07/03/2008

Redesenhando o Universo DC, com Darwyn Cooke.


De tempos em tempos, uma HQ de super-heróis chega causando impacto, propondo visões originais de antigos personagens, trazendo prestígio para seus autores e gerando continuações ou imitações. Isso aconteceu, por exemplo, em meados dos anos 90 com o enfoque subjetivo e o visual hiperrealista da minissérie Marvels de Kurt Busiek e Alex Ross. Mais recentemente, esse fenômeno se repetiu com DC: The New Frontier, a premiada minissérie produzida pelo canadense Darwyn Cooke, que redesenhou em versão cartunizada os principais personagens do “Universo DC”.

Lançada em 2004 em seis edições, relançada em dois volumes em 2005 (forma como chegou ao Brasil pela Panini) e reedita para uma luxuosa “edição absoluta” em 2006, a aclamada HQ projetou seu autor como um astro dos quadrinhos norte-americanos na atualidade. Antes de mais nada, porém, é preciso dizer que os principais elementos de DC: A Nova Fronteira não são criações originais de Darwyn Cooke. Afinal, a releitura do visual anos 40 e 50 para os personagens DC já havia sido utilizada, em 1991, na minissérie Os Melhores do Mundo, escrita por Dave Gibbons e ilustrada por Steve Rude, Karl Kesel e Steve Oliff. Isso sem falar nas séries de animação do Batman e Super-Homem produzidas por Bruce Timm, a partir de 1992 e 1996 respectivamente (e em cuja equipe Cooke trabalhou na produção de storyboards).

Outro elemento importante em DC: A Nova Fronteira é o emprego de uma estrutura regular na divisão de páginas (em três grandes quadros horizontais), com variações de acordo com a demanda narrativa, e a inclusão de simulações de textos jornalísticos (que buscam reforçar a contextualização da história). Também se destaca a ambientação dos personagens em décadas passadas, entremeada de referências a acontecimentos reais e de uma tentativa de imprimir dimensão política aos super-heróis. Mas qualquer pessoa que leu Watchmen de Alan Moore e Dave Gibbons já viu todos esses elementos (estrutura de diagramação regular, simulação de textos, ambientação histórica e politização dos super-heróis) empregados com outras formas ou propósitos.

O grande mérito do trabalho de Cooke está em ter reunido as recriações visuais (das animações da Warner) e as invenções narrativas (de Watchmen) numa combinação bastante original, que partiu da própria cronologia de relançamento dos super-heróis DC nos anos 50 (época em que surgiram as versões da chamada “Era de Prata”). Pecando no excessivo pró-americanismo e numa visão um tanto triunfalista da sociedade ocidental, DC: A Nova Fronteira se salva, no entanto, a cada instante pelas deliciosas imagens criadas pelo autor (com auxílio do colorista Dave Stewart). A releitura visual de personagens clássicos (como Super-Homem, Batman, Mulher Maravilha, Flash e Lanterna Verde), a partir de suas versões dos anos 50, é simplesmente perfeita. E está aí, creio eu, grande parte do sucesso da HQ: o fato de ela ter virtualmente redesenhado o Universo DC.

O traço cartunizado de Cooke, os ótimos efeitos de coloração e os quadros em formato de storyboard dão a sensação de que estamos assistindo a um desenho da Warner. Não é por menos, então, que acaba de ser lançada a animação Liga da Justiça: A Nova Fronteira (como parte de DC Universe, série de animações criadas a partir de sucessos dos quadrinhos). O filme é uma adaptação fiel da minissérie original e contou com a consultoria do próprio autor. Cooke também acaba de lançar, nos Estados Unidos, Justice League: The New Frontier Special, com histórias inéditas que complementam a HQ original.

2 comentários:

Gustavo Carreira (requiem) disse...

Penso comprar o "Batman/spirit", do mesmo artista.

Wellington Srbek disse...

Pois este será o tema de minha próxima postagem, Gustavo.