19/12/2007

Tarzan e Buck Rogers, as primeiras tirinhas de aventura.


Entre o final do século 19 e início do século 20, a imprensa passou por um processo de amplo desenvolvimento nos Estados Unidos, o que levou à criação de “impérios jornalísticos” como os de Hearst e Pulitzer. Na disputa pelo público, as histórias em quadrinhos tornaram-se um importante elemento para a atração de leitores. Nas tirinhas diárias ou páginas dominicais, crianças e adultos divertiam-se com as travessuras de endiabrados garotos (Os Sobrinhos do Capitão), com um jogo de gato e rato (Krazy Kat) ou com os sonhos de uma criança (Little Nemo in the Slumberland), entre outras séries de sucesso.

As primeiras histórias em quadrinhos norte-americanas eram cômicas e traziam o estilo cartunístico. Foi em 1929 que surgiram as primeiras séries de tiras com histórias de aventura. Baseada nos romances de Edgar Rice Burroughs, Tarzan tornou-se uma das mais populares tirinhas de quadrinhos, consagrando definitivamente seu criador, o desenhista Harold Foster (que anos depois criou a também clássica série Príncipe Valente). Mostrando uma África misteriosa e inóspita, repleta de ferozes animais, as histórias de Tarzan refletem o espírito aventuresco e empreendedor da década de 1920.

Ao mesmo tempo, outra série de histórias de aventura foi lançada, inaugurando a temática da ficção científica. Era Buck Rogers, que trazia a saga de um astronauta no século 25. Podemos dizer que o contexto social dos anos 20 inspirou o surgimento desse personagem. Essa década assistiu a um processo de desenvolvimento industrial, acompanhado de crescente urbanização, sem precedentes. A isso se somam as inovações na tecnologia e nos transportes, que propiciaram o desenvolvimento das comunicações. Tudo isso levou à circulação de novas idéias, entre as quais se destacam a organização racional da produção e princípios pseudocientíficos, como as teorias de eugenia.

Como um complemento do desenvolvimento econômico, baseado no aumento da produtividade, criou-se a idéia de que se vivia um período “dourado” de prosperidade (após os terríveis anos da Primeira Guerra Mundial). Nos anos 20, a idéia de uma “Nova Era” de paz e prosperidade não era algo abstrato, mas uma realidade presente na vida de uma considerável parcela da população norte-americana. O crescimento das indústrias de automóveis, aviação e eletrodomésticos difundiu a imagem de uma sociedade tecnológica, próspera e moderna. Embora os aspectos negativos da vida urbana já se fizessem sentir, os confortos e ícones da vida moderna surgiam como uma forma de compensação, exemplificados pelos astros do cinema ou esporte, e idealizados nos heróis dos quadrinhos.

Logo, pode-se dizer que, na verdade, os vôos espaciais de Buck Rogers não começaram em 1929 quando foi lançada sua tirinha, mas dois anos antes, em 1927, quando Charles Lindbergh atravessou o Atlântico, reforçando o modelo do norte-americano destemido e empreendedor. O desenvolvimento econômico e o envolvimento na Primeira Grande Guerra levaram ao fim do isolacionismo daquele páis. Porém, o contato com outros povos promoveu o recrudescimento de tendências etnocêntricas, baseadas numa suposta superioridade da raça branca. Desta forma, o racismo contra minorias étnicas (negros, orientais, latinos) que fôra marcante na sociedade norte-americana do século 19, aflorou nos anos 20 e 30, justificado por teorias pseudocientíficas e representado em vilões do cinema e dos quadrinhos.

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