07/01/2008

Eternos de… Neil Gaiman e John Romita Jr.?


A editora Panini está concluindo o lançamento no Brasil de Eternos, minissérie escrita por Neil Gaiman e desenhada por John Romita Jr., a partir dos personagens criados pelo mestre Jack Kirby. Lançada nos Estudos Unidos em sete edições reunidas posteriormente num caprichado volume de capa dura, Eternals pode até ter agradado a alguns, mas deixa muito a desejar quando consideramos os autores envolvidos.

Uma raça de seres imortais e superpoderosos, os Eternos foram criados por Jack Kirby em 1976. Tendo acabado de retornar à Marvel após um período na concorrente DC Comics, Kirby buscava um novo projeto no qual trabalhar. Após produzir uma adaptação do filme 2001: Uma odisséia no espaço de Stanley Kubrick e sob a influência do livro Eram os deuses astronautas? de Erich Von Däniken, o co-criador do “Universo Marvel” mergulhou no conceito da evolução humana influenciada por alienígenas. Assim surgiram os Celestiais (alienígenas gigantescos e quase onipotentes), responsáveis pela criação dos Eternos (uma casta de humanos geneticamente alterados) e o Povo Mutável (um grupo menos geneticamente agraciado). Apesar de ser outra criação inspirada de Jack Kirby, as especulações filosóficas de The Eternals não fizeram muito sucesso com o público da época, o que levou a interferências editorais e o cancelamento da série em 1978.

A nova versão dos personagens lançada em 2006 surgiu numa visita de Neil Gaiman aos escritórios da Marvel. Após a minissérie 1602, o roteirista inglês vinha pensando num novo projeto para a editora norte-americana, quando o editor-chefe Joe Quesada sugeriu que ele recriasse os demiurgos cósmicos de Jack Kirby. O desenhista escolhido para o projeto acabaria sendo John Romita Jr., que já havia trabalhado com vários outros personagens criados pelo mestre dos quadrinhos de super-heróis. Com um roteirista inovador e um talentoso desenhista, a proposta da nova série (intitulada simplesmente Eternals) seria definir um lugar para aqueles deuses e semideuses na continuidade dos demais personagens da Marvel. No primeiro capítulo, a série vai muito bem, com o “mito” de criação proposto por Kirby sendo recontado e as peças da trama principal sendo posicionadas. Os desenhos também são muito bons, alternando do minimalista ao monolítico, quando necessário. Todavia, não demora muito para as coisas desandarem.

A partir do capítulo dois, a trama principal começa a se perder em meio subtramas envolvendo conspirações políticas e reality shows com aspirantes a super-heróis. Há ainda os romances e draminhas cotidianos envolvendo os Eternos em suas “identidades civis” (que parecem um pastiche dos Perpétuos). Ao longo da série, a qualidade do desenho também não se mantém, variando entre algumas boas páginas e outras nada excepcionais. Há quadros, inclusive, nos quais a colorização por computador mais atrapalha que ajuda, enquanto em outros os desenhos parecem ter sido feitos meio às pressas. Do ponto de vista da criação visual, Romita Jr. soube aproveitar a fonte de inspiração, embora um ou dois personagens sejam melhores no original. Mas falando em “original”, o que não é nada original são algumas soluções do roteiro de Gaiman, como a idéia do herói superpoderoso com amnésia e a forma como o problema principal é solucionado no último capítulo, copiadas da série Miracleman de Alan Moore (embora a última página guarde uma surpresa para os leitores de São Paulo).

Eternos não é uma história em quadrinhos ruim (principalmente se levarmos em consideração a baixa qualidade média das revistas da Marvel). Mas ela também não é nenhuma obra-prima, deixando ao fim a sensação de que faltou algo. De certa forma, talvez o maior problema da HQ esteja nos nomes envolvidos. Afinal, um leitor tem direito de esperar trabalhos muito acima da média, quando os nomes envolvidos são Neil Gaiman (The Sandman, Os livros da magia) e John Romita Jr. (X-Men, Daredevil).

Um comentário:

Anônimo disse...

Que bosta de opinião. Você è um merda que não manja porra nenhuma.