03/08/2009

Panini lança a mais nova super-saga “definitiva” da DC.


Desde os anos 80, as super-sagas “definitivas” tornaram-se bastante comuns nos quadrinhos das grandes editoras norte-americanas, com destaque para a DC Comics (que lançou essa tendência em 1985 com sua “maxissérie” Crise nas Infinitas Terras). Mais recentemente, uma verdadeira epidemia cataclísmica (ou simples ganância editorial) levou a uma confusa sequência de “crises” e “contagens regressivas” (que só tendem mesmo a deixar mais pobres os leitores que as seguem). Podemos dizer que, pelo menos desde meados dos anos 90, os quadrinhos de super-heróis em geral foram envolvidos por um esquema editorial que visa somente ao lucro. Com isso, eliminou-se qualquer rastro de um “universo ficcional” dotado de uma história coerente e personagens com credibilidade.

Quando comecei a colecionar quadrinhos, as “vidas” dos heróis importavam e seus destinos ficcionais tinham relevância para nós, leitores. Mas hoje por que motivo um leitor deveria se importar com o fato de que o Batman Bruce Wayne “morrerá” em uma edição vindoura? Afinal, todos sabemos que, num futuro não muito distante, ele será cinicamente ressuscitado por autores e editores interessados tão-somente nas vendagens das revistas. É claro que, desde o início, os quadrinhos de super-heróis foram um negócio, e vender revistas sempre foi a base desse negócio. A diferença é que, até uns vinte ou quinze anos, as histórias eram bem melhores e os personagens não eram vistos apenas como franquias, cujo melhor destino só pode ser protagonizar sua própria produção hollywoodiana.

Em sua função de repetidora local dos produtos DC Comics, a Panini tem seguido à risca a sequência de super-sagas “definitivas”, com suas histórias complementares. Assim, após uma extensa (e provavelmente dispensável) Contagem Regressiva, chegou às bancas brasileiras a alardeada Crise Final. Antes, porém, não faltou uma última exploraçãozinha: a revista Universo DC Especial: Começa a Crise Final (R$4,50). Trazendo capa e contracapa desenhadas por George Pérez e J.G. Jones, e sendo escrita por Grant Morrison e Geoff Johns, a “história” é narrada pelo falecido Flash Barry Allen. Pretendendo-se um prelúdio para a super-saga em questão, a HQ não passa de uma colagem ruim de sequências desconexas (entremeadas por anúncios das novas minisséries a serem lançadas pela Panini).

No final de julho veio, enfim, a Crise Final propriamente dita, minissérie em sete edições, escrita por Grant Morrison. Na divulgação da Panini lê-se: “O fim se aproxima! Ao longo do tempo, os heróis sempre são testados até o seu limite ao enfrentarem ameaças que nenhum deles pode derrotar sozinho. Eventos assim costumam ser chamados de Crises. Em toda a história do Universo DC, já ocorreram dois momentos como esses, que quase levaram toda a existência a um fatídico fim. Porém, mais uma vez os heróis serão necessários para se interpor à frente de um desafio que está muito além de suas forças individuais. [...] E, desta vez, nem todos os heróis escaparão das garras da morte. Mudanças profundas serão sentidas em todo o UDC...”. Será mesmo? Ou melhor, será que alguém ainda cai nessa conversa?

Claro que, para criticar qualquer revista em quadrinhos, é indispensável ler a edição. Se Universo DC Especial: Começa a Crise Final foi uma total perda de tempo e dinheiro, o mesmo não se pode dizer de Crise Final n°1 (R$5,50). A HQ começa na Pré-História, num momento prometéico ao estilo de 2001: Uma Odisséia no Espaço, envolvendo o personagem Metron da série Novos Deuses. Na sequência seguinte, já estamos nos tempos atuais, em que outro dos personagens cósmicos de Jack Kirby é vítima de assassinato. Entram em cena então os Lanternas Verdes, os Guardiões, a Liga da Justiça e outros medalhões da DC. Ecoando frases bíblicas e baseada na consagrada Crise nas Infinitas Terras, a super-saga “final” idealizada por Morrison também se ancora na temática superestrutural do “Multiverso”.

Um dos destaques de Crise Final n°1 deveria ter sido a execução de Ajax o Marciano (sim, ele morre!) pelo misterioso Libra e alguns dos membros da Sociedade Secreta dos super-vilões. A sequência, no entanto, é muito rápida e pouco expressiva, perdendo em dramaticidade. Com isso, o melhor mesmo desta primeira edição fica por conta dos ótimos desenhos de J.G. Jones (o artista responsável pelas capas da série 52). Dono de um traço detalhado e bastante adequado às HQs de super-heróis, o desenhista se sai muito bem nas variações entre passado e presente, ambientes cotidianos ou futuristas, personagens humanos ou alienígenas. Jones não será, contudo, o único responsável pelas sete edições da minissérie, dividindo funções com outros desenhistas, talvez não tão bons quanto ele.

