e Professor Moriarty (saídos das histórias de mistério do detetive mais famoso do mundo). Completavam ainda as revistas um texto ilustrado, protagonizado por Allan Quatermain e outras personagens literárias. Misturando citações e explosões, pesquisa e intriga, a minissérie fez sucesso, merecendo uma continuação (já enunciada em sua última página).

Entre meados de 2002 e 2003, foram publicados os seis números de The League of Extraordinary Gentlemen: Volume II. Dessa vez, no lugar de maquiavélicos vilões e terríveis chineses, a ameaça foram maquiavélicos e terríveis marcianos (saídos das páginas de A Guerra dos Mundos). Novamente, capítulos de um texto ilustrado completaram as edições da minissérie. Uma obra-prima dos quadrinhos de aventura fantástica, a segunda aventura da Liga Extraordinária foi ainda melhor que a anterior, sendo uma mistura perfeita de ação e conteúdo literário (além de uma das melhores adaptações já feitas para o clássico de H.G. Wells). Ao final da história, porém, entre mortos e feridos nem todos se salvaram e a própria Liga saiu praticamente desmantelada.

Mas nada de tão ruim poderia ocorrer à liga de heróis reunida por Moore e O’Neill do que uma horrorosa versão hollywoodiana! Uma das piores adaptações de quadrinhos já feitas para o cinema, o filme estrelado por Sean Connery rendeu ainda chateações judiciais para Moore, acusado de criar sua HQ para acobertar o suposto plágio de um roteiro de cinema (episódio que motivou o rompimento do roteirista com a DC Comics e sua exigência de total desassociação das produções cinematográficas que se façam a partir de suas criações). Ganhando reedições encadernadas e também publicações luxuosas em absolute edition, os dois primeiros volumes de A Liga Extraordinária são partes complementares de uma história maior: as aventuras da formação vitoriana do grupo.

Como descobrimos já nas primeiras edições, no passado houve outras formações da Liga, que remontaria aos tempos de William Shakespeare (o mago Próspero seria o responsável pela fundação do grupo). Além disso, como se descobre nas edições mais recentes (The Black Dossier e Century: 1910), houve outras formações da Liga após os desastrosos eventos da invasão alienígena de 1898. Segundo declarou Moore, as aventuras do grupo e de seus personagens poderão ser contadas ainda por muitos anos, potencialmente abarcando todo o universo ficcional. Mas mesmo desconsiderando os lançamentos mais recentes e os que venham futuramente, os dois primeiros volumes de A Liga Extraordinária já merecem um lugar na história dos quadrinhos e da literatura!

08/07/2009

O primeiro “arco” dos X-Men de Warren Ellis (e Simone Bianchi).


Recentemente, a Panini começou a publicar a fase da Astonishing X-Men escrita pelo inglês Warren Ellis e ilustrada pelo italiano Simone Bianchi. Por coincidência, também acaba de ser lançado nos Estados Unidos o último capítulo do primeiro “arco” escrito por Ellis, que é também a última edição ilustrada por Bianchi. Aproveito então a oportunidade para fazer a análise das seis edições produzidas pela dupla e ainda dos dois números da minissérie Astonishing X-Men: Ghost Boxes, também escrita por Ellis e desenhada por diferentes ilustradores, com capas ilustradas por Bianchi.

Devido ao sucesso dos filmes e a algumas boas HQs produzidas por autores como os escoceses Grant Morrison e Frank Quitely, na última década os X-Men voltaram ao primeiro plano dos quadrinhos. Com o lançamento em 2004 da série Astonishing X-Men, criada pelos norte-americanos Joss Whedon e John Cassaday, a Marvel consolidou um modelo editorial que soma qualidade autoral e bons resultados comerciais. Mas, como estava pré-determinado, após vinte e quatro edições e um especial elogiados pelo público e pela crítica, os autores deixaram a revista em 2008, abrindo caminho para o inglês Warren Ellis e o italiano Simone Bianchi. Contudo, famosos por trabalhos mais autorais, os atuais responsáveis pela Astonishing X-Men talvez não consigam agradar tão unanimemente quanto seus antecessores.

Estreando na Astonishing X-Men n°25, Ellis e Bianchi trabalharam no mesmo modelo editorial que a Marvel adotou para a primeira fase da revista. A fórmula é contratar autores renomados para produzirem uma série limitada que dará origem a coletâneas com seis capítulos cada, que depois ganharão reedições ampliadas com doze capítulos, sendo que provavelmente mais tarde tudo será reunido num único calhamaço com centenas de páginas (a omnibus edition). Mas, desta vez, a fórmula pode não funcionar tão bem, já que a Marvel reuniu numa mesma série comercial dois autores com trabalhos marcantemente pessoais. Isso é o que vemos nas primeiras páginas produzidas pela dupla, que não repetem o caráter mais clássico da fase anterior, baseando-se em temas recorrentes e num estilo pessoal inconfundível.

