10/12/2008

A arte da coerência: uma entrevista com Dave Gibbons, parte3.


Parte final de nossa entrevista e Dave Gibbons fala um pouco mais sobre Watchmen, explica tudo sobre seu novo livro, diz o que pensa da adaptação para o cinema e também quais são seus novos e futuros projetos.

Wellington Srbek: Eu uso a analogia de Watchmen ser semelhante a um relógio suíço: um construto de centenas e centenas de pequeninas peças que se juntam para formar uma maquinaria funcional. Há também a analogia de Watchmen ser semelhante a uma sinfonia: uma estrutura complexa, composta por diversos movimentos com muitos ecos e simetrias. As duas analogias nos dão a idéia de “um todo que é mais do que a soma de suas partes”. Mas, para o senhor, o que Watchmen representa?

Dave Gibbons: Sim, eu creio que, você sabe, no próprio livro nós fizemos analogias ao mecanismo do relógio (a forma do palácio do Doutor Manhattan é como os mecanismos internos de um relógio). Dito isto, eu sempre considerei a abordagem de Alan para a escrita um pouco tipo a abordagem de Mozart para a música, você sabe, ele vê a coisa toda em sua cabeça, ele tem a sinfonia toda em sua cabeça, com todas as partes, ele escreve muito detalhadamente. E então, enquanto desenhista, você essencialmente interpreta isso, você essencialmente é a orquestra, você é o maestro. E então... Sim, eu creio que essa é uma analogia muito boa, e eu acho que meio que a tomo como sendo o que Watchmen representa para mim, você sabe, qualquer coisa escrita, qualquer coisa conjunta, sempre acontece parte por parte, e só mesmo depois de tudo acabado é que você pode se reclinar e admirar a paisagem. Então, ahn... Sim! É uma sinfonia, é um mecanismo de relógio.

WS: O senhor acaba de lançar Watching the Watchmen: The Definitive Companion to the Ultimate Graphic Novel. Por favor, fale-nos desse livro.

DG: Bem, como eu disse, ele foi publicado pela Titan, tem 257 páginas, traz um monte de esboços, os rascunhos para as páginas da série inteira, traz páginas do roteiro de Alan, cartas que trocamos, traz cartas para a DC, traz fotos da divulgação [da série original], traz páginas não-publicadas, traz estudos que nunca utilizamos, traz esquematizações e planos, e também traz um comentário escrito por mim (ah, minha história de como Watchmen veio a existir, desde bem no início). Ahn, ele também traz um ensaio muito interessante de John Higgins, sobre como ele a coloriu. E [o livro] é exclusivamente sobre a revista em quadrinhos, ele não faz qualquer menção sobre... ah... o filme ou qualquer coisa relacionado a isso. Eu queria que ele fosse uma celebração da, você sabe, experiência criativa que Alan e eu tivemos, que foi uma experiência criativa muito positiva e agradável. Ele não se detém nas áreas da... ah... contenda ou disputas entre Alan e a DC Comics, porque não se trata desse tipo de livro (você sabe, um livro assim pode muito bem aparecer no futuro, [mas] é um outro livro). Realmente, é uma muito detalhada e muito densa celebração de como foi criar Watchmen.

WS: Um amigo me trouxe dos Estados Unidos seu pôster promocional para o filme Watchmen. Logo, acredito que o senhor está feliz com essa adaptação da HQ. Quais são suas expectativas para o filme?

DG: Sim, eu estou feliz com a adaptação. Desde o início, desde minha primeiríssima conversa com Zack Snyder eu tive uma boa sensação sobre ela. E certamente cada nova coisa que vi apenas me fez sentir melhor. Eu vi metade das cenas do filme em agosto, e eu gostei demais (não estava acabado, muito da computação gráfica não estava pronto, mas foi absolutamente envolvente e fascinante). Desde então, eu vi... ah... ambos os trailers e vi os vinte e cinco minutos mais ou menos de cenas que Zack mostrou aos jornalistas, e estou tomando parte da “turnê” de Watchmen e… Sim, eu sinto que foi feito devidamente, que foi feito tão bem quanto qualquer um poderia razoavelmente esperar. Ahn, e... eu estou realmente aguardando para vê-lo nos cinemas e ver como todos reagirão a ele. Eu tenho a sensação de que os fãs vão ficar muito felizes com ele. É claro que há aqueles fãs empedernidos, absolutamente radicais (que eu compreendo) para os quais nada a não ser uma adaptação palavra por palavra, imagem por imagem, linha por linha, jamais agradará. Creio [porém] que você precisa ser um pouco mais realista quanto a isso. No final das contas, creio que é preciso ter algo que seja um bom filme, algo que o espectador de cinema mediano considere que valha a pena ir assistir.