No geral, após ler Universo DC Especial: Começa a Crise Final e Crise Final n°1 (e com R$10,00 a menos no bolso), posso dizer que não fiquei nem um pouco impressionado com o que vi, tampouco empolgado com a continuação de mais esta super-saga DC. Planejada para organizar definitivamente a estrutura do “Multiverso DC”, alinhando seu passado, presente e futuro, a minissérie escrita por Morrison (segundo a opinião geral) acabará se perdendo em suas próprias pretensões megalomaníacas. Pode ser que eu esteja velho demais para este tipo de quadrinho, cheio de personagens com estranhas fantasias coloridas. Mas, ao concluir esta postagem, caro leitor deste blog, eu pergunto: será que alguém (além dos autores e editores envolvidos) precisava de mais uma super-saga "definitiva"?

10 comentários:

Caio Lima disse...

Infelizmente isso virou tendência... As editoras visam acima de tudo o lucro do que uma boa história. Que pena. Mas... isso vai mudar no momento em que alguma começar a inovar e se destacar perto das outras... Aí as outras irão correr atrás do prejuízo...

Ou quando surgir outro gênio dos roteiros...

Wellington Srbek disse...

E de qualquer forma, Caio, enquanto as grandes editoras norte-americanas se perdem nessas bobagens grandiloquentes, às margens e em outros mercados há trabalhos interessantes sendo feitos.
Abraço!

Jaison disse...

Pois é, nesse final de semana eu vi mais uma dessas sagas definitivas na banca. Nunca tive me interessei de comprá-las por que as achei muito caras e de muitas poucas páginas. Eu não entendo muito de editoração americana, mas essas tantas vertentes nas histórias não teria a ver com o número quase infinito de desenhistas que estão trabalhando em projetos paralelos diferentes com esses heróis? Tantas histórias modificadas acaba tirando as caracteristicas que conheciamos deles há alguns anos...

Wellington Srbek disse...

Eh, Jaison, a exploração comercial excessiva tem levado, já há algum tempo, a essa espécie de esquizofrenia ficcional. Virou tudo uma bagunça e perdeu a graça. Mas só lamento mesmo pelo pessoal que começa a ler quadrinhos hoje e que não terá a oportunidade de crescer lendo um material bacana (se continuar lendo só super-heróis Marvel e DC).
A gente se vê no curso. Abraços!

Paulo disse...

Nem dá mais tesão acompanhar as publicações mensais.

Wellington Srbek disse...

Pois é, Paulo, este está virando o mantra aqui do blog: quadrinhos mensais de super-heróis, não dá mais!
Abraço!

Anônimo disse...

Sei lá, eu discordo...acho que ainda dá para se contar boas histórias de super-heróis, haja vista, Mark Millar, Ed Brubacker, B M Bendis ou artistas como B Hitch, M Deodato, Greg Land, B Bolland estarem aí para corroborarem minha opinião.
M Santiago

Anônimo disse...

Acho que se ( haja vista a maioria das opiniões deste tópico ) não se gosta mais ( não o meu caso ) do gênero de super-heróis por que razão se ficar discutindo Marvel ou DC aqui? Tem sentido isso? Vamos discutir outros pontos, não acham?
M Santiago

Wellington Srbek disse...

Bom, Santiago, em momento algum eu disse que não "dá para se contar boas histórias de super-heróis". Veja minha resenha de Batman and Robin, por exemplo. O que eu sempre digo é que a maior parte dos quadrinhos de super-heróis é ruim e que os quadrinhos mensais de super-heróis e as super-sagas são um caso perdido. Como sempre ressalvo, ainda há quadrinhos especiais de super-heróis que valem a pena.

Wellington Srbek disse...

Por quê discutir mesmo o que é ruim, Santiago? Pois esta é a função da crítica em qualquer campo das artes e este é um blog de crítica de quadrinhos também. Principalmente sendo os quadrinhos de super-heróis um dos que mais vende entre os leitores jovens e adultos e um gênero que me interessa em particular, acho que há razões sim para continuar discutindo o assunto e criticando o que é ruim e elogiando o que é bom. É uma forma de contribuir (mesmo que muito modestamente) para o amadurecimento do mercado dos quadrinhos.