Na primeira página de Astonishing X-Men n°25, uma nota editorial anuncia: “Uma nova era na história mutante começou. Com sua antiga base destruída, os X-Men transferiram-se para São Francisco na esperança de estabelecer um novo refúgio para sua raça. Com os mutantes agora reduzidos a poucas centenas, o líder dos X-Men, Ciclope, está determinado a proteger essa frágil comunidade por quaisquer meios necessários”. O que vemos a seguir, no entanto, não é nada tão dramático: Wolverine dormindo numa árvore, Fera cantarolando, a nova x-man Armadura reclamando de seu codinome, Ciclope e Emma Frost acordando juntos, a chegada de Tempestade... Sucedem-se então questões acerca da qualidade do café, diálogos cheios de implicâncias e cinismo, explicações sobre a nova estratégia de atuação do grupo...

Quando a revista está caminhando para o fim, finalmente os X-Men entram (quase) em ação, ao serem chamados pela polícia local para auxiliar na investigação de um assassinato envolvendo mutantes. Ellis ainda tem espaço para uma de suas explicações pseudo-científicas, antes de encerrar seu primeiro roteiro para a série anunciando uma trama envolvendo (de novo) naves e tecnologia alienígenas. E é exatamente isso (e um pouco mais de ação) o que vemos em Astonishing X-Men n°26, quando acompanhamos os X-Men numa viagem a um “cemitério de espaçonaves”, onde o mutante assassino se encontra. É introduzido aí o elemento que dá título a esses capítulos: “Ghost Box”, um poderoso aparato de origem extradimensional (sim, novamente Ellis apresenta uma trama envolvendo viagens e conflitos num “multiverso”).

Em Astonishing X-Men n°27, os heróis mutantes estão de volta à base em São Francisco, onde temos mais diálogos ácidos e explicações “científicas”. Mas como os X-Men de Ellis não “esquentam cadeira”, logo partimos numa viagem até uma misteriosa região da China. Em Astonishing X-Men n°28, exploramos a cidade celestial dos mutantes chineses, onde são dadas algumas explicações sobre genética extradimensional. Para agradar aos leitores, o roteirista concede aos X-Men alguma ação contra monstros mutantes, adicionando uma peça ao mistério: o nome de um ex-x-man que andava fora de circulação há algum tempo. Surpreendentemente, isso é quase tudo que vemos nos quatro capítulos iniciais de “Ghost Box”. Assim, no conjunto, as primeiras histórias de Ellis para os X-Men deixam a sensação de muita conversa para pouca história.

Se temáticas e idéias emprestadas de outros trabalhos dão base a “Ghost Box”, o elemento marcante das HQs são as páginas criadas pelo desenhista Simone Bianchi, em parceria com outros artistas italianos. No traço de Bianchi, todos os personagens ganharam novas feições e caracterizações incrivelmente detalhadas (embora nem sempre agradáveis). Refletindo-se nas composições de página e divisões de quadros, o visual privilegia sobreposições e diagonais, elementos decorativos e uma narrativa oblíqua. Áreas em branco e recortes, sombras em aguada e cores mais apagadas dão um tom frio às páginas, combinando com o tema da história. Com tudo isso, as imagens criadas por Bianchi & Cia. são visualmente impressionantes, mas destoam um pouco do dinamismo que se costuma esperar de uma revista dos X-Men.

Com um estilo tão elaborado e trabalhoso, Bianchi e seus colaboradores não conseguiram acompanhar a periodicidade mensal da série (mais uma prova de que padrões editoriais e qualidade artística nem sempre combinam). Para compensar, a Marvel lançou a minissérie em duas edições Astonishing X-Men: Ghost Boxes, escrita por Ellis e ilustrada por diferentes desenhistas, tendo apenas capas ilustradas por Bianchi (o que se fez para manter uma unidade visual com a série principal). Com duas histórias de oito páginas em cada edição (além do texto original dos roteiros e de reproduções das páginas a lápis), a minissérie mostra acontecimentos em quatro Terras diferentes, envolvendo tramas e invasões extradimensionais (um tema excessivamente recorrente nos trabalhos de Ellis, bastando citarmos Authority e Planetary).

Na primeira das quatro histórias, vemos o trabalho dos veteranos Alan Davis e Mark Farmer, numa HQ centrada no mutante assassino que apareceu em Astonishing X-Men n°26. As três narrativas seguintes têm artistas menos conhecidos e são narradas na perspectiva de três diferentes X-Men (Emma Frost, Ciclope e Armadura). A primeira história curta de Ghost Boxes, com sua temática dos universos paralelos, tem um gostinho da Captain Britain que Davis produziu para a Marvel Britânica nos anos 80. Já as HQs seguintes, ilustradas por Adi Granov, Clayton Crain e Kaare Andrews, têm um visual mais sombrio e um tom pós-apocalíptico. No geral, sem diálogos cínicos e tendo roteiros mais concisos, o trabalho de Ellis nas duas edições da minissérie é até mais interessante do que o visto nos capítulos da série regular.

