02/11/2007

Os 180 anos dos quadrinhos.


Auto-centrados como são, os norte-americanos se imaginam os inventores de quase tudo, incluindo o avião, o cinema e até mesmo os quadrinhos. Assim, em 1996, eles decidiram comemorar com estardalhaço os “100 Anos dos Quadrinhos”, que coincidiriam com o centenário de publicação da primeira tira com o personagem Yellow Kid, criado um ano antes por Richard Outcault. Colonizada como é, a mídia em geral não perdeu tempo em macaquear a notícia, sem questionar por um momento sua legitimidade. No fim das contas, como diria Josef Goebbels, “uma mentira repetida mil vezes torna-se verdade”.

A verdade, porém, é que os quadrinhos surgiram bem antes de 1896. No Brasil mesmo já se produzia quadrinhos desde a década de 1860, pela pena do piemontês naturalizado brasileiro Angelo Agostini. Mas então onde e quando surgiram os quadrinhos? Embora a questão seja controversa, pode-se dizer com segurança que eles surgiram na Suíça em 1827, pelo talento inventivo de um escritor, desenhista e pedagogo chamado Rodolphe Töpffer.

É claro que já há muitos séculos os seres humanos utilizam imagens com palavras para se comunicar, bastando lembrarmos dos hieróglifos egípcios e das iluminuras medievais. Contudo, apesar de algumas semelhanças formais, nenhuma daquelas obras é realmente uma história em quadrinhos. O fato é que os quadrinhos possuem alguns elementos específicos que os definem como uma linguagem artística única, o que analiso amplamente no livro Um mundo em quadrinhos (Marca de Fantasia, 2005).

Esses elementos que tornam os quadrinhos uma arte específica foram reunidos pela primeira vez há exatos 180 anos, quando Rodolphe Töpffer criou a obra ficcional Les Amours de Monsieur Vieux-bois (“Os Amores do Senhor Jacarandá” em sua edição brasileira). O que diferenciava a criação de Töpffer das outras era uma narrativa visual em que imagens e palavras combinam-se no espaço da página, mas possuem funções distintas. Em sua obra, as imagens não são mera ilustração de um texto escrito, enquanto as palavras não servem simplesmente para explicar os desenhos.

Com um traço bastante sintético e inovador para a época, em suas histoires des estampes Töpffer inventou uma nova linguagem artística, prontamente aclamada pelo poeta Johann Goethe como uma revolucionária forma de comunicação. Portanto, não importa se os chamamos de bande desiné, manga, comics ou outro nome, a verdade é que os quadrinhos surgiram mesmo há 180 anos, pelo gênio de um suíço chamado Rodolphe Töpffer.

4 comentários:

Anônimo disse...

Ótimo blog Wellington. Gostei muito desta postagem sobre a origem dos quadrinhos. Não sabia dessa história. Sucesso ao blog!
Abraço.
Charles Bicalho

Wellington Srbek disse...

Obrigado, Charles!
Pois é, a imprensa colonizada costuma sempre repetir a farsa do Yellow Kid, mas é bom de vez em quando a gente chamar a atenção para os fatos históricos.

Anônimo disse...

ola!! eu amei seu blog,,,
estou fazendo um trabalho academico e me ajudou muito, mas
será que vc pode me responder se quadrinhos é o mesmo que quadrinhas,se nao for
Pode me dizer a diferença?
um grande abraço
Patrícia F.

Wellington Srbek disse...

Olá Patrícia,
Que bom que gostou do blog! Fiz minhas pesquisas de Mestrado e Doutorado sobre quadrinhos e você pode conhecer meus livros e trabalhos acadêmicos de outros autores no saite: www.marcadefantasia.com.br.
A única coisa que conheço como "quadrinha" é o tipo de poema curto de quatro versos.
Abraço!