Há dez anos, eu estava totalmente envolvido numa das maiores aventuras de minha vida: a criação de Estórias Gerais. Produzido em parceria com o saudoso Flavio Colin, com suas 148 páginas e capa, o álbum foi resultado de muita dedicação e paixão pelos quadrinhos e pelo Brasil (os detalhes de como ele foi produzido podem ser conhecidos na seção EXTRAS GERAIS do meu saite). Desde que nosso trabalho veio a público, tem sido muito gratificante ler e ouvir pessoas dizendo que ele é “um dos melhores quadrinhos que já li” ou “um dos melhores álbuns brasileiros já feitos” (afinal, como dizia o mestre Colin, o reconhecimento do público é nosso “salário moral”). Mas, a verdade é que o Estórias Gerais correu o risco de ficar inédito!
Após praticamente um ano me dedicando ao projeto, era grande a vontade de vê-lo impresso. Assim, em setembro de 1998, tão-logo Colin concluiu o último dos capítulos principais do álbum (restando apenas para serem desenhadas a HQ em cores "Estória de Onça" e a capa), decidi procurar um editor. Comecei por buscar, em expedientes de revistas em quadrinhos publicadas na época, os endereços das editoras (não importando se a empresa em questão só publicasse quadrinhos estrangeiros). Também anotei o endereço de duas editoras que não eram especializadas em quadrinhos, mas que haviam publicado HQs em suas linhas infanto-juvenis. Em pouco tempo, eu já tinha uma lista com aproximadamente uma dezena de endereços.
Então, escrevi uma carta de apresentação e tirei cópias xérox do primeiro capítulo do álbum. O passo seguinte, obviamente, foi colocar aquela dezena de cópias em uma dezena de envelopes, endereçá-los devidamente e postá-los (como Carta Registrada, por segurança). Ou seja, o primeiro capítulo de Estórias Gerais foi enviado a TODAS as editoras que publicavam ou haviam publicado quadrinhos no Brasil por volta de 1998. E qual foi o resultado? Quase nulo, é claro. O máximo que recebi como resposta foram duas cartas (tecnicamente educadas devo dizer), elogiando a qualidade do trabalho, mas dizendo em conclusão que “lamentavelmente nossa editora não tem interesse em publicá-lo”. Essa foi a primeira mostra da indiferença geral dos editores no Brasil pelos quadrinhos brasileiros (muitas outras se seguiriam!).
Logo percebi que, apesar de todo meu trabalho e da reputação do mestre Colin, publicar aquela HQ de quase 150 páginas não seria algo fácil. Mas também não daria para desistir! Assim, fiz em 1999 um projeto para a Lei Municipal de Incentivo à Cultura de Belo Horizonte, mas ele infelizmente não foi aprovado. No ano seguinte, fiz outro projeto para a Lei Estadual de Incentivo à Cultura do Governo de Minas, que foi aprovado, mas para o qual não consegui encontrar uma empresa que se interesse em receber descontos em seu ICMS para investi-los na publicação de uma história em quadrinhos. Ainda em 2000, fiz um novo projeto para o Fundo Cultural da Lei de Incentivo de BH, que finalmente foi aprovado, embora em menos de 40% dos recursos solicitados inicialmente e com um repasse financeiro que só se iniciou em meados de 2001.
Esses fatores forçaram-me a fazer cortes e adaptações na versão original do projeto (todos devidamente aprovados pela Comissão da Lei de Incentivo), que levaram, entre outras coisas, a que a HQ em cores "Estória de Onça" ficasse de fora da edição independente. De qualquer forma, em agosto de 2001 (após três anos de espera) pude finalmente lançar o Estórias Gerais, com uma tiragem de 1.000 exemplares. Para alegria minha e do mestre Colin, desde o início a recepção do álbum foi excelente, recebendo ótimas resenhas e críticas (algumas das quais também podem ser lidas na seção EXTRAS GERAIS do meu saite). Para completar, em seguida o álbum conquistou os principais prêmios nacionais: os troféus Angelo Agostini de Melhor Desenhista e Melhor Roteirista, e os HQ MIX de Melhor Roteirista e Melhor Graphic Novel de 2001. Era realmente mais do que eu esperava quando comecei aquela aventura!