Astonishing X-Men n°29 começa ainda na cidade celestial chinesa, onde os X-Men continuam buscando informações sobre a invasão extradimensional. Com imagens amplas e poucos quadros por página, duas páginas de um só quadro e uma outra página dupla, mais uma vez o destaque são as imagens produzidas por Bianchi e seus colaboradores. Quanto ao roteiro de Ellis, novamente sobra conversa e falta história. Em Astonishing X-Men n°30 as coisas não mudam muito: o roteiro deixa a desejar e as imagens são espetaculares (ainda melhores, aliás, que nas edições anteriores). Com direito a uma página-pôster na despedida de Bianchi do título, esta edição final fecha deixando a sensação de que Ellis ainda precisa mostrar a que veio (o que ele poderá fazer na continuação da série, em parceria com Phil Jimenez).

A edição final da parceria Ellis & Bianchi mal esfriou e a Marvel já anunciou para meados de agosto o lançamento da coletânea em capa-dura Astonishing X-Men: Ghost Box. Já para quem quiser conferir em português, a atual fase dos heróis mutantes é publicada no Brasil nas páginas de X-Men Extra da Panini. E para saber mais sobre os heróis mutantes da Marvel e outros temas tratados nesta postagem, clique nos marcadores abaixo.

05/07/2009

Muiraquitã: Extras (10)


Mas quem teve um papel especial mesmo foi o falante chafariz que ajuda a solucionar o mistério no capítulo do álbum Muiraquitã dedicado a Ouro Preto.

Muiraquitã: Extras (9)


Não poderia faltar uma imagem geral dos telhados barrocos, pelos quais o bicho-papão da HQ faz suas incursões noturnas.

Muiraquitã: Extras (8)


Uma vista “de cima do muro”, com outra igreja barroca à frente e o Pico do Itacolomy ao fundo.

Muiraquitã: Extras (7)


“O muro mais fantástico do mundo”, segundo minha opinião, que fica abaixo da igreja de São Francisco em Ouro Preto, e foi construído com pedras de Minas e óleo de baleias do Atlântico (obs. a foto não faz jus ao muro!).

Muiraquitã: Extras (6)


Também aparece na HQ a tradicional Feirinha de Artesanato em Pedra Sabão, que fica ao lado da igreja de São Francisco.

Muiraquitã: Extras (5)


Um dos meus pontos preferidos em Ouro Preto não poderia deixar de aparecer na HQ: a Igreja de São Francisco, uma linda joia barroca projetada por Aleijadinho.

Muiraquitã: Extras (4)


Já nesta foto os destaques são o casario e o calçamento característicos daquela cidade barroca.

Muiraquitã: Extras (3)


Nesta foto, vemos a imponente Matriz do Pilar, onde começa o quarto capítulo do álbum Muiraquitã.

Muiraquitã: Extras (2)


Na criação de uma história em quadrinhos, muitas vezes o cenário é bem mais do que o ambiente onde a trama acontece. Por si sós, cidades fantásticas como Ouro Preto (MG) já sugerem o clima e fornecem inspiradoras “locações” para uma história. Este foi o caso do quarto capítulo de Muiraquitã, no qual os personagens principais viajam a Ouro Preto para investigar o estranho desaparecimento de crianças.

Tendo a trama da história em mente, o viajei àquela incrível cidade, especialmente para tirar as fotos que serviriam de base para o trabalho do desenhista Laz Muniz, e que podem ser conferidas nesta e nas próximas postagens. Começamos pela Praça Tiradentes, com o monumento ao mártir da Inconfidência Mineira ao centro e o Pico do Itacolomy à esquerda.

Muiraquitã: Extras (1)


A ideia inicial que originou o álbum Muiraquitã veio numa viagem que fiz à Amazônia, no ano 2000. Num passeio pelo majestoso Amazonas, tive um breve contato com a fauna turística local, que acabou fazendo uma “ponta” nas páginas do álbum.

MUIRAQUITÃ e outras lendas brasileiras.


Um de meus projetos mais extensos nos últimos anos foi o álbum Muiraquitã, concluído em 2004 e publicado em 2006 numa edição independente. Ganhador do Troféu Casa dos Quadrinhos de melhor lançamento mineiro do ano, a HQ surgiu em 2002, após a morte do mestre Flavio Colin, tendo sido uma espécie de “trabalho de luto” pela perda de um amigo muito querido. Com 116 páginas desenhadas por Laz Muniz, Muiraquitã é uma viagem de aventuras e mistérios por locais simbólicos do Brasil, em que encontramos versões modernas de algumas das principais lendas brasileiras.