WS: Recentemente, o senhor terminou a saga de Martha Washington, escrita por Frank Miller, além de escrever e desenhar algumas edições de Green Lantern Corps. Quais são seus planos para 2009 e o futuro próximo?

DG: Bem, no que diz respeito a Martha Washington, nós vamos reunir tudo num formato estendido, com mais de 500 páginas, será uma edição definitiva e trará novas introduções escritas por Frank e por mim, e eu espero que traga toda e qualquer aparição de Martha. Porque as aparições dela foram relevantes esparsadamente, nós queremos reunir tudo de forma que os leitores possam ler tudo num só lugar. Eu recentemente fiz uma HQ curta de Hellblazer para a DC, a qual eu escrevi [e que será publicada este mês, na edição especial n°250 da revista de John Constantine] (um personagem que estranhamente me agrada). Ahn... Realmente agora meu tempo está tomado pela promoção de Watchmen, pelo licenciamento, consultoria. Ahn, eu espero trabalhar num projeto de direitos autorais reservados no ano que vem, com um roteirista com o qual eu nunca trabalhei antes (não posso realmente dizer mais nada sobre isso, porque obviamente simplesmente não me cabe definir como isso será anunciado). Mas, sim, eu estou mesmo é curtindo a "turnê" do circo Watchmen e esperando o filme ser lançado e, algum tempo depois, voltar a fazer algum trabalho honesto.

WS: Muito obrigado por esta entrevista!

DG: Muito obrigado por seu interesse e saudações para meus fãs e amigos aí na América do Sul!

8 comentários:

Anônimo disse...

Ótima entrevista, Wellington. Perguntas pertinentes e respostas interessantes. Só não posso deixar de fazer uma crítica à transcrição. Entendo que você tenha tentado ser o mais fiel possível na transcrição da entrevista, mas ficar enchendo o texto de pausas ("ah...", "ahn...") quebra o ritmo da leitura e chega a irritar o leitor. Da próxima vez, dê uma limpada nesse tipo de coisa. A frase "Desde então, eu vi... ah... ambos os trailers" ficaria perfeita se escrita "Desde então, eu vi ambos os trailers". Abraço!

Wellington Srbek disse...

Bom, como você mesmo disse, o objetivo foi fazer uma transcrição o mais fiel possível. Então decidi manter e acho que o correto é manter todas as pausas e interjeições da fala dele.
Também não posso deixar de fazer a crítica por você ter postado seu comentário sem se identificar.

Amalio Damas disse...

Belíssimo trabalho, enquanto muitos sites ficam martelando o filme, você foi direto na fonte mais disponível, porque A FONTE, não quer nem saber dessa história. Parabéns novamente.

Wellington Srbek disse...

Valeu, Amalio! É sempre bom ter o trabalho da gente reconhecido (e neste caso deu trabalho mesmo!).
Grande abraço!

Anônimo disse...

Parabéns pela bela entrevista,Wellington.E só a título de esclarecimento(embora ache que todo mundo já saiba)o livro mencionado pelo Dave Gibbons tem data de fevereiro como prevista para lançamento aqui no Brasil.E a Panini lançará o Watchmen em ediçào definitiva conforme a Wizzmania #8!
Abs.
Zerramos

Wellington Srbek disse...

Sim, eu até enviei um e-mail para o Dave mais cedo, informando que o livro sairá no Brasil.
Quanto ao Watchmen propriamente dito, estou só esperando arrumar um tempinho para tirar meu exemplar da estante, ler e fazer um texto especial aqui para o blog.
Grande abraço, Zerramos!

Wellington Srbek disse...

Acabei de conferir o e-mail e o Dave já até me respondeu. Segue o nosso diálogo:

Eu: Hi Mr. Gibbons,
People here are enjoying our interview very much. Lots of visits to my blog!

Ele: Great!

Eu: I'm also writing to say that they have just announced that Watching the Watchmen will be published here in Brasil by Aleph in 2009.

Ele: Good news.
Thanks for your interest!
Best
-- Dave

Agora é esperar o lançamento do livro. Abraços!

Anônimo disse...

Ei velhinho! Muito boa a entrevista com o Gibbons. Abraços.
Dênio