A publicação pela Lei de Incentivo possibilitou e de certa forma condicionou que o álbum tivesse um preço reduzido, o que facilitou em muito sua comercialização. Com isso, além dos 200 exemplares reservados para serem enviados a escolas de Belo Horizonte, em dois anos os 800 exemplares restantes já estavam esgotados (e isso mesmo com as dificuldades de distribuição e divulgação dos quadrinhos independentes, e em grande parte graças aos muitos fãs do mestre Colin). Mas, com isso, o Estórias Gerais ficaria outros três anos fora do mercado. E quando o álbum finalmente recebeu sua primeira publicação por uma editora, não foi no Brasil e nem em português. O fato é que o quadrinista Marcelo Lelis havia publicado seu álbum Saino a Percurá na Espanha e me perguntou por que eu não tentava lançar meu álbum por lá. Achei uma excelente idéia e consegui com Lelis o contato de seu editor espanhol.
Depois de uma troca inicial de e-mails, combinei de enviar a Paco Camarasa um Pdf com o primeiro capítulo do álbum (notem que foi exatamente o mesmo conteúdo que eu enviara aos editores brasileiros em 1998). Não demorou nada para chegar a resposta de que a Edicions de Ponent lançaria o Estórias Gerais, ou melhor o Tierra de Historias na Espanha (a opção pela mudança de título se deveu ao fato de que não seria possível manter a duplicidade do nome brasileiro, no idioma castelhano). Mas, se conseguir uma editora não foi difícil, para eles conseguirem um tradutor foi uma demora de mais de seis meses. Pelo que soube, nenhum tradutor na Espanha, ou mesmo em Portugal, estava conseguindo entender a linguagem coloquial e os jogos de palavras que utilizei no álbum (ou seja, meu “mineirês” como gosta de dizer o amigo Sidney Gusman). Por fim, acabei conseguindo uma tradutora brasileira que fez uma transposição técnica do texto para o Espanhol.
Tierra de Historias foi lançado em junho de 2006, tendo também uma ótima recepção pelos leitores e críticos espanhóis (e estando ainda disponível para os leitores ibéricos pelo saite da Edicions de Ponent). Mas faltava ainda uma reedição para os leitores brasileiros. Tendo isso em mente, quando me encontrei com Rogério de Campos, o diretor da editora Conrad, no FIQ de 2005, lembrei-me de que ele havia dito, no HQ MIX de 2002, que gostaria de ter editado o Estória Gerais. Numa rápida conversa, deixamos acertada uma reedição de meu premiado álbum. Levamos ainda um tempo para assinar um contrato, mas o lançamento na Espanha serviu de incentivo para que, em agosto de 2007 (exatos seis anos após a primeira edição), o Estórias Gerais ganhasse uma nova edição (com papel especial, depoimento inédito do mestre Colin e finalmente trazendo a "Estória de Onça").
Mais uma vez a recepção de nosso trabalho foi muito boa, a exemplo das resenhas publicadas na revista Rolling Stone Brasil, no jornal Estado de Minas e no Almanaque Virtual, além de uma nova leitura feita por Sidney Gusman para o Universo HQ. Para mim, o Estória Gerais foi e tem sido uma grande aventura. Para o mestre Colin, trabalhar no álbum foi uma grande satisfação (como ele me revelou em cartas e telefonemas). Para nós dois, foi sempre um privilégio quando um novo leitor descobria e se identificava com nosso trabalho. Para você que ainda não conhece nosso trabalho, posso garantir que será uma leitura, no mínimo, muito interessante. E para quem estiver interessado, o Estórias Gerais pode ser comprado em preço promocional aqui.
Após praticamente um ano me dedicando ao projeto, era grande a vontade de vê-lo impresso. Assim, em setembro de 1998, tão-logo Colin concluiu o último dos capítulos principais do álbum (restando apenas para serem desenhadas a HQ em cores "Estória de Onça" e a capa), decidi procurar um editor. Comecei por buscar, em expedientes de revistas em quadrinhos publicadas na época, os endereços das editoras (não importando se a empresa em questão só publicasse quadrinhos estrangeiros). Também anotei o endereço de duas editoras que não eram especializadas em quadrinhos, mas que haviam publicado HQs em suas linhas infanto-juvenis. Em pouco tempo, eu já tinha uma lista com aproximadamente uma dezena de endereços.