A história começa quando, numa viagem à Amazônia, o biólogo Miguel de Andrade “acidentalmente” encontra um misterioso talismã em forma de rã. De maneira inexplicável, a esculturinha verde ganha então vida, incorporando-se a Miguel. Na busca por compreender esse estranho acontecimento, o rapaz conhece o Professor Cornelius Flamarion e acaba se juntando à Sociedade de Estudos Sobrenaturais (SES), uma organização dedicada a desvendar casos envolvendo seres lendários. A partir daí, acompanhamos Miguel e o Professor em viagens e investigações por diferentes lugares do país. Ao longo do caminho, encontramos lobisomens e bichos-papões, conhecemos a lenda das Icamiabas e descobrimos vários seres folclóricos vivendo secretamente em nossas cidades. Se não bastasse, um terrível monstro mitológico surge para acrescentar ainda mais aventura e mistério a essa história.

03/07/2009

Mitos Solares (3).


“Solo Sagrado”, segundo capítulo na reformulação de Solar, será dividido em três partes de dezesseis páginas cada uma. A primeira e a última delas trarão as narrativas mitológicas desenhadas por Luciano Irrthum e Laz Muniz. Já a segunda parte será inteiramente desenhada por Rubens Lima, e também nela teremos uma narrativa mitológica ligada à história maior. Neste caso, porém, no lugar dos mitos indígenas brasileiros, o tema será o mito de origem egípcio, cuja primeira página vemos acima. No fim, tudo se encaixa na história de Solar.

02/07/2009

Mitos Solares (2).


Outra importante fonte de inspiração para Solar foi o livro Maíra de Darcy Ribeiro, que forneceu informações significativas sobre a cultura e os mitos dos índios da Amazônia. Parte dessa inspiração literário-antropológica foi apresentada em 1997 na revista Caliban n°s 2 e 3, fazendo parte também da reformulação do personagem iniciada em 2004. Embora o que chamo hoje de “versão apócrifa” tenha sofrido vários problemas e vá permanecer inédita, ela rendeu pelo menos um fruto significativo: uma nova adaptação quadrinística para os mitos do Sol, com desenhos produzidos por Laz Muniz.

O trabalho acabou ganhando autonomia em relação à história maior da qual fazia parte. Com isso, renomeada como “Ciranda Coraci”, a HQ de dez páginas foi publicada independentemente da série Solar, na revista Graffiti n°16. Por apresentar os mitos amazônicos de forma mais completa e poética, essa narrativa também não poderia ficar de fora da reformulação do herói. Enquanto “Solo Sagrado” não chega, apresento aqui uma das páginas da narrativa mitológica que será contada por um dos personagens.

01/07/2009

Mitos Solares (1).


Desde cedo, a mitologia foi um tema de grande interesse para mim, a começar pelos mitos gregos recontados em episódios de O Sítio do Pica-Pau Amarelo. Mais tarde, a utilização da mitologia clássica na reformulação da Mulher Maravilha, feita por George Pérez, despertou meu interesse pela História, contribuindo para que eu escolhesse esse curso universitário. Na mesma época, eu criava o personagem Solar, que acabou tendo como referenciais o “herói trágico grego” e os conceitos de “apolíneo” e “dionisíaco” de Nietzsche.

Mas o elemento que distinguiria o Solar dos heróis já existentes viria de outra matriz cultural. Uma vez que eu estava criando um personagem brasileiro, era desejável dar a ele um elemento que marcasse essa identidade específica. A resposta foram os mitos indígenas brasileiros, aos quais tive acesso através de livros como Xingu: os índios, seus mitos de Orlando e Cláudio Villas Bôas. A inspiração dessas obras deu origem à HQ “O Presente do Urubu”, na qual vemos Gabriel travando um inusitado diálogo com um urubu-rei.

Sendo, na minha opinião, uma das melhores histórias que já escrevi, a HQ foi publicada em agosto de 1997 na revista Caliban n°1. Em “O Presente do Urubu” utilizo uma estrutura narrativa dupla, com uma história contada dentro da história. Para marcar a passagem de uma narrativa para outra, trabalhei na época com diferentes desenhistas. O resultado geral foi tão bom que eu não podia deixar aquela história do urubu de fora da atual reformulação do Solar.

Para a nova versão, a narrativa de moldura foi reformulada por mim e totalmente redesenhada por Rubens Lima. Já as sete páginas da narrativa mitológica serão as mesmas da versão original, nos expressivos desenhos de Luciano Irrthum. A imagem que ilustra esta postagem é exatamente uma das páginas dessa HQ inspirada nos mitos solares dos índios do Xingu. A história inteira, numa versão melhor que a original, será vista nas páginas de “Solo Sagrado”.