27/01/2013

Veredas e raízes.


A história de Estórias Gerais começa em outubro de 1997. Na época, eu concluía o curso de História na UFMG, trabalhava como crítico de quadrinhos para um jornal de Minas Gerais e produzia a revista Caliban. Após quatro anos praticamente só lendo textos teóricos, eu estava louco para voltar a ler literatura. Por algum motivo, um livro em especial me vinha à mente, Grande Sertão: Veredas de Guimarães Rosa. Comprei meu exemplar numa loja do Centro de BH e depois de ler a palavra “Nonada” não consegui mais parar...

Bom, para ser mais exato, fiz uma pequena pausa lá pelo fim do livro. Não porque estivesse cansado ou não estivesse simplesmente adorando cada palavra que lia. Justamente pelo contrário, porque o volume de páginas a serem lidas minguava assustadoramente, resolvi interromper a leitura. A verdade é que eu não queria que o livro chegasse ao fim. Decidi aproveitar aquela “pausa” para ler mais clássicos da literatura brasileira, e as obras escolhidas foram Morte e Vida Severina de João Cabral de Melo Neto e Alto da Compadecida de Ariano Suassuna.

Depois dessas leituras, retornei para finalizar minha travessia de Grande Sertão: Veredas. Naquele ponto, não havia mais escapatória: eu tinha que criar uma história em quadrinhos! Os elementos fundamentais já estavam postos: um universo ficcional de jagunços e senhores de terras e a simbologia poética do Brasil interior. A eles se somariam a reflexão histórica motivada pela leitura de Raízes do Brasil de Sérgio Buarque de Hollanda e a representação da vida popular presente nas canções de Luiz Gonzaga. Não faltariam também ecos mais distantes de coisas que eu assisti na TV, como O Bem Amado, Gabriela, Lampião, Roque Santeiro, O Tempo e o Vento.

Tão-logo comecei a pensar na nova história, o traço de Flavio Colin surgiu como a única opção. Não haveria outro desenhista para ela! Já tínhamos conversado sobre a possibilidade de trabalharmos juntos, e quando lhe expliquei minha ideia para o álbum, ele se interessou muito. Então, com a remuneração que recebia pelos textos de crítica de quadrinhos, pude fazer uma boa proposta financeira, e Colin aceitou produzir os desenhos.

Depois de fazer uma pesquisa contextual em livros e documentários, e de ter visitado a Hemeroteca de Belo Horizonte (onde li jornais da década de 1920), em algum momento de janeiro de 1998, já com páginas de texto escritas e boa parte da trama estruturada, decidi dar forma aos personagens principais da HQ. Assim, num domingo pela manhã, sentado no chão da sala de minha antiga casa, com papeis e livros espalhados sobre uma mesinha, reportagens e documentários passando no vídeo à minha frente, esbocei os personagens principais da história.

Os desenhos e descrições nas próximas postagens são exatamente os que enviei a Flavio Colin na época, para que iniciasse os desenhos do primeiro capítulo do álbum. Não preciso nem dizer que, embora ele tenha seguido as características principais de meus esboços, os personagens melhoraram imensamente ao ganharem o traço do grande mestre!

2 comentários:

Cláudio disse...

Esta obra é fantástica na arte e no roteiro.Adoro!Já que vai postar sobre ela será que pode falar sobre a cena do raio no duelo do tião?Abraço!

Wellington Srbek disse...

Obrigado, Cláudio! Legal saber que gosta do EG.
Nas próximas postagens falarei mais sobre as origens da HQ, com meus esboços e páginas de roteiro.
A cena do raio que citou, creio que se enquadra na linha do "Deus Ex Machina", como um desfecho meio inesperado, que dá um fechamento a uma sequência... Não sei se é bem o que perguntou, mas é como a vejo em termos do roteiro.
Abraços e acompanhe as próximas postagens!