Então, escrevi uma carta de apresentação e tirei cópias xérox do primeiro capítulo do álbum. O passo seguinte, obviamente, foi colocar aquela dezena de cópias em uma dezena de envelopes, endereçá-los devidamente e postá-los (como Carta Registrada, por segurança). Ou seja, o primeiro capítulo de Estórias Gerais foi enviado a TODAS as editoras que publicavam ou haviam publicado quadrinhos no Brasil por volta de 1998. E qual foi o resultado? Quase nulo, é claro. O máximo que recebi como resposta foram duas cartas (tecnicamente educadas devo dizer), elogiando a qualidade do trabalho, mas dizendo em conclusão que “lamentavelmente nossa editora não tem interesse em publicá-lo”. Essa foi a primeira mostra da indiferença geral dos editores no Brasil pelos quadrinhos brasileiros (muitas outras se seguiriam!).
Logo percebi que, apesar de todo meu trabalho e da reputação do mestre Colin, publicar aquela HQ de quase 150 páginas não seria algo fácil. Mas também não daria para desistir! Assim, fiz em 1999 um projeto para a Lei Municipal de Incentivo à Cultura de Belo Horizonte, mas ele infelizmente não foi aprovado. No ano seguinte, fiz outro projeto para a Lei Estadual de Incentivo à Cultura do Governo de Minas, que foi aprovado, mas para o qual não consegui encontrar uma empresa que se interesse em receber descontos em seu ICMS para investi-los na publicação de uma história em quadrinhos. Ainda em 2000, fiz um novo projeto para o Fundo Cultural da Lei de Incentivo de BH, que finalmente foi aprovado, embora em menos de 40% dos recursos solicitados inicialmente e com um repasse financeiro que só se iniciou em meados de 2001.
Esses fatores forçaram-me a fazer cortes e adaptações na versão original do projeto (todos devidamente aprovados pela Comissão da Lei de Incentivo), que levaram, entre outras coisas, a que a HQ em cores "Estória de Onça" ficasse de fora da edição independente. De qualquer forma, em agosto de 2001 (após três anos de espera) pude finalmente lançar o Estórias Gerais, com uma tiragem de 1.000 exemplares. Para alegria minha e do mestre Colin, desde o início a recepção do álbum foi excelente, recebendo ótimas resenhas e críticas (algumas das quais também podem ser lidas na seção EXTRAS GERAIS do meu saite). Para completar, em seguida o álbum conquistou os principais prêmios nacionais: os troféus Angelo Agostini de Melhor Desenhista e Melhor Roteirista, e os HQ MIX de Melhor Roteirista e Melhor Graphic Novel de 2001. Era realmente mais do que eu esperava quando comecei aquela aventura!
A publicação pela Lei de Incentivo possibilitou e de certa forma condicionou que o álbum tivesse um preço reduzido, o que facilitou em muito sua comercialização. Com isso, além dos 200 exemplares reservados para serem enviados a escolas de Belo Horizonte, em dois anos os 800 exemplares restantes já estavam esgotados (e isso mesmo com as dificuldades de distribuição e divulgação dos quadrinhos independentes, e em grande parte graças aos muitos fãs do mestre Colin). Mas, com isso, o Estórias Gerais ficaria outros três anos fora do mercado. E quando o álbum finalmente recebeu sua primeira publicação por uma editora, não foi no Brasil e nem em português. O fato é que o quadrinista Marcelo Lelis havia publicado seu álbum Saino a Percurá na Espanha e me perguntou por que eu não tentava lançar meu álbum por lá. Achei uma excelente idéia e consegui com Lelis o contato de seu editor espanhol.
Depois de uma troca inicial de e-mails, combinei de enviar a Paco Camarasa um Pdf com o primeiro capítulo do álbum (notem que foi exatamente o mesmo conteúdo que eu enviara aos editores brasileiros em 1998). Não demorou nada para chegar a resposta de que a Edicions de Ponent lançaria o Estórias Gerais, ou melhor o Tierra de Historias na Espanha (a opção pela mudança de título se deveu ao fato de que não seria possível manter a duplicidade do nome brasileiro, no idioma castelhano). Mas, se conseguir uma editora não foi difícil, para eles conseguirem um tradutor foi uma demora de mais de seis meses. Pelo que soube, nenhum tradutor na Espanha, ou mesmo em Portugal, estava conseguindo entender a linguagem coloquial e os jogos de palavras que utilizei no álbum (ou seja, meu “mineirês” como gosta de dizer o amigo Sidney Gusman). Por fim, acabei conseguindo uma tradutora brasileira que fez uma transposição técnica do texto para o Espanhol.
Tierra de Historias foi lançado em junho de 2006, tendo também uma ótima recepção pelos leitores e críticos espanhóis (e estando ainda disponível para os leitores ibéricos pelo saite da Edicions de Ponent). Mas faltava ainda uma reedição para os leitores brasileiros. Tendo isso em mente, quando me encontrei com Rogério de Campos, o diretor da editora Conrad, no FIQ de 2005, lembrei-me de que ele havia dito, no HQ MIX de 2002, que gostaria de ter editado o Estória Gerais. Numa rápida conversa, deixamos acertada uma reedição de meu premiado álbum. Levamos ainda um tempo para assinar um contrato, mas o lançamento na Espanha serviu de incentivo para que, em agosto de 2007 (exatos seis anos após a primeira edição), o Estórias Gerais ganhasse uma nova edição (com papel especial, depoimento inédito do mestre Colin e finalmente trazendo a "Estória de Onça").
Mais uma vez a recepção de nosso trabalho foi muito boa, a exemplo das resenhas publicadas na revista Rolling Stone Brasil, no jornal Estado de Minas e no Almanaque Virtual, além de uma nova leitura feita por Sidney Gusman para o Universo HQ. Para mim, o Estória Gerais foi e tem sido uma grande aventura. Para o mestre Colin, trabalhar no álbum foi uma grande satisfação (como ele me revelou em cartas e telefonemas). Para nós dois, foi sempre um privilégio quando um novo leitor descobria e se identificava com nosso trabalho. Para você que ainda não conhece nosso trabalho, posso garantir que será uma leitura, no mínimo, muito interessante. E para quem estiver interessado, o Estórias Gerais pode ser comprado em preço promocional aqui.
6 comentários:
É sem dúvida o seu trabalho que mais gosto e uma obra importantíssima do quadrinho autoral brasileiro.
O Estórias Gerais ainda vai dar muito o que falar e uma história que caberia muito bem na telona... Abração
Que Deus e os produtores de cinema brasileiros te ouçam, Cleber! Abração!
Se Estórias Gerais fosse um livro, com certeza já estaria sendo transformado em filme. Literatura é "arte séria", né não? Paulo Coelho está aí de prova. Não sei porque a gente ainda fica teimando em colocar "figurinhas" no meio das nossas histórias.
Pois é, mas quem sabe um dia a gente não aprende...
Eu estava procurando a imagem da capa desse livro, quando por acaso caí justamente no blog do autor. Comprei o livro faz duas semanas, li e fiquei impressionado. É, de fato, como disse o Cleber, uma história digna de adaptação para a telona. Enquanto lia, eu não deixava de pensar nisso. Gostaria que houvesse mais quadrinhos de qualidade como esse. Comprei meio desconfiado achando que poderia estar jogando dinheiro fora. Para a minha surpresa, no entanto, o álbum vai muito além do que eu imaginei...valeu cada centavo. Parabéns!
Olá Wander,
É sempre muito legal quando conseguimos superar as expectativas de um leitor! Estórias Gerais foi para mim uma aventura de muito trabalho e paixão, pelos quadrinhos e pelo Brasil. Além disso, é minha parceria mais extensa com o saudoso mestre Colin e um trabalho que ele gostou muito de realizar. Por tudo isso é muito bom quando alguém escreve algo tão bacana sobre nossa criação!
E se quiser saber mais sobre o processo de criação do álbum, há toda uma seção dedicada a ele nos EXTRAS do meu saite: http://www.maisquadrinhos.com.br/. Lá você também encontrará informações sobre outros quadrinhos meus.
Grande abraço e volte sempre!
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